Só 10% dos municípios têm alunos com o aprendizado adequado ao 9º ano

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Matemática: conhecimento é adequado no 9º ano ‘só em 10% dos municípios’

Da BBC Brasil

As escolas públicas brasileiras não têm conseguido fazer com que seus alunos absorvam o conhecimento adequado às séries que estão cursando, aponta um levantamento divulgado nesta quinta-feira pelo movimento Todos Pela Educação (TPE), com base no desempenho dos alunos no 5º e 9º anos do ensino fundamental.

O estudo viu que no 9º ano, o último do ensino fundamental, a maior parte dos alunos não está sendo capaz de entender textos narrativos longos e com vocabulários complexos, não consegue resolver problemas matemáticos ou usar porcentagens e medidas padronizadas (como km e kg), o que seria esperado nessa etapa, segundo métricas do próprio governo.

E essa adequação – do que eles aprenderam para o que deveriam ter aprendido – não tem evoluído conforme o esperado; em alguns casos, estagnou ou mesmo recuou.

Segundo o levantamento, feito a partir da comparação de notas do exame nacional Prova Brasil com metas – expectativas de notas – específicas à realidade de cada cidade estudada, apenas 10,8% dos municípios têm alunos com o aprendizado adequado ao que se espera no 9º ano (contra 28% em 2011) em matemática. Em português, esse percentual é de 30% (contra 55% em 2011).

“A adequação não é necessariamente decrescente, porque estabelecemos metas mais ambiciosas para os municípios. Alguns podem ter melhorado (a qualidade do ensino), mas não atingiram essas metas”, diz à BBC Brasil Alejandra Meraz Velasco, coordenadora-geral do TPE. “A conclusão é que o aprendizado simplesmente não está melhorando como o desejado.”

E tudo indica que a deficiência em português em matemática se estende também às demais disciplinas ensinadas nas escolas, apesar de isso não ter sido mensurado.

“Se o aluno não domina a leitura e a compreensão de textos, ele vai ter dificuldade em entender as outras matérias também”, prossegue Velasco.

Assim, o estudante acaba carregando falhas de aprendizado para os anos seguintes, o que estimula a evasão escolar e perpetua a qualidade insuficiente do ensino.

A avaliação do TPE usa dados das notas de matemática e português do Prova Brasil de 2013. O movimento também estabeleceu metas (não oficiais) para os municípios, levando em conta o patamar da educação em cada um deles. O objetivo do movimento é que, a partir do cumprimento dessas metas, ao menos 70% dos alunos brasileiros estejam com aprendizado adequado ao seu ano até 2022.

No que diz respeito ao 5º ano do ensino fundamental, a avaliação constatou que apenas 48% dos municípios tinham, em 2013, alunos com conhecimento adequado em português (índice semelhante ao de 2011) e 61,7% tinham conhecimento adequado em matemática (contra 69% em 2011).

Desafio dos anos finais

Segundo Velasco, o diagnóstico do estudo reforça uma conclusão já tirada de outros levantamentos oficiais: que a educação brasileira nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio está estagnada.

“As reformas educacionais mais óbvias já foram feitas nos municípios, mas o país ainda precisa pensar em políticas que o permitam mudar de patamar e não estagnar mais nos anos finais”, diz ela.

A solução dos problemas não é única nem simples, opina o TPE – passa por melhorias na formação de professores, muitas vezes pouco preparados para os desafios da sala de aula; por medidas para corrigir a defasagem de aprendizado dos alunos; e por reestruturações curriculares.

“Nas eleições, o debate girou em torno da aprovação (automática) ou não dos alunos, mas o que temos de lembrar é que tanto a aprovação quanto a reprovação podem levar o aluno a abandonar a escola se ele não aprender”, diz a coordenadora do TPE.

Em uma análise por Estado, o estudo identificou que Acre, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rondônia, Santa Catarina e Ceará avançaram significativamente na adequação entre série e aprendizado de matemática no quinto ano do ensino fundamental.

Em português, porém, apenas o Acre teve mais de 80% de seus municípios com bons níveis de adequação no 5º ano. Isso pode acontecer porque o Estado partiu de um patamar mais baixo e, portanto, tinha metas mais modestas na escala do Todos Pela Educação.

O quadro estadual é pior quando avalia-se o 9º ano do ensino fundamental: em matemática, o maior índice de avanço na adequação é observado no Ceará, mas ele é de apenas 28,3%.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. t
    Toda pesquisa é resposta a

    t

    Toda pesquisa é resposta a uma questão proposta que por sua vez é traduzida num certo objetivo e segue uma determinada metodologia.

    Aqui é preciso considerar que o pressuposto é o todo aprendizado pode ser medido por meio de respostas a questões propostas. Ocorre que isso não é verdadeiro.

    O outro aspecto a considerar se refere a informação da própria coordenadora da ong responsável pea notícia.

     

    “A adequação não é necessariamente decrescente, porque estabelecemos metas mais ambiciosas para os municípios. Alguns podem ter melhorado (a qualidade do ensino), mas não atingiram essas metas”.

     

    Isso significa que o critério mudou já que as metas foram artitrariamente tornadas mais exigentes.

