Klaus Capelle, o alemão reitor da UFABC

Do Estadão

Físico alemão vira reitor da Universidade Federal do ABC
 
BÁRBARA FERREIRA SANTOS
 
Estrangeiro tem desafio de consolidar e aumentar o potencial de internacionalização da instituição

SÃO PAULO – Perto de completar uma década, a Universidade Federal do ABC (UFABC), criada em 2005, tem duas grandes metas: se consolidar entre as melhores do País e aumentar seu potencial de internacionalização. O reitor escolhido para assumir os desafios tem um perfil atípico, mas com experiência para a empreitada: é estrangeiro, fez graduação, mestrado, doutorado e livre-docência lá fora.

Klaus Capelle, de 45 anos, é um físico alemão respeitado internacionalmente. Ele se formou na Universidade de Würzburg, no norte da Baviera, tinha tudo para desenvolver uma brilhante carreira de cientista nas melhores instituições do mundo e optou pelo Brasil. Veio primeiro como pesquisador, depois se tornou professor. Em 2010 recebeu o convite para a Pró-Reitoria de Pesquisa da UFABC e agora, como diz, “está” reitor. “Tive vários convites na minha carreira para voltar para a Europa, mas neguei todos. Queria ficar aqui e estou firme nessa decisão”, diz.

Quando chegou ao País, em 1997, ele tinha acabado de ganhar o prêmio de melhor trabalho do ano na Faculdade de Física e Astronomia da Würzburg com sua tese de doutorado. Quatro anos antes levara o prêmio com o mestrado. 

Optou por fazer o pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP), sob a supervisão do professor Luiz Nunes de Oliveira. A ideia inicial era ficar apenas um ano, no Instituto de Física de São Carlos da USP, mas depois estendeu o prazo para dois anos. De 1999 a 2003 foi bolsista Jovem Pesquisador da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) no Instituto de Química da São Carlos. 

Já em 2003, prestou um concurso para professor da USP, marco, que para ele, firmou seu compromisso com o Brasil. “Naquele momento passei a ser um servidor público do País.”

Segundo Oliveira, seu orientador no pós-doutorado, em pouco tempo que estava no Brasil, Capelle já mostrava um perfil de liderança: tinha facilidade para fazer amizade e orientar os alunos brasileiros, de conversar com pesquisadores do mundo inteiro e, além disso, se comunicava muito bem. “Acho que essa liderança foi em grande parte responsável por ele ficar”, explica. 

Ele lembra que Capelle chegou sabendo pouco de português, com sotaque carregado. “Ele arrumou logo uma namorada e depois se casou com ela, o que ajudou a progredir rapidamente no português”, conta. “Ele dizia, no começo, que tinha dificuldade com a pronúncia. No metrô, queria comprar três bilhetes, mas os atendentes entendiam seis e ele voltava com mais.”

Depois de tanto tempo no Brasil, hoje já domina completamente o idioma e tem o sotaque bem suave. Segundo os alunos, é ele quem corrige, nas dissertações, erros de concordância ou equívocos com a nova ortografia do português. “Klaus nos ajuda no nosso crescimento pessoal também. Está preocupado em termos um bom português e um bom inglês, por exemplo”, diz a ex-aluna Vivian Vanessa França Henn, hoje professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Araraquara. “Tem uma liderança natural, que não impõe, mas convence.”

E, no perfil de Klaus, uma das características mais determinantes é a interdisciplinaridade. A área de pesquisa em que ele atua, a mecânica quântica de sistemas com muitos elétrons, permitiu uma transição rápida do Instituto de Física para o de Química de São Carlos. Isso reforçou o que ele desenvolveria mais tarde na UFABC, uma instituição em que os alunos ingressam em um dos dois bacharelados interdisciplinares (Ciência e Tecnologia ou Ciências e Humanidades) antes de optarem pela carreira que seguirão. A universidade estuda ainda dois bacharelados: um para a área de Artes (que englobará cursos como Museologia e Multimídia) e outro na área da Saúde. Ainda não há previsão de quando eles saiam do papel, segundo Klaus. 

O perfil diferente da universidade é que, segundo ele, chamou a atenção na instituição. “Eu poderia ficar na USP, porque as condições de lá são boas. O que me chamou atenção na UFABC é o projeto acadêmico pedagógico. Aqui temos um projeto novo não apenas para o País, mas em escala mundial e não estou exagerando.”

A chegada na UFABC aconteceu em 2009, quando prestou um novo concurso para professor titular. Há quatro anos foi convidado pelo ex-reitor Helio Waldman para ser pró-reitor de Pesquisa e, desde então, se envolveu com as atividades de gestão. Ao mesmo tempo em que permanece nos cargos administrativos, diz que não quer se afastar de suas pesquisas e das aulas. “Descobri nesses quatro anos que eu gosto também da gestão acadêmica. Quando você é professor e consegue uma bolsa para um aluno, consegue ver o brilho no olho e a felicidade do estudante. Como gestor, você está mais afastado, mas consegue ajudar centenas ou talvez milhares.”

Para os planos em larga escala na UFABC, Klaus promete priorizar a internacionalização. Desde que assumiu, em fevereiro deste ano, triplicou os recursos humanos da Assessoria de Relações Internacionais para “dar conta da demanda com a internacionalização”. “Minha experiência mostrou que quanto mais visões de mundo diferentes você tem, mais fácil fica se adaptar ao próximo desafio. Por isso quero facilitar essa experiência para os alunos.”

 

Redação

8 Comentários

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    1. Exatamente… A comparação

      Exatamente… A comparação com USP faz doer o coração .

      A outra coisa que me veio a cabeça foi q a hora q UFABC resolver ir pra área da Saúde talvez consiga oxigenar  estas carreiras e tirar o ranço que hoje infesta a profissão médica e suas relações arcaicas com os demais profissionais de saúde .

      Costumo dizer q as faculdades de Medicina do Brasil formam médicos para trabalhar no começo do século….XVIII reacionários, elitistas e em boa parte  divorciados das necessidades dos mais pobres.

       Acredito que se a Federal do ABC entrar nessa área conseguirá trazer reais avanços . A luta vai ser dura , a reação dos coxinhas de branco vai ser a que já conhecemos do episódio Mais Médicos , mas aos poucos a luz vai derrotando a sombra.

      que o Prof. Klaus tenha todo sucesso na empreitada , e seja mais um motivo para manter a Tucanalha longe do poder..

      1. As Faculdade de Medicina de

        As Faculdade de Medicina de primeira linha do Brasil são das melhores do mundo, São Paulo é um dos cinco maiores centros médicos do paneta, nem Nova York tem tanto hospitais de ponta como São Paulo, São Paulo grandes especialistas em TODAS as areas da medicina, coisa rara no mundo, para chegar ao nivel de uma Medicina da USP leva cem anos.

        1. Sim, é verdade, SP possui uma

          Sim, é verdade, SP possui uma medicina de excelência internacional. Constitui um dos elementos de atração internacional para a cidade. Pessoas vem de fora se tratar em SP. É melhor e mais barato.

          Esta medicina de excelência internacional se estende, geograficamente, entre o Metrô Santa Cruz e o Metrô Clínicas.

          Não chega ao Brás.

    2. Os reitores são eleitos pelos

      Os reitores são eleitos pelos alunos, professores e funcionarios, um MEGA ERRO, isso não existe nas grandes universidades do mundo, a Universidade é independente e tem autonomia financeira, o Governador tem pouco a ver

      mas mesmo com esse regime péssimo, que fez a folha ultrapassar o orçamento total, a USP ainda é a unica universidade brasileira entre as 100 melhores do mundo, a USP é uma instituição de São Paulo, seguiu sua historia sob governos como Adhemar de Barros, Maluf, Quercia, Fleury, os governadores NÃO tem quase nenhuma influencia na Universidade.

      De chirar são universidades lulistas como a do ABC inauguradas com deficiencias completas de instalação, de pessoal,

      tudo improvisado, para chegar a uma USP precisa de muito chão.

      1. E as críticas à USP Leste

        E as críticas à USP Leste onde ficam? No campus da UNICID?

        Nas unidades da FATEC do Tatuapé, para onde alunos e professores da USP Leste foram, de forma improvisadíssima, deslocados?

        Mesmas críticas de improvisação são válidas para as FATECs.

        Projetos pedagógicos descabidos, concursos apressados, instalações improvisadas, etc, etc, etc

        Mas estas não são lembradas. Por que?

        Outra coisa: entre não ter uma escola e ter uma escola que vá melhorando ao longo do tempo, qualquer pai ou mãe preferem a segunda opção.

        Entre não ter hospital e ter um hospital que vá melhorando com o tempo, qualquer paciente prefere a segunda opção.

         

      2. Os reitores não são

        Os reitores não são escolhidos apenas por alunos, funcionários e professores. Há um eleição primeiro entre estes e APÓS essa eleição o GOVERNADOR escolhe o reitor, e a escolha do governador é a que realemente conta… O que isso quer dizer? Que os votos dos alunos, funcionário e professores não tem real poder. 

        Sobre a universidade lulista do ABC ser completamente improvisada… Você já esteve lá? Está sim em fase de construção, que deveria ter sido completada há muito tempo, porém como todo empreendimento público no Brasil os prazos são sempre arrastados… 

        Tem a UFABC de Santo André e a de São Bernardo do Campo e as duas dão de mil a zero em infraestrutura de salas em vários prédios da USP que conheço, tanto em São Carlos, quanto em São Paulo. Falo isso tanto no quesito limpeza quanto no quesito manutenção e qualidade dos equipamentos disponíveis. O que está inferior a USP no momento são as questões dos laboratórios que estão sendo contruidos e do complexo esportivo, que também está em construção. Porém com apenas 8 anos(completados esse ano), pois a primeira turma de alunos foi em 2006, está mundialmente conhecida e crescendo como nenhuma outra faculdade brasileira. Digo mundialmente pois o ponto forte dessa faculdade, visto seu reitor, é a internacionalização e pesquisa. Nesses dois quesitos superou a USP(e qualquer outra universiade brasileira) há muito tempo. Sim, as pesquisas da UFABC estão melhores que as da USP.

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