Sindicato dos professores critica volta de Mercadante para o MEC

Da Carta Maior

‘Missão de Mercadante é privatizar educação’
 
Em greve há 128 dias, professores avaliam que a situação de penúria das universidades deve se agravar ainda mais.
 
Najla Passos
 
A volta do petista Aloísio Mercadante para o Ministério da Educação (MEC) é uma ação estratégica do governo para viabilizar a privatização das universidades públicas. A avaliação é da 1ª vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes-SN), Marinalva Oliveira, que, nesta segunda (5), participou do ato em defesa da educação pública, realizado por professores de todo o país, em frente ao órgão. 

“Mercadante é considerado um ministro forte no governo Dilma e, por isso, retorna ao MEC com a missão de fazer o que os seus antecessores [Cid Gomes e Renato Janine] não conseguiram e a força do nosso movimento não deixou: avançar no processo de privatização do ensino superior”, afirmou ela, poucas horas do novo ministro ser reempossado no cargo, em cerimônia conduzida pela presidenta Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. 

A dirigente sindical observa que a maior greve já protagonizada pelos docentes das universidades federais, que completou 128 dias nesta segunda (5), ajudou a frear o projeto privatista do governo que, nesses tempos de ajuste fiscal, tentar transformar as universidades em potenciais prestadoras de serviços rentáveis ao Estado. 
 
“Nós ainda não conseguimos avançar em nada na nossa pauta de reivindicações, mas o governo também não conseguiu avançar no seu projeto privatista que tinha como principal ponto legalizar a contratação de pessoal via organizações sociais nas universidades”, ressalta.
 
Na pauta de reivindicações do movimento consta a reversão no corte do orçamento da Educação e ampliação de investimentos, a realização de concursos públicos para professores, o compromisso do MEC de que não irá contratar docentes de forma precarizada e reestruturação da carreira e valorização salarial. 
 
Avanço conservador
 
Marinalva alerta, porém, que está cada vez mais difícil sustentar a paralisação na atual conjuntura. De acordo com ela, além do descaso do governo com a educação, área que sofreu cortes de R$ 9,6 bilhão e R$ 1 bilhão desde o início do ajuste fiscal, o movimento grevista enfrenta o conservadorismo crescente da própria base docente, apontado como um fato novo em relação às greves anteriores. 
 
“Os professores aderiram a este projeto privatista do governo, da direita, e, pela primeira vez na história do movimento docente, estamos tendo que disputar uma concepção de projeto de universidade dentro da nossa própria base”, observa. Ela conta que na UFRJ, uma das maiores universidades do país, esses professores que representam a direita se mobilizaram a ponto de vencer as eleições para o comando da seção sindical local e encerrar a greve em curso.
 
A dirigente acrescenta que as direções das instituições também não mantêm o tradicional compromisso com a autonomia universitária. “Os reitores se transformaram em verdadeiros gerentes do MEC, que fazem de tudo para blindar o governo. O raciocínio deles é o seguinte: se o governo não vai dar os recursos e a universidade não pode fechar, o jeito é vender serviços, mesmo que isso signifique a privatização da universidade pública”, explica.
 
Conforme ela, os raros reitores que se colocam contra a política governamental já apontam para a possibilidade de encerrar as atividades de grandes instituições. “O reitor da UFRJ, Roberto Leher, por exemplo, já anunciou que, se o governo não fizer o repasse de R$ 126 milhões que está atrasado, terá que fechar as portas da instituição”, denuncia. Ex-presidente do Andes-SN, Leher é considerado o reitor mais próximo do movimento.
 
A 1ª vice-presidente do Andes-SN destaca que a situação de penúria daquela universidade, como a de quase todas as outras, é emblemática. “Faltam professores, técnicos, materiais, tudo. E não há perspectivas de melhora”, ressalta.  Segundo ela, desde o início do programa de ajuste fiscal, os orçamentos foram cortados, os concursos públicos suspensos e, agora, para agravar, o governo irá cortar o abono permanência, que permite que os professores aposentados continuem nas salas de aula.
 
