Comparação do perfil de docentes de EF no Brasil com os de outros países

Nota do Brasil Debate

Segundo a Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS), realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no Brasil, 94% dos professores dos anos finais do ensino fundamental concluíram o ensino superior (contra 89% da média dos outros países estudados) e mais de 95,1% dos professores acreditam que podem ajudar os alunos a pensar de forma crítica.

A Pesquisa coletou dados no ano de 2013 em 34 países: 24 países da OCDE e mais 10 países parceiros (Brasil, Bulgária, Croácia, Chipre, Emirados Árabes Unidos, Letônia, Malásia, Romênia, Sérvia e Singapura). No Brasil, a amostra foi composta por 14.291 professores de 6º a 9º ano do ensino fundamental e 1.057 diretores de 1.070 escolas.

Segundo a pesquisa, o professor típico brasileiro é do sexo feminino (71%, contra 68% na média dos outros países em 2013 e 73% de média brasileira em 2008), tem 39 anos de idade (contra média de 43 nos outros países) e em média 14 anos de experiência no magistério (contra 16 de média nos outros países).

Mulheres também são maioria em cargos de direção no Brasil (75% contra 49% na média nos outros países), conforme pode se notar pelos gráficos a seguir.

grafico distribuição idade docentes

grafico distribuição idade diretores

No Brasil, os docentes passaram, em média, 21 dias em treinamento em organizações externas, contra média de 7 dias nos outros países. A pesquisa mostra também uma diminuição de 51% em 2008 para 40%, em 2013, no Brasil, de professores contratados em tempo integral, correspondente a um aumento nas contratações a tempo parcial.

Ainda, 76,5% dos professores têm contratos por tempo indeterminado no estabelecimento de trabalho, contra a média do país de 74% em 2008 e a média de 82,5% nos outros países.

Os professores brasileiros estão entre os que passam o maior número de horas por semana ensinando (25 horas semanais contra a média de 19 horas nos outros países), enquanto relatam investir 20% do tempo de aula mantendo a ordem em sala, contra a média de 13% nos outros países.

Quanto às percepções dos professores, no Brasil, 86,9% dos professores dizem estar de modo geral satisfeitos com o trabalho e apenas 13,5% se dizem arrependidos de ter optado pelo magistério.

A pesquisa também aponta que 60% dos professores brasileiros declararam ter grande necessidade de desenvolvimento profissional na área de ensino para alunos com necessidades especiais, o maior percentual entre os países pesquisados.Também segundo a pesquisa, 18,4% dos professores brasileiros concordam que os professores com melhor desempenho em sua escola recebem maior reconhecimento.

Redação

2 Comentários

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  1. Acho que a pesquisa captou parcialmente o cenário brasileiro

    Nossas professoras – que são maioria – são guerreiras e merecem a gratidão eterna de todos os brasileiros pelo sacrifício que fazem, dia após dia, para educar com dignidade as crianças e jovens pobres do país. O que elas fazem é MUITO, mas MUITO mais que o salário e o reconhecimento que recebem da sociedade.

    Ao inferno, portanto, os que culpam os professores pelas dificuldades da educação pública no Brasil!

    Contudo, ainda há muito caminho pela frente e que passa pela qualificação dos gestores das políticas educacionais, principalmente, nos municípios.

    Se a pesquisa questionasse quantas horas de planejamento coletivo os professores dedicam por semana na escola, por exemplo, as notícias seriam alarmantes. São coisas que não dependem dos professores, mas da visão dos gestores.

  2. O mito da educação coreana

    O mito da educação coreana Sempre quando vamos discutir o atraso do Brasil, a questão da educação vem à tona e o exemplo educacional coreano é colocado como argumento, de um caminho que poderíamos ter trilhado, mas por miopia dos governantes nos foi negado. O exemplo coreano não pode ser negado, deve ser aceito como verdade absoluta. Mesmo quando poucos dados, quando são apresentados, sejam colocados como argumento.

