Bandido bom é bandido…, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Bandido bom é bandido…, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Um dos mantras da campanha de Jair Bolsonaro é capaz de nos fornecer uma pista sobre os paradoxos que fomos obrigados a viver desde o golpe de 2016, “com o Supremo com tudo”. Refiro-me obviamente à frase “bandido bom é bandido morto”.

A história do cinema está cheia de exemplos de que há uma outra maneira de enunciar esse mantra. Nos filmes “Balas contra a Gestapo” (1942) e “Anjo do mal” (1953) bandido bom é aquele que sobrevive para ajudar a exterminar espiões nazistas e comunistas. No Brasil, durante algum tempo o Cabo Bruno e o Coronel Ustra foram considerados bandidos úteis. O primeiro acabou sendo preso, o segundo foi anistiado.

Banditismo e política fazem parte do universo público brasileiro como se fossem duas faces da mesma moeda. O próprio Jair Bosonaro está cercado de bandidos que considera bons o suficiente para não serem mortos. Dentre eles um dos filhos dele que tem fugido dos Oficiais de Justiça como um vampiro foge de água benta.

A cruz que a população brasileira está prestes a carregar não será um governo moralizante. Muito pelo contrário, será um governo de bandidos que não se limitará a utilizar métodos legítimos prescritos em Lei. Muitos dos tiranetes que já se mostram fiéis ao novo regime, entretanto, não estão atrás das grades. Na verdade eles se escondem dentro de suas togas nos Fóruns e Tribunais que tem expedido ordens absurdas mandando a PF prender reitores e invadir Universidades para beneficiar seu Führer, seig heil Jair Bolsonaro.

Nenhuma igreja, rádio ou televisão evangélica que fez campanha para o Hitler bananeiro foi invadida porque estava prejudicando Fernando Haddad. A justiça imparcial tem lado, mas ela não está ao lado nem da democracia, nem da liberdade de imprensa. Enquanto o Führer espalha notícias falsas utilizando recursos tecnológicos sofisticados, seu adversário foi proibido de dizer a verdade. Jair Bolsonaro defendeu abertamente a tortura e o assassinato de milhares de brasileiros, mas como as vítimas dele estão todas no subsolo da sociedade os bandidos de toga no primeiro andar fazem de conta que o Tribunal Penal Internacional não existe.

O genocídio planejado por Führer seig heil Jair Bolsonaro será executado. Ninguém deve ter dúvida disso. Negros, gays, feministas, índios, nordestinos, pobres e suspeitos de serem comunistas já estão sendo espancados, torturados, tatuados com a suástica e até assassinados. A violência política que nós estamos presenciando nos últimos é apenas o antepasto. O prato principal será servido frio pelo próprio tirano.

A publicidade exigida para a prática dos atos públicos se tornará algo do passado. A partir de 2019 ficaremos sob o tacão de um governante autoritário e descontrolado que dividirá a administração pública em duas casas: a casa da publicidade (para inglês ver e investir) e a casa da escuridão (reservada aos seus serviçais mais leais). Não se enganem: em breve, milhares de policiais, milicianos, pistoleiros e militares (não necessariamente nessa ordem) atuarão nos Esquadrões da Morte oficiais, oficiosos, terceirizados e autônomos.

Num país controlado por bandidos submetido a um bandido que acredita na preservação da supremacia política mediate o uso corriqueiro da ultraviolência as opções são limitadas. Quem quiser sobreviver ao governo do Führer seig heil Jair Bolsonaro terá que apoiar o regime tirânico, matar para não ser morto, pagar proteção para os assassinos estatais ou fugir do país. Do ponto de vista ético, as quatro alternativas são idênticas: em todas elas o cidadão se tornará um bandido diante dos outros e/ou de si mesmo.

Há, entretanto, uma opção virtuosa. Deixar-se torturar e matar. Não resistir à violência do Führer seig heil Jair Bolsonaro será uma forma de fazer o tirano afundar na própria infâmia. Se o novo regime chamar você de bandido, grite bem alto: “Sou um bandido bom sim e, portanto, não me importo em ser morto por um bandido malvado.”

PS: Bolsonaro quer fazer o país voltar 50 anos no tempo. Portanto, doravante usarei uma relíquia da URSS como chaveiro (foto que ilustra o texto). Onde quer eu for a prova de que sou um “bandido bom” tilintará no bolso da minha calça.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador