Diferenças e semelhanças nas tentativas de reeleição de Dilma e Lula, por Marcos Coimbra

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Da CartaCapital

As reeleições de Lula e Dilma

Existem muitas diferenças e algumas semelhanças entre os primeiros mandatos de Lula e Dilma Rousseff. No plano eleitoral, essas são especialmente visíveis no modo como chegaram ao quarto ano e ao início do processo sucessório.

A vitória de Lula em 2006 foi tão significativa e o segundo mandato tão consagrador que tendemos a esquecer as dificuldades que o ex-presidente atravessou naquele ano. Ele sempre liderou as pesquisas, é verdade, e o governo manteve-se majoritariamente aprovado ao longo do período, mas sua posição só se tornou confortável nos últimos meses.

Se tomássemos como estava no fim de fevereiro, constataríamos um quadro nada tranquilizador. O governo tinha uma avaliação positiva de 37%, maior que a negativa, de 22%, mas menor que a soma daqueles que o consideravam “regular”, 39%, segundo dados do Datafolha.

Essa falta de entusiasmo em relação ao governo se manifestava nas intenções de voto: na mesma pesquisa, Lula obtinha 39% na lista em que José Serra, com 31%, aparecia então como a opção do PSDB. Os demais candidatos totalizavam 16%. A chance de o petista vencer no primeiro turno era quase nula.

Nos levantamentos subsequentes, a vantagem de Lula sobre os concorrentes ampliou-se, mas muito pelo fato de Geraldo Alckmin ter sido o escolhido para representar os tucanos. Em março, o ex-presidente tinha 42% e o paulista alcançava 23%. No mês seguinte, a diferença entre os dois permaneceu idêntica. Lula só chegou à marca de 45% em maio, quando deixaram de ser pesquisados os nomes de possíveis candidatos do PMDB, após o partido decidir não lançar um nome.

Como se vê, foi lenta a ascensão de Lula, e deveu-se mais a movimentos internos do sistema político do que ao crescimento do apoio popular à candidatura.

A razão, provavelmente, era a avaliação do governo. Pois, se é fato que os números de fevereiro (embora não fossem maravilhosos) mostrassem expressiva recuperação em relação a dezembro, os meses seguintes foram de interrupção da tendência de melhora.

No fim de 2005, o governo Lula havia chegado a seu pior momento: apenas 28% dos entrevistados o avaliavam positivamente, abaixo dos 29% que o reprovavam. Recompôs-se e foi a 37% em fevereiro. Mas lá empacou: 38% em março, 37% em abril, 39% em maio, 38% em julho. Parecia incapaz de voltar ao patamar de 45%, onde estivera em dezembro de 2004.

Quem acompanha as pesquisas atuais percebe a semelhança com o momento atual. As quatro fases pelas quais Lula passou entre meados de 2005 e a pré-campanha de 2006 repetem-se com Dilma. A presidenta estava em seu máximo no começo de 2013, perdeu boa parte da popularidade entre junho e julho, recuperou-se em agosto, mas sem voltar aos níveis anteriores ao “derretimento”, e parou de melhorar de lá para cá. Sua avaliação e intenção de voto estão “congeladas” desde setembro.  O mesmo padrão do ocorrido com Lula.

Em 2006, houve, porém, uma nova fase, inaugurada quando foi dada a largada efetiva da campanha. Mais especificamente, a partir de agosto, ao começar a propaganda eleitoral na televisão e no rádio.  Foi somente quando Lula teve acesso aos meios de comunicação de massa, para mostrar seu trabalho e defender o governo, que as condições de competição se tornaram menos desequilibradas. A intensa campanha da mídia antipetista contra ele e o governo não cessou, mas outro discurso pôde ser exposto aos eleitores.

A avaliação positiva foi a 45% em agosto, 46% no início e 49% no fim de setembro. Continuou a crescer em outubro e chegou a 53%, superior à alcançada por qualquer presidente que o antecedeu, em qualquer momento (dados sempre do Datafolha).
E Lula venceu a eleição.

