Xadrez da defesa da democracia nas eleições da Grande Vitória (ES)

A coluna Maquiavel, da Veja, neste 15 de novembro, publicou um breve perfil do candidato de ultradireita no segundo turno da Capital capixaba.

Jornal GGN – Em junho de 2018, o padre católico Kelder Brandão, em matéria publicada no jornal capixaba A Gazeta, denunciou que “as práticas de corrupção se tornaram mais elaboradas e o crime organizado se aperfeiçoou ainda mais, contando com novos agentes e entes políticos, e hoje quase não se ouve falar de crime organizado no Espírito Santo, embora todos saibam que ele nunca deixou de existir em terras capixabas”. Conhecido por seus posicionamentos em questões políticas e sociais, o padre Kelder alertou para a contínua violação de direitos humanos no Estado do Espírito Santo. A ligação de políticos locais com grupos de extermínio é histórica em terras capixabas, sendo o caso da Scuderie Le Cocq, uma milícia conhecida como esquadrão da morte, o mais famoso na redemocratização.

Desde o início do governo de Renato Casagrande (PSB-ES), em janeiro de 2019, vários de seus secretários, com destaque para pessoas comprometidas com a democracia, têm enfrentado a oposição feroz por parte de grupos de extrema direita. Esses grupos se valem dos mesmos meios e expedientes praticados em outras unidades federativas: fake news, discurso do ódio, desestabilização institucional, criação de um sentimento de medo na população e destruição de reputações, basicamente. Trata-se de um processo que se estende desde as eleições de 2018, quando o governador atual não manifestou o seu apoio no segundo turno ao candidato presidencial que venceu de forma esmagadora no Espírito Santo, Jair Bolsonaro (ex-PSL).

A coluna Maquiavel, da Veja, neste 15 de novembro, publicou um breve perfil do candidato de ultradireita no segundo turno da Capital capixaba. Sob o título de “Bolsonarista polêmico é a surpresa na disputa pela prefeitura de Vitória”, a matéria destacou que “Lorenzo Pazolini invadiu hospital após pedido de Bolsonaro para mostrar ‘farsa’ da Covid-19 e ajudou Damares a tentar impedir aborto por criança estuprada”. O deputado delegado Lorenzo Pazolini (Republicanos) é o candidato do campo bolsonarista no segundo turno de Vitória, que conta na campanha com apoios explícitos e simpatias de alguns aliados tradicionais do ex-governador Paulo Hartung (ex-MDB). PH, como é conhecido pelos capixabas, busca se qualificar para uma disputa nacional ao lado de um apresentador de programa de auditório da Rede Globo. Hartung conta com apoio de segmentos empresariais reacionários para papagaiar a cantilena das reformas neoliberais.

O deputado Lorenzo Pazolini (Republicanos), que foi eleito para a Assembleia Legislativa com o apoio do ex-senador Magno Malta (PL-ES), em 2018, e é próximo da ministra Damares, foi um grande defensor da candidatura de Jair Bolsonaro. Esse mesmo deputado integra, junto com outros bolsonaristas, o grupo de oposição ao atual governo democrático de Renato Casagrande na Assembleia Legislativa estadual. Grupos políticos comprometidos com o projeto de poder autoritário elegeram deputados, não apenas pelo PSL, e ocuparam espaços nas estruturas de poder.

Esse mesmo grupo se aliou a deputados estaduais eleitos com o apoio do ex-governador Paulo Hartung e conquistou a presidência da Assembleia Legislativa capixaba, com a perspectiva de formação de um novo polo de poder político, no vácuo criado pela desistência do então governador em disputar a reeleição em 2018. Esse novo polo de poder, suprapartidário, caracteriza-se por práticas clientelistas, patrimonialistas, personalistas, desprovidas, portanto, de qualquer compromisso com o fortalecimento das instituições democráticas e republicanas. Pela origem de vários de seus membros, pela presença de operadores políticos oriundos do hartunguismo e devido à derrota acachapante da maioria dos candidatos apoiados pelo então governador Paulo Hartung, na prática, esse grupo pode ser definido como neo-hartunguista. Esse polo de poder se distingue nas suas origens. O neo-hartunguismo é bolsonarista. Teria Hartung virado “bolsonarista” para agradar a segmentos de empresários reacionários? O ex-governador Hartung virou apenas uma peça de um jogo plutocrático? Ele se distanciou de suas raízes de compromissos sociais, democráticos e progressistas?

Na região da Grande Vitória, no Estado do Espírito Santo, mais especificamente em quatro municípios, se joga o destino da democracia estadual neste segundo turno. Os municípios de Vitória, Vila Velha, Cariacica e Serra são peças centrais nesse xadrez. No campo democrático desse jogo estão João Coser/PT (Vitória), Max Filho/PSDB (Vila Velha), Célia Tavares/PT (Cariacica) e as duas candidaturas em disputa no município da Serra.

O xadrez da Grande Vitória, neste segundo turno, mostra como é preciso ter clareza das escolhas políticas nesta hora para evitar o caminho do obscurantismo e dos retrocessos institucionais no Estado do Espírito Santo. É revelador desse perigoso cenário o fato de estar disputando contra Coser em Vitória o deputado delegado Pazolini, que é do mesmo partido de Marcelo Crivella, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e prefeito do Rio.

A Grande Vitória pode ter o mesmo destino do Rio de Janeiro, que tem 57% do seu território controlado pelo crime organizado? Nessas áreas subjugadas da capital fluminense vivem 3,7 milhões de pessoas e os milicianos já controlam uma área maior do que os traficantes de drogas. Esse controle territorial se dá com o apoio silencioso e conivente do Estado e de suas instituições democráticas. Seria esse o desejo da cidadania e das lideranças capixabas no xadrez eleitoral da Grande Vitória neste segundo turno? A resposta, que virá das urnas no dia 29 de novembro, poderá definir o futuro não só dos quatro municípios, mas de todo o Espírito Santos nas próximas décadas.

Fontes:

[1] https://www.agazeta.com.br/colunas/vitor-vogas/padre-kelder–crime-organizado-se-aperfeicoou-no-espirito-santo-0618

[2] https://veja.abril.com.br/blog/maquiavel/bolsonarista-polemico-e-a-surpresa-na-disputa-pela-prefeitura-de-vitoria/

[3] https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/10/19/rio-tem-37-milhoes-de-habitantes-em-areas-dominadas-pelo-crime-organizado-milicia-controla-57percent-da-area-da-cidade-diz-estudo.ghtml

Redação

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