PL proíbe professores de abordar ideologia e religião em Alagoas

Do facebook de Bob Fernandes

Texto de Odilon Rios relata a tentativa da Assembleia de Alagoas de impor as trevas: professores proibidos de abordar ideologia, religião, a Teoria da Evolução das Espécies, sexualidade humana, Freud…

Por Odilon Rios

Levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em Washington, mostrou que Alagoas, se fosse um país, teria a pior educação do mundo.

Alunos pesquisados nas escolas públicas ou não sabem ler ou não interpretam textos; não sabem somar, subtrair, mutiplicar ou dividir.

Líder em analfabetismo, Alagoas assiste à tramitação de um projeto de lei na Assembleia Legislativa, do deputado Ricardo Nezinho (PMDB).

Batizado de “Escola Livre”, tem seis páginas e oito artigos. Em “Deveres do Professor” está escrito: ele deve se abster de abordar conteúdos que estejam em conflito com as convicções morais, religiosas ou ideológicas dos estudantes ou pais ou responsáveis. Pena: suspensão ou demissão no serviço público.

Cursinhos ou escolas que preparam alunos para o Enem podem ser proibidos, seguindo a lei, de abordar a teoria da evolução das espécies, em contraste com a tese bíblica de Adão e Eva; ou que se discutam ideias de filósofos ateus como Nietzsche, Augusto Comte; ou se aborde Freud e a sexualidade no homem.

Quem se sentir atingido em sua moral ou convicção pode acionar o professor no Conselho Estadual de Educação ou na Secretaria Estadual de Educação.

O Escola Livre foi aprovado ano passado pela Assembleia Legislativa. Por unanimidade.

Deputados justificaram: votavam por Deus e pela família.

Em janeiro, o governador Renan Filho vetou o Escola Livre. Entendeu que ele fere o artigo 206 da Constituição Federal (“liberdade de aprender, ensinar e pesquisar”).

Próxima terça (26), os deputados discutem derrubar os vetos do governador. A Arquidiocese de Maceió e a Assembleia de Deus dão como certos os votos de 26 dos 27 deputados, favoráveis ao Escola Livre.

Seguidores das religiões afro temem que a lei estadual criminalize o professor que aborde o Candomblé, a Umbanda a alunos católicos ou evangélicos.

Há 104 anos, terreiros foram destruídos e queimados em Maceió acusados de bruxaria.

Se passar pela Assembleia, o Escola Livre pode oficializar o pior: o início da Idade Média na educação de Alagoas.

Redação

27 Comentários

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  1. Oh my… O que os deputados

    Oh my… O que os deputados de Alagoas estão pensando, querem transformar Alagoas em um estado fundamentalista religioso como o que a ISIS está tentando impor no Iraque e na Síria? O que aconteceu com o Brasil, vocês estão enloquecendo de vez?

  2. “Escola livre”… de

    “Escola livre”… de aprendizado, ensino e pesquisa. “Escola livre” de conhecimento, esclarecimento, crítica e criatividade.

    Deus nos livre!

  3. A gente foi dormir e sonhou

    A gente foi dormir e sonhou com um Brasil soberano, desenvolvido, menos desigual e acordou no meio da Idade Média. Sonhamos trem bala e acordamos a bordo de um carro de boi. Dá um desgosto danado! Que país mais atrasado! Que povo mais burro! Olha, aquelas palavras de Mano Brown poderiam ter saído da minha boca.

  4. Ninguem mais vai querer ser

    Ninguem mais vai querer ser Professor no Brasil.

    Ganham pouco, perderam a autoridade em sala de aula, viraram refens dos alunos, tem que fazer o papel de Pais.

    Quem vai querer se submeter a isso ?

    O País de merda, que não trata bem os professores, só quer saber de arrumar emprego para bacharel em direito.

  5. Igerja Católica e Protestantes, juntos!

    Igreja Católcia e Assembleia de Deus, juntos pela volta à Idade Média!

    Nessas horas que a gente vê que a índole da Inquisição jamais abandonou a Igreja Católica, e que se eles se sentirem à vontade e tiverem espaço, o medievalismo volta com força total! Daqui a pouco estarão pregando fogueira pra quem é espírita, como eu…

  6. STF golpista será conivente com isso?

    Em tempos de STF golpista pode ser inútil entrar com ação na “suprema” côrte questionando esse projeto obscurantista, cuja inconstitucionalidade é tão flagrante que até os leigos a percebem de cara.

    1. A Constituição garante a liberdade de expressão

      Está no artigo 5.  Se esse veto for derrubado é só entrar com uma ADIN. Creio que pelo menos nisso o STF vai se posicionar. É ponto pacífico.

  7. Qual é a novidade?

    Em um Estado medieval de uma República de Bananas esperavam o quê? Iluminismo?

    Quá quá quá quá!

    Esperar o quê de um Congresso Nacional tomado pelo fundamentalismo religioso?

    Eperar o quê das ruas de uma República de Bananas tomada por facisitinhas.

    É 😀 pra não :'(

    Vamos digitar enquanto não aparece um PL dizendo que teclado é instrumento do demônio.

  8. Ensino

    Já publiquei vários posts sobre educação. Vai mais um.

    A sugestão é ensinar – do primeiro ao último ano – a matéria chamada mitologia. Que não deixe escapar um único aluno sem o total conhecimento da matéria.

    No longo prazo o avanço seria extraordinário. Vivo indagando aos meus botões: quantas mentes brilhantes não foram embotadas pelos chamados dogmas? Dogma, coisa que reputo como a pior coisa que já se inventou na face da terra.

    Em todas as áreas do conhecimento, quando se estuda uma coisa ou um assunto, surgem obstáculos. O estudante desvia do obstáculo e vai adiante. Mais adiante ele descobre a solução para aquela dificuldade tivera.

    Com o dogma é diferente. Ele para ali. É assim é porque é assim. PT saudações. Lá se foi para as cucuias a perspectiva de desenvolvimento do cidadão.

    Aliás, a função precípua do dogma é essa mesmo: Travar a mente das pessoas. Tarefa que ele se desencumbe à perfeição.

    Por isso que sou ateu. Por isso, e só por isso, ainda mantenho ativos o tico e o teco.

     

  9. não tenho palavras

    Quando leio uma sandice dessas fico sem palavras!

    PENSEI que já tinhamos passado essa fase na historia da humanidade!

    MAS NÃO!

    Se Voltaire, Rousseau, Erasmus etc etc  fossem vivos estariam pasmos!

     

  10. Certa vez retruquei numa

    Certa vez retruquei numa troca de ideias com um colega aqui do GGN, gente muita boa, que para se defender uma causa primeiro deve ser reconhecer quem são os verdadeiros inimigos da mesma.Que não se deveria, por esse aspecto, transferir as críticas para os aliados e simpatizantes em função de erros e omissões pontuais destes, muitos em decorrência de motivos explicáveis dada o embate político-ideológico. 

    O PT, e de resto a Esquerda, apanhou mais que galinha para largar o choco nos últimos anos em razão das iniciativas visando antenar o país com o resto do mundo em termos de políticas sociais, relativas à Direitos Humanas e Costumes. Tudo passou a ser encarado como bolivarianismo, esquerdopatia, atentado contra a tradicional família cristã, ideologia de gênero, abortismo, paganismo, censura, perversão da infância e juventude, o escambau e mais uns etc e coisa e tal. 

    Absurdos como esse relatado no texto papocam diariamente nesse Brasil varonil. A repulsa indignada às tentativas de avanços serviu de biombo para que, sorrateiramente, se restabelecesse a Idade Média no formato tupiniquim. Surfando na onda, lideranças políticas e religiosas com seus discursos raivosos, moralmente retrógrados e intelectualmente desonestos, e claro, porque ninguém é de ferro, interessados em faturar alguns trocados no clima de consternação “moral”.

    Próximos passos: cinta de castidade para mulheres; estas voltarem a tratar seus maridos por “senhor” e estes suas mulheres por “senhôras”(“o” fechado); cruzes espetadas em cada repartição pública, leitura obrigatória de trechos da Bíblia antes das aulas e qualquer outra solenidade, Gulags ou Campos de Concentração para LGBT, e por aí vai. 

  11. Programa Escola Livre

    “A Assembleia Legislativa aprovou, por unanimidade, nesta terça-feira, 17, o projeto de lei, de autoria do deputado Ricardo Nezinho (PMDB), que institui, no âmbito do sistema estadual de ensino, o Programa “Escola Livre”. Pela proposta, fica vedada a prática de doutrinação política e ideológica em sala de aula, bem como a veiculação, em disciplina obrigatória, de conteúdos que possam induzir aos alunos a um único pensamento religioso, político ou ideológico.

    O Programa “Escola Livre” terá os seguintes princípios: neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado; pluralismo de ideias no âmbito acadêmico; liberdade de crença; direito dos pais a que seus filhos menores recebam a educação moral livre de doutrinação política, religiosa ou ideológica; e educação e informação do estudante quanto aos direitos compreendidos em sua liberdade de consciência e de crença.

    Pelo projeto, a Secretaria Estadual de Educação promoverá a realização de cursos de ética do magistério para os professores da rede pública, abertos à comunidade escolar, a fim de informar e conscientizar os educadores, os estudantes e seus pais ou responsáveis, sobre os limites éticos e jurídicos da atividade docente, especialmente no que se refere aos princípios contidos nesta lei.

    Ainda pela proposta, no exercício de suas funções, o professor não poderá: abusar da inexperiência, da falta de conhecimento ou da imaturidade dos alunos, com o objetivo de cooptá-los para qualquer tipo de corrente específica de religião, ideologia ou político-partidária; não favorecer nem prejudicará os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas; não fará propaganda religiosa, ideológica ou político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos ou passeatas; e ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa, com a mesma profundidade e seriedade, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas das várias concorrentes a respeito, concordando ou não com elas.

    Por fim, o projeto indica que as escolas deverão educar e informar os alunos matriculados no ensino fundamental e no ensino médio sobre os direitos que decorrem da liberdade de consciência e de crença asseguradas pela Constituição Federal. A proposta foi lido no plenário da Assembleia Legislativa e encaminhado a Comissão de Constituição e Justiça da Casa, para emissão de parecer.

    De acordo com Ricardo Nezinho, o projeto está em perfeita sintonia com o artigo 2° da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que prescreve, entre as finalidades da educação, o preparo do educando para o exercício da cidadania. “Urge, portanto, informar aos estudantes o direito que eles têm de não ser doutrinados por seus professores, a fim de que eles mesmos possam exercer a defesa desse direito, já que dentro das salas de aula, ninguém mais poderá fazer isso por eles”, disse.”

    http://www.al.al.leg.br/comunicacao/noticias/aprovado-projeto-que-institui-o-programa-escola-livre

    Neutralidade ideológica é uma postura essencial ao professor. Mesmo do ponto de vista da esquerda, é essencial essa postura, imaginem o que professores com o cérebro lavado pela mídia poderiam fazer nesses tempos de anti-petismo e anti-esquerdismo exacerbado.

    Levar para a sala de aula temas que não tenham sustentação científica é um erro. Quem pensa em promover uma mentalidade progressista nos alunos através do mero discurso ideológico acaba abrindo a porta para que a ideologia reacionária, em rápido avanço na sociedade, force ainda mais a barra da lavagem cerebral, levando o processo para dentro da sala de aula.

     

     

    1. A esquerda não percebe que a

      A esquerda não percebe que a mesma lei que pretende impedir a doutrinação ideológica das crianças as protege de qualquer ideologia – inclusive a de direita. Se o professor que ter liberdade para incutir no aluno valores de esquerda, então também está autorizando seu colega a demonizar o Estado, criticar abertamente sindicatos e movimentos sociais e, no contexto atual, até fazer apologia da ditadura militar.

      Professor tem que ensinar o aluno a aprender, não dizer a ele o que ele precisa saber. Se quiser emitir sua opinião pessoal sobre o que quer que seja, deve fazê-lo fora de sala de aula e deixar claro que se trata de sua posição e não de fato cientificamente comprovado.

      1. Colega, percebe-se que você
        Colega, percebe-se que você veio de outro planeta.

        Assim sendo, dou-te as boas vindas e explico: talvez em seu planeta seja diferente, mas aqui no Brasil NENHUM professor sofrerá qualquer constrangimento se resolver fazer pregação religiosa ou de direita. Já é assim, não é daquelas coisas que permitem um levantar de ombros e um “vamos ver”.

        Com o tempo, você vai entender que neste planeta, especificamente neste país, o espírito conservador é muito forte. Uma lei dessas é só disfarce de imparcialidade, é pra ferrar qualquer professor que diga que o PT, homossexuais, etc. NÃO são o diabo.

      2. Durante 500 e tantos anos

        Durante 500 e tantos anos houve o martelar diário de uma ideologia neste país. E não foi de Esquerda. Isso é fato, não defesa dessa ou daquela doutrina. 

        Aos educandos duas eram as alternativas para o que lhes eram empurrados goela a baixo: concordar ou ficar calado. A grande matriz referencial em termos de civilização, cultura, e tudo o mais eram os Estados Unidos da América. Para o resto do mundo, ou sobrava a vilania ou o exotismo, o folclore, o coitadismo. Quem quando criança não vibrava nos filmes de “caubói” quando este mandava bala nos peles-vermelha? 

        Os livros de história obedeciam o mesmo roteiro didático: história escrita por e para vencedores. Índios? Traiçoeiros e preguiçosos. Pretos: indolentes, sentimentais e coitadinhos. Brasil “descoberto” por acaso e não por fruto de um contexto histórico específico. E por falar em datas, decorá-los era mais importante que discutir e apreender os fenômenos sociais e políticos por trás dos eventos.

        O que estão ocorrendo agora é apenas o início de uma isonomia no trato dessa questão.As escolas podendo, pela primeira, vez dar voz as todas as partes(negros, mulheres, operários, minorias, deserdados etc).  

        Não se preocupe: a Direita ainda continuará a se impor. 

         

    2. Já que você acredita nos nezinhos das alagoas, diga lá:

      O que você ganhou do Coelhinho da Páscoa e o que espera do Papai Noel no fim do ano?

    3. Vale para o cristianismo também? E as aulas de empreendedorismo?

      “Ainda pela proposta, no exercício de suas funções, o professor não poderá: abusar da inexperiência, da falta de conhecimento ou da imaturidade dos alunos, com o objetivo de cooptá-los para qualquer tipo de corrente específica de religião, ideologia ou político-partidária; não favorecer nem prejudicará os alunos em razão de suas convicções políticas, ideológicas, morais ou religiosas, ou da falta delas; não fará propaganda religiosa, ideológica ou político-partidária em sala de aula”.

       

      Isso vale para as aulas de ensino religioso também?  Pela lógica, deveria ser abolido.

      Vale para os professores católicos e evangélicos que iniciam as aulas com orações coletivas ou que fazem referência a dogmas cristãos, a Deus e Jesus durante a aula?

      Existem cursos que oferecem aulas de “empreendedorismo”. Isso não seria doutrinação ideológica  capitalista também? Formar empresários e micro empresários.  Isso seria proibido?

       

      Ou as proibições só valem para professores de esquerda ou partidários da teoria da evolução?

       

    4. O exemplo dos cursos de economia

      As faculdades de economia estão formando economistas que nunca leram Marx nem Keynes. Acreditam que existe um único pensamento econômico, o neo-liberal, e que um Banco Central independente e taxas de juros altas são a unica forma de combater a inflação.

      Professores de economia não se limitam apenas a impor essa mentalidade aos alunos, fazem questão de ridicularizar qualquer pensamento alternativo como frutos de ideologias ultrapassadas.

      Se a pluralidade de pensamento proposta no texto da lei valesse para as faculdades de economia do país todo, teríamos uma verdadeira revolução no ensino da economia e poderíamos enfim começar a formar economistas menos bitolados e com uma visão histórica e teórica de sua profissão muito mais rica.

       

  12. Solução de Graciliano Ramos: Joga Alagoas no mar e faz um golfo.

    jan.13: Conversas com Joel Silveira (I)

    Publicado em 01 de janeiro de 2013

    A resistência de Graciliano, fazendo corpo mole e sempre adiando o prometido, e, por outro lado, a minha determinação de arrancar dele a entrevista de qualquer maneira, acabou nos aproximando. Pelo menos duas vezes por semana lá estava eu na José Olympio, aporrinhando-o.

    – ‘Seu’ Graciliano, e a entrevista?

    E vinha a mesma resposta de sempre:

    – Me dê mais um tempo. Ando atolado na leitura de uma montanha de originais, dezenas e dezenas de literatos que querem o “Prêmio Humberto de Campos”, aqui da José Olympio, não tenho tido tempo para mais nada, varo a madrugada. Nunca vi tanta porcaria junta. Me dê mais uns dias.

    Eu dava o tempo, voltava:

    – Sabe, ‘seu’ Graciliano, é que eu queria iniciar a série com a sua entrevista. Combinei isso com o Magalhães Júnior, ele concordou, e agora vive me cobrando.

    Ele se esquivava:

    – Bobagem. Por que começar comigo? Tem aí o Zé Lins, o Jorge, o Marques, o Lúcio (Cardoso), uma porção de outros. Comece com um deles, me deixe para o fim.

    – Mas ‘seu’ Graciliano…

    – E pare com esta besteira de me chamar de ‘seu’ Graciliano. Graciliano basta.

