Aldo Fornazieri: nenhum partido traduziu as manifestações de 2013

Jornal GGN – O cientista político Aldo Fornazieri concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornalista Luis Nassif, na qual compartilhou suas impressões sobre as eleições deste ano. Para ele a campanha eleitoral de 2014 foi a mais disputada desde a redemocratização. “Porque há uma indefinição sobre quem passará para o segundo turno”, disse. “Eu entendo que foi uma campanha tripolarizada”.

No entanto, para ele, isso não se traduziu em debate de propostas. O eleitor se dividiu entre três principais candidatos, mas eles não polarizaram o debate do ponto de vista programático. “Dilma e Aécio nem fecharam um programa de governo. E Marina fechou o dela e depois voltou atrás em vários pontos. O que ela apresentou perdeu sustentabilidade. Ela foi desconstruída tanto por Aécio quanto por Dilma”, explicou.

Fornazieri entendeu que o debate foi pobre em temas estratégicos, mas demonstrou alguma esperança em uma discussão mais aprofundada para o segundo turno. “O debate ambiental e a discussão sobre a crise hídrica no Brasil foram muito pobres e do meu ponto de vista esses são problemas que vieram pra ficar”.

Ele disse que nenhum dos partidos compreendeu plenamente o que significaram as manifestações de junho passado, que nos remetem à questão das crises urbanas e à crise da juventude com o atual sistema. “Houve alguma perfumaria a respeito disso, mas não houve um debate significativo. Não temos um partido capaz de absorver as pautas da juventude. E nessas eleições, o número de jovens, entre 16 e 18 anos, deve cair drasticamente”, afirmou.

Para Fornazieri, o PT precisa passar por uma profunda reforma, pois se tornou um partido de gabinete, de palácio, e adotou uma “postura arrogante, anti-povo”. “Se continuar assim, o PT vai andar pra trás”.

Ele entende que é até compreensível que setores da mídia sejam críticos ao partido. “Na medida em que a mídia se articula com grupos de interesse econômicos, ela também se organiza com grupos políticos”. No entanto, isso não significa deixar a situação como está. “Deve haver uma pressão da sociedade civil para uma regulação da mídia, não em termos de censura, mas pelo fim do monopólio. Como houve no México, Argentina e outros países”.

Redação

7 Comentários

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  1. Manifestações 2013

    A minha impressão sempre foi que as famosas manifestações foram superestimadas pela imprensa que as ampliou para tentar desmoralizar a Dilma.

    Não foram manifestações oceânicas, no estilo das ‘Diretas Já’, nem de longe.

  2. não traduziu pq tava em inglês
    Aquelas manifestações eram plantadas pela nossa midia, pelas agências americanas, com ajuda da PM do Alckmin.

    1. Difícil acreditar nisso. As

      Difícil acreditar nisso. As manifestações explodiram em tamanho justamente em reação à polícia do Alckmin, que estava distribuindo bala de borracha e prendendo gente por porte de vinagre.

      O cavalo da juventude passou encilhado para o PT e a Marina montarem. O primeiro provavelmente silenciou por causa dos compromissos da articulação para a segurança pública na Copa, ou medo de o caldo entornar de vez, ou por não ter idéia do que fazer como poder constituído. A outra ficou em silêncio porque não sabe o que quer, e quando vai surfar uma onda a crista já estourou.

      Parece que a única ironia no 06/2013 foi que a polícia do Alckimin deu início à bagunça, mas foi ele quem teve a maior vitória política: cortar o cordão umbilical da juventude com o PT. Desde então os militantes mais antigos se batem contra qualquer jovem na rua como faziam as senhoras de Santana ao verem os trombadinhas da Sé nas ruas. É até difícil acreditar que o partido está lentamente virando nisso.

      Recomendo a leitura do artigo do Sakamoto sobre o movimento, porque ele foi muito bem na análise. A verdade é que ele foi vitorioso dentro das pautas possíveis em algo que felizmente não teve articulação central, nos moldes da política partidária. Mostrou quem deve ser ouvido em questões de tarifa nos transportes, obrigou  a lançar algum olhar para esse setor das políticas públicas. Demonstrou na prática a toda uma geração que vem chegando ao poder agora que sair nas ruas tem efeito. Quem acompanhou ao vivo viu toda a diferença na troca de gentileza da polícia de um dia para o outro. Ainda que eles tenham passado a perseguir e sufocar movimentos menores, o que é outra questão a ser resolvida.

      A “falha” do movimento, pelos que acham que deveria ter repercussão em outras esferas, achando que o povo na rua corrigiria a distorção atual do sistema partidário, seria a idéia de que não teria gerado um candidato capaz de absorver suas idéias.

      Mas Dilma tentou na prática com seus decretos de participação popular e as idéias de Constituinte limitada, Marina tentou no discurso eleitoral, e Aécio ao menos não negou a legitimidade do movimento. A verdade é que aquela molecada balançou os partidos, coisa que voto nenhum na tal da “festa da democracia” faz.

      Se as idéias do 06/2013 não foram absorvidas pela máquina dos partidos, e não se traduziram em ação pela militância que diz ouvir o povo, a falha é dos partidos, que estão refratários a qualquer arejamento, como se tivessem chegado a uma forma ideal. O movimento popular existiu, e as pesquisas de opinião foram claras sobre o que as pessoas nas ruas queriam.

      Se a juventude procurou o Facebook e as redes sociais para fazer seu projeto político, ainda que de meros 20 centavos, é sinal de que está difícil se fazer ouvir em um conclave de velhos chamado PT, PSDB e PSB. E sabemos que em organizações como partidos as dificuldades para subir não são inventadas à toa, e raramente são descuidos. Mas são ferramentas para cristalizar o poder de uma oligarquia.

      Que o PSDB não tenha pensado em modo de tirar proveito foi uma sorte de todos. Que a Marina não tenha conseguido colocar na prática suas idéias, uma sorte do PT. Mas que se formou uma trinca entre o PT, que já foi partido jovem, e a juventude que está nas ruas, parece meio óbvio. Basta ler o discurso moralista que se vê nos militantes acima dos 40 ou 50 anos de idade. Recomendo que ouçam o Lula de alguns meses atrás, e parem para refletir porque o jovem normal não se interessa mais por ingressar no partido, que é regido por um estatuto, onde se colocam todas as formas de acesso e participação.

  3. “postura arrogante, anti-povo”.o PT precisa passar por uma prof

     “(…) Para Fornazieri, o PT precisa passar por uma profunda reforma, pois se tornou um partido de gabinete, de palácio, e adotou uma “postura arrogante, anti-povo”. “Se continuar assim, o PT vai andar pra trás” (…)”

         Parabéns ao Blog e Blogueiro pela entrevista. É de se reler e reler, até o final, o seu “Porque Apóio Dilma”.

  4. concordo que as

    concordo que as manifestações

    – que ao invés  de famosas eu

    chamaria de famigeradas –

    de 2013 foram construídas pela gande mídia

    e aproveitadas por ela para desconstuir o pt e

    os movimentos sociais digamos institucionalizados

    como os sindicatos etc e tal.

    por isso considero que são famigerados, porque acabam

    desprestigiando a participação política organica

    por uma participalção meio aleatória,

    abrindo caminho para

    os aproveitadores de sempre

    como a alta burguesia capitalista nacional e internacional

    que quer expropriar as riquezas do país.  

    acho tb preesunçoso achar que dilma e o pt são arrogantes, pois são

    os únicos pelo que consta que dialogam

    cotidianamente com esses movimentos sociais,

    aliás fundados e formados pelas

    lutas renhidas do pt  nestes últimos tempos.

    por isso acho um contra-senso

    dizer-se que o pt não dialoga com a sociedade.

    é claro que o partrido precisa desparlmentarizar-se

    como fez excessivamente  e valorizar a militancia.

    em suma, acho que a polític pode mudar se houver

    uma participação maior da sociedade institucionalmente. 

    comom por exemplo,  a  discussão

    do plebiscito sugerido por dilma que está avançando.

    e a lei de participação popular aprovada

    mas tão  combatida pela grande mídia golpísta.

    é hora de unirmos forças para remover os problemas e conviver com as advesidades.

     

  5. Teve manifestação em São

    Teve manifestação em São Paulo? Pois não parece. Qual foi a mudança que houve lá? Alckmin, Serra, Tiririca e Marco Feliciano?

    Vamo acordar pra essa história de manifestações, já deu essa idealização de uma coisa que teve o efeito que pretendia: bater no PT. O resultado das manifestações aqui foi o mesmo dos outros lugares, a diferença é que fizeram isso pelo voto. Um bando de reacionários, fundamentalistas e extrema-direitas foram eleitos, esse é o resultado.

    Não dá para explicar tudo como culpa do PT né? A onda conservadora é no mundo.

  6. Parecer partidário sobre manifestações de junho

              Na verdade o àpice das tais manifestações estava previsto para ser em junho, mas o que na verdade não foi da maneira como a príncipio estavam sendo previstos… o que leva a entender que as mesmas foram contornadas pelo governo… tal intervenção, tida pela maioria dos manifestantes e também do restante do povo, como uma retaliação por parte do governo à liberdade de expressão e de manifestação…com certeza, deve ter sido um entre outros motivos dessa baixa votação do PT…sem esquecer que tais manifestações teve seu embrião na juventude (estudantes)…e esta população de jovens migrou e muito do PT …o que eles dizem: O partido que outrora albergava tais atos…hoje no poder os repudia…são essas as controvérsias dos bastidores da política, que devem ser muito bem analizadas …o que nos leva a refletir que um partido deve se manter fiel às suas origens e ideais, tanto faz se estiver como situação ou oposição.

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