Radicalizar o pacto pelas crianças do Brasil, por Cesar Callegari

Da Folha

Radicalizar o pacto pelas crianças do Brasil

O que esperar de um país que não consegue alfabetizar suas crianças? Alfabetizá-las na idade certa é o que se espera de uma “pátria educadora”

Cesar Callegari

É alarmante! Embora previsíveis, os resultados da primeira edição da ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização) realizada no final de 2013 pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostram a dimensão do principal desafio da educação brasileira: a alfabetização de suas crianças.

Foram testados os conhecimentos e habilidades em leitura, escrita e matemática de 2,6 milhões de estudantes concluintes do terceiro ano do ensino fundamental em 55 mil escolas públicas.

A ANA revela que 1 em cada 4 alunos chega a essa fase sem saber ler ou fazer operações matemáticas elementares como somar e subtrair. E quase 45% não sabem escrever corretamente um texto simples.

A situação é muito mais grave nas regiões Norte e Nordeste onde cerca de 40% não têm proficiência esperada em leitura e matemática e quase 60% apresentam deficiências em escrita. Aos oito anos de idade, portanto, já estão sujeitos a enfrentar sérias dificuldades na sua trajetória educacional e de vida.

Essa é a principal raiz da desigualdade e da exclusão social. Enquanto metade das crianças alagoanas não sabe ler quando terminam o terceiro ano, essa proporção cai para 10% em Santa Catarina. No Pará, ao fim desse ciclo, 70% dos alunos ainda não sabem escrever, ao passo que em São Paulo o desastre atinge 31%, o que já é muito grave.

O que esperar de um país que nem sequer consegue alfabetizar todas as suas crianças? É tão difícil fazer isso? Que futuro terão esses meninos e meninas cujos direitos de aprendizagem e de desenvolvimento são sonegados?

Já cientes dessa gravíssima situação, em 2012, o governo federal, Estados e municípios firmaram o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). É um conjunto de medidas para assegurar a alfabetização com a implementação do letramento de todas crianças brasileiras até os oito anos idade.

Em parceria com universidades públicas, um gigantesco programa de apoio e formação continuada para 314 mil professores alfabetizadores passou a ser colocado em prática. Foi definida uma base curricular nacional comum e, a partir dela, produzidos e distribuídos livros, material didático específico e bibliotecas de literatura infantil para todas as escolas públicas.

Também foi estabelecido um sistema de monitoramento, a ANA, que é censitário e que é realizado anualmente. Os relatórios com informações detalhadas são devolvidos às escolas para que os educadores possam trabalhar revendo suas estratégias e projetos pedagógicos.

A pergunta que se deve fazer, no entanto, é: Será que isso está sendo feito adequadamente? Quais atitudes têm sido tomadas a partir do exame desses dados? As secretarias de Educação e as universidades estão atentas e fazendo a sua parte? Os resultados da mesma avaliação realizada no fim de 2014 haverão de revelar os progressos já alcançados e o esforço a ser feito.

É certo que houve avanços, mas é de se presumir que o quadro ainda seja crítico e que seu enfrentamento vai requerer maior empenho e atenção obsessiva. É necessário radicalizar as iniciativas do PNAIC com medidas enérgicas e mais ousadas que envolvam os governos e também as famílias, demais instituições, enfim, toda a sociedade.

Como se sabe, a alfabetização é a pedra angular de todo processo educacional. Se ela falha, o resto do caminho fica comprometido. Alfabetizar todas as crianças na idade certa é a postura que se espera de uma “pátria educadora”.

CESAR CALLEGARI, 62, sociólogo, é membro do Conselho Nacional de Educação. Foi secretário de Educação Básica do Ministério da Educação (governo Dilma) e secretário Municipal de Educação de São Paulo (gestão Haddad)

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. [email protected]

 

Redação

22 Comentários

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  1. Concordo com Callegari nas interrogações que faz

    Tudo isso tem sido feito adequadamente? 

    “É necessário radicalizar as iniciativas do PNAIC com medidas enérgicas e mais ousadas que envolvam os governos e também as famílias, demais instituições, enfim, toda a sociedade.”

    Assim: uma Pátria Educadora não se faz sem o comprometimento de toda a sociedade: a rua é educadora, o bairro, a cidade e não só.

    Avaliações externas são referências, mas avaliações internas também são importantíssimas. 

    Chega de ver por aqui e por aí, meus meninos e meninas lendo sem entender o que leem aos 10, 11 anos e escrevendo com frases soltas cartilhescas sem nenhuma intenção de autoria e sem nenhuma função social concreta.

     

  2. O que falta, além de recursos, é óbvio:

    Parar com os “experimentalismos” e buscar, no campo educacional, o que está dando certo, ou mais certo, reproduzindo os métodos que funcionam e desmobilizando os que não estão funcionando.

    Alfabetização se faz com Cartilha e Tabuada e em sala de aula, o resto se faz no pátio.

    1. Cartilha e tabuada? Isso é o que dá certo? Arre!

      Vc é um grande entendido no assunto, nao é mesmo? Francamente, por que nao evitar comentar SOBRE O QUE NAO ENTENDE?

      1. Nas minhas opiniões mando eu Analu

        E não estou procurando sugestões a respeito do que devo ou não comentar aqui, ou alhures.

        Ainda mais de alguém que “se acha”, sem sê-lo. 

        1. Opinioes de quem nao entende nada do assunto nao valem nada…

          Imagine se eu passasse a comentar sobre Medicina com base em “opinioes”. Educaçao tb é um campo de saber.

          1. O pior é que você comenta

            E de fato não entende nada do assunto… mas quem tem boca fala, não é mesmo?

            Estou mudando a minha assinatura…

          2. É mesmo? Vc jura?

