Derrota da esquerda e vitória de quem?, por Danilo Strano

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Derrota da esquerda e vitória de quem?

Por Danilo Strano

A porrada foi grande, a ressaca mais ainda, mas a reorganização começa agora, caso contrário, 2018 trará outra derrota gigantesca para todos partidos do campo democrático de esquerda.

Toda reorganização começa com o reconhecimento da resposta popular na eleição, então vejamos o que ocorreu nacionalmente.

PC do B foi pragmático, levou mais de 40 prefeituras no Maranhão, onde tem o governo do Estado. Para manter um projeto de poder e com a necessidade de ocupar cargos, apoiou candidaturas como a do Orlando Morando (PSDB) em São Bernardo do Campo, mas está longe de protagonizar um projeto nacional ideológico de esquerda.

O caso que parecia mais promissor foi o do PSOL, que tem discurso e ação que conversam prioritariamente com a classe média, olhando a votação do partido por região isso fica claro. Quando o presidente do partido, Luiz Araújo, diz que o PSOL está “ocupando o espaço do PT” ele esquece de dizer qual espaço é esse. Talvez, esse espaço nunca tenha pertencido ao PT, um voto da classe média ingênua, que não aceita a política real e tem ideias de pureza inatingíveis. O PT teve esse voto até 2002, antes de ter vencido uma eleição nacional. A ilusão de estar construindo uma nova esquerda com a classe média, sem a classe trabalhadora, não faz sentido algum, isso fica claro com a vitória do PSOL em apenas duas cidades.

A centro-direita e direita tradicional ganharam na maior parte do país fazendo o papel de sempre, mas apoiados por um recente processo de desgaste das lideranças do PT e pela descrença com a política, vide o alto número de abstenções. Mas isso está longe de configurar uma vitória de um projeto ideológico de poder, até por que, percebendo o movimento de ojeriza com a política, partidos como PSDB e DEM lançaram diversos candidatos “não políticos”, que não representam as bandeiras dos partidos, são apenas “gestores”, um artifício eleitoral em muitos casos, já que esses sujeitos tradicionalmente se associam aos políticos tradicionais e até tem histórico de ocupar cargos em empresas públicas, como é o caso do João Doria.

O PT é o grande derrotado, sem sombra de dúvidas. O partido que teve mais de 400 prefeituras em 2012, saiu vitorioso em menos de 250 cidades em 2016. E perdeu em cidades onde tradicionalmente leva com facilidade, como o cinturão vermelho no ABC e outras tantas cidades e, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul.

A eleição de SP ajuda entender esse movimento. A questão não é a derrota na capital paulista, até por que, o partido nunca reelegeu um prefeito na cidade. Mas o mapa de votação mostra outro dado importante, a derrota na periferia. Doria, Marta e Russomanno tiveram mais votos que Haddad em quase todas as regiões periféricas da cidade, o petista não levou em nenhuma região.

Alguns argumentos fáceis já foram utilizados para fazer a análise da derrota: “pobre no Brasil é de direita”, “a periferia é ingrata” e “eles não entenderam a modernidade”. Nada disso me parece lógico, aliás, isso é discurso de mal perdedor, que destila o ódio e preconceito que tantos criticam por ser prática da direita.

Não pretendo tirar conclusões taxativas aqui, mas o projeto de esquerda venceu as 4 últimas eleições nacionais, não é possível argumentar que o povo não abrace projetos progressistas também.

 O PT foi o único partido que conseguiu organizar a população mais carente e transformar isso em vitórias eleitorais no âmbito nacional, apesar dos erros, ainda é o projeto popular que mais representa o povo. A esquerda tem que voltar a construir com a classe trabalhadora, com os movimentos que lutam pela seguridade social, com a juventude da periferia e ouvir o povo para entender o que ocorreu.

Ficar discutindo em gabinetes e diretórios não trará as respostas. Ou fazemos a famosa autocrítica como um meio para nossa correção de rumos ou seguiremos, no máximo, na terapia coletiva de avaliação de conjunturas. Agora começa a reação, temos que defender nossas bandeiras mesmo sem governos e fazer o bom papel de oposição responsável, necessariamente junto com quem nós temos história de representação política.

Danilo Strano, cientista político de 28 anos especializado em juventude e redes sociais

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. Será que sabem votar?

    Alguns argumentos fáceis já foram utilizados para fazer a análise da derrota: “pobre no Brasil é de direita”, “a periferia é ingrata”

     

    Argumento fácil??????? Argumento verdadeiro . Os  eleitores evangélicos nos mostram isto de forma contundente!

  2. O PCdoB não existe em

    O PCdoB não existe em SBC,nunca havia feito um vereador na cidade.Este vereador que foi eleito é um comerciante historicamente ligado á direita daqui.Aliás SBC sempre foi uma cidade conservadora.Falo isto com conhecimento pois moro aqui há quase 40 anos.Não foi surpresa nenhuma este vereador eleito ter aderido imediatamente ao projeto de Orlando Morando.E tenho toda a certeza que que ele migra para outro partido antes da metade do mandato.

