Efeito Bolsonaro e uso das redes nas vésperas da eleição turbinam votos no Rio de Janeiro

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Após ter o “efeito Bolsonaro” esgotado com sucesso pelo candidato do PSC ao governo, Wilson Witzel, a estratégia para este segundo turno foi impulsionar ainda mais as interações, publicações e engajamento nas redes sociais
 

Juiz e candidato ao governo do Rio participou de ato com deputados do PSL quebrando a placa em homenagem a Marielle Franco – Foto: Reprodução Redes
 
Jornal GGN – Os resultados da totalização de votos das urnas no dia 7 de outubro, em boa parte dos estados brasileiros, revelaram que dois movimentos não estavam sendo captados pelas pesquisas eleitorais: o “efeito Bolsonaro”, o mais recente “puxador de votos” para candidatos a Governos e Senado que, de última hora, anunciaram apoio ao presidenciável do PSL, e o impacto das redes sociais, principalmente WhatsApp, que foram decisivas nestas eleições 2018.
 
Ambos movimentos foram revelados pelo GGN [leia aqui], logo após o resultado do primeiro turno. E um dos casos mais surpreendentes foi verificado no Rio de Janeiro. No estado que dedicou boa fatia de votos a Jair Bolsonaro (PSL), a figura do ex-juiz Wilson Witzel, do PSC, tomou adesão popular nos poucos dias que antecederam as urnas, obtendo a liderança inesperada dos votos para o governo e garantindo a disputa a segundo turno contra o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).
 
Relembre o “Efeito Bolsonaro”
 
Nos dias anteriores ao 7 de outubro, Witzel estava brigando em um empate com o senador Romário (Podemos), ambos na casa dos 17% das intenções de voto, para definir quem enfrentaria o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), então na liderança, em um segundo turno. 
 
Um dia antes da votação, o IBOPE divulgou que Romário estava a frente deste empate, com 20% das intenções, o ex-prefeito Eduardo Paes mantinha a suposta liderança com 32%, e o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) empatava em terceiro lugar com Indio (PSD), ambos em 12%. Ou seja, pela pesquisa da véspera, Witzel estava eliminado da disputa eleitoral.
 
Mas 24 horas depois, o resultado das urnas foi completamente diferente do captado pela pesquisa. Na última semana, Witzel começou a fazer campanha ao lado do filho do presidenciável do PSL, o candidato eleito ao Senado, Flávio Bolsonaro (PSL). Tal fator garantiu ao ex-juiz surpreendentes 41,28% dos votos válidos, uma larga diferença do então líder, Eduardo Paes, que conquistou somente 19,56% dos votos totais.
 
Efeito Redes Sociais
 
Para este segundo turno, a estratégia do “efeito Bolsonaro” já havia sido, com sucesso, esgotada para Witzel. A população fluminense já associava o nome do ex-juiz ao presidenciável Bolsonaro. Mas sob os riscos de um contra-ataque eleitoral estratégico de Paes, Witzel precisava dar sequência a uma campanha efetiva. A estratégia, então, passou a ser a digital.
 
A exemplo do que fez a equipe do PSL a nível federal, os candidatos apoiadores de Bolsonaro passaram a investir nos meios digitais para impulsionar eleitores. 
 
E, da mesma forma como se exigiu o “timing” correto no primeiro turno, no qual os candidatos que anunciaram a defesa explícita a Bolsonaro nos últimos dias obtiveram um disparo maior e mais rápido de votos, o uso das redes sociais, principalmente do WhatsApp, também indicam que a estratégia é turbinada nas vésperas da votação.
 
É o que mostra a comparação de interações, publicações e número de seguidores de Paes e Witzel.
 
O candidato do PSC registrou um crescente de interações e publicações diárias do dia 1º outubro até o dia 6 de outubro. O número de interações e posts publicados por Witzel foram muito superiores ao de Paes:
 
 
E, novamente, na última semana antes do segundo turno, do dia 21 ao dia 26, o candidato ao governo do Rio Wilson Witzel investiu em altos níveis de interação e publicações nas redes sociais. E, apesar de Paes já captar a estratégia e também mostrar um aumento de investimento digital em comparação ao primeiro turno, o fluxo do ex-juiz permaneceu superior ao de Eduardo Paes.
 
 
E quando se analisa o número de seguidores de ambos os candidatos, a avaliação se repete: nos três dias anteriores à votação, o candidato do PSC obteve um aumento de curtidores superior aos dias anteriores e muito superior ao seu adversário, Eduardo Paes:
 
 
Em reportagem recente, a revista Época apurou “como funciona a máquina de WhatsApp que pode eleger Bolsonaro”. A publicação traçou um perfil de como o marketing eleitoral do presidenciável do PSL atuou nas redes sociais, com o aporte de robôs e a criação de páginas e perfis falsos, mas também com um empenho diário de integrantes da equipe de Bolsonaro e voluntários para disseminar as informações, sempre com base em “memes”, textos superficiais e imagens.
 
A revista consultou Tiago Ramos, apontado como uma das pessoas que “dá suporte à campanha virtual de Bolsonaro” e que “trabalha voluntariamente na administração dos números de WhatsApp do candidato ao governo do Rio Wilson Witzel (PSC)”. Ele é um dos responsáveis pela circulação de mensagens em massa e com base em listas de transmissão. 
 
Á publicação, Ramos defendeu a estratégia como lícita, uma vez que exige esse empenho: “Eles não conseguem entender que não somos robôs. Somos pessoas que trabalham e, quando podem, dedicam um tempo extra para falar do candidato que apoiamos. Não há crime nenhum nisso”, defendeu.
 
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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