A lembrança do acontecido em 2006 serve para deixar menos ansiosos aqueles que apoiam a reeleição de Dilma. Tudo considerado, o fato de ela “ter parado de subir” desde agosto de 2013 não parece ser problema grave.

Inversamente, serve para diminuir as esperanças da oposição. Não são apenas Aécio Neves e Eduardo Campos que podem se beneficiar da propaganda eleitoral. Na verdade, como vimos nas disputas pela reeleição, tanto com Fernando Henrique Cardoso em 1998 quanto com Lula em 2006, quem está no governo tende a crescer, pois possui obras a apresentar e argumentos concretos para convencer os eleitores.

Ainda mais quando, como Dilma neste ano, lidera uma coalizão que lhe assegura abundante tempo de televisão.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

11 Comentários

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  1. O 2006 foram tempos de

    O 2006 foram tempos de ansiedade e incertezas. Hoje e aí que está o perigo, temos mais certezas e segurnça. Isso porque nada existe que pese contra Dilma como o tal mensalão, que NUNCA EXISTIU. E mais. Temos dois candidatos. Um que nada quer –  a não ser continuar sua vidinha de galã e curtição, no que está certo – mas que o seu partido nos faz querer acreditar o contrario por falta de algum quadro mais expressivo. O outro, inexpressivo mas com um ego enorme e a toda prova que quer nos fazer crer que fez algo de positivo e novo como administrador. Mas isto nenhum marketing conseguirá prover porque nada existe de concreto.

    Como o candidato do NE saiu da base e hoje chuta lata e a presidente não tomou nenhuma providencia, outros acham que podem e têm o direito de fazer o mesmo e não haverá conequencias. Tudo bem. Aguardem 2015.

  2. Mais Carta e menos Capital?

    Duas coisas alvissareiras:

    Uma, a Carta Capital parece ter levado uma “sacodida”.

    Claro que sabemos que o jornalismo deve tentar contrapor a sua natureza intrínseca (ser lacaio do patrão) e buscar algo mais próximo da verdade possível. Claro que sabemos que a Carta do razinza de mesmo sobrenome é o veículo menos pior nesta tarefa.

    Mas, por outro lado, sabemos que não há mídia nem jornalismo neutros, ou seja, eles são sempre pró-estamento. Prova disto é como se comportam quando há governos que não sejam de mesmo sinal. E sendo assim, a Carta sempre foi considerada uma “meia-exceção”, ou seja, admitia ter escolhas políticas que destoavam de seus pares, ainda que com palhaçadas com “as mais admiradas” e outras bobquices colonizadas do tipo.

    Então, feito este “nariz de cera”, era de certa forma surpreendente que Carta tenha se dedicado a bater tão (ou mais duro, talvez por ser “de casa”) no governo Dilma, e pior, justamente pelas suas qualidades e não pelos seus reais defeitos, como deveria ser.

    Algum interesse atingido ou não atendido? Nunca saberemos.

    Porém, em segundo lugar, igualmente surpreendente é este texto, que embora consigne o óbvio, destoa do que vinha fazendo a Carta.

    A matéria é acertadíssima, e justamente porque diz o que está aí, para todos verem, ao contrário dos malabarismos semânticos e estatísticos que a Carta e outros blogs do campo progressista têm praticado para atingir a presidenta.

    Obras ou fantasmas do criptolulismo? …

    O clima maluco que se transformou a mídia e os setores políticos e jurídicos brasileiros, todos irmanados na tarefa de se opor ao governo e mais, ao Estado brasileiro, fez-nos esquecer, mesmo entre nós que apoiamos o governo, que o desempenho da Dilma, ao menos do que se trata de preferência, chances e perspectivas, e muito além, de sua resposta às crises (de rua, e as tantas outras fabricadas ou as reais ampliadas) tem sido exemplar.

    Nem vamos começar a descrever as gigantescas diferenças entre ela e seu antecessor, a sua vivência política e a dele, que chegou a presidência após três eleições, e mais de 20 anos no comando da maior força de esquerda da América e do mundo, o PT.

    Nada disto tem sido levado em conta, nem pela Carta, nem por outros blogs, como este aqui, e nem por nós, que estamos ganhando de 67 a zero e nos comportamos como se o mundo estivesse por acabar.

    Acho que as coisas estão começando a voltar para o lugar.

  3. Já a sucessão de Dilma será muito difícil para o PT:

    Lula no início de seu mandato tinha como potenciais sucessores José Dirceu e Genoíno (abatidos pelos escândalos), Palocci despontou (felizmente não foi adiante), Dilma também ao melhorar a gestão do governo.

    Como o PT se enfraqueceu, Lula preferiu fazer Dilma sua sucessora em vez do Tarso Genro ou Patrus Ananias (o tempo irá dizer se foi um erro ou não).

    Quem será o sucessor da Dilma? Mercadante??? Celso Amorim seria um excelente nome se tivesse sido mantido no Itamaraty (apesar de ser mais velho que Lula, Dilma e o PT precisar de uma renovação geracional).

    Esse ano o PT acerta em apostar na eleição de vários governadores (principalmente no Sudeste), isso que mantem o PSDB em evidência desde 2002 (apesar do péssimo discurso oposicionista).

    Muito se fala na possibilidade de apoiar Eduardo Campos em 2018, para isso ele teria que moderar o discurso oposicionista (que favorece muito mais o PSDB).

  4. Dilma enfrenta mais desafios

    Em 2006 tínhamos um bom desempenho da economia, com destaque para os frutos derivados das políticas sociais. Dilma está pegando algo mais que uma “marolinha”, com dólar elevado e crise global. Convivemos hoje com baixos preços de commodities, déficit de balança comercial, falta de chuvas e outros. Soma-se a sobrevida artificiosa dada ao “mensalão”, a traição do PSB e do “centrão”, e temos aqui um quadro agudo contra a continuidade do projeto do PT. Em compensação, todas essas “desventuras em série” culminaram com nosso punho em alto, e acho que essa é a melhor imagem que projetamos hoje para Outubro. Saímos da zona de conforto, mas despertamos o espírito combativo dos afiliados e simpatizantes petistas.

  5. acredito mais no que ninguém diz…

    Dilma não crescerá devido a isto ou aquilo, pois ela já nasceu crescida e preparada para reeleição

    altos e baixos de pesquisas, tempo de televisão por coalizão, nada disso afeta ou supera a visão do povo

  6. OLHA ele aí again.
      Não faz

    OLHA ele aí again.

      Não faz muito,o instituto de pesquisa desse indivíduo colocou Haddad com 1 por cento de ótimo( ISSO MESMO;UM PORCENTO)

            Nem foi divulgado.Saiu numa nota de rodapé.

             E por que nem a oposição divulgou? Porque sua credibidade é abaixo de zero.

                Ele deve ter tido uma epifania ao ”divulgar”( tentou,mas ninguém se interessou) a pesquisa da prefeitura de SP.

                Com essa estatura de confiança, vc quer ,Nassa. que leia um artigo dele?

                      Passo.

    1. Quando foi essa pesquisa?

      Quando foi essa pesquisa? Essa em que o Haddad tinha 1% foi antes ou depois da eleição do Prefeito?

      E você sabe de pesquisas semelhantes a essas que o Coimbra cita sobre a reeleição de Lula para a eleição de Dilma em 2010?

      Agradeço se puder ajudar.

       

  7. A oposição não pode apresentar candidatos

    A eleição fica manietada com não candidatos.

    Esta oposição que está ai, com Aécio, Campos e Marina é para validar a chapa governista, não para disputar eleição.

    Qualquer candidato para valer, com um projeto sério de Brasil para enfrentar do lado do povo e da nação as dificuldades que o país terá de passar nos próximos anos ganha a eleição com o pé nas costas.

    O desespero do PT com o grupo dos 300 da Câmara é justamente por isto.

    Só com não candidatos é que a Dilma se reelege e mesmo reeleita lhe faltará legitimidade, como agora e novamente não governará, só chancelará os que mamam fartamente nas tetas dos juros pornográficos e maracutais não combatidos e que escravizam o povo e a nação.

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