Os efeitos do golpe na educação pública

Sugerido por Marcos RTI

Do Arquivo Público e Histórico de Rio Claro

27º Batepapo Cultural – Efeitos do Golpe Militar na Escola Pública

“Na sala de aula, o professor precisa ser um cidadão e um ser humano rebelde.”
(Florestan Fernandes)

Durante o regime militar no Brasil, a esfera educacional recebeu intervenções políticas para que se tornasse mais um instrumento de manutenção da ditadura. Por meio da educação o governo pretendia interferir nas idéias e pensamentos dos alunos, para validar a própria permanência no poder. No entanto, houve professores que se negaram a agir como legitimadores do governo militar e iniciaram um movimento no sentido oposto: o de atuar contra este regime.

O trabalho que será apresentado é resultado de uma pesquisa realizada no arquivo do DEOPS/SP, tomando por base documentos produzidos a respeito de professores acusados de crimes políticos durante o Governo Médici, período de maior repressão do governo militar.

Quem são os professores que tiveram a coragem de, em sala de aula, mostrar sua rebeldia enquanto cidadãos e buscar, de algum modo, alertar seus alunos sobre o que ocorria de fato no país? O que aconteceu a eles, segundo os documentos oficiais do DEOPS/SP?
O Arquivo Público e Histórico está levantando depoimentos, por meio de história oral, pesquisas em jornais locais e em outros documentos, sobre a história vivida por jovens e moradores da cidade nesta época para que também esse tema tenha seu devido reconhecimento.

Milene Cristina Hebling é formada em Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. É professora na rede Municipal de Limeira. Atualmente é mestranda na área de Educação pela Universidade Federal de São Carlos. Atua principalmente nos seguintes temas: trabalho docente e subversão; crime político; Ditadura Militar, História da Educação do Brasil.
     
Atualmente é mestranda na área de Educação pela Universidade Federal de São Carlos. Atua principalmente nos seguintes temas: trabalho docente e subversão; crime político; Ditadura Militar, História da Educação do Brasil.

Sobre o Batepapo Cutlural:

O Batepapo Cultural é um evento mensal organizado pela parceria entre a Prefeitura Municipal e a UNESP, com organização do Arquivo Público e Histórico e da Secretaria de Cultura, que tem trazido para Rio Claro o encontro entre pesquisadores de diferentes áreas e a comunidade, sempre com a preocupação de apresentar um outro olhar para a realidade que provoque pensar a vida em sociedade e novos desafios a serem aprendidos.

O 27º. Batepapo Cultural foi realizado no dia 21 de Março no Arquivo Público e Histórico – Rua 6, 3265- NAM, e teve como mediador o Prof. Romualdo Dias da UNESP – Rio Claro.

Esse Batepapo Cultural tem a parceria da Secretaria de Segurança de Rio Claro.

Redação

12 Comentários

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  1. Educação na ditadura

    Marcos RTI,

    Tive um professir de História que metia o pau prá valer no regime militar.

    Na minha sala tinha filho de coronel, neto de general e ele não estava nem aí, o inesquecível professoar é  conhecido como  J.G.de Araújo Jorge. Sempre dizia, “se tivesse um alto falante transmitindo o que estou falando aqui, eu estaria preso e vocês podem ver que não estou falando nada de mais “, e tome de esculacho nos militares, no regime, e ainda dava a matéria rsrsrs

    J.G.de Araújo Jorge, um professor inesquecível.

    No regime militar houve um surto positivo na educação brasiliana, com o fantástico Mobral a alfabateizar até os cachorros  vira-latas – sabia desenhar o nome, pronto, era considerado alfabetizado, p;q.p.   

  2. Lendo os relatos do Luis

    Lendo os relatos do Luis Nassif e do Raí,  eu me surpreendi com a participação e conhecimento do universo político do país na escola pré 64. E eles eram adolescentes no período. Pois eu entrei no ginásio em 68, numa escola pública noturna no interior de São Paulo, e não havia um resquício sequer de organização estudantil, discussão política ou informação sobre a ditadura brutal que vivíamos no país. Em 4 anos foi destruido todo um sistema educacional de formação social e política.E muitos dos meus professores eram recém egressos de faculdades.  Me lembro é de professores escolhidos a dedo para as cadeiras de OSPB – Organização Social e Política Brasileira e mais tarde EMC – Educação Moral e Cívica que nos descreviam a maravilha de desenvolvimento em que tínhamos embarcado após a “revolução”. Até militares dos antigos Tiros de Guerra que havia nas cidades pequenas eram professores dessas matérias.

    Mas nesta época ainda éramos obrigados a fazer fichas de leitura nas aulas de português e eu escolhi Vidas Secas para ler. Para minha idade na época o livro era “indigesto” e  bravamente fiz a sua leitura  página a  página  e me deparei  com a miséria absoluta e abandono de uma parte do Brasil. Mais tarde foi determinante na minha consciência política a leitura dos romances da fase política e social da obra de Jorge Amado. Mas quem despertou minha desconfiança realmente com o novo regime foi uma mãe extraordinária. Me lembro de que na fase áurea da ditadura os políticos no poder na minha cidade distribuiram panfletos de casa em casa falando do perigo do comunismo. Ela leu  o panfleto (lia tudo que lhe caia em mãos) e me lembro dela dizendo: dizem que o comunismo tem 10 coisas a favor do pobre e 10 coisas contra. E nós somos pobres, acrescentou.

  3. Caso Familiar

    Meu pai e tios/tias nasceram num período entre 1949 e 1958. Os mais velhos estudaram em escolas públicas antes e depois da ditadura.

    Segundo eles, a coisa começou a piorar lá pelos idos de 66/67. Não tiveram mais aulas de francês e principalmente as matérias de história e geografia mudaram drasticamente. Professores se recusavam a discutir sobre a situação política em sala de aula por medo de perseguição, alguns dos melhores professores simplesmente abandonaram a escola e o nível de ensino caiu muito em todas as matérias.

    Para ter um ensino de qualidade um pouco melhor para o filho mais novo, a solução que meu avô encontrou foi enviá-lo para um seminário. A idéia nem era tornar o filho padre, mas que ele pelo menos tivesse uma educação decente.

    Deu mais ou menos certo, rsrsrs. Meu tio era um adolescente problema, aguentou dois anos e pulou fora! Mas teve uma base melhor do que a maioria dos colegas com a mesma idade que ele.

    1. PENSO DE MODO DIFERENTE

      Bob Jr, de 1954 a 1958 fiz o curso ginasial (hoje da qquinta à oitava séries) em seminário católico.

      No currículo de português, a partir da terceira série,  constava até análise sintática de OS LUZÍADAS, do HINO NACIONAL.

       

      No currículo de matemática constava estudo de juros, regra de três simples e composta, geometria, dedução do Teorema de Pitágoras …

       

      Havia ensino de latim, noções básicas de inglês e francês,  etc. etc. etc.

       

      Como se vê, a piora no ensino ocorreu por causa da mudança de currículo pelos governos militares, não por causa do regime.

       

       

       

       

       

      1. Ensino na ditadura

        Gilson Raslan,

        Lembrança perfeita.

        Como você, no ginasial estudei latim, inglês, desenho técnico, descritiva ( poucos eram os colégios a se preocuparem com isto ) , aula de portuguès tinha ênfase na redação, e assim caminhava o ensino, muito bom.

        Só fui perceber a qualidade do meu colégio quando cheguei na faculdade.

        Um abraço 

      2. Fico besta como as pessoas nao vêem o q essa “quali//” signifcav

        Ensino super elitista, apenas 50% da populaçao entrava na escola, e desses 50% metade era reprovada na primeira série, e falam da qualidade da educaçao daquele tempo. Análise sintática de Camoes? PARA QUÊ? Ensino de Português nao devia ser isso, e sim desenvolvimento de leitura, escrita e fala. Latim? Ora, ora. 

        A situaçao do ensino pode ser ruim hoje, mas é melhor do que era naquele tempo, pois pelo menos a escola quase que se universalizou. 

        Claro que nao estou defendendo a ditadura, apenas dizendo que a roda da história anda, e que esse saudosismo de alguns é falta de informaçao. 

        1. Analú, não é saudosismo. O

          Analú, não é saudosismo. O meu comentário tratou da questão do ensino, não da oportunidade de ingresso nas universidades.

          É indiscutível que hoje a oportunidade de ingresso em curso superior é infinitamente maior do que anos passados, mas também é indiscutível que no passado o qualidade do ensino era muito superior à de hoje. Faço esta afirmação por experiência própria,  pois no passado vivi a experiência de aluno, e nos últimos anos, a de professor.

          As reprovações a que você se refere serviam para dar credenciais aos alunos que realmente aprenderam as matérias,  garantindo futuros profissionais competentes, inclusive na área do magistério,  diferentemente de hoje, cujos professores não dominam as matérias que lecionam exatamente porque foram aprovados sem conhecimento.

          Quanto a Camões, foi apenas um exemplo que me ocorreu, pois em seu Lusíadas a estrutura do texto coloca o sujeito, o verbo, os objetos … totalmente em ordem inversa, obrigando o aluno a raciocinar para descobrir todos esses elementos, o que vai facilitar o entendimento do conteúdo de qualquer leitura que lhe cair às mãos. 

          O latim, minha querida, é a nossa lígua-mãe, sem a qual não vamos entender a nossa língua,  apenas decorar os seus fundamentos.

