A barbárie chegou, por Marcelo Auler

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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A barbárie chegou

por Marcelo Auler

em seu blog

A 19 dias do segundo turno, portanto, sem qualquer definição do que acontecerá e de quem presidirá o país nos próximos quatro anos, os adeptos da candidatura do capitão já se sentem donos do país. Respaldados apenas no bom resultado do primeiro turno, demonstram a quem ainda não conseguiu enxergar como pretendem comandá-lo. Não é nada agradável. Ao que parece, sentiram-se livre para demonstrar do que são capazes: impor medo e terror.

O quadro ao lado, recebido pelas redes e ampliado, demonstra apenas alguns acontecimentos ocorridos nos últimos dias nos mais diversos cantos do país. São fatos reais, em cidades diversas, sempre com a mesma marca: foram protagonizados por adeptos da candidatura de Jair Bolsonaro e mostram a violência. O desprezo pela vida. O desrespeito ao diferente ou a quem não pensa igual.

Não é demais lembrar que no dia 6 de setembro, o gesto tresloucado de Adélio Bispo de Oliveira, um mineiro com suspeitas de problemas psíquicos, atingiu o presidenciável Jair Bolsonaro em plena campanha, em Juiz de Fora (MG). Mesmo conscientes de estarem em uma disputa eleitoral acirrada, os demais candidatos se solidarizaram ao deputado federal do PSL, condenaram o gesto e até reduziram, na época, os ataques políticos. Manifestaram repúdio à violência com a qual não tinham qualquer envolvimento.

Nos últimos dias, porém, cenas de violência se repetem com uma frequência grande. Em comum o fato de serem protagonizadas por eleitores ou militantes da campanha do capitão do Exército. Muitas delas gravadas em vídeos. A maioria com registros na polícia. Demonstram que os militantes da candidatura militar – que acabam se confundindo com verdadeiros milicianos – diante dos resultados do primeiro turno, sentiram-se autorizados para, à luz do dia, e mesmo na presença de testemunhas, mostrar a violência que defendem e são capazes de realizar.

O mais impressionante é o silêncio obsequioso – autorizador? – de Bolsonaro. Ele próprio ainda se recuperando de um tresloucado ato de violência. Violência que, há muito, defende e propaga.

Se ele não pode responder pelos gestos de seus seguidores, apesar de muitos deles terem sido incentivados pelo discurso de ódio que sempre pregou, pode sim ser cobrado pelo silêncio diante de tamanha violência.

Silêncio que não se resume ao candidato à presidência. É compartilhado também pelo candidato ao governo do Rio de Janeiro, Wilson Witzen. Este, mesmo se vangloriando de ser ex-tenente dos Fuzileiros Navais – “onde aprendemos a hierarquia e a disciplina” – e ex-juiz federal, assiste impassível – e aplaude –  discursos de ódio dos candidatos coligados, como se fosse algo natural.

Tal como ocorreu em Petrópolis, cidade serrana fluminense, dias antes do primeiro turno. Ali, em momento lembrou-se de defender a lei e, principalmente, a civilidade. Tal como deveria ter aprendido ao pertencer às Forças Armadas e à magistratura. Em compensação, no debate político com o adversário, tenta se mostrar forte ao prometer dar-lhe voz de prisão diante de possível crime de injúria.

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Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. A barbárie chegou, está confortavelmente instalada e passa bem

    Não será preciso esperar a vitória, as redes socias estão cheias de relatos, cada um mais tenebroso do que o outro.

    Vou levar para o túmulo a convicção mansa, pacífica e cristalina que tudo poderia ser diferente e não estaríamos passando por isso se não houvesse a maldita e insana candidatura do PT nessas eleições. Agora é tarde. 

      1. Imbecil, é o seguinte

        Minha companheira tem um filho de 33 anos que é gay. Que tem um companheiro de 35 anos. Que não dormem mais à noite por medo de serem mortos a pauladas na próxima esquina. Desde domingo estamos discutindo para onde fugir do Brasil. Para preservar a vida do filho da minha companheira. Publiquei um apelo desesperado há 2 ou 3 dias aqui, sem sucesso. 

    1. Deixa ver se eu entendi.
      É o

      Deixa ver se eu entendi.

      É o Bolsonaro que prega o ódio, a violência e a discriminação, não apenas de quem é de esquerda, mas de mulheres, negros e gays. São os eleitores do Bolsonaro que estão levando essa violência às vias de fato. E a culpa é do PT?

    2. É difícil trabalhar com o

      É difícil trabalhar com o “se” mas acho que não; se os democratas tivessem fechado em torno de Ciro, por exemplo, os fascistas estariam fazendo a mesma coisa. As firmas de mídia vêm estimulando a barbárie faz tempo e não só através do apoio a Bolsonaro: repara só, pode somar na ponta do lápis, o tempo que qualquer jornal da TV aberta ou fechada dedica a notícias que, como se dizia antigamente, “se espremer, sai sangue”.

      As contribuições de produtos comerciais como o do Datena, de Sheherazade, as manifestações das agora deputadas Joyce Hasselman, Janaína Paschoal e Katia Sastre (a policial que matou o assaltante na porta da escola) e que-tais, por exemplo, são enormes nesse fascismo que tomou conta da nossa sociedade. “Bandido bom é bandido morto” e por aí vai. E isso para ficar nas pessoas que vociferam, hein? Sem considerar a campanha pela demonização do estado que a iniciativa privada vem fazendo, de forma aparentemente “suave”, há décadas…

      E quem vai arrancar esses fascistas privatistas de seus cargos públicos? Nem à bala pois que esse é um recurso deles e não dos democratas…

  2. Eleitores de Bolsonaro atacam mulher trans com barra de ferro

    Eleitores de Bolsonaro atacam mulher trans com barra de ferro e ameaçam ciclistas na avenida Paulista

    10/10/2018 – 17p3

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    Ex-Furacão 2000, mulher trans é atacada com barra de ferro por apoiadores de Bolsonaro

    Julyanna Barbosa, ex-vocalista do grupo, foi agredida em passarela de Nova Iguaçu, após responder a ambulantes que a ameaçaram: ‘Bolsonaro vai ganhar para acabar com os veados. Essa gente lixo tem que morrer’

    Por O Dia

    Rio – Golpes de barra de ferro na cabeça e no pescoço, chutes e socos pelo corpo.

    O simples fato de ser trans quase pôs fim à vida de Julyanna Barbosa, de 41 anos, ex-vocalista da Furacão 2000.

    Ela estava sozinha subindo a passarela que corta a Via Dutra, na altura da Grã-Fino, no Centro de Nova Iguaçu, por volta das 9h de sábado, quando ambulantes começaram a gritar que “Bolsonaro vai ganhar para acabar com os veados, essa gente lixo tem que morrer”.

    “Eu argumentei que não estava mexendo com ninguém, perguntei por que eles me chamaram de lixo e disse que mereço respeito. Foi aí que um deles pegou a barra de ferro numa barraca e começou a me agredir. Na primeira pancada eu fiquei tonta e caí. Logo depois vieram mais três, quatro homens dando socos e chutes em mim. Perdi muito sangue, mal conseguia ver direito”, conta Julyanna, que como cantora solo usa o nome artístico Garota X.

    Pessoas que passavam pelo local tiraram a vítima do chão e a levaram para uma casa da região, longe dos criminosos.

    Socorrida na UPA de Queimados, a cantora levou dez pontos na cabeça (o exame de corpo delito será feito nesta quinta).

    O passo seguinte foi recorrer à Coordenadoria de Políticas para a Diversidade Sexual de Mesquita, presidida pela também trans Paulinha Única, que a orientou fazer um boletim de ocorrência.

    “O atendimento na 56ª DP (Comendador Soares) foi muito humano, o delegado Matheus Romanelli tem o entendimento de que todos devem ser tratados da mesma forma, com cordialidade. É um policial que já demonstrou diversas vezes que compreende nossa causa”, diz Neno Ferreira, presidente da Associação de Gays e Amigos de Nova Iguaçu e Mesquita (Aganim) e assessor de Julyanna: “É muito triste que pessoas sejam agredidas assim”.

    Coordenador executivo do Grupo Arco-Íris de Cidadania e diretor de Políticas Públicas da Aliança Nacional LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Intersexuais), Cláudio Nascimento vê com preocupação a explosão dos casos de ataques à comunidade.

    Segundo ele, desde domingo, dia da eleição, o grupo já registrou 15 ocorrências.

    “Em todos os casos ligados à eleição os acusados se dizem eleitores do Bolsonaro, falam com muita violência, sem nenhum tipo de respeito. São pessoas que estão encorajadas para agir desse jeito. São crimes pelo Brasil inteiro, como um gay de Curitiba que foi torturado, morto e jogado dentro de um armário, a pixação em um colégio de Laranjeiras agredindo lésbicas…”, enumera Nascimento, também vítima da intolerância: “Depois de votar, a caminho de casa, passei em frente a um bar em Copacabana e um grupo com camisas do Bolsonaro gritou que os veados terão duas opções: voltar para o armário ou morrer”.

    O Grupo Arco-Íris de Cidadania pede que qualquer ameaça (verbal ou física) seja registrada na delegacia mais próxima.

    Além disso, as vítimas devem procurar a entidade para relatar o ocorrido:

    “Precisamos dessas informações, porque o grupo consolida tudo isso. Pedimos que os órgão de segurança estejam muito atentos ao policiamento nestes dias. É muito mais do que garantir o direito de ir e vir, é garantir nosso direito de existir”.

    Reprodução

    Por Alan Pinheiro Cruz, no Facebook

    Estava de bike na Faria Lima, de manhã, e um carro não parou no farol vermelho e avançou para a área que ciclistas atravessam. Com isso, dois ciclistas se assustaram e caíram.

    O que deveria acontecer: motorista pedir desculpa, ver se está tudo bem e vida que segue.

    O que aconteceu: motorista colocou a cabeça pra fora do vidro e gritou: “Porra, seus viados! Bolsonaro tá vindo e essa mamata de vocês vai acabar! Ano que vem eu passo por cima!”

    Uma menina começou a responder que ele estava errado, aos berros, mandando ele calar a boca.

    Então ele grita “pior que ser viado é apoiar viado, vagabunda” e saiu cantando pneu.

     

  3. Essas pessoas estão atacando,

    Essas pessoas estão atacando, além das pessoas, o próprio Estado Democratico de Direito (art. 1º da CRFB) do qual usufruem cabe, portanto, ao MP fazer a sua defesa. Estão esperando o quê?  

  4. Quer dizer se apanha por ter

    Quer dizer se apanha por ter gato ou por faltar gato……

     

    Tá cheio de gente insana nas ruas e a culpa é do PT?

     

    E a mídia que deu voz e razão para essas bestas-feras?

     

    E o patronato que está apoiando maciçamente o famigedo, e chantageando seus funcionarios?

     

    E o jornalista metido a sabido, que nunca falou nada que preste na vida, dizer que é “bobagem” a morte de uma pessoa por uma besta-fera?

     

    Tem menos de um mes para o povo refletir, mas se a maioria quiser se afundar junto com o capetão, paciencia, não será por falta de aviso……..   

  5. Mais uma

    A imagem pode conter: 3 pessoas, óculos e close-up

      

    Érica Colaço

     1 h ·  

    Minha amiga querida, minha irmã da vida, a mulher que esteve do meu lado em milhões de momentos dividindo tudo de bom e tudo de ruim foi brutalmente e covardemente atacada por apoiadores de Bolsonaro. Dia 7/10 depois das eleições ela foi em um bar no Arruda, bairro do Recife, e um grupo de dois homens e uma mulher começaram a puxar confusão por conta de bottons e adesivos que ela usava em apoio a Ciro e ao #Elenao. Depois começaram a ameaçar com uma arma, então ela fez um vídeo e me enviou mostrando quem eram, depois disso perdi contato com ela e soube hoje que eles a atacaram covardemente. Essa história me afetou de maneira dilacerante, estou devastada sem saber o que pensar e o que fazer. A certeza da impunidade tem encorajado pessoas violentas a cometerem atos desse tipo pra pior. Ela poderia estar morta, eu poderia estar morta. O que vai ser da gente?

     

  6. O que é o fascismo? Perguntamos a pensadores da Itália, berço do

    O que é o fascismo? Perguntamos a pensadores da Itália, berço do movimento

    Lucas Ferraz De Roma para a BBC News Brasil

    4 outubro 2018

    Não é só no Brasil destes dias que o termo “fascismo” voltou a permear o debate político. Em países europeus como Hungria, Polônia, Áustria e Itália, berço do fenômeno, a ascensão de políticos populistas de extrema direita – com pendores nacionalistas e xenófobos – tem suscitado calorosas discussões sobre a conveniência ou não de se usar a palavra.

    O historiador Emilio Gentile é considerado na Itália o maior especialista vivo sobre o assunto. Autor de inúmeros livros sobre o período fascista, muitos deles adotados nas escolas italianas, ele afirma que utilizar o termo, como se tornou comum recentemente, é uma forma de confundir as ideias e não observar um fenômeno que, na verdade, tem a ver com a crise da democracia.

    “A democracia não está em risco por causa de um fascismo que não existe. Hoje, o perigo é a democracia que se suicida”, disse à BBC News Brasil. “O que há de novo, em todo o mundo, é um novo poder de direita nacionalista e xenófobo. É o que Orbán (Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, um dos expoentes desse movimento na Europa) classificou de política nacionalista democrática iliberal.”

    De acordo com Gentile, há muitos movimentos políticos – na Europa e em outros lugares do mundo – que se referem à experiência fascista e utilizam seus símbolos, mas de uma maneira muito “idealizada e imaginária”.

    O fascismo foi criado por Benito Mussolini – um ex-socialista – há quase cem anos. Originário da palavra latina “fascio littorio”, um conjunto de galhos amarrados a um machado, símbolo do poder de punição dos magistrados na Roma Antiga, o experimento nasceu oficialmente em 23 de março de 1919, quando Mussolini fundou em Milão o grupo “Fasci di Combattimento”, que reunia ex-combatentes da Primeira Guerra Mundial (1914-18).

    Com a Itália imersa no caos – à beira de uma guerra civil, com crise política, econômica e social, num momento em que o poder fugiu do controle do Estado -, e à sombra da revolução russa de 1917 (temia-se que o comunismo chegasse também no país), o grupo fundado por Mussolini cresceu rapidamente.

    Ainda em 1919, ocorreram ataques de brigadas fascistas – que depois se tornariam efetivamente milícias paramilitares – contra políticos de esquerda, judeus, homossexuais e órgãos da imprensa. Eles ficariam conhecidos como os “camisas negras”.

    No final de 1921, nasceu o Partido Nacional Fascista (PNF), cujo símbolo era exatamente o “fascio littorio”. Menos de um ano depois, Mussolini assume o poder. Ele fortaleceu sua influência na Itália angariando o apoio de industriais, empresários e do Vaticano, e tornou-se referência para regimes autoritários mundo afora – Francisco Franco na Espanha, António Salazar em Portugal e, sobretudo, Adolf Hitler na Alemanha (que por muito tempo manteve um busto do Duce italiano em seu escritório) tiveram em Mussolini e no seu regime uma grande fonte de inspiração.

    Regime totalitário baseado num partido único, a característica fundamental do fascismo foi a militarização da política, que era tratada como uma experiência de guerra: além do projeto de expansão imperial, com a supremacia fascista imposta no Estado e na sociedade, o regime tratava os adversários como inimigos que deveriam ser eliminados. No mês passado, a Itália lembrou os 80 anos da chamada lei racial, aprovada contra os judeus e que estava em consonância ao regime nazista de Hitler.

    “O fascismo sempre negou a soberania popular, enquanto o nacionalismo populista de hoje reivindica o sucesso eleitoral. Esses políticos de agora se dizem representantes do povo, pois foram eleitos pela maioria. Isso o fascismo nunca fez”, comenta Emilio Gentile.

    Raízes fascistas

    Para o sociólogo italiano Domenico de Masi, que conhece o Brasil há muitos anos, se não é possível falar num fascismo histórico como o implementado na Itália no século passado, não há dúvidas, por outro lado, de que Jair Bolsonaro (PSL) é um político de inspiração fascista – o candidato à Presidência disse recentemente num comício no Acre em “metralhar a petralhada”. A eliminação física de adversários era exatamente uma das características do regime de Mussolini.

