As dificuldades a serem enfrentadas na educação inclusiva

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – A conciliadora e mediadora do Tribunal de Justiça de São Paulo, Floriza Fernandes, 45, mãe de uma menina com Síndrome de Down, enfrenta uma situação dramática com um colégio situado em Santo André, no ABC Paulista. Há alguns meses, Floriza foi procurada por uma funcionária que diz ter presenciado cenas de maus tratos contra a pequena de seis anos. O caso foi parar na Justiça.

Relatamos o ocorrido por ser uma situação comum a muitos pais de filhos com necessidades especiais.

Em entrevista ao GGN, Floriza contou que a filha estudava há quatro anos no Colégio. A escola não é exclusiva para crianças que precisam de cuidados especiais. No ato da matrícula, nenhuma taxa adicional foi cobrada. Para adaptar os materiais e exercícios às necessidades da menina, a instituição recebeu uma psicopedagoga e fonoaudióloga indicada por Floriza. Não houve nenhum problema de adaptações, segundo apontou.

Até que, em março passado, “uma funcionária do colégio onde minha filha estudava veio a mim e relatou que minha filha estava sendo vítima de maus tratos. Imediatamente, retirei ela da escola e, em seguida, procurei o colégio para me informar sobre o que estava acontecendo. A escola me pediu uma semana para apurar os fatos. Quando eu, meu marido e nosso advogado retornamos, eles nos disseram que nada havia sido apurado e que tudo não passava de um mal entendido.”

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Segundo os relatos da funcionário que denunciou a agressão, a filha de Floriza era “chacoalhada pelo bracinho, colocada para fora da sala de aula” e permanecia no corredor até que outro profissional checasse o que estava acontecendo. Isso se repetiu algumas vezes.

“A funcionária do colégio me disse que não aguentava mais ver o que acontecia com a minha filha. Em uma ocasião, a professora [suspeita de tratar mal a menina se descontrolou totalmente e saiu gritando pelo corredor que não suportava mais essa criança, que alguém tirasse ‘essa criança’ de perto dela. Algumas professoras do mesmo corredor ouviram os gritos e saíram da sala para ver o que estava acontecendo. Elas questionaram: ‘Que criança?’, e a professora respondeu: ‘A Lívia. Eu não suporto essa criança’”, relatou.

Segundo Floriza, diante da inércia da escola, uma representação criminal foi aberta. “O caso da minha filha está em fase de inquérito policial. Vários depoimentos foram colhidos. A funcionária que me relatou os maus tratos já prestou depoimento. Ela foi contundente no que falou. Manteve tudo que me disse desde o princípio, de forma que até mesmo a escrivã da delegacia se surpreendeu.” Agora, de acordo com a mãe, é preciso aguardar a decisão do Ministério Público, que deve decidir se aceita ou não a denúncia.

Preparo das instituições

Na visão de Floriza, a descoberta de que a filha pode ter sido alvo de despreparo de uma instituição de ensino revela as dificuldades da educação inclusiva no Brasil.

“Maus tratos é algo muito grave. Numa escola com mais de 70 anos de tradição, é muito difícil aceitar e se responsabilizar por uma questão como essa. É muito mais fácil tentar esconder”, comentou.

Floriza ainda contou à reportagem que descobriu que sua filha tinha Síndrome de Down após o parto e, por recomendação da pediatra, levou a menina a uma unidade da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Não foi necessário mais do que dois meses de frequência para perceber que o local não tinha condições de pleno atendimento.

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“Infelizmente, acho que as APAES não estão muito bem preparadas. A Síndrome de Down é um outro tipo de necessidade especial. Não podemos colocar todas as necessidades das crianças dentro de uma coisa só. É preciso separar. Cada deficiência precisa de um cuidado especial”, avaliou.

Por que denunciar

Segundo Floriza, a denunciante já havia presenciado outros casos parecidos dentro do colégio e mesmo levando as situações à direção da instituição, “nada foi feito”. “É uma funcionária que já trabalha naquela escola há oito anos. Como entendeu que tudo iria permanecer como sempre permaneceu, ela preferiu contar diretamente a mim e a meu marido”, comentou. A profissional, pela proximidade com as crianças e pais, também presta serviços fora da sala de aula, na maioria das vezes como babá, e já foi contratada por Floriza.

A mãe, por sua vez, diz que resolveu divulgar o caso porque ele “não é isolado”. Outros casos teriam ocorrido na mesma escola, e Floriza ficou sabendo porque as mães das crianças vitimadas, sendo elas de necessidades especiais ou não, a procuraram para compartilhar informações e serem solidárias com o drama.

Outro lado

Procurado, o Colégio informou ao GGN que prefere aguardar a conclusão do inquérito para se manifestar sobre este assunto.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

2 Comentários

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  1. Não se usa mais o termo

    Não se usa mais o termo “portadora” para se tratar de pessoas com alguma deficiência. A criança pode portar um brinquedo, um bicho de pelúcia, um livro, uma pranca de surf. Ela não “porta” cromossomos e os deixa, por exemplo, numa mesa.

    O correto é simplificar: basta chamar de criança com síndrome de down.

  2. Caso parecido não ganho na justiça
    Queria contato com essa mãe para fazermos uma denúncia coletiva pois isso é comum e o pequenas causas de Santo André me deu causa perdida num caso de extrema importância colégio que paguei 1.100,00 por mês, é um absurdo..

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