    Durante as eleições, o economista e apresentador de TV Ricardo Amorim colocou em sua página do Facebook o exemplo coreano de investimento na educação como principal tema a ser debatido no segundo (https://www.facebook.com/video.php?v=710266692386150&pnref=story). Apesar de não apresentar fontes dos dados, os coreanos fizeram pesados investimentos em educação básica desde os anos 70 e hoje investem 6 vezes mais por aluno no ensino médio do que nós, brasileiros.

    No entanto, os dados do Banco Mundial nos mostram o quanto de idealização e fantasia existe neste tipo de argumento. O investimento médio na década de 70 foi de apenas 2,95% do PIB na Coréia, tendo chegado a irrisórios 2,12% do PIB em 1975. O pico de investimento na educação foi de 3,75% do PIB em 1971. Para termos uma base de comparação, o INEP apontou que investimos 6,1% do PIB em educação em 2011, portanto, mais do que o dobro do que os coreanos investiram em educação nos anos 70. Em 2011, o Banco Mundial mostra que os coreanos investiram “apenas” 5,24% do seu PIB em educação.

    Os dados da Unesco também refutam a tese de que Ricardo Amorim de que os coreanos investem 6 vezes mais por aluno do ensino médio do que o Brasil. Enquanto, os coreanos investisram US$ 7,1 mil dólares PPP por aluno do ensino médio em 2011, o Brasil investiu US$ 2,39 mil dólares PPP. Desta forma, a diferença de investimento por aluno é completamente explicada pelo maior PIB per capita da Coréia, não havendo um maior empenho dos coreanos em investir na educação secundária.

    Outro mito é que diferença estaria na priorização que o Brasil dá ao ensino superior. Os números da Unesco mostram que o governo brasileiro investiu 0,92% do PIB em suas universidades, o que não deixaria nenhum coreano boquiaberto, uma vez que seu governo investiu 0,82% do seu PIB no ensino superior. Cabe também mostrarmos que a situação brasileira não é nenhuma excrecência tropical: Áustria (1,56%), Argentina (1,22%), Canadá (1,92%), Chile (0,95%), Dinamarca (2,42%), França (1,29%), Alemanha (1,38%), Índia (1,26%), Suiça (1,37%) e Estados Unidos (1,39%) retiram qualquer culpa de investirmos em universidades.

    Na educação primária, o Brasil investiu 1,82% do PIB em 2010, um exemplo para a Coréia do Sul que destinou apenas 1,58% para tão importante fase na educação de uma criança.

    O exemplo educacional coreano estranha o mais importante economista daquele país, o professor de Cambridge Ha-Joon Chang. Segundo este iconoclasta professor coreano, a arrancada coreana e de Taiwan ocorreram em momentos que a educação desses países era pior do que a de Filipinas e Argentina, países que ficaram claramente para trás no processo de desenvolvimento econômica.

    O premiado professor coreano questiona até mesmo a importância da instrução formal nos processos de desenvolvimento, pelo menos na escala que tem sido recomendada. Segundo Chang, o mais relevante da produção do conhecimento não se dá nas escolas, mas dentro das empresas e de forma coletiva. Por isso, o mais relevante é a capacidade dos países de organizarem produtivamente as potencialidades dos seus cidadãos.

    Chang mostra que uma das sociedades mais produtivas e inovadoras do mundo, a Suíça, possuía até meados dos anos 90 taxas de matrícula universitária de 16%, número muito próximo dos nossos 13% criticados por Ricardo Amorim.

    A crítica de Chang avança para a forma como a educação está organizada em todo o mundo. Qual a importância de toda a matemática ensinada para o trabalho de um grande designer? E qual a importância do aprendizado de biologia para a produtividade de um banqueiro?

    Durante o processo eleitoral, Dilma apontou para a necessidade de repensarmos os currículos. Uma discussão muito mais profunda e relevante do que a proposta por Amorim. Mas o cavalo passou encilhado e ninguém montou, pois ainda estávamos presos a velhos mitos.

    Fontes:

    Unesco: http://www.uis.unesco.org/Education/Pages/education-finance.aspx

    Banco Mundial: http://data.worldbank.org/country/korea-republic

    Chang, Há-Joon: 23 Coisas que não nos contaram sobre o capitalismo. Editora Cultrix (2013)

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