Dilma na Globo: Jornalistas desconheciam dados da educação

Na entrevista de Dilma no Bom Dia Brasil, em certo momento, a  jornalista Ana Paula Araújo lança de uma vez só um pacote de perguntas sobre educação para a presidenciável. Nenhum problema se fossem perguntas com um mínimo de base em dados reais. Vou transcrever a pergunta de forma literal, para mostrar onde os jornalistas falharam.

“Vamos falar um pouquinho também sobre educação, já que a senhora mencionou agora os programas de governo; só que, no entanto, os resultados que saíaram são decepcionantes. Saíram agora os últimos números do IDEB, que é um termômetro da educação básica, mostrando aí uma piora generalizada do ensino médio, ensino fundamental estagnado. Tivemos também o censo da educação superior, diminuição do número de universitários que se formam, redução no ritimo de crescimento das matrículas. É um quadro de crise também na educação, com estes péssimos números, depois de 12 anos de governo do PT, três mandatos. A minha perginta é: não é muito tempo para estes resultados tão ruins, numa área que é talvez a mais importante…”.

No decorrer da resposta, houve duas intervenções. Mais uma de Ana Paula Araújo (“Mas tinha uma promessa de acabar com o analfabetismo, era uma promessa de campanha do presidente Lula…ainda temos 13 milhões de analfabetos”). E outra do jornalista Chico Pinheiro, com uma “informação” de que o Brasil investe pouco com relação aos países desenvolvidos, incluindo um dado sobre algo em torno de 1/3 do investimento mexicano.

Agora vamos aos problemas das perguntas e observações que parecem ter sido feitas sem o devido cuidado estatístico.

Nas séries iniciais não houve estagnação. De primeiro ao quinto ano, o Brasil saltou em nove anos da nota 3,5 no IDEB para 4,9, dentro da projeção estabelecida pelo governo. O país espera superar os 6,0 pontos até 2022, um ano símbolo escolhido pela atual gestão. A avaliação 06 no IDEB é mais ou menos a avaliação 03 no exame internacional PISA, que é a média dos países desenvolvidos. Portanto, foi equivocada a afirmação da jornalista de que houve estagnação no ensino fundamental. 

Nas séries posteriores, de 6o a 9o ano, o ritmo foi menor, mas também evoluiu cerca de 0,8 pontos. Mas, em nenhum momento, isso pode ser visto como estagnação. Como já afirmamos aqui, em outro artigo, é plenamente possível que alcancemos os níveis almejados até 2022, nas séries iniciais e, pouco depois, nas séries posteriores do ensino fundamental. Basta que o desempenho se repita no mesmo intervalo de tempo.

Para um país que universalizou a escolarização por volta do ano de 2000, isto significaria duas décadas e meia para alcançar um nível ideal mínimo de qualidade educacional. É o tempo que foi cumprido mais ou menos por outros países que passaram pelo processo de massificação e qualificação do ensino.

O nó górdio da educação brasileira continua sendo o ensino médio, que realmente vem apresentando dificuldades na evolução. Mas é necessário compreender que a universlização do ensino médio é bem mais recente do que a do ensino fundamental, que se deu por volta do ano de 2000, como já afirmamos. Geralmente, quando se incopora novos sujeitos na escola, a média tende a reter-se devido à falta de ambientação escolar e histórico de escolarização das famílias. Foi assim como os primeiros anos do ensino fundamental na primeira avaliação em 2005: naquele ano, o rendimento era o mesmo do ensino médio hoje – ainda que depois de cinco anos de escolarização universalizada.

Portanto, é uma inverdade que houve piora nos níveis do ensino médio e estagnação no ensino fundamental. O ensino médio está sim próximo da estagnação em termos de avaliação, mas não de avanço no número de matrículas.

No pacote de perguntas, a jornalista Ana Paula Araújo inclui a redução do número de formados no nível superior, sem atentar para o fato que isso se deu graças a problemas com as instituiçoes privadas, já que houve aumento de mátricula nas universidades públicas. No primeiro caso, só depende de mercado. No segiundo, do poder público.

