A tragédia pode ser evitada?, por Josias Pires

A tragédia pode ser evitada?, por Josias Pire

Seremos capazes de evitar a eleição de um candidato que propõe implantar a ditadura militar, que congrega gente saudosa das piores experiências da ditadura militar, das torturas, das relações com pistolagens e grupos de extermínio?  Com grupos de pessoas violentas, e que defendem a violência de Estado contra a oposição? E defendem a privatização de todas as empresas e instituições públicas, a exemplo das universidades, escolas de ensino médio, serviços de saúde, relações trabalhistas ainda mais extorsivas? 

Precisamos lutar até o último momento para que a tragédia possa ser evitada. 

Neste momento das eleições devemos refletir com toda atenção. Haddad, Ciro, Boulos, Marina e até Alckmin – ou pelo menos seus eleitores que vieram da luta contra a ditadura – são candidaturas que tem algum compromisso com a democracia. 

A descrença na política faz imenso mal para a democracia. Desvalorizado, injuriado, o afeto político fica disponível para pregações de demagogos, supostamente antissistema, porém encarnação de valores ultraneoliberais.

A violência e a segurança são questões cruciais, sim. A violência é elemento constitutivo da formação histórica do Brasil, país que passou 350 anos (1500-1888) de escravidão, cuja herança continua visível e profunda. Para enfrentar e vencer a violência é preciso reforçar afetos de solidariedade. 

É preciso investir na paz. A formação da polícia deve voltar-se para acabar com a mortandade de seres humanos. A matança de bandidos e policiais é barbárie a ser imediatamente interrompida. Assassinando jovens – milhares deles com enorme potencial de liderança e criatividade, se pudessem usufruir de políticas públicas e privadas favoráveis – estamos assassinando nosso futuro. 

É preciso acabar com esta coisa odiosa de torturar pessoas nas prisões. 

Torturar é ação (des)humana indigna. Torturador deve ser desautorizado. O objetivo deve ser acabar com as prisões. 

Precisamos de campanhas de desarmamento; e da ação das forças policiais para coibir a entrada de armas pelas fronteiras e coibir a circulação de armas no país. 

As energias e recursos do Estado devem ser direcionadas para os investimentos na formação e na manutenção do bem-estar dos brasileiros e na melhoria da infraestrutura do país: saúde, educação, geração de renda, cultura, transportes, produção econômica, cidadania, solidariedade. 

Precisamos de polícia humana, de Estado que pare de matar, pare de fazer guerra às drogas, controle este comércio; e invista com qualidade na formação das pessoas. A polícia precisa deixar de ser formada para ter ódio, ao contrário, o papel da polícia é prevenir e combater o crime com astúcia e inteligência. 

A estratégia do neoliberalismo é disseminar competição em todas as esferas da vida. No mundo oficial e no submundo a ideia é reforçar o indivíduo como capital humano ativado pelo desejo de consumir, de competir, de acumular, de fazer prevalecer seus interesses particulares. 

O futuro que promete os neoliberais é a tragédia de mais mortes e austericídio que sacrifica os mais pobres, e propõe a continuação da barbárie por outros meios.

É preciso estimular e fortalecer afetos de solidariedade, de defesa da liberdade e da promoção da igualdade. É um projeto antigo, que um dia se chamou liberal e que produziu as revoluções americana (1760) e francesa (1789) e estimulou o pensamento e ação política libertária em todo mundo ao longo do século XIX e seguintes. 

O liberalismo no Brasil do Império, assim como o da República, esteve inteiramente voltado para justificar e garantir a propriedade – particularmente de seres humanos – e excluir escravos e os mais pobres. 

Ao invés de liberalismo, o que tem prevalecido na cultura política brasileira são soluções autoritárias. Sempre tutelada – pelo Rei, pelo Imperador e desde a República pelos militares – nossa democracia ainda é incapaz de defender os interesses nacionais. O Brasil é uma nação inconclusa, a maioria da população continua excluída. Brasileiros expatriados em sua própria terra. 

 

Vote Certo.

Redação

4 Comentários

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  1. Pode (ria)

    Essas soluções autoritarias são tuteladas também pelos meios de comunicação brasileiros, desde os patrões até os jornalistas. Esse artigo fala de valores e desejos, penso eu, da maioria da população brasileira, mas as coisas não são tratadas dessa forma no debate eleitoral nem pelos candidatos nem pela imprensa e nem se ouve as vozes de intelectuais. Fica tudo num plano muito superficial e de ataques e o povo não sabendo nem direito como pensar.  

  2. Estamos aqui em uma correria

    Estamos aqui em uma correria danada pra conquistar pelo menos mais algumas almas que insistem em se afundar na opção de eleger o bozo. Vou conversar com o sobrinho quase perdido, a irmã evangélica, mas sempre me parece pouco. Acredito que esses espaços deveriam deixar de falar sobre as desvantagens de um governo autoritário e focar mais em estratégias de ação. Afinal, quem le o GGN são pessoas de visão progressista, que não precisam de mais convencimento, precisam sim de métodos pra enfrentar um exescito entrincheirado nas redes sociais que agem incansavelmente em defesa da barbárie.  

  3. Descrença na política? Como assim, Cara Pálida?

    Todos que dizem odiar a política e até os outisiders são atraídos pela política. Então eles acreditam na política.

  4. Nem a GLOBO consegue evitar, Josias!

    A ficha da Vênus Platinada caiu… Mito escolheu o Bispo …   E não adianta que os irmãos Malafaia, Bispo, Valdomiro, Feliciano e outros aventureiros,  não vão quere repartir o pão. Ontem, depois do debate, deu pra ver a cara dos jornalistas da GloboNews. Totalmente desapontados. Perceberam a cagada. Acho que nós, brasileiros, “sifú”. Mas a Globo também “sifu”. Algum consolo? Nenhum … 

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