As eleições e as políticas para o setor agropecuário

Sugerido por Fernando J.

Do Beef Point

Novidade nas eleições

por Roberto Rodrigues, ex-ministro do MAPA

Durante os últimos 40 anos, nos quais estive participando ou dirigindo instituições de representação e defesa da agropecuária brasileira, houve uma clara característica em tempos de eleições: as lideranças rurais procuravam insistentemente os principais candidatos, especialmente à Presidência da República, para tentar convencê-los a colocar em seus planos de governo as ações indispensáveis de apoio ao setor rural. E não foram poucas as ocasiões em que fomos recebidos com desdém pelo candidato ou, ainda pior, recebidos com desdém por assessores do candidato.

E quando houve alguma menção ao agronegócio em planos de governo, sempre ficou em segundo plano ou foi parcial, atendendo à visão de pessoas próximas ao candidato, este geralmente de formação urbana, sem conhecimento da atividade primária da economia brasileira.

Como resultado, o último governo que teve uma verdadeira estratégia de suporte à agropecuária foi o de Ernesto Geisel, ainda no regime militar, quando foram instaladas a Embrapa e a Embrater, nasceu o Prodecer, os planos de colonização para ocupar o território nacional e as regras de preços mínimos, crédito rural, etc. E já se vão 40 anos! Nunca mais tivemos um programa oficial integrado nesta direção.

Mas aquela estratégia foi tão eficiente que boa parte do sucesso da agropecuária brasileira se deve, ainda hoje, aos seus impactos. Isso mais do que justifica uma nova e poderosa articulação em favor do campo, mas com outra visão. Nos idos dos anos 70, éramos importadores de alimentos, e a política de Geisel foi para reverter isso. O êxito foi tanto que hoje somos dos principais exportadores no mundo todo.

Mas o momento é outro: o planeta se debate em torno da segurança alimentar e da sustentabilidade na produção rural, dois temas fundamentais para garantia de paz universal e de qualidade de vida. E o Brasil já deu exemplos suficientes de que pode ser um grande supridor de alimentos, energia e fibras para esta campanha de grande envergadura, sem agressão aos recursos naturais.

Os números são incisivos: em 20 anos a área plantada com grãos cresceu 40% e a produção 220%. Com isso, preservarmos mais de 66 milhões de hectares que teriam que ser desmatados se a tecnologia desenvolvida entre nós não aumentasse a produtividade por hectare. Em resumo, temos a mais eficiente agricultura tropical sustentável do mundo.

Mas precisamos muito mais do que isto: a OCDE mesmo afirma que para a produção de alimentos crescer 20% até 2020, a do Brasil precisa crescer o dobro, 40%, dadas nossas vantagens competitivas, que são: terra disponível, tecnologia adequada e gente competente.

Falta estratégia, com todas as variáveis conhecidas: política de renda rural, infraestrutura e logística, política comercial mais agressiva, maior investimento em tecnologia e inovação, modernização das instituições (temos 4 Ministérios cuidando do Agro!), modernização das legislações, defesa sanitária, etc, etc, etc. O diagnóstico é mais do que conhecido.

No final do ano passado, os três principais candidatos à Presidência da República se movimentaram em direção ao agro, procurando representantes e lideranças do setor, em busca de orientação para planos de campanha. Esta é uma tremenda novidade, e tem que ser aproveitada com a máxima competência por nossos representantes.

O que está por trás deste novo comportamento? Seguramente é a mudança de visão da própria sociedade brasileira. O papel da mídia foi fundamental para isso, inclusive o Sou Agro. Hoje qualquer pessoa mediamente informada sabe que o campo é responsável por 22% do PIB nacional, gera 30% dos empregos e é o grande campeão do saldo comercial. Todo mundo acredita que tem alguma ligação com o agro, seja via alimentos, roupas, calçados, papel, combustíveis, móveis, borracha, etc.

E, como numa democracia quem manda é a maioria, os candidatos devem ter percebido este novo cenário e se posicionaram nele.

O certo é que a presidente Dilma Rousseff fez aproximação com a senadora Kátia Abreu, presidente da CNA e maior líder do nosso setor. Fala-se até que a senadora poderá ser a Ministra de Agricultura em eventual segundo mandato de Dilma. Seria ótimo!

Eduardo Campos, governador de Pernambuco, já fez várias reuniões com lideranças rurais em todo o país, até para neutralizar a desconfiança do campo quanto à posição da ex-ministra Marina Silva em sua chapa, e teve êxito: vai construindo uma boa relação com o setor, comprometendo-se com uma ampla política de apoio ao agronegócio sustentável.

O senador Aécio Neves também se movimentou, e já avançou em relação aos outros candidatos: lançou as bases de seu programa de governo, no qual especifica que a estratégia para a agropecuária e o agronegócio será do Presidente, e o executor dela será o Ministro da Agricultura, escolhido, segundo ele, de comum acordo com o setor.

Em suma, os três candidatos se aproximam do campo, o que é realmente notável e tem que ser aproveitado.

As entidades de classe estão se movimentando para desenvolver a tal estratégia tão aguardada e tão necessária. Mas, atenção! Cuidado com vaidades, ciúmes, invejas, idiossincrasias. É hora de articulação, união, organização. Não é possível que percamos esta oportunidade porque cada entidade quer fazer sozinha o seu programa.

O debate é indispensável, fundamental. Debate entre as instituições e lideranças do setor, e depois com toda a sociedade. Assim haverá legitimidade no projeto a ser apresentado aos três candidatos. Em seguida, eles terão que se manifestar concretamente sobre cada ponto da proposta. Só então a classe rural e a sociedade brasileira, em conjunto, poderão decidir qual dos candidatos está mais próximo dos valores assinalados. Já estamos trabalhando nisso.

Mas, outra vez, atenção: não é só para presidente que teremos eleições. É para governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Todos eles terão papel relevante no nosso cenário, particularmente os deputados federais: a brava bancada da agropecuária vem conquistando importantes pontos em defesa do setor; e ainda é pequena. Precisamos reeleger os bons parlamentares e eleger outros, para aproveitar bem a oportunidade que surgiu.

E isso tudo está em nossas mãos. Portanto, mãos à obra!

Por Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, embaixador especial da FAO para as cooperativas e presidente da Academia Nacional de Agricultura (SNA), foi ministro da Agricultura.

Redação

5 Comentários

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  1. O articulista está

    O articulista está redondamente engnado quando cita o Governo Geisel como berço da política de Preços Mínimos e do Crédito Rural. A Lei delegada que criou a política de Preços Mínimos é muito anterior ao Geisel e o Crédito Rural é ainda mais antigo. Não vamos exagerar no saudosismo da ditadura e bancar o FHC adonando-se de realizações alheias…

    1. Geisel

      Você está correto, Carlos. Sem dúvida, no período Geisel algumas alavancas para o setor agrário foram implantadas (Embrapa, Proálcool, Valefértil, Prodecer), nada a ver, porém, com política de preços mínimos e Crédito Rural.

  2. Antes que se forme qualquer

    Antes que se forme qualquer duvida, afirmo que, apesar de todos os erros e mediocridades, ainda é melhor que o governo atual seja reeleito de que qualquer um dos que se propõe a substituí-lo.

    Mas os enganos são graves e múltiplos.

    O principal é fortalecer a atividade agrícola de exportação como elemento básico da economia.

    É manter o pais atrelado a uma atividade econômica concentradora, trazendo graves riscos ao nosso meio ambiente, através da contaminação de nossas fontes de água, pelo uso excessivo de agrotóxicos e a perda de nossas florestas, em ritmo acelerado.

    Vivemos num pais tropical, propicio,evidentemente, a produção agricola.

    Acontece que numa região com essas características naturais tal vigor tem dois lados.

    Destruir uma floresta na Europa ou nos EUA trara efeitos negativos.

    Porem, entre nos, as consequências são muito mais severas.

    A “balança comercial” se equilibra com a venda de soja ou carne bovina, mas os custos que ficam são altos e dispersos.

    Cidades estão sendo destruidas pela brutalidade das chuvas e enchentes.

    Ao mesmo tempo,em outros cantos, longos períodos de seca, estão desertificando areas antes produtivas.

    Tal desequilibrio natural tem um alto custo social, com efeitos na saude publica, alcançando as economias urbanas.

    Enquanto isso acontece a discussão sobre os prejuizos que a agricultura de larga escala promove fica restrita a uma briga entre o agronegocio e os ecologistas.

    A nação ainda não percebeu a extensão do problema.

     

  3. A “sugestão” do Roberto Rodrigues

    Agro Rui,

    O que eu mais gostei foi da “sutileza” da sugestão da Kátia Abreu para ministra da Agricultura para o segundo mandato da Dilma, o que deixa claro que o ex-ministro não bota fé nos outros candidatos. Mas, concordo com todos aqui, parece que o Geisel foi o único que implementou políticas para o setor, o que não procede de forma alguma. 

    1. Rodrigues

      Fernando,

      caso não opte por se candidatar ao governo do Tocantins ou, candidata, perca as eleições, a Kátia tem grande possibilidade de vir a ser a ministra da Agricultura de Dilma. Creio que a passagem dela para o PMDB incluiu esse futuro. Agora o Roberto não é bobo de acreditar “nos outros candidatos”. Abs.

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