“Só na UFRJ, o corte do abono permanência vai mandar 760 professores para casa. Todas as universidades mais antigas, em que é grande o número de aposentados que ainda trabalham, sofrerão com a medida. Considerando que os concursos públicos estão suspensos e o governo sequer divulga qual é o tamanho da carência de professores, será o caos”, adverte.
 
Ameaças legislativas
 
A sindicalista destaca ainda que as ameaças ao caráter público e gratuito da universidade brasileira comprometem não só o executivo, mas também o legislativo. Conforme ela, tramitam no Congresso Nacional várias matérias legislativas que se propõem a aprofundar a privatização das universidades. 
 
Exemplo é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 395/14, de autoria do deputado Alex Canziani (PTB-PR), que permite a cobrança das especializações ofertadas pelas universidades públicas. A PEC já foi aprovada em todas as comissões e, agora, aguarda votação em plenário.

Outro olhar sobre a greve

Visão diametralmente oposta sobre a greve das universidades federais tem o professor da Escola de Comunicação da UFRJ, membro do Conselho Universitário da UFRJ e colaborador da Carta Maior, Marcos Dantas. No artigo Porque a oposição venceu as eleições sindicais na UFRJ, ele afirma que o Andes não representa mais a visão da categoria docente e, por isso, conduz uma greve pouco representativa e descolada dos propósitos da categoria.

Para Dantas, a mudança no grupo que dirige a seção sindical da UFRJ significa “reação vitoriosa dos docentes da UFRJ a um tipo de política sindical, quaisquer que sejam as correntes envolvidas nestas, cujas práticas ultrapassaram, definitivamente, os estoques de paciência da maioria dos professores”.
Auditoria da Dívida

No ato realizado em frente ao MEC, os professores promoveram uma palestra com a coordenadora do movimento Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lúcia Fattorelli, que participa do grupo responsável por operar a revisão da dívida pública grega. “Nós queremos mostrar que, com ou sem ajuste fiscal, se o governo quisesse mesmo investir em educação, dinheiro não falta”, explicou Marinalva.
 
Fattorrelli criticou a opção do governo de privilegiar o pagamento da dívida pública em detrimento das conquistas sociais. Segundo ela, os juros são o verdadeiro escândalo de corrupção do país. “Nós pagamos 22 ‘mensalões’ por dia em juros da dívida”, denunciou ela, lembrando que o pagamento dos juros da dívida foi o único setor em que o governo não operou cortes neste ano.
 
A data da manifestação foi escolhida não em função da posse de Mercadante, mas porque o próprio MEC se comprometeu a realizar uma rodada de negociação com os professores nesta segunda. O órgão, entretanto, protelou a agenda em função da troca dos ministros. O protesto durou todo o dia e só foi encerrado no final da tarde, quando a Polícia Militar dispersou com violência o grupo que protestava pacificamente. Pelo menos uma professora e um estudante ficaram feridos.  

 

Redação

11 Comentários

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  1. Privatizaçao???

    Ué se querem privatizar porque entao, construiram 18 universidades federais e existem planos de mais 20 ,fora as que estaop para serem entregues espalhadas pelo territorio nacional ?

    1. O Lula construiu várias universidades e sempre teve

      um bom diálogo com o meio universitário. Já com a Dilma, não há diálogo e os cortes são selvagens. Até onde eu sei, a construção e ampliação de universidades federais está parada por falta de recursos. Já para as faculdades particulares, o fies tem sempre a torneira aberta. Estranho né? Dá até a impressão que o governo favorece a educação privada em detrimento da pública, que tem qualidade muito superior. Existe sim uma grande pressão para que as universidades públicas passem a oferecer serviços e cobrar por eles o que não apenas compromete a qualidade do ensino e pesquisa, mas também é uma forma velada de privatização dos serviços públicos.

      1. Prezada Gabi, em reação ao

        Prezada Gabi, em reação ao FIES, este ano houve um corte em 60% no número de novas bolsas. Ja o MEC teve um corte de 20% no seu orcamento. Assim me parece que o dinheiro para a educação privada, peo menos via FIES, sofreu um corte bem maior que a das universidades federias (segundo dados oficiais tiveram um corte de 11% no custeio e 50% nas obras)

    2. A iniciativa da criação de novas universidades foi de Lula.

      Dilma não é Lula. A política de desmonte nas universidades federais começou já em seu primeiro mandato e se aprofundou no atual.

      A cegueira militante não pode brigar com os fatos. .

  2. O que eles entendem por

    O que eles entendem por pivatização é a prestação de serviços, consultoria e desenvolvimento de tecnologia para a sociedade que paga seus salários???

    Esse pessoal acha o que, que é função da sociedade subsidiar suas torres de marfim para não receber nada em troca???

    Tem que colocar meta de produção, de tecnologia para essa cambada, quem não quer trabalhar tem que ir é para a rua.

    1. Existem metas de produção nas universidades,

      em que mundo você vive? A maioria dos professores universitários que eu conheço  trabalha muito mais do que a média dos outros profissionais pois, apesar de serem pagos para dar aulas, eles são cobrados por produção científica, você sabia disso? As universidades também dão auxílio técnico gratuito para empresas, sabia? As universidades federais também prestam inúmeros serviços de extensão às comunidades como atendimento médico, odontológico, psicológico, etc, que são gratuitos e de excelente qualidade. Você acha certo os serviços gratuitos e excelentes oferecidos pelas universidades públicas passarem a serem cobrados? Onde você viu torre de marfim em uma universidade pública? Pelo visto sua raiva deve ser de nunca ter tido a chance de estudar com bons professores como eu tive, inúmeras vezes.

      1. Não sei qual o seu exemplo,

        Não sei qual o seu exemplo, onde eu trabalho, federal fluminense, não existe cobrança nenhuma produção cientifica. Faz quem quer e quem não faz é promovido do mesmo modo. Insito no Instituto de Física da UFF é assim. E minha visão do resto da UFF é que ocorre o mesmo. A unica cobrança que existe de produção cientifica é para ter uma bolsa de produtividade no CNPQ

    2. A sociedade recebe trabalhadores qualificados, você acha pouco?

      A sociedade recebe em troca: jornalistas, engenheiros, médicos, arquitetos, economistas, fisicos, matemáticos, biologos, cientistas sociais, historiadores, assistentes sociais, filósofos, educadores, psicólogos, advogados, quimicos, farmaceuticos, biologos, administradores, contadores, geologos, profissionais de educação física, nutricionistas, veterinários, dentistas.

      Se você acha tudo isso inútil, entao se estiver doente não vá a um médico, ele foi formado por professores universitários. Se precisar de um dentista, não o procure ele foi formado por professores universitários. Se precisar de ir a justiça, não procure um advogado, ele foi formado por um professores universitários. Se precisar de um remédio não vá a famácia, o farmaceutico foi formado por professores universitários. Se seu animal de estimação estiver doente não o leve a um veterinário, ele foi formado por um professor universitário

  3. Como bancar isso tudo?

    Lula construiu um monte de universidades, muitas sem critérios claros que vinculassem os cursos à região onde se inseriam. Na época, ninguém pensou no quanto custa manter essas novas universidades e, agora que o país quebrou, falta dinheiro até para o papel higiênico.

  4. A tal greve foi das menos

    A tal greve foi das menos representativas que já vi. Os docentes das poucas instituições que pararam integralmente já voltaram às atividades. 

  5. Pelo final da matéria da para

    Pelo final da matéria da para ver que a Pátria do Governo Dilma educa com ‘tiro, porrada e bomba’. Por mim se tiver que cair que caia, mas caia bem fundo para nunca mais poder se levantar.

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