          Mais uma para seu conhecimento: traduzir as Catilinárias do latim para o português e fazer a análise sintática do texto era mais uma lição obrigatória.

          Em qual escola, hoje, tem em seu currículo tudo que narrei aqui?

          Por último, já que você tocou no assunto, os alunos tinham como leitura obrigatória Machado de Assis, Guimarães Rosa e outros clássico de nossa literatura. Ao final da leitura de cada livro, cada aluno ia à frente da sala de aula (segundo o professor, para perder a inibiçao de falar em público) para fazer a exposição do que endendeu do tema tratado pelo autor.

          A PERGUNTA CLÁSSICA: o ensino do passado era ou não mais profundo do atalmente?

          Um abraço e me desulpe pela estensão da resposta.

           

          1. Gilson, isso é um EQUÍVOCO

            Eu nao estava falando de universidade. As reprovaçoes, que jogavam a populaçao pobre para fora da escola, eram na PRIMEIRA SÉRIE DO PRIMÁRIO. Nao estou chutando dados, consulte o livro História Inacabada do Analfabetismo no Brasil, de Alceu Ferraro. Aquela “qualidade” era uma qualidade para pouquíssimos, além de revelar uma deformaçao absoluta dos fins da educaçao. Análise sintática de Camoes é um dos exemplos disso… 

            Também passei por essas escolas “de excelência”. No meu ano foram mais de 4.000 candidatas (era uma escola feminina) para apenas 70 vagas, relaçao candidato/vaga pior que a das faculdades públicas de Medicina atualmente. Isso para entrar no ginásio, ou seja, no correspondente à quinta série/sexto ano de hoje (na época era necessário fazer uma espécie de vestibular, o exame de admissao, para entrar nos ginásios). Resultado: de uma turma de 37 alunos (porque 3 alunas empataram no último lugar), 35 eram de classe média alta, e TODAS — eu disse TODAS — as crianças tinham sido primeiras alunas de classe durante o primário todo. Realmente se podia fazer qualquer coisa com aquelas crianças, elas gostavam de aprender e da escola, mas isso era absolutamente nao universalizável. 

            E dizer que é preciso saber Latim para entender Português é BOBAGEM, Gilson, pelos santos (fui professora de Português muitos anos, antes de passar a ensinar Linguística). Fazer alunos de 12, 13 anos lerem Machado de Assis só serve para fazê-los odiarem Machado de Assis, e nao lê-lo na idade em que poderiam apreciá-lo. Muito melhor seria dar-lhes a ler romancinhos infanto-juvenis, que os habituariam a ler, fariam com que gostassem de ler, e os habilitariam para ler coisas mais sérias depois. Essa pretensa profundidade de ensino de antigamente era completamente ilusória. 

          2. Analú, para reforçar o meu

            Analú, para reforçar o meu ponto de vista sobre a qualidade do ensino do passado, vou lhe contar uma historinha.

            Concluí o então curso científico em 1961, mas somente no final de 1972 resolvi prestar vestibular para o curso de Direito na UFMG, portanto 12 anos fora da escola.

            Enfrentei o vestibular sem fazer o famigerado cursinho e obtive, dentre os 120 aprovados, a quinquagésima quinta colocação,  sendo que 90% das provas eram de matérias que aprendi no curso ginasial, que naquela época já eram ministradas no segundo grau.

            Para concluir nossa construtiva e agrável discussão: penso que o grande equívoco do ensino de hoje foi jogar conteúdos de um nível inferior para um nível mais elevado, deixando aqueles que só completaram, por exemplo, a oitava série sem rumo na vida, como autênticos ANALFABETOS FUNCIONAIS.

            Um abraço e um ótimo final de semana.

          3. Gilson, NAO É ISSO!

            As causas da deterioraçao do ensino sao muito outras. Algumas das quais no início até boas: a própria universalizaçao indiretamente a causou. Isso porque com a necessidade de muito mais professores (e com a desimportância dada à educaçao do povo…) os governos de todos os matizes degradaram enormemente nao só o nível salarial mas também as condiçoes de trabalho dos professores. Com isso, como as pessoas nao sao masoquistas, houve uma anti-seleçao: pessoas com boa formaçao anterior nao escolhem mais o magistério como profissao. Sao exatamente os que têm a formaçao básica mais fraca que ainda querem ser professores. Que nao podem dar o que nao têm:  sou professora de futuros professores: meus alunos mal sabem ler um texto acadêmico, e nao conseguem se expressar por escrito. E nao sao “conteúdos”, sao coisas que você adquire ou nao ao longo de toda a escolaridade.  

            E há mil outras causas, anomia no tecido social, falta de autoridade da família, falta de sentido do ensino para os jovens, etc., etc. e etc. 

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