2018, ano da renovação democrática, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz sustentou que a guerra seria a continuação da Política por outros meios. Um século depois, Mao Tsé-Tung reafirmou a tese do militar prussiano ao dizer que a Política é uma guerra sem sangue assim como a guerra é Política com uso da violência.

No extremo oposto, Hannah Arendt afirmou que a guerra é a negação da Política. Segundo a grande filósofa, a Política só pode existir no espaço delicado criado de maneira consensual por pessoas desiguais. Este espaço pode ser ampliado ou reduzido, mas quando é destruído a Política deixa de existir e uma terra de ninguém se estende devastada entre inimigos irreconciliáveis.

Clausewitz, Mao Tsé-Tung e Hannah Arendt não se preocuparam em discutir o que ocorre no interior do campo político. Quem fez isso foi o sociólogo Pierre Bourdieu. Segundo ele esquerda e direita estão condenadas a uma existência relacional que obriga os participantes do campo político a modificarem suas posições em função do posicionamento dos adversários.

 

Lula quer ser o candidato anti-Rede Globo, identificando a empresa do clã Marinho com tudo o que existe de mais atrasado e nocivo na política brasileira. Esta relação de antagonismo pressupõe a existência daquela rede de TV. Isso explica satisfatoriamente porque Lula não a destruiu quando foi presidente e porque não poderá destruí-la se voltar a ganhar uma eleição presidencial.

Tucanos e seus aliados na imprensa (inclusive na Rede Globo) procuram desesperadamente um candidato anti-Lula. Se o líder petista for removido da equação eleitoral pelo Poder Judiciário o vácuo criado no campo político não afetará apenas a esquerda. Afetará ainda mais a direita. Afinal, é evidentemente mais fácil fazer campanha atacando um adversário com base em preconceitos que são difundidos há décadas. Seria muito mais difícil conceber uma plataforma de governo neoliberal capaz de envolver a população brasileira que foi empobrecida pelo neoliberalismo implantado por Michel Temer.

As reformas impostas ao Brasil pelo usurpador não foram capazes de gerar crescimento econômico e redução do desemprego. Isso fornecerá argumentos para a esquerda ganhar espaço no campo político atacando qualquer candidato que defenda propostas neoliberais. Mesmo que Lula não dispute a eleição (hipótese que não pode e não deve ser descartada), ninguém irá se beneficiar por ser o candidato da situação.

Consolidado o golpe, Michel Temer tentou se aproximar do Papa e não conseguiu. Apelou para os bispos e pastores evangélicos e isso não bastou. Por fim, o usurpador recorreu a um macumbeiro e foi ridicularizado. O sucesso do governo Michel Temer só existe como ilusão linguística no interior do discurso auto-complacente que é enunciado por um presidente postiço que não conseguirá nem mesmo sair da loucura para entrar na História.

A situação é delicada, mas perigo de uma radicalização à moda de Clausewitz e Mao Tsé-Tung parece não existir. As modificações relacionais que ocorrerem no interior  do campo político (Pierre Bourdieu) não serão capazes de destruí-lo, nem de necessariamente fortalecer sua redução. Desde a proclamação da república, a fragilidade política do Brasil tem sido estruturalmente alimentada pela elite do atraso. Mas ao contrário do que ocorreu no passado, agora a própria elite do atraso também está sob ataque dentro e fora do país https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/jesse-souza-anteviu-a-derrocada-da-rede-globo-por-fabio-de-oliveira-ribeiro.

O golpe de 2016 reduziu o espaço do campo político, mas em 2018 será possível pacificamente expandi-lo (Hannah Arendt). Isso dependerá da presença ou não de Lula na disputa presidencial. A boa notícia é que o resultado das eleições é incerto. A adoção de um semi-presidencialismo (última trincheira da direita golpista desesperada) apenas aumentará a instabilidade de um regime neoliberal fadado a implodir por causa das contradições que ele mesmo criou.

 
Fábio de Oliveira Ribeiro

1 Comentário

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  1. Cuidado com o termo macumbeiro!

    Boa análise Fábio, mas chamo a atenção para o termo “macumbeiro”, afinal dentre os que cultivam a cultura afrodescendente existem pessoas más e pessoas boas, assim como aqueles que cultivam a nossa cultura, desta forma não podemos distinguir quem está fazendo uma oração de quem está fazendo uma “macumba”, ou poderíamos dizer que certas “macumbas” não são diferentes de muitas orações encontradas em nossa cultura. Desta forma o termo me parece apenas mais uma forma de preconceito contra os negros que acabamos por herdar sem perceber (eu mesmo demorei para perceber isto).

    Eu soube recentemente de uma “macumba” feita em uma encruzilhada em que a pessoa pedia emprego para seu filho, oras bolas, este tipo de pedido me parece mais uma oração, não é mesmo? Da mesma forma temos certas “orações” feitas por “Brancos Cristãos” que mais parecem “Macumba”.

    Os espíritos superiores que estão a serviço de Jesus não possuem nenhum tipo de preconceito, portanto muitas “Macumbas” são por eles entendidas como orações, pois o que vale é o que cada um possui em seu coração e a forma com que a pessoa expressa este sentimento não faz a menor diferença, seja o pedido feito a um santo de barro, ou a um espírito qualquer, seja chamado de oração ou macumba, nada disto importa.

    Além do mais, “Macumbeiro” não benze “Vampiro”, me parece mais apropriado o termo “Exorcista”.

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