Em São Luís, primeiro mandato coletivo abre as portas à participação popular

Seis covereadores vindos de movimentos sociais conquistam eleição histórica em São Luís, no Maranhão

Foto: Arquivo Pessoal

Primeiro mandato coletivo do Maranhão estimula participação popular

Por Mariana Castro

Do Brasil de Fato

Em meio ao distanciamento e descrédito em relação à política partidária, estados brasileiros passam a viver a experiência de mandatos coletivos, por meio dos quais uma rede de pessoas compartilha as tomadas de decisões e ações.

No Brasil, a ideia de coletivização de mandatos ainda é recente. A primeira iniciativa de que se tem registro partiu do vereador João Yuji (PMN), no ano de 2016, em Alto Paraíso (GO).

O primeiro mandato coletivo eleito no Maranhão deve oxigenar a Câmara de Vereadores de São Luís / Arquivo Pessoal

No Maranhão, o Coletivo Nós (PT) entra para a história como o primeiro mandato coletivo eleito no estado. O grupo é composto por seis jovens de comunidades das periferias e de áreas rurais de São Luís, que se declaram unidos pela diversidade de gêneros, raças, classes sociais e credos.

Os nomes de Jhonatan Soares, Flávia Almeida, Delmar Matias, Eunice Chê, Maria Raimunda e Euni Ribeiro foram escolhidos a partir de uma decisão compartilhada, por meio do diálogo de um grupo maior, atuante em movimentos sociais e, especialmente, na Pastoral da Juventude.

Flávia Almeida, uma das covereadoras, explica que a ideia surgiu da necessidade de ocupar espaços na tomada de decisões e das experiências de militância de cada integrante.

O grupo milita especialmente a partir da Pastoral da Juventude, nas periferias de São Luís (MA) / Arquivo Pessoal

“Acreditamos muito na coletividade. Já temos esse envolvimento em movimentos sociais, e a militância também nos proporciona isso. Olhando pra esse cenário e essa grande necessidade de estar nesse espaço que é o centro de decisão, nós decidimos nos reunir e construir um mandato coletivo”, argumenta a covereadora Flávia Almeida.

A proposta de mandato coletivo não tem amparo nas leis eleitorais, por isso um nome específico deve ser registrado como candidato. No entanto, o grupo, que teve em seu registro apenas o nome de Jhonatan Soares, avalia que isso não deve interferir na prática.

De acordo com o regimento interno da Câmara de Vereadores, somente Jhonatan poderá ocupar a tribuna na condição de vereador eleito, mas eles explicam que todos os discursos e as ações serão preparadas em conjunto, a partir da afinidade de pautas de cada integrante e de um coletivo maior.

“O mandato não é um mandato de tribuna, não é um mandato de formalidade, que cumpre um padrão regimental. O mais importante do mandato é o mandato para fora da Câmara de Vereadores, para a nossa comunidade, para o povo. E nisso os seis, sim, estarão na função de covereadores”, explica o covereador Delmar Matias.

Para o covereador Jhonantan Soares, o grupo apresenta maturidade nas colocações e na capacidade de partilha em razão dos estreitos laços firmados há cerca de dez anos em meio aos movimentos sociais.

“Essa relação que a gente construiu e solidificou, nesse trabalho comunitário, coletivo, em uma defesa irrestrita pelas causas sociais, foi que solidificou esse grupo e fez com que fossem essas pessoas a serem escolhidas por um grupo maior para representar as nossas comunidades”, considera Soares.

O grupo avalia que de forma alguma seria eleito caso não fosse um coletivo. Seja pela capacidade de driblar os altos investimentos de campanha, seja a possibilidade de alcance, seja a percepção das pessoas por uma nova forma de fazer política, em meio ao povo e para o povo.

“Trabalhar com a política pública de maneira humanizada faz com que todos nós sejamos parte de um todo no sentido de fazer com que realmente aconteça essa mudança, essa mudança onde o povo se faz presente”, avalia a covereadora Eunice Chê.

Para o grupo, o modelo de mandato coletivo poderá oxigenar o espaço político a partir da capital e ganhar outros municípios do estado / Arquivo Pessoal

Inédito no Maranhão, o modelo de mandato coletivo deve oxigenar o espaço político a partir da capital e, de acordo com o grupo, já é avaliado como espelho para outras iniciativas que devem se espalhar pelo estado.

“O modelo coletivo, na sua prática, quebra a hegemonia, quebra paradigmas e isso é muito bom porque as pessoas se identificam com isso, porque é um apelo popular, é uma vontade popular. A gente mostra que é possível se organizar e propor mudanças efetivas no modelo de fazer e de pensar a política no Brasil”, considera o covereador Eni Ribeiro.

Eleito pelo Partido dos Trabalhadores (PT), o grupo deve ser responsável pelo fortalecimento de iniciativas que fortaleçam a participação popular nas decisões políticas que se espalham pelas comunidades e periferias do estado.

“[Vamos atuar] juntamente com todo um coletivo das comunidades e das periferias que vão destacar tanto no diretório estadual, como os municipais, esse fortalecimento do partido em busca dessas novas formas de fazer política, de forma que aconteça de maneira democrática e participativa”, explica a covereadora Maria Raimunda Oliveira.

 

Redação

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