Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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Candidatos patinam na largada, por Aldo Fornazieri

As convenções que homologam os candidatos presidenciais deveriam ser como momento fundante ou refundante dos grandes propósitos nacionais do partido e do candidato. O discurso convencional do candidato deveria lançar os pilares de seu possível futuro governo, chamar a atenção para os grandes desafios do país, apontar os grandes riscos, emitir as advertências necessárias e apresentar as grandes promessas, as esperanças orientadoras da caminhada futura do povo e da nação rumo a um destino grandioso.

Se estas balizas servem para dimensionar o que se espera do pronunciamento de um candidato em uma convenção, os discursos de Aécio Neves e de Dilma Rousseff foram sofríveis. O discurso de Aécio, perdido nas generalidades, pode ser sintetizado da seguinte forma: “aguardem, pois no futuro vou dizer o que vou fazer”. O discurso de Dilma foi uma espécie de relançamento de promessas já feitas no passado, tinha um quê de envelhecimento, de cansaço, de esgotamento. O PSB ainda não fez sua convenção nacional e como a candidatura de Eduardo Campos soçobra em problemas, nada de significativamente relevante se pode esperar. Se é verdade que o eleitor em geral tem os olhos voltados para a Copa, o fato é que as candidaturas não conseguem despertar interesse positivo nem mesmo para o público mais atento e especializado.

A Terceira Via se Enfraquece

A candidatura de Eduardo Campos surgiu com a promessa de quebrar a polarização entre o PT e o PSDB. Apareceram indícios de que a eleição de 2014 poderia ser marcada por uma tripolaridade. Ainda é cedo para dizer se isto vai ou não acontecer. Mas o fato é que na última semana a candidatura Campos mergulhou numa série de problemas que a enfraquecem como possibilidade de uma terceira via. Uma candidatura sem forte estrutura material e política de campanha pode ter um bom desempenho, mas dificilmente triunfará. O desempenho de Marina Silva em 2010 é uma prova disso. Mas tal desempenho, por ter sido pontual e por possíveis erros posteriores da líder da Rede, não foi capaz de garantir uma continuidade promissora e de pavimentar uma força política nacional capaz de se interpor entre PT e PSDB.

Se Eduardo Campos quer se projetar para 2018, faz bem em lançar-se. Mas se sua pretensão é ser competitivo em 2014, os problemas surgidos na última semana e os erros do PSB enfraquecem sua competitividade. O principal erro foi não lançar candidatos próprios aos governos de São Paulo, Rio de Janeiro e, possivelmente, em Minas Gerais. Essa situação constrange a candidatura Campos em três dos principais colégios eleitorais do país. Mais do que isto, aumenta a divisão interna entre PSB e Rede, dado que Marina Silva, corretamente, defendia candidaturas próprias nesses estados. Até mesmo o vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, classificou o apoio a Alckmin como lamentável.

O PSB deixou de observar duas experiências positivas e uma negativa para posicionar-se corretamente na presente conjuntura. Em grande medida, o sucesso histórico na construção e no fortalecimento do PT ocorreu por conta de que o partido sempre buscou ser protagonista em eleições majoritárias. Nas últimas eleições municipais, o próprio PSB foi um dos partidos que mais cresceu por exercer esse protagonismo nos municípios. O exemplo negativo fica por conta do DEM. Desde os tempos de PFL, esse partido tornou-se caudatário do PSDB e está em vias de se tornar um partido nanico.

Aécio e o PSDB se Desmentem

Aécio Neves e o PSDB vinham ensaiando um discurso de unidade do Brasil, de refutação ao ódio disseminado pelo PT e de resgate da dignidade da política. Três fatos derrubaram por terra a civilidade tucana. O primeiro foi o aval inicial dado pelo candidato tucano aos xingamentos proferidos contra Dilma na abertura da Copa. O segundo foi a afirmação de Aécio na convenção do PSDB sustentando que “um tsunami irá varrer o PT do poder”. O terceiro foi o ataque desferido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contra a corrupção, na mesma convenção.

Essas três posturas, se tiveram o mérito de desencadear a polarização com o PT, deixando Eduardo Campos num segundo plano, soaram como uma declaração de guerra aos petistas. O PT se encontrava num momento de grande dificuldade política, vinha apanhando nas cordas sem capacidade de reagir e Dilma não conseguia estancar a sangria nas intenções de voto. As declarações tucanas deram ao PT a oportunidade de sair da defensiva, de mobilizar a militância, de dizer que há uma campanha de ódio das elites e da oposição contra o partido e contra o governo e de empunhar a bandeira  da vitória da  esperança contra o ódio.

A reação de Lula acerca das declarações de Fernando Henrique foi dura, obrigando-o até mesmo a emitir uma nota. O episódio mostra que não convêm nem ao PSDB e nem ao PT partir para o ataque um contra o outro no tema da corrupção. Serão balas trocadas e sobrarão feridos para todos os lados. O mais conveniente, no tema da corrupção, é que cada candidato apresente o que fará para combatê-la, já que ela é generalizada e estrutural.

Dilma e o PT Persistem no Caminho dos Erros

A convenção do PT compôs um cenário de equívocos, a começar pelo cenário mesmo. Como a imprensa divulgou e alguns petistas admitiram, o que prevaleceu foi o luxo, a ostentação, que são símbolos da prepotência e da corrupção. Foi um cenário de “elite branca”. Desde que ascendeu ao poder em 2003, muitos petistas se esmeraram em apresentar a estampa de novos ricos. O Brasil e o mundo precisam de humildade e de simplicidade. O PT não consegue perceber esse novo espírito dos tempos. Não é por acaso que o Papa Francisco e Pepe Mujica se toraram referências mundiais de conduta adequada de líderes. Os petistas deveriam voltar a calçar as sandálias da humildade.

Os discursos das lideranças petistas na convenção evidenciaram outros dois erros. O primeiro diz respeito à ideia da guerra do PT contra todos. O partido que governa e o governante devem sempre empunhar o discurso da unidade da nação do povo em torno dos propósitos definidos – unidade conduzida pelo partido e pelo governante. A persistir no discurso da guerra contra todos, o PT e Dilma caminharão para o unilateralismo e para o isolacionismo.

Na medida em que a presença do PT no governo foi sendo prolongada, o partido e seus líderes foram perdendo a noção do que significa exercer a hegemonia. No exercício da hegemonia, os interesses do poder hegemônico precisam contemplar os interesses das forças hegemonizadas. O poder hegemônico sempre tem um preço a pagar, concessões a fazer. O exclusivismo do PT vem afastando aliados, principalmente nos estados. O fato é que Dilma, na sua arrogância tecnocrática, governou com as costas viradas para os movimentos sociais, para os empresários, para os partidos aliados, para os prefeitos e governadores. Agora, no atropelo da campanha, procura recuperar o terreno perdido.

O segundo erro consiste na incorporação do discurso da mudança como mote da campanha, traduzido no slogan “Mais Mudança, Mais Futuro”. O mote expressa a tese da “continuidade com mudança”, adotada por José Serra em 2002 e que se revelou desastrosa. Aécio Neves já percebeu a vulnerabilidade do mote ao afirmar que o governo Dilma “foi tão ruim que até o PT quer a mudança”. O anseio de mudança do eleitorado, constatado pelas pesquisas, deveria ser incorporado por um contudo programático de transformações efetivas do país e não, simplesmente, ser evidenciado por uma fórmula vazia que dará munição aos adversários.

Aldo Fornazieri – Cientista Político e Professor da Escola de Sociologia e Política.

Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

7 Comentários

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  1. Equilibrado e honesto

    Seu comentário foi equilibrado e honesto na medida do possível, suas criticas ao PT talvez sejam merecidas, mas, ainda é a melhor opção de caminho para o país. As mudanças implantadas até agora nos leva para um caminho melhor, mas, ha muito mais o que mudar ainda.

    Então prometer mais mudanças é o principal na convenção, agora temos que ver quais serão as tais mudanças que prometem cada candidato, quais caminhos cada um defende, para que o povo possa escolher o melhor deles.

    No PSDB não acredito em mais nada, prometeram uma coisa e fizeram outra em todas as suas gestões. Então podemos até ouvir suas ideias e analiza-las. Sendo boas podem ser defendidas e colocadas em pratica.

  2. Na falta do que dizer…

    Contra o Partido que tem enfrentado uma oposição renhida que abarca quase toda a mídia e apesar disso tem conseguido diminuir as desigualdades sociais e ao mesmo tempo fazer crescer o País, pouco há pra contradizer, então, não é novidade esse discursinho de jogar o PT na vala comum.

    Perdeu playboy! 

    Fique aí no seu chororô de que o PT é só mais do mesmo, porque os cães ladram, pois é de sua natureza ladrar.

  3. Minúcias Programáticas

    Não creio que o eleitor médio vai se ater às minúcias programáticas dos vários candidatos. Basta ficar com o que se pode esperar de um candidato neoliberal até a medula, de um candidato oportunista até a sem-vergonhice e de uma candidata nacionalista-desenvolvimentista.

    Assim como a oportunidade faz o ladrão, a oportunidade apresenta a solução. Aí está a grande diferença! Que solução esperar do perfil de cada candidato????

    Para mim basta para definir meu VOTO!!!!

    PS: tomei a liberdade de reproduzir comentário feito mais abaixo.

  4. Vias

    O Aldo tocou em diversos planos interessantes, e posso afirmar sem medo de errar (constatação “ao vivo”), que precisamos sim de uma terceira, de uma quarta via, para aumentar nossos leques de opção, aprofundar a busca por propostas realmente positivas, não ataques bestas como os narrados pelo autor. De minha parte e de boa parte do eleitorado, vamos continuar a votar no “menos pior”, ou seja, vou continuar no voto útil, pois houve uma significativa mudança no plano social, após séculos de imobilismo, e embora não seja a opção dos meus sonhos, temos ainda de apelar para o pragmatismo. No entanto, é bom advertir os idealistas: Não pensem que é só em Pindorama! Analisem com calma e tranquilidade o que há por aí em termos de opções políticas, inclusive no amado “primeiro mundo”.

  5. Boa análise!

    Acho que os 3 candidatos representam o melhor de cada um de seus partidos na atualidade, se compararmos com 89, que tinha Enéas, Marronzinho, Collor.

    Estamos bem de opção. Faltam programas? Ora, Lula ganhou em 2002 rasgando o dele!

    Único risco atual no meu ponto de vista é a continuidade da gestão desastrosa de 2011 prá cá (a do PT de 2003 até a saída de Palloci foi boa!).

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