Em sabatina, Boulos aposta nas propostas do PSOL como projeto de futuro

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

https://www.youtube.com/watch?v=vhIYY946Bc8 width:700 height:394]
 
Jornal GGN – O candidato do PSOL à Presidência da República, Guilherme Boulos, criticou a relação criada entre o PT e o MDB, assim como entre o PSDB de Geraldo Alckmin e o MDB de Michel Temer, comentou que as críticas ao administrador do Museu Nacional, Roberto Leher (filiado ao PSOL), foram “desleais e cretinas”, além de abordar o combate ao crime organizado e o machismo, durante a sabatina realizada pelo Uol, Folha e SBT, na manhã desta quinta-feira (06). 
 
PT e MDB
 
“É lamentável a gente ver, como vi na semana passada, Fernando Haddad ir lá fazer beija mão para o Eunício [Oliveira, do MDB] e para o Renan [Calheiros, do MDB depois de tudo que aconteceu. Parece que a relação PT e MDB virou caso de divã, caso de masoquismo”, introduziu Boulos, estendendo as críticas desde o início da chapa do PT com MDB até hoje.
 
Também criticou pontos do governo Lula, por não ter feito, por exemplo, uma reforma política e por ter governado “com os mesmos de sempre”: “O Jucá é líder de governo desde Dom Pedro I”, ironizou Boulos. 
 
Alckmin e Temer
 
Nessa linha, defendeu que há coisas que não se negociam: “Não vou negociar por exemplo direito das mulheres com a bancada fundamentalista. Sou daqueles que acredita que princípio não se negocia”, disse, em crítica ao atual governo, mas também às gestões do PT.
 
Além dos pontos críticos a gestão Lula e a Fernando Haddad, o líder do MST disse que o grupo de Alckmin e de Temer é a “turma do compadrio: deve estar tudo no mesmo grupo de whatsapp”, brincou. Guilherme Boulos se referia à troca de farpas entre o tucano e o emedebista desde ontem.
 
“Tem uma frase do Orestes Quércia que é briga de compadre sempre sai muitas verdades”, continuou.
 
Projeto de futuro
 
Sobre as perspectivas para as eleições 2018, Boulos disse que o cenário ainda é imprevisível, mesmo faltando um mês para a população ir as urnas. Por outro lado, tem a expectativa que alguma oposição a Temer/PSDB estará no segundo turno. 
 
Questionado sobre os seus resultados, que hoje atingem apenas 1% das intenções de votos, o líder do MST e candidato do PSOL apontou para a necessidade de se criar um projeto de futuro e que isso se tratava a sua candidatura. 
 
Ainda, durante a sabatina, Boulos defendeu o corte de privilégios como necessidade para o futuro governo. “Nós vamos enfrentar privilégio, por exemplo, fazendo com que rico comece a pagar imposto. Porque hoje quem tem um carro paga IPVA, quem tem um jatinho, um helicóptero não paga um real. Se tem alguém que está nos assistindo que tem um jatinho, não vote em mim”, disse, de maneira direta.
 
Museu Nacional: de quem é a responsabilidade
 
Sobre os comentários que recaíram sobre Roberto Leher, filiado ao PSOL e administrador do Museu Nacional, que pegou fogo, caracterizou como “desleais e cretinas”, feitas “por setores políticos que tem cinzas do museu nas mãos”. 
 
O PSOL já havia afirmado, em nota divulgado à imprensa, que a responsabilidade do desastre “não foi mero acidente”. “Se esse processo de falta de investimentos já tem décadas, ele ganhou um combustível extra com o golpe que se abateu sobre o país em 2016”, disse o partido, em nota. 
 
“Há exatamente um mês, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou nota oficial comunicando que os cortes no orçamento significariam a suspensão do pagamento de cerca de 200 mil bolsas em 2019 – da pós-graduação à formação de professores da rede básica”, lembrou.
 
Da mesma forma como o fez Boulos, o PSOL repudiou a tentativa de responsabilizar Robeto Leher. “Temos muito orgulho de ter Roberto Leher ao nosso lado. Em anos no movimento docente, Leher sempre esteve comprometido com a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade e a ampliação dos investimentos públicos necessários para isso”, assinalou o partido. 
 