            Só tenho vários artigos acadêmicos sobre alfabetizaçao e já orientei 3 dissertaçoes de mestrado a respeito… Sem falar do fato da experiência com futuros professores — dou aula a eles — e da formaçao didática, fiz Normal e Licenciatura. Mas quem entende do assunto deve ser vc, né, que tem formaçao específica, né mesmo? Vai ver que vc entende de Educaçao e eu de Medicina. Ora vá passear.

          3. “Você” é apenas um nick

            E além do mais esquizofrênico, que nada tem de anarquista e muito menos de lúcida, nem representa a Salomé que você quis homenagear(?).

            É fraquíssima também em interpretação de texto: mais acima me referia aos teus “pitacos” na área de saúde pública.

          4. Nao minta; o assunto aqui nao era saúde pública

            E o que vc chama de “saúde pública” é apenas eu ser contra o corporativismo médico e ser favorável ao programa Mais Médicos. Isso é muito diferente de opinar sobre Medicina…

            Quanto ao resto, nao é um troll como vc que sabe quem eu sou. A ofensa é livre, claro, mas só mostra quem VOCÊ é, nao quem eu sou. Passe bem, viu?

          5. Passarei, Analu

            E lembre-se: “você”, e as tuas opiniões, não me fazem falta nenhuma; passe ao largo das minhas, por favor.

          6. Sempre q vc disser besteiras como a q disse eu comentarei

            Nao para vc, vc é um caso perdido. Pelos outros.

          7. Opinar é direito de todos; melhor sobre assuntos de que entenda

            O que nao é o seu caso quando diz besteiras conservadoras sobre Educaçao. Nao opino sobre o melhor tratamento para os rins, por ex., seria ridículo. Vc devia evitar comentar sobre Educaçao, porque nao entende nada a respeito.

          8. Eu entendo da que tive

            E estendi ao meus filhos e parece que deu certo… O garoto é oficial do Exército e estuda Direito, e a garota forma-se em Direito este ano, ambos na UERJ. 

            Você tem filhos, Analu? Digo, como pessoa, não como “nick”.

          9. Deixe de ser absurdo, cara. Educaçao é 1 campo de conhecimento

            E seu comentário nao foi sobre educaçao de filhos, coisa sobre a qual todo mundo realmente pode opinar, mas sobre métodos de ensino. Deixa de ser DESONHESTO. Arre!

          10. Eu deixaria de ser, se fosse

            Mas veja, tenho endereço, telefone, educação formal, identidade pessoal e social…

            Já você, veja só… é falsa até no nome, não é?

            Vai se tratar “Analu”, e larga do meu pé.

          11. Muito pelo contrário. Quem usa nick avisa q aquele nao é seu nom

            Ao passo que quem usa nome completo pode realmente se chamar assim ou nao…

            E nao estou minimamente interessada em vc ou no seu pé, nao fui eu quem partiu para críticas de natureza pessoal. Combato besteiras conservadoras sobre questoes educacionais, Nao as diga, e nao rebaterei. Simples assim. E passe bem, cara, essa conversa nao é mais sobre assunto nenhum, nao está levando a nada. O que tinha de ser dito já foi. Vá ver se estou na esquina.

          12. Analu, verifique o que você escreveu a meu respeito

            Desde lá de cima, e constate quem partiu (e persistiu) nas críticas e argumentos ad hominem, com a cortesia de uma terraplanadora. Você é useira e vezeira em partir pra agressão imotivada contra muitos participantes deste blog, inclusive contra mim, óbvio, é ao final faz papel de pretensa ofendida quando é contraditada…

            Ora faça-me o favor, Analu! Chamar alguém de ignorante, troll, desonesto e outros que tais, pode! Não é pessoal!

            Já constatar que você é uma encrenqueira contumaz, falsa como uma nota de três reais e ideológicamente perturbada…

            Não pode! É pessoal!

            Analú, começo a achar que essa tua régua moral é de borracha.

          13. Eu diss q foi vc quem começou a partir p/ a desvalorizaç pessoal

            Eu tinha comentado sobre o conteúdo do seu comentário. Vc engrossou, e feio, me chamou de esquizofrênica e outras gracinhas. Claro que respondi! Bateu, levou. Além do mais, todas as coisas pessoais que eu disse sobre vc estavam justificadas pelos seus comentários. Nao te chamei de ignorante, disse que vc nao entende de Educaçao, e nao entende mesmo. Deve entender de Medicina, espero. Mentiu depois de dizer que eu nao entendia tb do assunto, dizendo que estava falando é de saúde pública, saiu do desviou do que estava sendo discutido, quanto trocou de educaçao, métodos etc para educaçao de filhos., salientei que estava fazendo isso. E passe bem, sujeito. arre!

          14. Ah, sim; “mentiroso” também e indigno de crédito,

            A considerar outras postagens tuas…

            Somos incompatíveis, não é verdade?

            Que tal aplicarmos a lei das paralelas ao nosso caso, Analú?

            Se você concordar, por mim já está combinado.

            Câmbio e desligo!

          15. Já respondi a isso. Nao tenho o mínimo interesse na sua pessoa

            Mas sempre que disser besteiras conservadoras sobre Educaçao rebaterei.

  3. Esse cidadão com suposta

    Esse cidadão com suposta autoridade moral para tratar do assunto, durante sua gestão na SME-SP permitiu duas greves brutais de professores em dois anos de gestão, uma delas de 42 dias e saiu do cargo sem maiores explicações sobre o que acertou e o que errou. Chegou a dizer que era desumano os professores fazerem greve porque uma parte das crianças não tinham onde comer se a escola estava fechada. O que dizer? O que pensar? Sei lá, é o Brasil.

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