    “Ele tem inspiração fascista no que diz respeito à relação do Estado com a economia, entre o poder civil e militar, política e religião. E com base num conceito de autoritarismo, acha que pode resolver problemas complexos com receitas fáceis”, diz De Masi.

    O sociólogo vê com inquietação a ascensão de governos e políticos com raízes “claramente fascistas”. “Bolsonaro é como Salvini (Matteo Salvini, político de direita e vice-premiê italiano hoje). Os dois têm uma visão autoritária da sociedade. Brasil e Itália são sociedades muito distintas, mas vejo os dois muito parecidos”, completou.

    Salvini, aliado de Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump que já se reuniu com um dos filhos de Bolsonaro, declarou recentemente no Twitter torcer pela eleição do ex-capitão no Brasil.

    Domenico de Masi ressalta que, enquanto na Europa o que alimenta esse tipo de discurso é a imigração (e que tem, na Itália, o apoio das classes média e média-baixa), no Brasil o fenômeno é estimulado pelo ódio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores. “No caso brasileiro, o cidadão pobre do Nordeste é mais inteligente quanto ao perigo de Bolsonaro do que os ricos de São Paulo, que apoiam o candidato”.

    Como o colega Emilio Gentile, o historiador Eugenio di Rienzo, professor de História Contemporânea da Universidade Sapienza, em Roma, afirma que o fascismo é um regime que nasceu e morreu no século passado – em 1945, quando Mussolini foi assassinado em Milão.

    “Não se pode fazer uma analogia entre aquele fenômeno e outro. O fascismo não se reproduz mais, é preciso cuidado com o uso da palavra, pois acaba provocando desinformação”, disse. “Um racista não é sempre um fascista. O governo de (Recep Tayyip) Erdogan na Turquia é autoritário, mas não fascista.”

    Di Rienzo reconhece que há muitos nostálgicos do fascismo na Itália, assim como do nazismo na Alemanha, mas para ele o processo atual (na Europa e nos Estados Unidos de Trump) não é uma “repetição do passado”: “Há algumas semelhanças, mas os processos são muito diferentes. A analogia, muitas vezes, tem o propósito de propaganda”.

    Emilio Gentile concorda. “Na verdade, faz-se propaganda de um fascismo que parece eterno, mas ao menos na Europa é um fenômeno novo que se relaciona à crise da democracia, ao medo da globalização e dos movimentos imigratórios que poderiam sufocar a coletividade nacional. Mexe com a imaginação das pessoas, mas não se trata de um perigo real.”

    Gentile lembra que o sucesso de Bolsonaro no Brasil tem a ver com uma tradição latino-americana da participação dos militares na política, vistos como atores da “ordem e da competência”, o que não acontece nos países europeus.

    Madeleine Albright, ex-secretária de Estado dos Estados Unidos, país onde chegou nos anos 1940 após sua família fugir do nazi-fascismo na Europa, publicou recentemente o livro Fascismo: Um Alerta, em que discute o tema e as formas atuais de transmutação do que ela chama de “vírus do autoritarismo”. “Definir fascismo é difícil. Primeiro, não acho que fascismo seja uma ideologia. É um método, um sistema”, disse Albright recentemente numa entrevista.

    O certo é que o debate sobre o que é fascismo e em quais situações se deve utilizar o conceito é tão antigo quanto o próprio regime.

    Numa coluna para o jornal inglês Tribune, em março de 1944, o escritor e jornalista George Orwell escreveu – o artigo intitulava-se “O que é fascismo?” – que todo aquele que usa indiscriminadamente a palavra fascismo está agregando a ela um significado emocional. “Por fascismo, eles estão se referindo, de maneira grosseira, a algo cruel, inescrupuloso, arrogante, obscurantista.”

    Autor de livros clássicos sobre o totalitarismo (como 1984 e A Revolução dos Bichos), Orwell recomendava: “Tudo que se pode fazer no momento é usar a palavra com certa medida de circunspeção e não, como usualmente se faz, degradá-la ao nível de um palavrão”.

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