 
Leia a nota na íntegra abaixo:

Na noite deste domingo, 2 de setembro, um incêndio destruiu o Museu Nacional, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com mais de 20 milhões de peças em seu amplo acervo – de fósseis de dinossauros com dezenas de milhões de anos à história dos povos originários do Brasil, entre tantas outras coisas –, o incêndio no Museu representa uma perda trágica para a história e a pesquisa científica no Brasil.

Infelizmente, não se pode dizer que o ocorrido foi um mero acidente. Trata-se da expressão mais cruel de um projeto político de desvalorização da cultura, educação e pesquisa científica em nosso país. Há muitos anos as universidades federais sofrem um processo de sucateamento e os investimentos seguem sendo reduzidos. Obviamente, essa falta de recursos cobra sua fatura: nossas universidades estão em situação de penúria.

Apenas de 2011 para cá, na UFRJ, houve incêndios no Palácio Universitário, na Faculdade de Letras, no Centro de Ciências da Saúde, no prédio da reitoria, no Alojamento e agora este, no Museu Nacional.

Em 2015, dos R$341 milhões em verbas da União autorizadas pela Lei de Diretrizes Orçamentária para o custeio e investimentos na UFRJ, R$53 milhões não foram liberados. Em 2018, esse orçamento caiu para R$ 282 milhões, com mais contingenciamentos anunciados. As verbas para investimentos caíram de R$51 milhões, em 2016, para R$6 milhões em 2018.

Se esse processo de falta de investimentos já tem décadas, ele ganhou um combustível extra com o golpe que se abateu sobre o país em 2016. A Emenda Constitucional 95, aprovada pelo governo ilegítimo de Michel Temer, que congela os investimentos sociais no Brasil pelos próximos 20 anos foi repudiada por toda a comunidade acadêmica nacional, independente da posição política, incluindo instituições como a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Há exatamente um mês, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou nota oficial comunicando que os cortes no orçamento significariam a suspensão do pagamento de cerca de 200 mil bolsas em 2019 – da pós-graduação à formação de professores da rede básica.

O PSOL teve uma posição firme de enfrentamento e denúncia do que a Emenda Constitucional 95 representaria para nossa população. Temos afirmado reiteradamente que a redução de investimentos sociais não pode, de maneira nenhuma, ser considerada uma solução para a crise que o Brasil enfrenta. Nosso candidato à presidência, Guilherme Boulos, vem defendendo nos debates a importância da revogação da EC 95.

Por fim, repudiamos a tentativa que começamos a ver nas redes sociais de responsabilizar a reitoria da UFRJ e, indiretamente, o PSOL, citando que o reitor Robeto Leher é filiado ao nosso Partido. Temos muito orgulho de ter Roberto Leher ao nosso lado. Em anos no movimento docente, Leher sempre esteve comprometido com a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade e a ampliação dos investimentos públicos necessários para isso. Como pesquisador, com um currículo e uma trajetória respeitadíssimos, também trouxe importantes reflexões sobre a educação pública. Há três anos, junto com docentes de diversos centros da UFRJ, dispôs-se a encarar esse desafio de, em plena crise, assumir a gestão da maior Universidade Federal do Brasil, tendo sido eleito com amplo apoio da comunidade acadêmica. Ao longo desses três anos, tem sido incansável na busca por mais investimentos que possam garantir o funcionamento da UFRJ.

Executiva Nacional do PSOL
3 de setembro de 2018

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Detalhes

    Gosto do Boulos, mas há coisas que devem ser levadas em conta.

    Apenas quem não tem nenhuma chance – pelo menos agora – de chegar ao poder pode-se permitir falar da forma em que o Boulos faz. Se Boulos tivesse chances reais de governar cuidaria, como o PT, a linguagem e a animosidade em relação a eventuais aliados. Quem está de fora possui licença para ser radical; já quem está por dentro, sabe que ninguém governa sozinha num país como este.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador