Carta aberta ao presidente Fernando Henrique Cardoso, por Hélder Costa

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Hélder Mateus da Costa Lisboa, ou Hélder Costa, é reconhecido dramaturgo, ator teatral, escritor e ativista pela democracia. Nasceu em Grândola, Portugal, em 6 de janeiro de 1939. Estudou Direito em Lisboa e em Coimbra, é licenciado pela Faculdade de Letras / Institut d’Études Théatrales – Sorbonne, Paris. Foi perseguido pelo regime político fascista e exilou-se na França, em 1970, fundando ali o Teatro Operário de Paris, que desenvolveu vasto trabalho de encenação.

Após o 25 de abril de 1974, retorna à Portugal, sendo uma dos fundadores do grupo de teatro “A Barraca”, premiado pela UNESCO em 1992. Ainda hoje trabalha junto ao grupo como ator e diretor artístico. O grupo tem levado à cena textos seus e de autores como Gil Vicente, Dário Fo, Ribeiro Chiado, Brecht, Mrozeck, Ettore Scola, Fassbinder, Woody Allen, Lope de Vega, Ionesco ou Molière.

Dentros os seus muitos textos encenados destacam-se Zé do Telhado (1978), A Camisa Vermelha, A Viagem e D. João VI (1979). Merece destaque, ainda, a montagem de Liberdade, Liberdade (de Milor Fernandes e Flávio Rangel), com a colaboração de Luiz Francisco Rebelo.

Feita a apresentação, Hélder Costa é figura proeminente na arte e na luta pela democracia, e escreveu Carta Aberta a Fernando Henrique Cardoso, para que junte-se à frente contra o retrocesso. Leia a carta a seguir.

CARTA ABERTA Ao Presidente Fernando Henrique Cardoso

por Hélder Mateus da Costa Lisboa

Sou português, dramaturgo, encenador, também director do grupo de teatro A Barraca com Maria do Céu Guerra. Desde 1980 deslocamo–nos ao Brasil com vários espectáculos e trabalhamos em conjunto com a vossa classe teatral. Criaram–se laços de amizade, confiança e extrema Fraternidade. Sentimos o Brasil como uma outra Pátria e preocupa-nos a possibilidade de esse magnífico país cair nas garras da renascida águia Imperial Nazi. 

A nossa experiência Europeia é bem dolorosa, como todos sabem. As divisões partidárias com a teimosia persistente do dogmatismo e sectarismo, a recusa de entendimento e acordo geral, conduziram (e serão sempre o caldo cultura) de várias derrotas frente à barbárie desumana, ao analfabetismo intelectual e cívico, ao renascimento de massacres e vários Holocaustos. 

Entre as guerras, alguns proeminentes intelectuais – Bertrand Russel, Romain Roland e muitos outros – tentaram levantar a bandeira da Paz contra a iminência da guerra total predatória. Esforço sério que não resultou, e até Zweig se suicidou no Brasil que ele nomeava como o país do futuro. 

Como é possível não ver a nuvem negra que se espalha pelo mundo alimentada pelo vampirismo, pela falsa Ciência de verdadeiros Frankesteins que criam os monstros modernos das epidemias, das mentiras, das ilusões místicas, desarmando as vontades e o raciocínio? 

Não resisto a recordar a experiência portuguesa. O seu amigo Mário Soares foi presidente da República graças à decisão de Álvaro Cunhal dando essa directiva de voto ao Partido Comunista. O mesmo Mário Soares nos seus últimos anos foi o grande obreiro do início pela unidade de esquerda que iria tomar o Poder e tão bons resultados tem dado a Portugal. 

O Brasil atravessa uma grave situação de crise e desespero. È precisamente a altura de os parceiros progressistas se entenderem para evitar a catástrofe. 

Para esse triunfo – em que todos acreditamos – a decisão de Fernando Henrique Cardoso apelar à unidade de voto contra Bolsonaro, o inimigo público nº 1, será um trunfo imbativel. 

Assim o esperamos, bem Haja!

Hélder Mateus da Costa Lisboa, 16 de Outubro 2018

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

7 Comentários

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  1. Estão pedindo compromisso a quem não tem

    Esse é um erro comum. O de acreditarem que Fernando Henrique Cardoso é um democrata, sério, precupado com o destino de seu povo e sua soberania. Não, prezado, é apenas uma caricatura da politica à brasileira. Esse senhor hoje so tem a Regina Duarte e meia-duzia de mulas-sem-cabeça que ainda escutam o que ele diz e isto porque ele mesmo se desmoralizou. 

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  2. Quanta ilusão a do

    Quanta ilusão a do companheiro portuga. FHC não lidera ninguém, não convence ninguém, não influencia ninguém. Aliás, se FHC anunciar o apoio explícito ao analfabeto militarista estou certo de que alguns milhões de eleitores de Bolsonarto votarão em branco! Nesse aspecto, FHC ajuda e muito! #FHCApoiaBolsonaro!

     

  3. Duvideodó

    Duvido que esse patife vai ficar do lado do povo e do Brasil. Todos sabemos bem quem é esse intelectual de mesa de escritório, um canalha, de triste memória.

  4. Eleições

    Eu sou porque nós somos – Ubuntu
    Fiquei pensando sobre o que somos? Nós, os brasileiros.
    No momento em que a sociedade está no caldeirão prestes a ser cozida, parece que nenhum de nós consegue reafirmar a imagem do brasileiro – povo alegre, gentil e amigável, uma mistura mágica da miscigenação de tantos povos que compõem esse Brasil. Parece não haver pior momento para provar isso, pois a sociedade se confrontou e se dividiu de tal maneira que nossa persona singular fruto da pluralidade racial deu lugar a personas tão assustadoras quanto os fascistas, os nazistas, os racistas, os sectaristas.
    E, eu me pergunto: Somos na verdade isso mesmo e o que parecíamos ser era apenas o pesado manto da hipocrisia? Não creio.
    A essência do brasileiro, sua força, é o fruto da fusão das diversidades. Somos um povo “diverso em diversidades”. Muitas camadas de norte-sul, de rural-urbano, de quente-frio, de mar-terra, de costa-divisa, de água-seca compondo o que chamamos de brasileiros.
    Nossas matrizes indígenas, africanas, europeias, asiáticas, latinas somaram-se para criar o que somos e nos legar a herança poderosa e rica de elementos distintos na mistura que produziu o povo alegre, gentil e amigável…..por vezes, inculto, ignorante e manipulável.
    Não há um brasileiro melhor ou pior, não há um brasileiro mais ou menos inteligente, não há um brasileiro superior.
    Não somos uma sociedade ariana, não somos uma sociedade burguesa, não somos uma sociedade aristocrática.
    Somos gente “in natura”. Somos originais e livres de amarras seculares. E, temos, sim, um passado pesado, recheado de infelicidades: exploração, aniquilação, escravidão. Um passado que insiste em nos acompanhar, em nos atormentar, em se fazer presente.
    Um povo que não aprende com sua história está fadado a repeti-la – uma verdade atual.
    Maldito dia em que Cabral avistou terra brasilis. Bendito dia em que ele desembarcou. Temos que lidar com isso. Com o preço histórico da descoberta que tem nos custado muitas vidas e pode custar muitas mais.
    Por favor, pense:
    Você realmente odeia seu irmão? Seu vizinho? Seu colega? Você o considera um inimigo? Você o considera inferior? Menos merecedor do que você? Somente você tem o direito de tacitamente determinar o que é bom ou ruim? O que é certo ou errado? O que pode e o que não pode?
    Ou você se enxerga como parte de um todo maior? Onde a alegria, a gentileza e a amizade se traduzem pela convivência pacífica, pela busca da justiça social, pelo exercício da democracia?
    Porque sem paz, sem justiça social e sem democracia resta muito campo para a guerra, para a injustiça, para o autoritarismo prosperar. Paz, justiça, democracia, guerra, injustiça, autoritarismo são componentes do espectro social com suas gradações marcadas por um ponteiro indicador da nossa humanidade, da nossa capacidade de nos afastarmos do selvagem e de avançarmos para a civilidade, para nossos valores mais humanos.
    Escolhas podem estar, nesse momento, nos levando a uma guinada ao passado. Nossas escolhas podem estar nos levando à negação de nossas origens, pois, no nosso caso, não há como destruirmos o que condenamos no outro sem destruirmos a nós mesmos. Não há como produzirmos uma realidade só nossa dentro da realidade de mais de 200 milhões de pessoas iguais a nós. Benefício nenhum haverá em se dividir a nação para multiplicar os ganhos. Uma nação enfraquecida não é capaz de se preservar, de se cuidar, de se dar o devido valor. Somos mais de 200 milhões de iguais vivendo uma profunda desigualdade moral, ética, social, econômica, política. Mesmo assim, se nos mantivermos unidos, somos poderosos para buscar a solução real dos nossos problemas ao invés de apostarmos na destruição do nosso inimigo imaginário.
    Então, posso perguntar? O seu ponteiro de que falei, está marcando o quê?

  5. A “Zona de Conforto” de confrontar figurões irrelevantes

    A esquerda finge não perceber que o inimigo agora é outro… não é FHC, não é Alckmin, não é Serra, não são “jornalistas da grande mídia”… nada disso meus amigos:

    1-OLAVO DE CARVALHO

    2-JOICE HASSEMAN

    3-MBL

    4-YOUTUBERS COMO NANDO MOURA

    5-EDIR MACEDO

    Carta aberta??? Em plena época de Youtube, Facebook e Watsapp??? Além de não ter efeito algum… mesmo que tivesse… FHC hoje tem menos influência no espectro político que um Youtuber.

    Antes fosse FHC o maior rival… talvez aí não fosse necessário descer aos esgotos do submundo da internet e enfrentar um exército de pessoas robotizadas, insultos e todo tipo de desonestidade intelectual.

    Todo dia eu vejo um texto questionando FHC ou algum intelectual tucano… quanta ingenuidade… nem percam tempo gastando força contra esses dinossauros em extinção.

    SAIAM DESSA “ZONA DE CONFORTO” DE CARTAS ABERTAS A FIGURÕES IRRELEVANTES NO CENÁRIO ATUAL… ISSO NÃO LEVA A NADA… SE QUISEREM FAZER ALGO ÚTIL FAÇAM UM CANAL PARA COMBATER OLAVO DE CARVALHO!

     

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