Mudança para o Ministério da Ciência e Tecnologia pode comprometer ensino superior

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Foto: Arquivo/Portal BrasilFachada do Ministério da Educação (MEC), na Esplanada dos Ministérios, em Brasília

do Brasil de Fato

Mudança para o Ministério da Ciência e Tecnologia pode comprometer ensino superior

por Cristiane Sampaio – repórter do Brasil de Fato | Brasília (DF)

Ex-reitor da UnB defende amplo debate sobre a medida, que não foi detalhada pela equipe do do novo governo 

A proposta do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) de transferir a administração do ensino superior, do Ministério da Educação (MEC) para o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC), tem suscitado críticas por parte de especialistas no setor.

O professor José Geraldo de Sousa Júnior, ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), aponta que a medida tem precedentes em outros países, mas nunca foi experimentada no Brasil. A ideia já foi proposta durante o governo Itamar Franco (1992-1994) e cogitada posteriormente em diferentes momentos, como em 2009, por meio de um projeto de lei de autoria do então senador Cristovam Buarque (PPS-DF).

O parlamentar defendia uma maior concentração do MEC na educação básica. A transferência do ensino superior para o MCTIC era uma tentativa de viabilizar essa mudança de prioridades, mas a proposta não avançou.

O ex-reitor chama a atenção para a possibilidade de estrangulamento dos pilares que sustentam a atuação das instituições de ensino superior.

“Você desloca a universidade para a área de tecnologia, que é pesquisa e inovação, mas a universidade é também ensino e extensão, duas dimensões que não fazem parte da plataforma – também histórica – de articulação do Ministério da Ciência e Tecnologia”, pontua.

Ciências Humanas

O filósofo e educador Gaudêncio Frigoto, professor aposentado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), chama a atenção para o risco de comprometimento da área de Ciências Humanas.

A submissão do ensino superior ao MCTIC, além de submeter o meio universitário à lógica do mercado, poderia fazer o segmento caminhar para um sufocamento dos cursos de Humanas, considerados menos atraentes aos investimentos em pesquisa. 

“É uma visão pragmática, mercadológica da ciência. É uma tendência de entender o ser humano como um mero instrumento do mundo do mercado. Evidentemente que as ciências humanas, que ajudam a pensar, analisar, são um espinho no calcanhar”, aponta o educador.

Em entrevista concedida na última quinta-feira (1º), Jair Bolsonaro disse à imprensa que a ideia de mudança de competência sobre o ensino superior serviria para “dar um gás” na área. Ele não deu mais informações sobre a proposta.

Apontado como futuro ministro da Ciência e Tecnologia, o astronauta e tenente-coronel da reserva Marcos Pontes afirmou nessa segunda-feira (5) que aguarda uma definição do presidente eleito sobre a ideia da transferência.

Para o ex-reitor da UnB, a medida carece de um debate amplo entre os diferentes segmentos que podem ser afetados em caso de mudança: “Ela deveria ser mais discutida e, aparentemente, está sendo formulada num contexto de urgência meramente funcional, para compor a governança, mas não pra discutir aquilo que isso possa vir a representar”. 

Jair Bolsonaro assume a Presidência da República no dia 1º de janeiro de 2019.

Edição: Daniel Giovanaz

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

4 Comentários

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  1. os macartistas do séc. XXI

    Bolsonaro já afirmou em entrevista que um dos grandes problemas brasileiros além da violência é a questão “ideológica”. Está na cara que essa mudança tem como objetivo sufocar os cursos de humanidades, onde “eles” acham que existe a semente ideológica, aquele comunismo que lhes foi receitado nos anos 50 pelos macartistas e que ainda prevalece nas forças armadas.

  2. Mas esta mudança é justamente para

    retirar as universidades federais do orçamento do ministério da educação. A mensagem será: “virem se” (sub-entendido: seus “comunistas vagabundos”).

  3. Bobagem, o novo sistema é fabuloso!

    Nassif: não sei porque esse alvoroço. Se a promessa de campanha era acabar com ensino público para pobres, está tudo sendo conduzido nos conforme. Lizabethinha, irmã de AliBaba, tá no controle absoluto das particulares, que comandarão a educação, as escolas e todo aparato escolar.

    Haverá uma estratificação militar e pedagógica.

    Para a classe “E” o primário. Suficiente que assinem o nome no dia da eleição. Como no MOBRAL  do tempo dos milicos. Prá que pobre precisa saber compreender o que lê? Saber rabiscar o nome já tá de bom tamanho.

    Na classe “D” aprenderão até as 4 operações matemáticas, o beabá e noções de direção (que chamarão geografia), suficientes para poderem fazer compras para os patrões e levar seus filhos e cachorres aos passeios matináis.

    Na classe “C” haverá um aprimoramento melhor, pois eles terão de ensinar as classe “E” e “D”. Coisa não muito profunda, pra não incentivar essa de política e provável kummunismo. Uma parte será recrutada para meganha civil e militar. E se houver tentava de manifestão é só infiltar um capitão que a gorotada se fode.

    A classe “B”, dela sairão Juízes, Procuradores e Políticos. O tripe do servilhismo será completado com seleto grupo dos Delatores, um pessoal privilegiado, autorizados a roubar e repassar o produto, mas sempre áptos a entregarem os que resolvam enfrentar o regime. Para os desta não haverá escola pública, mas os estudos serão custeados pelo Estado. 

    E, finalmente, a classe “A”, de “abastados”. Dominarão as fontes de bens, serviços e finanças. Os filhos nem se preocuparão com esse negócio de vertibular e outras quireras. Estudarão nas estranjas, falarão línguas (que não o portugues) e serão ministros e militares de alta patente.

    É ou não é um colosso de educação? Por isto não entendo essas manifestações de aparente repúdio. Há sistema melhor?

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