Quatro PseudoArgumentos Fascistoides, por Jean Pierre Chauvin

Quatro PseudoArgumentos Fascistoides, por Jean Pierre Chauvin

Os casos de violência física e verbal contra quem manifestou voto ou, simplesmente, vestiu-se de vermelho, têm aumentado muito, nas últimas semanas. Por assim dizer, no mesmo ritmo das fakenews contra o candidato democrático Fernando Haddad. Diante do acirramento dessa postura pró-fascista, que combina desencanto pela “política”, ignorância (do que um defensor do fascismo seja capaz de mais fazer) e, em muitos casos, má-fé, mesmo, como proceder? Para alguns de seus adeptos, tratar-se-ia de “implodir” a democracia, para ver no que dá; para outros, um candidato que defende as armas e rechaça as diversidades “botaria ordem no país”. Porém, também há aqueles que desconfiam, sim, do mal que possa advir; mas estes, convenhamos, não estão nem aí: são os primeiros a reproduzir a “ideia” original de que se UM punhado chegou a determinado lugar, TODOS podem fazê-lo: “basta querer”. Nada mais empírico, não é mesmo? Diante dessa avalanche de robôs a fazer reclame cibernético para certa ala financiada pelo agronegócio, a indústria da bala e as lojas da “fé”, pareceu-me útil apresentar quatro argumentos contra as bravatas que tenho escutado nas ruas e lido nas redes. Espero ainda estar vivo, ao final destas parcas, mas bem-intencionadas, linhas.

PseudoArgumento n. 1 – O Brasil virou um país comunista.

Isso nunca aconteceu, nem esteve perto de. Os governos do PT promoveram maior inclusão social que as demais legendas, de fato. Mas, por que isso seria negativo? Basta lembrar que o partido tem sofrido ressalvas de seus próprios militantes e simpatizantes, por ter conduzido um governo em que houve conciliação de classes. Vale recordar que os bancos foram socorridos mais de uma vez, durante a era supostamente “comunista”. Meu filho, procure se informar melhor. Nem digo “procure se formar”, porque é capaz de entender que, pelo fato de eu ser professor, seria fã de Stalin e adorador do demônio. Aleluia, irmão! Quem não crê em Deus, não crê em Satã. Em tempo, recomendo escutar, com atenção, o que diz a embaixada alemã no Brasil, a respeito da postura nazista (extrema direita), durante o III Reich (1933 – 1945). A Alemanha pediu desculpas ao mundo pelo Holocausto. Não ficou sabendo? Bem, caso prefira consultar uma fonte em papel, sugeriria o estudo recente do historiador norte-americano Peter Ross Range, 1924: o ano que criou Hitler; e a obra, que é referência mundial, do historiador inglês Richard J. Evans (são apenas quatro volumes com alguns milhares de páginas. Sim, porque argumentar de verdade dá trabalho, sabe?).

PseudoArgumento n. 2 – Esse bando de vagabundo não trabalha?

Veja só, o Brasil já acumula um belo exército de reserva constituído por miseráveis que não têm (ou perderam) emprego. Um desempregado não teria o direito de se manifestar contra atos fascistas e/ou projetos de lei que retiram mais direitos trabalhistas? Em meu caso, trabalho e bastante, o que não impede participar, sempre que posso, de manifestações em defesa da democracia. Evidentemente, você poderia dirigir a pergunta para si mesmo(a), já que passa horas por dia a tentar adivinhar quem está empregado, ou não. Convenhamos, você conhece os sujeitos que participaram do ato a que se refere? Se não, por que os está condenando sem provas? Há de convir que “vagabundagem” é termo ofensivo e preconceituoso, o que só ratifica a hipótese de que você julga sem conhecimento de causa.

PseudoArgumento n. 3 – A solução é Fulano. Ele vai botar ordem nessa bagunça.

Meu amigo! (não se preocupe, é apenas força de expressão), devo admitir que você é tremendamente criativo, ou seja, tem elevado poder de abstração. Diga-me, por gentileza, o que entende por “ordem” e “bagunça”. Se “botar ordem” é criticar o estado onde o próprio sujeito está dependurado, há quase três décadas, com dois (isso, mesmo, dois projetos apresentados à Câmara), temos aqui um problema inicial, chamado falta de coerência. Agora, se “botar ordem” implica discursar contra as minorias, já tão sofridas, nascidas e desencaminhadas no país que a criatura diz “amar”, suponho que isso seja demonstração cabal de inconsistência de sua parte. Ah, já ia me esquecendo: cuidado com a obsessão pela “ordem”. Você poderá ser o primeiro a ser atingido pelas balas (da indústria de armas conveniada com o seu candidato) e, no caso de faltar munição, os novos cortes na seguridade social.

PseudoArgumento n. 4 – Meu partido é o Brasil.

Essa talvez seja a maior falácia de todas. Para começar, o território que você entende por “Brasil” não comportaria nordestinos, gays, trans, negros, mulheres, pobres, educadores, e claro, supostos “comunistas”. Para o SEU candidato e o seu séquito (que se especializou a intimidar e espancar pessoas), essas criaturas seriam seres “inferiores”, “imprestáveis”, “indolentes”, “malandros” ou que, por manifestarem ternura em público “ofenderiam” a “SUA moral cristã”, devido a uma condição humana diferente da SUA. Vossa mercê, que parece estar tão convencido(a) da “mudança” na política e do “patriotismo” — em tese, defendidos por seu candidato — responda-me, por obséquio: o que levou um sujeito tão “patriota”, como o seu candidato, a bater continência para a bandeira dos Estados Unidos da América?  Quais são os projetos para reduzir a desigualdade social no país? Ah, havia me esquecido, você está pouco se lixando para nós, brasileiros. 

 

Redação

1 Comentário

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  1. Telegramas de Pasárgada.

    Mon ami Jean Pierre…

    Boas as intenções…mas como intenções não bastam…

    Sua análise parte do pressuposto errado!

    O problema do combate a formas autoritárias de poder no capitalismo é entendê-las como excepcionais, e pior:

    Entender que democracia é compatível com esse sistema!

    Daí deriva todo o resto (de erros).

    Lutar contra o “coiso” não é lutar contra a ausência ou o fim da democracia!

    A democracia já acabou faz tempo (melhor, sequer existiu) quando permitiu que um tipo desses chegasse onde chegou!

    A bem da verdade, democracia e capitalismo nunca coexistiram, apesar dos argumentos ideológicos (falsos) das elites que controlam o sistema (capitalista).

    Não se pode imaginar que sistemas representativos e outras instituições formais sejam democráticas dentro de um sistema excludente em sua gênese!!!!

    Todas as formas de representação e disputa estarão sempre marcadas pelo signo de desigualdade estrutural!

    É por isso que ficamos (sempre) como baratas tontas quando algum tipo de “coiso” se levanta e sua imagem passa a reificar a representação dos instintos conservadores das sociedades!

    Imaginos que ele é o que há de pior (e de fato, pode ser), e esquecemos as outras formas de domminação (inclusive as que permitem ele existir), naturalizando o que não é natural (ver Pierre Bourdieu, em O Domínio Masculino, de 2014).,

    Embora o livro trate da questão de gênero, traz em si muitas concepções que nos servem no espectro político mais amplo!

    A ideia (ilusão) de democracia não conseguiu dar conta de resolver os conflitos gerados no seio do sistema (e nunca dará), e aí, em determinado momento, a base da pirâmide enche o saco, e atende ao apelo à resolução de tudo na base da porrada!

    Nos centros capitalistas, esse processo talvez seja mais dramático, se considerarmos a maturidade das instituições que os “intelectuais” gostam de chamar de “mais civilizadas” (embora portadoras de viés simbolicamente violentos).

    Europeus torcem o nariz para nossa versão caipira de fascista enquanto embalam Le Pens e outros tipos similares, como hoje na Itália!!!!

    Lembremos que na presença de Hitler, o “centro”, e “a social-democracia” achou que a esquerda era risco maior!

    Algo parecido com hoje, não? Guardadas as devidas proporções e diferenças de contexto, eu sei…

    Veja você que esse blog, que pode de forma microcósmica representar o “ethos” do centro e da esquerda, passou meses, talvez anos, exigindo “auto-críticas”, “meas culpas” e outras imolações públicas e auto-contrições do PT que governou o país.

    Vigora ainda por aqui a tese de “erros de Dilma”.

    Gente boa acredita severamente que o problema foi o PT ter “cedido a corrupção”!!!!

    Mas e daí? Alguém já ganhou alguma guerra vindo a público expor suas fraquezas???

    Alguém tem dúvida de que se trata de uma guerra?

     

    Infelizmente, por mais que pareça fora de hora o que eu vou dizer, eu digo mesmo assim:

    – Não há luta democrática se não for uma luta anti-capitalista!!!!

    Triste e simples assim.

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