Tempo integral é mais do que permanência na sala de aula, afirma educador francês

Maior financiamento, currículos adequados à realidade do estudante e valorização do professor. Esses foram os principais assuntos discutidos no Seminário Internacional de Educação em Tempo Integral promovido nesta quarta-feira (30/10) pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.

Para a secretária de Educação Continuada do Ministério da Educação (MEC), Macaé Evaristo dos Santos, a discussão da Educação Integral deve ir além da ampliação do tempo escolar, já que o conceito diz de uma educação que compreenda o indivíduo em seus diferentes aspectos, dialogando constantemente com diversas áreas do conhecimento e com a garantia de diferentes direitos dos cidadãos, como o esporte, a saúde e a assistência social.

Contudo, para Evaristo, um dos maiores desafios da Educação Integral é a construção de políticas intersetoriais no âmbito governamental que respondam a essa complexa necessidade – de serviços, direitos e oportunidades.

“Quando falamos em integralidade, falamos também do alargamento dos saberes e que os os diferentes conhecimentos a serem reconhecidos e apropriados pela escola”, defendeu Evaristo, ao propor também que o currículo escolar seja pensado a partir da diversidade étnica de um país tão grande quanto o Brasil.

Para o pedagogo e professor da Universidade Paris 8, Bernard Charlot, a abordagem do tempo é uma questão pedagógica. “O tempo integral não é entender quando se entra ou sai da escola, mas saber como se estuda e pensa os conteúdos e métodos”. Para o educador, é preciso unir a atividade intelectual ao sentido e prazer que se tem em aprender. “Para que isso aconteça é preciso de mais tempo. Muitas vezes, o professor até conhece o caminho, mas não tem tempo suficiente para desenvolver a atividade”, apontou. 

Ele defendeu ainda que o tempo integral envolva também o tempo que os estudantes não estão dentro da escola. “Deve-se levar em consideração, no tempo integral, o que os alunos fazem com o computador e o celular, por exemplo, integrando à vida escolar esses dispositivos da socialização dos jovens”.

“O professor é a chave da transformação”

Segundo o deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP), presidente da comissão, não adianta pensar a escola de tempo integral se o professor não tiver as condições de trabalho necessárias a essa articulação de novos tempos, espaços e oportunidades educativas. “Não adianta a escola de tempo integral se não valorizarmos esse maestro que é o professor, que abre as janelas”, comentou, fazendo alusão à escola como uma espécie de orquestra a ser regida.

Na opinião de Evaristo, os profissionais da educação são a chave de transformação da educação e implantação da Educação Integral. Por isso, a valorização, o salário e a carreira devem ser construídas como políticas de Estado. “É preciso investir na formação e em professores com dedicação exclusiva à unidade. Quando pensamos nos royalties e nos 10% do PIB, é preciso fazer as contas e trabalhar para que esse financiamento tenha foco”.

Currículo como estratégia da Educação Integral

As professoras de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Cláudia Galin e Maria das Mercês, defenderam que a discussão da Educação Integral deve passar também por uma transformação dos currículos educacionais, para que esse novo modelo não se restrinja apenas ao acolhimento e proteção da infância e juventude, mas auxilie na resolução das dificuldades e fragilidades da escola, auxiliando na aprendizagem dos estudantes.

Galin apontou que a opção por uma Educação Integral deve partir dos estudantes e professores e deve ser idealizada a partir da reconfiguração dos espaços e da articulação com variados serviços. Para a professora, o tempo ampliado deve estar associado ao Projeto Político Pedagógico (PPP) , para excluir a divisão de turno e contraturno escolar.

O professor e idealizador da Escola da Ponte, de Portugal, uma das principais experiências de Educação Integral no mundo, José Pacheco, explicou que separar a escola de tempo integral em tarefas cognitivas pela manhã e parte diversificada à tarde não é o melhor caminho. “Não basta expor a criança a mais tempo na escola, mas sim pensar sua multiplicidade. Não só os cognitivos, mas seus aspectos afetivos, de ética e moral, pois quando se fala em Educação Integral estamos falando em desenvolvimento humano”.

Para a professora Maria das Mercês é importante pensar que a extensão do tempo deve enriquecer o currículo de forma equilibrada, deixando de moldar os estudantes em um único ritmo de aprendizagem, já que cada um traz diferentes referências para a escola. “Os tempos da escola sempre foram recortados, com espaços fragmentados e disciplinas dosadas. São regras impessoais que subordinam a unidade a uma avaliação frágil e a um currículo distante da realidade”, complementou.

Mais Educação: a Educação Integral no debate da educação de qualidade

Para Jaqueline Moll, diretora de currículos da Secretária de Educação Básica do MEC,  a realização do seminário como iniciativa da Câmara dos Deputados aponta que o tema da educação integral está entrando na agenda das políticas públicas. A diretora mostrou que o Mais Educação, programa do Governo Federal que visa apresentar uma política de Educação Integral ao país, é uma ação indutora, que vem levando o tema aos estados e municípios. “O Mais Educação é uma ação indutora. Ele não tem em si todas respostas”.

Para Moll, a tarefa é construir uma escola de fato republicana, e reconhecer o tempo como direito efetivo. ”Estamos falando da ampliação de direitos para outros espaços e tempos educativos. É  preciso baixar os muros das escolas. Não é possível educar apenas na sala de aula. O ato pedagógico acaba sendo um simulacro da vida real. Por isso, é importante que a escola faça sentido”.

Educação Integral no PNE

A Educação Integral é uma das metas do novo Plano Nacional de Educação (PNE), em tramitação no Congresso Nacional desde dezembro de 2010. O Plano prevê que, até 2020, 50% das escolas de educação básica do país sejam educação em tempo integral.

 

Redação

3 Comentários

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  1. Sempre ótimos…

    Educadores franceses são sempre ótimos. Principalmente para dar credibilidade há algum artigo óbvio. 

    É mais ou menos como dizer que é a opinião de um físico alemão.

     

  2. Educador ou falastrão

    Esses educadores e filósofos franceses pós-modernos são famosos por serem típicos falastrões. Precisamos é da opinião de educadores da Finlândia e da coréia do Sul, por exemplo, que são líderes mundiais de qualidade e resultados em educação.  

     

     

    1. Sim cara todo mundo sabe que

      Sim cara todo mundo sabe que o sistema Francês, 100% estatal, é uma porcaria mesmo.

      O fato deles serem um dos paises que mais contribuiu para o desenvolvimento intelectual da humanidade é outra questão.

      Deve ser a água.

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