A pergunta sobressalente, sobre número de analfabetos, esconde o que na estatística é bem clara: a maioria dos iletrados brasileiros está em faixas etárias supériores, talvez já “imunes” a processos de alfabetização de adultos. Dos 13 milhões afirmados pela jornalista, 80% se encontram acima dos 30 anos. De 1 a 14 anos, a alfabetização estaria praticamente completada, não fosse o longo percurso que as regiões Norte e Nordeste tiveram que cumprir, mas com incrível evolução em bem pouco tempo.

A emenda da pergunta por Chico Pinheiro não poderia ser pior. O Brasil investe um terço dos países ricos porque, em média, o PIB per capita por paridade de poder de compra é de um terço daqueles países. E não é verdade que invista um terço com relação ao México. Este dado não existe. Uma atitude estranha para um dos jornalistas mais conceituados da Globo. Pelo contrário. Em relação aos 34 países da pesquisa feita pela OCDE, o país está entre os que mais investem proporcionalmente ao PIB per capita por paridade de poder de compra.

Os jornalistas da Globo arriscaram números, mostrando que não tinham dados, mas apenas afirmações com base em manchetes de jornais da própria empresa. O que remete à falta de rigor e preparo na condução de um tema e uma entrevista tão importantes.

Uma lástima.

http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2014/09/bom-dia-brasil-entrevista-dilma-rousseff.html

 

 

 

Redação

34 Comentários

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    1. Ela respondeu na medida do

      Ela respondeu na medida do possível, visto que o assunto foi tratado no final da entrevista e também a dificuldade da presidentea falar devido as interrupções por parte dos jornalistas. 

  1. A contestação da jornalista

    A contestação da jornalista veio sob a forma de um adendo ao vivo, hoje, 22/set.

     

    A entrevista foi gravada. 

     

    Fica mais do que evidente que a finalidade da “errata” foi transmitir ao público que os jornalistas estavam certos e a presidenta, não.

     

    Cuidado, como observou o articulista, que a Globo não tem quando se trata dos demais candidatos e/ou dos seus prórpios lacaios, digo, empregados…  

  2. Sabichões

    É mais um exemplo.

    Em primeiro lugar, realmente acreditam que são muito bem informados dos fatos e das melhores teorias. Em segundo lugar realmente acreditam que o pessoal do pt e do governo são iguais a eles quando eram do DCE ou militavam por utopias socialistas. Ou seja, realmente acreditam que a dilma é um poste qualquer que se elegeu na aba do lula e, portanto, não tem nenhuma visão política. É claro que o fato de a dilma não ter aquela oratória de palanque ajuada a eles pensarem assim, os sabichões.

  3. A globo está desesperada…

    … com a marina derretendo e a perspectiva clara de vitória da Dilma.

     

    Chupa, PiG!

    Vocês só enganam a parte ignorante e preconceituosa da classe média.

  4. Jornalistas não deixam Dilma falar

    Do site Muda MAis, via  PHA

    Uma interrupção a cada 16 segundos.

    Se as constantes interrupções de BONNER E POETA na entrevista de Dilma ao Jornal Nacional, no mês passado, já foram preocupantes, a Rede Globo conseguiu bater o recorde hoje pela manhã. Na entrevista ao Bom Dia Brasil, Miriam Leitão, Ana Paulo Araújo e Chico Pinheiro fizeram aproximadamente OITENTA E DUAS interrupções à fala de Dilma durante os 30 minutos e meio de entrevista. Se considerarmos que por mais de 8 minutos desse total a palavra foi dos jornalistas, Dilma foi interrompida, nos pouco mais de 22 minutos restantes, em média, uma vez a cada 16 segundos. É quase o dobro do que ocorrera no Jornal Nacional, quando havia uma interrupção a cada 29 segundos.

     

    A campeã de interrupções é Miriam Leitão, que responde por quase metade das 82. As intervenções dos três jornalistas chamaram tanto a atenção e atrapalharam tanto o andamento da entrevista que Dilma teve que avisar: “Deixa eu acabar de responder, pelo amor de Deus? O debate é comigo, não é?”. Era quase impossível a presidenta concluir seu pensamento, poucas falas não eram interrompidas.

     

    Foi tanta vontade de interromper a presidenta que cenas bizarras chegaram a acontecer,  como a sincronizada interrupção tripla a 18 minutos de entrevista e a interrupção da interrupção, quando a 23min30s, Miriam Leitão pede licença para Ana Paula para poder falar mais um pouco.

     

    A cena é recorrente. Dilma é a entrevistada, mas nenhum jornalista quer ouvir o que ela tem a dizer. Preferem ficar perguntando em círculos, sem ouvir as respostas e ignorando os dados que apresentam os avanços do país. Quase deixam de lado o papel de entrevistadores; viram debatedores.

    1. “entrevista ao Bom Dia

      “entrevista ao Bom Dia Brasil, Miriam Leitão, Ana Paulo Araújo e Chico Pinheiro fizeram aproximadamente OITENTA E DUAS interrupções à fala de Dilma durante os 30 minutos e meio de entrevista”:

      Luis, eu ja sai aos berros no telefone com uma mulher que me interrompia a cada 3 palavras.  A filha da puta pensava que eu lhe devia mil dolares apezar da documentacao municipal extensa.

      A rede golpe sempre foi filha da puta e pensa que o mundo inteiro lhe deve mil dolares.  O DARF?

      Nao, nao mostraram ate hoje.

  5. Faltaram estatísticas acerca

    Faltaram estatísticas acerca do analfabtismo funcional no meio jornalístico. Tenho certeza que essa apresentadora Ana Paula Araújo passou meia hora treinando  frente ao espelho para ler, sem titubear, essa longa pergunta. Talvez até tenha “ensaiado” com a Miriam Leitão. 

    Infelizmente, reitero, o pessoal do PT “gostia” de apanhar. 

  6. A arrogância deles é tanta

    A arrogância deles é tanta que não se dão ao trabalho de conhecer minimamente os temas que vão perguntar aos “entrevistados”. Espero que Dilma tenha respondido, com os dados corretos,como disse a Anarquista.

  7. Morto militante do PT
    Precisamos combater a política de ódio ao PT e seus militantes por parte da mídia.Sabia que uma hora destas ia dar nisto.Um retrocesso lamentável para o país.Provavelmente fruto desta imprensa cínica, hipócrita e manipuladora.Talvez a campanha de ódio ao PT e seus militantes tenha feito sua primeira vítima. Do pragmatismo político:

    O militante Hiago Augusto Jatoba de Camargo, de 21 anos, foi assassinado enquanto fazia campanha para Gleisi Hoffmann, candidata do PT ao governo do Estado do Paraná. Testemunhas afirmam que confusão teve motivação político-ideológica.

    De acordo com as primeiras informações da Polícia Militar, Hiago Jatoba se envolveu em uma discussão quando recolhia os cavaletes da candidata que estavam na de Praça Ucrânia, em Curitiba. Durante o bate-boca o jovem foi esfaqueado. O militante foi socorrido, mas, faleceu a caminho da UPA (Unidade de Pronto Atendimento).

    O PT do Paraná emitiu uma nota onde lamenta o ocorrido. No texto, o PT local diz “lamentar profundamente o ocorrido” e que tem ciência que “todo o apoio e auxílio prestado a família não lhe devolve o que é de maior importância: a vida de Hiago”. Na rede, militantes do Brasil inteiro se solidarizaram com a tragédia e, muitos atribuíram o fato ao discurso de ódio contr o PT quem tem sido alimentado socialmente.

    A seguir, confira a nota de pesar do PT:

    “A coligação Paraná Olhando pra Frente e a candidata à governadora Gleisi Hoffmann se solidarizam e estão prestando todo auxílio à família de Hiago Augusto Jatoba de Camargo (21), morto no início da noite desta sexta-feira (19) em razão de agressão sofrida na Praça Ucrânia em Curitiba, quando fazia campanha com outros militantes.

    Ambulância do SAMU atendeu o jovem no local. Ele faleceu a caminho da UPA 24h do Campo Comprido.
    Lamentamos profundamente o ocorrido. Sabemos que todo o apoio e auxílio prestado a família não lhe devolve o que é de maior importância: a vida de Hiago.

    Pedimos a Secretaria de Estado da Segurança Pública que tome todas as providências no sentido de identificar e punir os responsáveis por tal agressão.

    E pedimos a Deus para que dê forças e conforte a família neste momento, principalmente sua mãe.”

     

    1. Taí uma coisa sinistra de

      Taí uma coisa sinistra de verdade.

      Uma bolinha de papel foi transformada em escândalo, mas o ódio desse pessoal a qualquer governo trabalhista não tem limite nem freio. É isso que projetam nos outros.

    2. Nem a policia sabe quem foi o

      Nem a policia sabe quem foi o assassino, mas o Petismo já sabe ate o partido do assassino.

      Parece o caso do suicidio que era motivado por homofobia.

      Quando a policia investigar poderemos  saber os motivos que levaram a morte do rapaz.

      1. Olha quem fala!

        Falou um sujeitinho ordinário que vive destilando ódio cego e obtuso nos comentários deste blog.

        Ele não defende nenhum projeto, só destila ódio e faz trollagens boçais.

  8. A grande prova da “falência”

    A grande prova da “falência” do Sistema Educaional foi a recente eleição da Tamyres, aluna bolsista do Prouni, negra, de esquerda, à presidência do CA de Direito do Mackenzie … E quem tem mais do que 50, sabe muito bem o que isso significa… Parabén Tamyres, você não vai aparecer na Rede Globo, mas revolucionou o Mackenzie …

  9. responsabilidade na educação

    Eu não entendo porque o governo não fala claramente que a responsabilidade pelo ensino fundamental (especialmente o ciclo inicial) é dos municípios e o ensino médio é dos governos estaduais.

    O MEC pode disponibilizar recursos, elaborar programas, mas quem administra as escolas, define metodologias e materiais são os municípios e os estados. 

    Se o ensino médio está indo mal, por exemplo em São Paulo, que está mesmo, o que o governo federal pode fazert? Uma intervenção? Não há lei que permita!

    Porque não se explica isso? Porque não se cobra do Sr. Governador de São Paulo?

    E esses jornalistas? Só se fazem de besta ou são burros mesmo?

    1. Responsabilidade

      A resposta é simples Veras: Não é prioridade da nossa imprensa explicar o que é uma Federação, alias se um governo trabalhista propor esta explicação no curriculo escolar vão(imprensa), acusa-lo de comunismo bolivariano para baixo. Os candidatos oposicionistas de São Paulo batem direto na criminosa progressão continuada e até hoje eu não ouvi nenhum destes jornalistas perguntarem aos canditatos tucanos por que se pratica esse crime por quase 20 anos em São Paulo. Isto não foi uma entrevista, foi simplesmente produção de conteudo midiatico com o objetivo de municiar os adversarios da presideta Dilma.

  10. irritante é que a

    irritante é que a dima

    começava a responder

    e uma voz destes tres analfabetos funcionais aí

    já interrompia dizendo…

    mas presidenta….

    ainda bem que a dilma foi corajosa

    e não se deixou interromper o seu raciocínio,

    sendo clara o bastante pra

    explicar e responder s perguntas

    baseadas nas próprias manchetes duvidosas do glob e da globo.

  11. Entendi tudo…
    Só não

    Entendi tudo…

    Só não entendi a falta que não ter partilhado o “problema” com governadores e prefeitos…

    Perecia que a edução era GERIDA pelo governo federal.

  12. ir ou nao eis a questao

    acredito que ir a globo é um erro mas se for que vá preparada.se nao deixarem responder que responda nas inserçoes de propaganda do partido e no horario eleitoral e no site.o ser humano nao gosta muito de atitudes bovinas,entao parta

    para a briga,mas sem perder a elegancia.

  13. Tenho de concordar com o

    Tenho de concordar com o Conversa Afiada, é Mau Dia Brasil, depois da entrevista de hoje meu humor foi-se embora.

    Bom Dia Brasil? Só se eu acordar após as 8p0.

  14. Avisar-nos c/ antecedência(1, 2, 3 dias antes)entrevista c/Dilma

    Avisar-nos com antecedência (1, 2, 3 dias antes, permanecendo o aviso no postsrecentes e na página principal do GGN) quando for acontecer uma entrevista com Dilma. É maneira de maior divulgação do que ir sempre ao site dela. Uma maneira a mais. E cada visitante ou participante multiplicaria pra outras pessoas de seus contatos. E lembro que o Blog já se pronunciou pró-Dilma, claramente, com o texto do Nassif.

  15. Eles são papagaios de

    Eles são papagaios de piratas…

    Vão repetir a mesma coisa!

    Crise!

    Crise! Crise! Crise na EDUCAÇÃO! Crise nos transportes…

    Vejam a quantidade de vezes que eles falaram EM CRISE!

     

  16. Pelo menos, o Chico Pinheiro

    Pelo menos, o Chico Pinheiro tenta parecer simpático, e é o menos barra pesada da turma. Miriam Leitão, talvez em memória dos velhos tempos de esquerda, já que provavelmente teve carta branca da Globo pra lidar com os fantasmas da ditadura, em compensação, pega pesado. A jovem só cumpre o script, com toda devoção possível.

  17. Quando é os olutros, pelo que

    Quando é os olutros, pelo que sei, quem vai investigar é delegado do tipo que já tenha muito do que fazer e só fará isso nos tempos vagos, quando houver. Mas com petistas é logo na base da força-tarefa e tudo porque a Veja disse.

     

    ===========

    MP monta força-tarefa para apurar caixa 2 do PT na Bahia

    http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/mp-monta-forca-tarefa-para-investigar-caixa-2-do-pt-na-bahia

     

  18. Que jornalismo?

    Isto nunca foi jornalismo? Dizem a besteira que querem dizer porque são protegidos por uma lei idiota que lhes dá o direito de mentir eternamente. Basta dizer que é crise, Este é o trablaho que fazem, Mentir sempre que preciso. Facilita muito o trabalho, basta dizer o que o patrão quer.

    A desonestidade intectual destes personagens da globo é acachapante.

    E não é que a Dilma ainda lhes deu uma surra! 

  19. “Uma atitude estranha para um

    “Uma atitude estranha para um dos jornalistas mais conceituados da Globo. “

    k k k k k k k k k k k k k k k

    Uma atitude esperada para um empregado da Globo que faz de tudo para negar a realidade e segue em campnha contra o PT e o povo brasileiro.

    Ou ainda. Uma atitude de um profissional que não tem independência e não foi autorizado pelo patrão a perguntar ao Aécio sobre o aeroporto construído na fazendo do titio.

     

  20. Tenho nada contra Filosofia e Sociologia, mas.. Dilma Roussef

     

    Primeiro, gostaria de ressaltar que considero  que a presidenta demonstrou no seu mandato uma clareza maior quanto ao papel da educação do que o ex-presidente Lula, evidenciada nas decisões tomadas quanto ao financiamento dessa política pública, dentre as quais destacaria: aprovação de 10% do PIB no PNE e 75% dos royalties do petróleo  para educação. Contudo, tenho   preocupações do ponto de vista mais pedagógico e curricular referentes á concepção dela acerca do papel das ciências humanas no ensino médio e no ensino superior.

    Tais preocupações me vieram mais uma vez a mente quando no Bom Dia Brasil, a presidenta Dilma disse “O jovem do Ensino Médio, ele não pode ficar com 12 matérias, incluindo nas 12 as matérias Filosofia e Sociologia. Tenho nada contra Filosofia e Sociologia, mas um currículo com 12 matérias não atrai o jovem. Então, nós temos que primeiro ter uma reforma nos currículos.”

    É possível que não tenha compreendido bem a posição da presidenta, mas, ele repete algumas falácias e reitera uma dada concepção de ciência presente em políticas públicas como o Ciências sem Fronteiras:

    1 – Do jeito que foi exposto, parece que a Filosofia e Sociologia têm um peso maior no que diz respeito aos problemas de atratividade do Ensino Médio. Mas, e as outras 10 disciplinas? Elas seriam atraentes?

    2 – Filosofia e Sociologia estiveram ausentes do currículo do ensino médio durante 40 anos. Elas somente se tornaram disciplinaras obrigatórias em 2008, no governo Lula. Cabe então indagar: até 2008, o ensino médio era atraente?

    3 – “ Não tenho nada contra a Filosofia e Sociologia, mas…”. Na realidade, esse “mas” tem várias implicações. Subjaz a esse pensamento uma visão hierárquica do conhecimento. Há disciplinas mais importantes que devem ser priorizadas tanto na formação do educando como nas políticas de desenvolvimento do país. Dessa forma, o Ciências sem fronteira, na realidade, é o Ciências Exatas sem fronteiras”.

    Para alguns, de fato sobre esse aspecto, nota-se uma mudança de concepção dentro do governo petista com ascensão do Mercadante primeiro ao Ministério da Ciência e Tecnologia, depois ao MEC e por fim, à Casa Civil. Com o Fernando Hadad, enfatizava-se a educação como um instrumento amplo de formação da cidadania. Não é por acaso, que durante sua gestão, aprovou-se a obrigatoriedade do ensino das referidas disciplinas, primeiro em 2006 por meio de uma resolução do Conselho Nacional de Educação e depois, por força de uma lei, em 2008.  Já na gestão Mercadante, enfatizou-se à educação  como instrumento de desenvolvimento econômico, de acesso às novas tecnologias de informação, de inclusão no mundo digital. Cabe lembar justamente que na sua  gestão a frente do MEC, o programa que mais ganhou destaque foi o de distribuição de tablets. 

    Caberia ressaltar que para muitos especialistas, essas duas visões seriam  na verdade duas faces da mesma moeda. Porém, na prática os dirigentes têm dificuldades de articulá-las e acabam por enfatizar uma detrimento da outra. No caso do Mercadante, vejam a avaliação do programa Mais educação do MEC, numa crítica  a sua execução nos estados, mas, indiretamente, numa crítica a gestão anterior do MEC. “No Fundamental,  o carro-chefe é o projeto Mais Educação. Estamos com 49 mil escolas já com jornada de sete horas diárias. Mas, sem diminuir a importância das outras atividades, o foco do Mais Educação tem ser português, matemática e ciências. Não conseguiremos melhorar o nível de nossos alunos se nas horas a mais de escola oferecemos só esporte, cultura e lazer”. 06.08.13.  

    É nessa mesma perspectiva que poderíamos compreender  a resistência do MEC e MCT à inclusão dos estudantes de  artes, literatura,  educação física e,  sobretudo,  das ciências humanas no programa Ciências sem Fronteiras.  Não obstante, os argumentos sólidos, do meu ponto de vista, das entidades científicas,  como por exemplo  da ANPOCS – Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais que lembra: 

    “Desenvolvimento é um objetivo mundial. Mas, pela via pacífica e democrática, como alcançá-lo sem conhecer a cultura, as relações sociais, econômicas, a política e a história do povo que deve abraçá-lo? Aqui, não adianta chamar engenheiros, biólogos, matemáticos, químicos ou físicos. É óbvio que a vida social, cultural, política e psíquica, com sua imensa complexidade, não se reduz a átomos, a estradas, portos, hidrelétricas ou estádios. O desenvolvimento de um país, de suas diferentes regiões ou de uma localidade não pode ser pensado apenas como um problema de engenharia, de biologia ou de agronomia. Se assim o fosse, ao lado de cada grande projeto de desenvolvimento ou de cada grande plantação de soja engenheirada haveria um paraíso.

    As ciências sociais e humanas — e também as artes — são fundamentais para o desenvolvimento, porque ele envolve múltiplas dimensões do humano, da nossa experiência com os outros, do nosso entendimento do que é a boa vida, do que é o certo e errado no coletivo político e social, das normas que implementamos para lidar com as nossas diferenças e com os conflitos internos e externos ao país. Um país sem história, sem memória, sem literatura, sem arte, sem intérpretes de suas características culturais, sociais, econômicas, jurídicas, psicológicas, seria apenas uma colônia dos pensamentos de outrem. Em tal cenário, não pode haver inovação, porque aqueles que não pensam coletiva e diferenciadamente por si mesmos nada criarão.”

    http://portal.anpocs.org/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=840&Itemid=433

     

  21. entrevista da presidenta

    A entrevista com a presidenta Dilma mostrou como parte da mídia brasileira toma partido, tendenciosa e nem não bem informada como se pensava. Mostrou também, que a presidenta está bem preparada, e expôs o despreparo dos entrevistadores.

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