Como lidar com a diversidade no espaço escolar, por Eliane Oliveira

Do Blogueiras Negras

Educar para diversidade: como lidar com a multiplicidade de sujeitos no espaço escolar?
 
Por Eliane Oliveira

Num recente texto, publicado aqui pelo Blogueiras, falei sobre minha experiência como professora e o olhar sobre a reprodução de preconceitos na escola, me deparei com indagações de colegas sobre formas de combater tais práticas. Acredito que essas angústias sejam típicas de pessoas comprometidas com a educação, capazes de analisar o seu espaço de atuação, reconhecer o momento histórico que nos encontramos e as diferentes vivências.

Sujeitos envolvidos, comprometidos e capazes de fazer auto crítica. Não tenho respostas prontas, pois sabemos que os casos são pontuais e a forma de reagir a eles devem ser consideradas de acordo com o contexto dos acontecimentos.

Porém, vejo como de suma importância tentar desconstruir alguns estereótipos tão arraigados na formatação da escola que naturalizam determinadas violências simbólicas. Dessa forma me coloquei a pensar em práticas que viessem a contribuir para que, tanto eu quanto minhas colegas professoras, pudéssemos buscar e promover tal desconstrução e cheguei ao tema desse texto, a diversidade.

Num período que sofremos, enquanto educadores, uma forma de silenciamento ao ser retirado, da maioria dos planos educacionais, as discussões de gênero, penso ser o momento de parar para analisar que tipo de educação vamos proporcionar no espaço escolar. Afinal que escola do futuro é essa?

A ação dos movimentos sociais no período de redemocratização do Brasil, pós ditadura militar, e suas pautas reivindicatórias por reconhecimento aos direitos humanos, combate ao racismo e outras formas de preconceito, a universalização do direito à educação, se consagrou na Constituição Federal de 1988.

As demandas acerca da educação, saúde e assistência social foram contempladas, por exemplo, em legislações relacionadas aos direitos da criança e do adolescente, das mulheres, das comunidades indígenas, do campo, quilombolas e outras minorias foram contemplados na legislação brasileira, redefinindo a ampliação do conceito de pluralismo e diversidade.

O artigo 3º, inciso IV da Constituição define como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Gostaria de me ater a essas últimas palavras ‘QUAISQUER OUTRAS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO’, e lançar o olhar sobre a diversidade que compõe o espaço escolar e como isso é desconsiderado a partir da formatação em que se encontra a maioria das escolas públicas do país.

Essa é uma questão que exige muita reflexão, pois para que todos os envolvidos considerem a diversidade dos sujeitos envolvidos no espaço educacional, é preciso que exercitem a alteridade, ou seja, enxergar o outro como portador de direitos, subjetividades ou singularidades e respeitar tais características. Dessa forma, a escola como espaço coletivo teria que considerar individualidades para poder criar formas de contemplar toda a diversidade em seu interior.

Mas o espaço educacional público, no formato que foi pensando e constituído (e no qual, a maioria, se encontra), não possibilita tais ações, pois boa parte da comunidade tende a pensar os alunos na forma coletiva e tratá-los dentro dessa perspectiva, e aquele que não se enquadra ao formato pré-determinado de organização, geralmente é considerado como o mal aluno, como aquele que não aceita regras, o sem disciplina.

Como nós professores podemos atuar de forma mais concentrada nas particularidades dos nossos alunos trabalhando em salas lotadas, com regras normativas falhas e com orientações curriculares que nos chegam de cima para baixo? Será que ficaremos eternamente amarrados por determinações criadas por aqueles que nunca puseram os pés dentro de uma sala de aulas, principalmente, na escola pública e periférica?

É preciso compreender que uma das funções sociais da escola é incluir sujeitos diferentes e dar a eles acesso à educação formal, e buscar não desconsiderar saberes e valores que esses trazem de suas vivências fora do espaço escolar.

[…] levar em conta a origem das famílias e reconhecer as diferenças entre os referenciais culturais de uma família nordestina e de uma família gaúcha, ou ainda, reconhecer que, no interior dessas famílias e na relação de umas com as outras, encontramos indivíduos que não são iguais, mas que têm especificidades de gênero, raça/etnia, religião, orientação sexual, valores e outras diferenças definidas a partir de suas histórias pessoais. (BRASIL/ MEC/SEPPIR, 2009, p. 23)

Assim, penso que uma ação urgente para contemplarmos a diversidade no espaço escolar passa, necessariamente, pela desconstrução de estereótipos e estigmas históricos que marcam os sujeitos que fogem ao padrão considerado normal e perfeito. Perceber que o tipo ideal de aluno é apenas uma formatação desejada por quem busca padronizar os sujeitos sociais, com objetivos bem específicos.

Assim, acredito que a diversidade pode ser apreendida como elemento construtor de novas práticas a partir do momento do seu reconhecimento legítimo e não como um problema. Dessa forma, esse olhar desconstruído de preconceitos e a inexistência da busca por um tipo ideal de aluno, irá possibilitar a toda a comunidade escolar novas formas de enxergar a sociedade, percebendo-a como dinâmica e em constante transformação.

Acredito que essa ação poderá promover o desenvolvimento de projetos que contemplem a dinâmica social dos indivíduos, com grande tendência a elevar a escola a uma categoria institucional que pensa o outro, para além do coletivo.

A proposta de pensar a diversidade na escola, nos faz enxergar não apenas os alunos, mas também toda a comunidade escolar interna e externa, pois a diversidade está presente na sociedade como um todo, e essa dinâmica que rege as ações fora do espaço escolar se reflete diretamente nas que ocorrem dentro da escola, assim, quando consideramos as diferenças como um elemento formador de todos os sujeitos, podemos agir de forma que não haja mais reproduções de estereótipos e preconceitos de todos os tipos.

Essa é apenas uma proposta, fruto de minhas reflexões, leituras e de acordo com a realidade educacional que me encontro. Penso que o exercício de análise e reflexão, tanto do espaço quanto dos sujeitos envolvidos, seja a melhor forma de pensarmos como mudar uma realidade ainda tão caótica na educação pública da maioria da escolas brasileiras.

Referencias:

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.

__________Ministério da Educação. Secretaria Especial de Políticas de Igualdade Racial, SEPPIR/PR; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, SPM/PR. Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Versão 2009. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: MEC/SPM, 2009. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/ storage/materiais/0000015510.pdf A

 

Redação

10 Comentários

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  1. A “diversidade” entrando à vontade na escola

    A Autora nos coloca uma visão submissa da escola, como uma legitimadora de influências consumistas e comportamentais em jovens cidadãos, em circunstância que é o contrário, e é a escola quem deve preparar os jovens com conceitos e valores da nação brasileira, para enfrentar as armadilhas comportamentais que o sistema consumista global nos impõe, diariamente.

    A escola não reproduz preconceitos, mas sim deve direcionar a juventude em relação a valores universais e de importância para a nação. A escola não pode – como a Autora sugere – apenas “adaptar-se” ao ensino comportamental que o jovem obtém na rua ou na TV, mas, pelo contrário, é a escola a que deve orientar os valores que a nação acha que devam ser os melhores. Ainda, considerando que há valores e aprendizados que devem ser fornecidos pelo próprio lar.

    O artigo 3º, inciso IV da Constituição define como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

    Um mau exemplo de aplicação da constituição. A escola não promove ainda aquele “bem de todos”, mas ensina e dá as ferramentas para cada um fazê-lo, por conta própria e de acordo a sua responsabilidade, como cidadão, quando este seja mesmo dono dos seus atos. A constituição garante o peixe, mas a escola ensina a pescar.

    A escola observa nos seus alunos uma diversidade cultural, é claro (e cada vez mais diversa), mas, essa diversidade não foi oferecida nem ensinada pela escola, mas sim foi adquirida por propagadores interesseiros em outro tipo de educação para a nossa juventude, pela TV e pela propaganda consumista que vivemos. É justamente a escola a responsável por formar a consciência crítica e os valores próprios a cada cidadão, gerando neles a capacidade para fazer as suas escolhas, no momento em que tenham idade e responsabilidade suficiente para fazê-lo.

    A escola não pode ser covarde e omissa e nem, numa atitude “modernosa”, vir a compactuar com qualquer idiotize que os meninos trazerem da rua, ou seja, da TV.

    “A escola como espaço coletivo teria que considerar individualidades para poder criar formas de contemplar toda a diversidade em seu interior.”

    Pelo contrário, a escola como elemento formador das novas gerações de brasileiros, deve zelar para que os jovens adquiram valores nacionais e de bem comum, adequados e suficientes para se integrar ao mundo real, em forma responsável e, ainda, para poder conviver responsavelmente pelas suas escolhas, uma vez em condições de lidar com as informações deturpadas que o mundo global traz.

    A escola deve ser o templo que preserva os valores cívicos de uma nação. Este bastão é passado de geração em geração (com os devidos avanços) e faz, como no caso dos japoneses, que possam limpar um estádio de futebol depois de um jogo, ao invés de ficar gritando vtnc ao seu Presidente.

    Se alguém fez o serviço militar verá que não aprendemos aí a matar gente nem odiar inimigos, mas sim para adquirir disciplina, amor à pátria, responsabilidade e outros diversos valores. Apenas um jovem bem preparado pode hoje enfrentar com sucesso as loucuras do mundo em que vivemos e, ainda, se quiser, entrar nas loucuras que desejar. A liberdade é sim um bem precioso, e ela é entregue no momento certo, ao jovem, quando este entendeu como pode ser um bom brasileiro.

    “Encontramos indivíduos que não são iguais, mas que têm especificidades de gênero, raça/etnia, religião, orientação sexual, valores e outras diferenças definidas a partir de suas histórias pessoais.”

    Isso é verdade. Quando o menino seja “um individuo”, este poderá exercer responsavelmente as suas escolhas. Não cabe à escola reproduzir o que o mundo global já faz, e com muito sucesso pelo que vemos neste post.

    “Perceber que o tipo ideal de aluno é apenas uma formatação desejada por quem busca padronizar os sujeitos sociais, com objetivos bem específicos.”

    Percepção correta (embora a Autora diga o contrário). Quem busca padronizar não é inimigo da professora nem do aluno, mas sim a nação brasileira, que procura orientar à juventude dentro dos valores que são importantes para a nação, e esses objetivos podem ser muito específicos (por exemplo, em caso de guerra ou calamidade nacional).

    “Dessa forma, esse olhar desconstruído de preconceitos e a inexistência da busca por um tipo ideal de aluno, irá possibilitar a toda a comunidade escolar novas formas de enxergar a sociedade, percebendo-a como dinâmica e em constante transformação”

    Ou seja, a escola ao sabor do mercado, da TV e dos modismos da economia global.

    A escola deve fornecer ao aluno uma “formação” e ainda, os conhecimentos básicos para que este possa encontrar o seu melhor futuro, dentro do Brasil, um país de todos; uma pátria educadora, sim, educadora. Que educa mesmo e não que fica modernosa e flexível ao sabor da outra escola, que não é nossa, e que mal educa todos os dias pela telinha da TV.

    Uma verdadeira professora deve saber educar e orientar. A escola não é um playground nem parque temático de diversidades, ainda mais para jovens que ainda nem conhecem a sua própria mente ou corpo.

    1. Quem falou em “consumismo”? Nao podia faltar essa desculpa furad

      Alexis adora defender a manutençao dos preconceitos desqualificando toda reaçao de minorias (inclusive “minorias” majoritárias, como a das mulheres) a uma pretensa defesa de consumismo e individualismo. Entao, mulheres deviam se conformar com o machismo (e com padroes de conduta anacrônicos que os conservadores querem impor a elas), negros com o racismo, homossexuais com o preconceito e perseguiçao, para nao serem “individualistas”. Ora pombas!

      1. Alexis adora defender…….

        Defendo o que eu, sinceramente acredito. Para isso, me tomo a moléstia de avaliar e escrever detalhadamente o meu comentário.

        Já você….

          1. Mudando de tema

            Analú, 

            Feliz passagem de ano e espero que seja melhor para todos nós, pois 2015 foi difícil. Tive que demitir gente e etc. Mas, tenho muita fé em 2016.

            No mais, me desculpe pelas brigas. Este ano irei me policiar mais nas coisas que você levanta. Sem duvida estou meio enferrujado e cheio de conceitos (ou preconceitos) de minha educação.

            Continuarei lutando pelo nosso Governo e vestindo com orgulho a minha camiseta vermelha, toda vez que seja preciso.

            Obrigado por gastar parte do seu tempo em discutir comigo, pois, isso é bom sinal de que algo em nossas discussões deve valer a pena. Acho você uma mulher bacana e espero que o tempo nos permita encontrar alguns temas onde possamos concordar ou até soltar boas risadas.

            Bom 2016.

    2. LENDO E PENSANDO

      NOSSA PROFESSORES COM  CONCEITOS DETURPADOS ONDE IRÁ PARAR NOSSA JUVENTUDE,CRIANÇAS ????

      GOSTEI DO SEU ARTIGO E CONCORDO ONDE NÓS PROFESSORES EDUCADORES TEMOS QUE TRANSIMITIR CONHECIMENTOS BASEADOS EM ÉTICA CARÁTER MORAL BONS COSTUMES ,A ESCOLHA É INDIVIDUAL MAS A MINHA PARTE PRETENDO FAZER PERFEITAMENTE…ABRAÇOS 

    3. LENDO E PENSANDO

      NOSSA PROFESSORES COM  CONCEITOS DETURPADOS ONDE IRÁ PARAR NOSSA JUVENTUDE,CRIANÇAS ????

      GOSTEI DO SEU ARTIGO E CONCORDO ONDE NÓS PROFESSORES EDUCADORES TEMOS QUE TRANSIMITIR CONHECIMENTOS BASEADOS EM ÉTICA CARÁTER MORAL BONS COSTUMES ,A ESCOLHA É INDIVIDUAL MAS A MINHA PARTE PRETENDO FAZER PERFEITAMENTE…ABRAÇOS 

  2. Erro conceitual. Os alunos
    Erro conceitual. Os alunos são tratados de forma padronizada, e não coletiva, como a autora afirma. Coletividade implica em organização dos membros.

  3. O Mundo está cada vez mais globalizado. A pluralidade cultural já é uma realidade muito bem consolidada em todas as grandes cidades e em muitas das pequenas também!

    A criança precisa, desde cedo, aprender que o diferente é bom. Que o novo é bem vindo. Que o estranho pode ser enriquecedor!

    A criança é curiosa ao natural. O adulto é que os tornam preconceituosos. Se bem trabalhada desde cedo, a diversidade cultural será bem vinda pela nossa futura geração de líderes que estamos formando!

    Temos um pequeno texto sobre o assunto em nosso blog que pode ser um bom complemento aos leitores interessados:

    https://rcreborn.com.br/diversidade-cultural-na-escola/

    No mais, parabéns pelo artigo e por trazer um assunto que cada vez mais precisa ser abordado com carinho e trabalhado com naturalidade!

    Att

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