Bolsonaro apresenta plano de governo misturando propostas liberais e conservadoras

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Propostas têm sugestões inconstitucionais, que ferem os direitos humanos e a liberdade de expressão / Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agencia Brasil

Propostas têm sugestões inconstitucionais, que ferem os direitos humanos e a liberdade de expressão - Créditos: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agencia Brasil

do Brasil de Fato

Bolsonaro apresenta plano de governo misturando propostas liberais e conservadoras

Na análise do cientista político André César, programa é uma sopa de letrinhas pensada para conquistar votos

Katia Guimarães

Brasil de Fato | Brasília (DF)

O plano de governo do candidato de extrema direita Jair Bolsonaro (PSL), apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mais parece uma carta de intenções, do que propriamente um programa para o país. Denominado Projeto Fênix, em referência ao pássaro da mitologia grega que renasce das próprias cinzas, o documento tem 81 páginas. Com algumas sugestões inconstitucionais, que ferem os direitos humanos e a liberdade de expressão, o texto contém incoerências. De um lado, ele diz que a Constituição Cidadã é ruim, por outro, afirma que as mudanças propostas ocorrerão  “através da defesa das leis e da obediência à Constituição”. “Ressaltamos que faremos tudo na forma da Lei!”, diz o candidato. 

Com o slogan “Mais Brasil, Menos Brasília”, Bolsonaro diz que “Brasília não pode ser o objetivo final de um governo” e apresenta “a nova forma de governar” para um “Brasil Livre”. “Um governo decente, diferente de tudo aquilo que nos jogou em uma crise ética, moral e fiscal. Um governo sem toma lá-dá-cá, sem acordos espúrios”, afirma. A pegada religiosa aparece em cada página com o chavão “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. 

Para o cientista político André César, da Hold Assessoria, o programa eleitoral de Bolsonaro é uma sopa de letrinhas que foi feita para adequar o candidato a uma suposta teoria liberal e conquistar votos no momento de descrença na política. “É uma mistura de alhos e bugalhos, você tem essa coisa evangélica e religiosa ou o que seja, com uma tentativa de colocar uma tintura mais forte na questão liberal e não convence (…) Ele está liberal hoje, mas ele não tem no espírito dele, na vocação dele, na história dele, no conteúdo. A questão liberal como um dos nortes. Ele está usando só tentando surfar nessa onda aproveitando um certo vácuo político”, analisa. 

A tônica religiosa do candidato, na visão de André César, tem como objetivo falar para um público cativo que “reza nessa cartilha” e é “radicalmente contra tudo o que está aí”, de forma salvacionista e voluntarista. “A vitória do Trump, por mais que tenham casos específicos, comparando com o Brasil, mais o comportamento do eleitor médio é muito similar lá ao que está se vendo e ouvindo aqui por parte do eleitorado agora nesse início de campanha e que já vinha há algum tempo. E se você continuar comparando, a questão do Bréxit na Inglaterra para deixar a União Europeia teve componentes muito parecidos e setores da sociedade também queriam mudar o que está aí. A vitória do Macron [na França] foi contra partidos políticos. Você tem uma série de elementos que fazem parte de um movimento mais amplo que é a crise da democracia liberal”, afirma. 

Jair Bolsonaro ressalta que no campo dos “valores e compromissos”, “o marxismo cultural e suas derivações como o gramscismo”, aliados “às oligarquias corruptas”, minaram “os valores da Nação e da família brasileira”. “Faremos os ajustes necessários para garantir crescimento com inflação baixa e geração de empregos. Enfrentaremos os grupos de interesses escusos que quase destruíram o país”. Em seu plano, Bolsonaro não se furta em atacar o PT e diz que “o problema é o legado do PT de ineficiência e corrupção”. 

