A lição não aprendida por Eduardo e Marina

Comentário ao post “A terceira via da chapa presidencial Marina-Campos

Com todo o respeito ao J. Roberto Militão, uma leitura sempre aprazível e enriquecedora aqui no blog, mas esperávamos uma justificativa de voto um pouquinho menos subjetiva. Afinal, dado o ambiente, poucos ou inexistentes serão os carentes de doutrinação política partidária. 

No sério: se o nome do articulista não fosse informado, a autoria do texto certamente seria imputada às assessorias dos pretensos candidatos ou a próceres do PSB, tal é a carga de autoindugência e abstração da realidade. 

Nem parece que está em jogo o destino de uma nação madura, complexa e carente, não de sonhos, estes já abundam nesta pátria, mas de ações ou pelo menos intenções ancoradas no factual, no possível e coerente com o contexto. 

Eduardo e Marina foram maus pupilos. Não apreenderam com o “mestre” Luiz Inácio e, por que não?,  com os  hoje amaldiçoados líderes José Dirceu e José Genoíno, abstraídos, é claro, eventuais equívocos. Foram suas sensibilidades políticas que permitiram deslocar um sistema que há séculos vigia neste país. Parece que ninguém atenta, mas a Carta aos Brasileiros, além do ineditismo, foi uma excepcional lição de pragmatismo no sentido positivo do termo.  

A lição não apreendida diz respeito ao entendimento e sensibilidade para um  momento histórico que necessariamente impõe aos candidatos a estadistas  essa  tripudiada postura política, avaliada a priori por alguns, principalmente aos simplórios ou demagogos,  como indesejável, e até condenável, na política. Uma análise honesta envolvendo candidaturas, em especial quando está em jogo o cargo político mais importante da República, não pode se conter no “eleitoralismo” e no mero expressar de intenções. Em palanques até que é aceitável. Em ambientes mais atentos, não.

Por esse aspecto, não basta emitir floreios acerca de aspectos telúricos ou voluntariosos de candidatos. Demanda, isto sim, esclarecer de que maneira  irão governar dadas as condições reais com suas múltiplas variáveis complexas. Especular que a parte “boa” do PT e do PSDB vão colaborar em função do patriotismo(o termo é meu) ou de outro sentimento sublime, é devaneio. Ignorar que contrapondo-se aos sonhos há a bocarra aberta de interesses dos mais diversos com os quais os eleitos terão que lidar, não é análise, é quimera. 

Redação

6 Comentários

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  1. Requião Presidente

    Hoje, com o atual e fragmentado quadro político nacional, o único partido que reune condições de romper com as nefastas práticas de “governabilidade” é o PMDB.

    Requião surge como candidato natural na agremiação.

    Mais, a Dilma vai premiar o partido com inúmeros ministérios ou, a castrófe, o motivo para o rompimento.

    Jogada de gênio, deixou o PT entre o fogo e o caldeirão.

    Sem escapatória.

    1. PMDB no governo

      Carro Alexandre, não acredito que o PMDB tenha algum interesse ou possibilidade de governar país com o cargo de presidente da república e explico minha idéia: O PMDB não é um partido na acepção da palavra e sim um conglomerado de “interesses espúrios” e ficaria dificil de organizar-se este bordel para poderem apresentar um candidato que atenda os  interesses majoritários. Requião, que acredito seja um político correto (para um político) não teria apoio do partido no seu totum e defecções seriam quase seguras. Por interesses particulares membros do próprio partido apoiariam a candidatos de outros partidos, fazendo um “racha” no “centrão de interesses” que é como deferiam ser qualificados. Até haver um aumento de deputados e senadores progressistas e corretos, não acredito que o quadro mude, pelo menos não até 2014. Para 2018 pode ser que alguma coisa mude.

  2. “Eduardo e Marina foram maus

    “Eduardo e Marina foram maus pupilos. Não apreenderam com o “mestre” Luiz Inácio e, por que não?,  com os  hoje amaldiçoados líderes José Dirceu e José Genoíno, abstraídos, é claro, eventuais equívocos. Foram suas sensibilidades políticas que permitiram deslocar um sistema que há séculos vigia neste país”:

    Momento sarcastico, Diogo, mas na mesma linha:  o nome do outro post do dia deveria ser

    “Em editorial, Estadao diz que mobilidade urbana eh bandeira eleitoral que PSDB nao empunhou”

     

     

  3. Mas que “sistema que vigia há

    Mas que “sistema que vigia há séculos” é este que o Lula ajudou a deslocar?

    Primeiro o articulista estatui que houve uma grande mudança na superestrutura nacional, e depois afirma que a “Carta aos Brasileiros”, a garantia final de que o operário na Presidência não alteraria em uma linha o sistema econômico herdado de FHC, é uma lição de pragmatismo. 

    Se dissesse que a Carta aos Brasileiros foi importante para viabilizar a chegada do PT ao governo que, embora impedido pelas circunstâncias a promover reformas estruturais, ajudou a melhorar o país nas estreitas condições impostas pela elite, vá lá. Agora dizer que um sistema que vigia há séculos foi deslocado é forçação de barra.

    Não confunda conquista do governo com conquista do poder, como já dizia Plínio de Arruda Sampaio.

    Esta lição de pragmatismo que você fala não foi apenas retórica; custou ao PT no governo adotar uma visão de mundo em que o conflito de classes precisa ser substituído por um sistema de conciliação que pobres e ricos ganham ao mesmo tempo. Tudo muito diferente do que o PT praticou quando na oposição.

    Em troca, ganhou apoio congressual (que todos conhecemos de quem vem), financiamento de campanha farto, oposição “menos feroz” da nossa elite (se for para citar 2005, pf veja como estes empresários que hoje aplaudem Lula vislumbravam uma fuga em massa (800 mil) em 89).

    Agora, outra incorreção é que Marina e Eduardo não aprenderam a lição. Aprenderam sim. Só ver essas alianças com Caiado, Bornhausen, Marina financiado pela Natura e Itaú, os dois se tornaram alunos aplicados, inclusive superando o “Mestre” em pragmatismo. 

  4. Petistas de cores diversas se

    Petistas de cores diversas se sentiriam muito bem em um eventual governo Eduardo-Marina ou vice-versa. Não há incompatibilidades entre o núcleo do governo Dilma e Eduardo, por exemplo, ou entre o campo majoritário do PT e o PSB, exceto a necessidade pessoal de cada um de ocupar espaços burocráticos de poder. No caso de Marina, o governo Dilma se dá muito bem com os setores conservadores em termos de costumes, como mostra o apoio do PSC e de Marcos Feliciano ao governo. As idas e vindas do governo na questão da saúde da mulher, por exemplo, mostram esse fato. Suas posições no tocante à política de drogas mostra o mesmo. Marina, por outro lado, deixou faz tempo a militância ecológica e passou a servir e se servir das eco-corporações e das eco-preocupações das grandes multinacionais e dos grandes bancos no país. Apenas isso.

    Pequenas perguntas:

    (i) um governo Eduardo/Marina (ou vice-versa) manteria a política de metas inflacionárias, com a maior taxa de juros do mundo? Sim, eu afirmo.

    (ii) um governo Eduardo/Marina (ou vice-versa) manteria a política de entrega das agências reguladores aos entes regulados, como fez PSDB e faz o PT?  Sim, eu afirmo.

    (iii) um governo Eduardo/Marina (ou vice-versa) manteria a política de privatizações realizada pelo governo Dilma? Sim, eu afirmo. Pode ser que a aprofunde, mas o cerne da política (o desmonte do aparelho de estado) continua o mesmo.

    (iv) um governo Eduardo/Marina (ou vice-versa) manteria a política de transferência de recursos públicos para entidades privadas de saúde, como os seguros de saúde e as Unimeds, em detrimento dos investimentos em saúde pública e na efetiva construção do SUS? Sim, eu afirmo. Nada mudaria. O mesmo ministro poderia continuar, inclusive, dada sua proximidade em questões de costumes com Marina.

    (v) um governo Eduardo/Marina (ou vice-versa) manteria a política de transferência de recursos públicos para entidades privadas de educação através de programas como PROUNI e FIES, em lugar de garantir os 10% do PIB para exclusivamente para educação pública? Sim, eu afirmo.

    (vi) um governo Eduardo/Marina (ou vice-versa) manteria a política de leilões das áreas do pré-sal? Sim, eu afirmo. Pouco mudaria.

    (vii) um governo Eduardo/Marina (ou vice-versa) manteria a política de reforma agrária na mesma qualidade atual? Sim, eu afirmo. Ela inexiste hoje e continuaria a inexistir.

    (vii) um governo Eduardo/Marina (ou vice-versa) manteria a política indigenista na mesma qualidade atual? Sim, eu afirmo. Ela inexiste hoje e continuaria a inexistir.

    Em suma, pouco mudaria. Assim como ocorreu em Belo Horizonte no tocante aos mandatos de Fernando Pimentel e Márcio Lacerda. Lacerda apenas continuou o que foi iniciado por Pimentel.

  5. Não foi a carta aos brasileiros…

    …mas o “mensalão” e o risco de impeachment que mudaram o jeito PT de governar. Até então ele estava “preso” aos interesses dos rentistas, somente com o risco de perder tudo (ou se preferir, com a queda de Dirceu) é que a “cara do PT” mudou e o governo deslanchou.

    Lula deve muito a Roberto Jefferson, só por conta disso.

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