    Como disse, de tantos encontros na José Olympio, acabamos amigos. Talvez fosse fantasia, mas o fato é que eu sentia de sua parte uma certa simpatia por mim, embora me tratasse com aquele jeito áspero e cru que era o seu. Algumas vezes, quando não estava ensimesmado, curtindo sozinho a sua acidez, gostava de puxar conversa, pulava de um assunto para o outro, baforando forte ou segurando entre os dedos a guimba do cigarro ordinário. Outras vezes, e eu percebia logo isso só de ver a sua carranca, não queria muita conversa, me despachava com um seco “ainda não tive tempo, vou ver se faço hoje à noite”, e nessas ocasiões eu sabia que não devia insistir, ia embora.

    Uma manhã, e era sempre pela manhã que eu o procurava na livraria, lá nos fundos, território que ele fizera seu e que ninguém ousava disputar, pois, como ia dizendo, uma manhã lá estava eu a chateá-lo e mal ia entrando no assunto da entrevista, quando ele me perguntou, abrupto:

    – Você sabe por que o Brasil não é e nunca será uma potência digna deste nome?

    Eu não sabia:

    – Pois lhe digo.

    Baforou forte, continuou:

    – Não será potência neste século nem nos séculos vindouros. Nunca.

    – Mas por que, Graciliano? Somos um país imenso, temos três fusos horários, somos donos de mais da metade de toda a floresta amazônica, nosso subsolo, segundo dizem, é riquíssimo em minerais, temos os maiores rios do mundo e até o petróleo já começa a esguichar lá em Lobato, nas portas de Salvador.

    Ele me ouvia calado, cigarro entre os dedos. Esperou que eu acabasse minha peroração ufanista, disse:

    – Não adianta. Nem que fôssemos donos da maior mina de ouro do mundo, de todos os diamantes e platinas existentes na terra, nem com isso tudo seríamos uma potência. E por um simples motivo.

    Por mais que forçasse a cabeça eu não podia adivinhar que motivo seria esse. Perguntei:

    – Mas por que, qual o motivo? Não me ocorre nenhum.

    Ele deu uma baforada, explicou:

    – O motivo é simples: não temos golfo.

    – Golfo?

    – Exatamente. O Brasil não tem golfo. E não existe uma só potência no mundo que não tenha pelo menos um golfo. É só consultar o mapa. Estados Unidos, Rússia (apesar de comunista, ele jamais dizia União Soviética), França, Itália, Japão, todos têm golfo. E procure depois os países que não têm golfo: são todos sem importância, como é o caso do Brasil.

    Naquele tempo eu cultivava um acendrado patriotismo juvenil – protestei:

    – Me desculpe, Graciliano, mas você está sendo radical demais. Não posso concordar. Com este tamanhão todo e com todas suas riquezas, as que já se conhecem e as que serão conhecidas, é claro que o Brasil certamente será uma potência no futuro. Tem que haver uma solução.

    Ele atalhou:

    – E há.

    – Qual?

    – Simples. O Brasil tem que ter um golfo, fazer por conta própria o golfo que a natureza lhe negou.

    Ri, pensando que ele estava pilheriando, mas a cara séria dizia o contrário.

    – Repito, temos que fazer um golfo. E para isso a solução existe.

    – Qual é?

    – Veja você o caso de nossas respectivas terras, Alagoas e Sergipe. Para que servem Alagoas e Sergipe? Para nada, são zero à esquerda. Então, pergunto: por que não cavar Sergipe e Alagoas e no lugar fazer um golfo? O Golfo das Alagoas!

    A solução era obviamente inviável, mas de qualquer maneira, atingido nos meus brios de sergipano ainda intacto, protestei:

    – Por que Golfo das Alagoas? Por que não Golfo de Sergipe?

    Ele desconversou:

    – Isso de nome não tem importância. O importante é fazer o golfo. Para a escolha do nome, faz-se um plebiscito.

    Fonte: http://graciliano.com.br/site/2013/01/jan-13-conversas-com-joel-silveira-i/

  13. A ignorância de um
    A ignorância de um país/estado/cidade é diretamente proporcional à quantidade de vezes em que se propõe qualquer coisa “em nome de Deus e da família”.

    E ainda tem quem acredite que as intenções são boas. Devem ter caído de cabeça no chão logo depois de nascerem.

  14. Por isso mulhers negrs e gays sao os primeiros a reagir ao golpe

    Até antes dos trabalhadores. Sabem o horror que pode vir de uma onda conservadora.

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