Entre os desafios urgentes apresentados pelo deputado federal fluminense, algumas análises surgem de forma jocosa: o alto índice de suicídio (“mais de um milhão de brasileiros foram assassinados desde a 1ª reunião do Foro de São Paulo”) e a epidemia de crack (“introduzido pelas filiais da Farc”). Entre as saídas contra a criminalidade, estão a revisão do Estatuto do desarmamento, a facilitação do porte de armas e a redução da maioridade penal para 16 anos. “Contra a esquerda: números e lógica. As armas são instrumentos, objetos inertes, que podem ser utilizadas para matar ou para salvar vidas. Isso depende de quem as está segurando: pessoas boas ou más. Um martelo não prega e uma faca não corta sem uma pessoa…”. Para “salvar vidas”, o deputado prega ainda “prender e deixar na cadeia” e “acabar com a progressão de penas e as saídas temporárias”. 

Por fim, Bolsonaro quer a criminalização dos movimentos sociais tipificando como terrorismo as invasões de propriedades rurais e urbanas. Como parte do plano de valorização das Forças Armadas, diz que haverá um colégio militar em todas as capitais. 

Na economia, faz críticas a governos anteriores e diz que “ideias obscuras como o dirigismo” levaram país à inflação, recessão, desemprego e corrupção. “O desafio inicial também será organizar e desaparelhar as estruturas federais”, afirma acrescentando que a redução de ministérios é uma das ações. “Não haverá mais dinheiro carimbado para pessoa, grupo político ou entidade com interesses especiais”, completa. Em defesa do Estado mínimo, o candidato mira a privatização de ativos da Petrobras, remoção do conteúdo nacional, vendas e extinção de estatais, afrouxamento do licenciamento ambiental. O novo Itamaraty deixará “de louvar ditaduras assassinas”. Para a reforma da Previdência, o modelo de capitalização com cotas individuais e a redução dos encargos trabalhistas, e uma nova carteira de trabalho verde e amarela. 

Na saúde, Bolsonaro promete que os profissionais cubanos do programa Mais Médicos “serão libertados” e “passarão a receber integralmente o valor que lhes é roubado pelos ditadores de Cuba!”. Na área educacional, a solução é mudar o conteúdo e método de ensino, “sem doutrinação e sexualização precoce”, lembrando o projeto Escola Sem Partido, defendido por evangélicos e movimentos de direita. A modernização do conteúdo passa por “expurgar a ideologia de Paulo Freire”, educador e pedagogo brasileiro, considerado um dos pensadores mais notáveis na história mundial. “Um dos maiores males atuais é a forte doutrinação”. 

Edição: Tayguara Ribeiro

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. Filhote da ditadura
    Este senhor representa uma das fases mais nefastas de nosso País, e um risco a democracia, é totalmente desqualificado para ocupar o cargo de presidente.

  2. Brasil que merece
    Um Brasil que deixa prender um estadista como Lula, sem provas, que persegue sua familia e até matou sua esposa *merece* um projeto de ditador como Bolsonazi presidente

    Sem Lula, a barbárie!

  3. O perigo desse programa é para ser levado a sério.

    As pessoas continam diminuindo o perigo de bolsonaro e não levando a sério o que é muito sério; e com isso ele só cresce. Acho que o cientista politico poderia estudar mais a “Economia Austriaca’, os neoliberias aristocratas, Von Mises e Von Hayek. ele veria que embora seja uma sopa de letrinhas essa sopa não foi ‘inventada’ pela acessoria de Bolsonaro, foi inventada pelos ‘nobres’ austríacos. Quem tem estomago para estudar os ‘pafletos’ travestidos de teorias dessas criaturas e de ler o programa de Bolsonaro vai ver que está tudo la, até a referencia ao ‘caminho da servidão’ de Hayek. O neoliberalismo austriaco é isso ai mesmo – defesa das tradições, espirito religioso, autoriatarismo, anticomunismo delirante e ultraliberalismo. Nunca é demais lembrar que Von Mises elogiava o fascismo e seu ‘espirio liberal inconsciente”.

    E isso já foi experimentado na economia real, na ditadura de Pinochet que o bolsonaro apresentou como seu ‘modelo’ de economia na Globo News. Ditadura aliás que contou com o apoio ativo de Hayek e de Milton Frideman, economista de Chigago – por um acaso a mesma instituição onde estudou Paulo Guedes, o “Friedman’ de nossa caricatura de Pinochet.

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