  3. Pulou o Ciro Gomes e o PDT

    Pulou o Ciro Gomes e o PDT por que? Se não se pode colocá-lo como um dos vencedores, ao menos manteve a posição. Havia uma grande torcida na midia oficial para que o seu candidato  perdesse em Fortaleza. O UOL manteve durante todo o dia da eleição um manchete com essa expectativa (ao lado de uma em que Aécio cantava vitória). O PDT, ainda que não tenha uma força comparável aquela que o PT vinha mostrando, não perdeu tantas prefeituras e até ganhou algumas. Numa futura frente de esquerda, há lugar sim pra um perfil mais moderado da classe média. Quanto ao restante, concordo com a análise.

  4. “lançaram diversos candidatos

    “lançaram diversos candidatos “não políticos”, que não representam as bandeiras dos partidos, são apenas “gestores”

    Exatamente, e eleição para prefeito é a mais despolitizada de todas. Para presidente é a onde a ideologia do eleitor se manifesta em sua plenitude. Mesmo aquele que é “apolítico”, aquele que está no centro e que vai para a esquerda ou para a direita dependendo das circunstâncias, de alguma forma, no momento do voto opta ideologicamente.

    A direita golpista sabe disso, por isso, não compra a tese de que seu discurso ganhou corações e mentes porque o PT perdeu mais da metada das prefeituras que tinha.

    Não estão seguros para 2018, e continuarão com a anulação da candidatura Lula. E se houver outro da esquerda viável eleitoralmente, não uma Luciana Genro da vida, o golpismo não se interromperá e voltam para casa tranquilamente.

    A tal “vitória” deles se baseia nos números que estão aí no TSE, não há como negar. Mas pode ser enganadora. No entanto serve para impor uma narrativa de que a maioria do povo aprova tudo que está acontecendo, a rigor, a “aniquilação” do “lulo-petismo” e a apologia do “FHC-tucanismo”.

    Se isso fosse verdade, ficariam muito a vontade em um país em que as instituições democráticas funcionam segunda a constituição. E não é isso o que está acontencendo

    1. Juliano

      Com as medidas que estão tomando, jamais conquistarão corações e mentes. Só na porrada mesmo. Por isso estou pensando seriamente que coisa boa não virá tão cedo.

      snif, snif, snif

  5. O projeto nacional,

    O projeto nacional, desenvolvimentista e popular venceu as 4 ultimas eleições presidenciais sobretudo pelo voto das periferias e dos “pobres”.

    Não foram os pobres que deram um golpe neste projeto; não são os pobres que perseguem diuturnamente os dirigentes do campo progressista; não são os pobres que querem subtrair e apoiam a retirada de direitos trabalhistas, previdenciários e civis.

    Basta um derrota em eleições municipais, a mais despolitizada da história, diga-se de passagem, para surgirem teses de que os pobres não sabem votar e são de direita.

    Eu não compro este discurso e acho que ele reflete um pensamento elitista e conservador.

    1. O povo na sua maioria é mesmo estúpido

      Porque não comprar esse discurso que pobre não sabe votar?

      Pois sem ser elitista e conservador constato que a imensa maioria

      não sabe votar mesmo. Sempre pagou caro essa ignorância e 

      continuará pagando. É trágico, mas é real que o castigo virá,

       não por causa dos erros, mas sim pelos próprios

      erros, que já embutem em si as consequências.

      Uma frase atribuída a Dom Pedro Primeiro ilustra bem o problema:

      ” Farei tudo para o povo, mas  nada pelo povo”.

  6. Resultados depois dos golpes

    Ate agora, ninguem se lembrou do resultado da primeira eleicao depois do golppe de 64.

    Tal e qual o que acontece nesse momento, em 66 a direita ganhou em quase todos os estados, se nao me engano so perdeu em Minas e np Rio  de Janeiro-  Israel Pinheiro e Negrao de Lima

    Tambem num outro golpinho, na época do Sarney, a direita elegeu quase todos os governadores nesse país, inclusive o grande Darcy Ribeiro, perdeu para o Moreira, gato angorá, Franco.

    Portanto, muito cuidado com as análises precipitadas

    José Emílio Guedes Lages- Belo Horizonte

    1. Aquilo em 66 não eram eleições era par ou impar, todos fascistas

      Eleições onde, para ser candidato a pessoa teria de receber o aval dos fascistas, pois só concorriam nomes autorizados por eles, e quem votava não era o povo, eram só os membros do congresso engessado e vigiado de perto.

  7. No famoso CANTO da sereia, homens distraídos se atiravam ao mar

    Pobre ser reacionário de direita é um FENÔMENO onde se constata o PODER MALÉFICO do PIG, com o seu famoso ‘canto da sereia’ , consegue enganar os distraídos/cansados fazendo-os atender  CEGAMENTE ao suave canto das sereias lindas e gostosas apresentadoras do PIG, ao ponto de se atirarem sem pensar, no mar revolto que lhes afogará. Eles amam quem lhes oprimem e matam. É um fenômeno maléfico sem dúvida. 

  8. Oposição responsável de unm

    Oposição responsável de unm governo golpista ???

    Foi isso que eu li ??

    A gente tem que ser irresponsável, isso sim !!! Temos que tentar explodir esse país, tentar bloquear qualquer iniciativa do governo golpista !!! Não temos força para isso, mas temos que tentar.

    Oposição responsável se faz a governo legítimo. A governo ilegítimo, TODA forma de oposição é legítima. Inclusive as mais radicais.

    A auto-crítica é isso aí, capitulação completa !!!

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