    Assim esse resultado é bastante relativo e não pode ser considerado fora desse pequeno “detalhe”, ou seja, o aprendizado NÃO pode ser considerado como decrescente, uma vez que as metas não foram mantidas.

  2.  
    Toda pesquisa é resposta a

     

    Toda pesquisa é resposta a uma questão proposta que por sua vez é traduzida num certo objetivo e segue uma determinada metodologia.

    Aqui é preciso considerar que o pressuposto é o todo aprendizado pode ser medido por meio de respostas a questões propostas. Ocorre que isso não é verdadeiro.

    O outro aspecto a considerar se refere a informação da própria coordenadora da ong responsável pea notícia.

     

    “A adequação não é necessariamente decrescente, porque estabelecemos metas mais ambiciosas para os municípios. Alguns podem ter melhorado (a qualidade do ensino), mas não atingiram essas metas”.

     

    Isso significa que o critério mudou já que as metas foram artitrariamente tornadas mais exigentes.

    Assim esse resultado é bastante relativo e não pode ser considerado fora desse pequeno “detalhe”, ou seja, o aprendizado NÃO pode ser considerado como decrescente, uma vez que as metas não foram mantidas.

  3. Próprias famílas

    Nassif,

    Falo isto há anos por aqui.

    A qualidade do ensino fundamental nas escolas públicas em cidades menores é deprimente, professores com qualidade inferior à necessária e alunos, a começar por suas próprias famílias, sem incentivo para estudar.

    Vou repetir fato já descrito por mim – dois alunos, um da Baixada Fluminense e outro de estado noredstino, vieram para o RJ com a família, ambas, quase que por milagre, interessadas pela educação dos filhos.

    Os dois, com ótimo desempenho escolar em suas cidades, na mesma sala de aula de escola pública no RJ, 8º ou 9º ano, simplesmente não conheciam acompanhar as aulas. 

    Nem mesmo os bilhões do pré-sal serão capazes de consertar isto.

  4. O problema é sério e pouco abordado

    No ano passado, analisando os indicadores da Prova Brasil 2013 com gestoras públicas de educação de um determinado município, surgiu a questão da crise nos anos finais do Ensino Fundamental, agora confirmada pela análise do Todos pela Educação.

    Elas diziam que é nesse período – entre o 6º e o 9º ano – que se encontra o grande “vazio” da educação pública brasileira. É aqui que começa a ser gestado o fracasso e a evasão do Ensino Médio.

    É um mistério. Como é que crianças que aprendem tanto nos anos iniciais (segundo os indicadores do Ideb), vão “perdendo” a capacidade de aprender nos ciclos seguintes?

    Alguma coisa acontece nesse momento, na maioria das escolas públicas brasileiras, que impacta a aprendizagem dos alunos. Algumas hipóteses:

    A partir do 6ª ano, há uma grande mudança na rotina escolar da criança. Até o ano anterior ela tinha apenas 1 professor/a para todas as matérias e passa agora a ter de conviver com muitos professores, 1 por matéria.

    Outro aspecto é que os anos iniciais, em geral, são de responsabilidade municipal, enquanto que os anos finais do Ensino Fundamental e o Ensino Médio são de responsabilidade estadual. Muitas crianças mudam de escola ao mudar de nível. De novo, mais outra coisa acontece nessa passagem, que precisa ser entendida e atacada.

    Observa-se também que, do 6º ao 9º ano, as deficiências de aprendizagem dos alunos vão se acumulando, como bolhas, acentuando as desigualdades dentro de cada turma, quase sempre, excessivamente numerosas. Qual o critério de abordagem do/a professor/a. Deve aplicar o currículo esperado ou ajudar quem ficou para trás?

    Há uma crítica – estúpida – que diz que tudo é culpa da aprovação automática. Ou seja: basta reprovar para que a qualidade da educação melhore, como num passe de mágica. Coloca-se a culpa no aluno ou na família, e tudo bem… Só que não.

    Se o aluno não consegue atingir um determinado nível de proficiência ao final do ano letivo, aprová-lo ou reprová-lo não vai impactar a causa do problema, que está na escola e não no aluno.

    Enfim, o desafio é grande.

    1. Sao tantas variáveis…

      Uma delas é a própria idade das crianças. Com menos de 10 anos os alunos ainda tendem a respeitar os professores, o que vai diminuindo quando ficam mais velhos. E cada um que entra no desrespeito e vadiagem, brincadeira em sala de aula etc incentiva outros a fazerem o mesmo. Com as turmas enormes que têm, os próprios professores acabam desistindo, nao conseguem controlá-las. 

      Outro fator é o acúmulo das nao aprendizagens. A partir do sétimo ano o grau de abstraçao das matérias aumenta muito, e se o aluno nao se tornou bom leitor, e nao tem bom entendimento da base matemática, fica impossível para ele compreender as disciplinas, que além do mais nao dizem nada a eles. O que os leva a desistirem de assistir às aulas e de fazer os exercícios, leva-os à bagunça e agrava o primeiro problema. 

      A escola tem que mudar, tornar-se mais ativa, mais baseada nas atividades das crianças, tem que ter o horário menos compartimentado, e os conteúdos repensados. Mas infelizmente acho que isso só acontecerá no dia de S. Nunca de tarde, e nao antes do final da missa. 

       

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