“Obscurantismo não para de crescer”: Haddad inicia confronto contra Bolsonaro

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

“O país adoeceu com esse fascismo! Esse obscurantismo que não para de crescer. É tomar dia 7 de outubro, 13, e dia 28 de outubro, 13”, começa a reagir Haddad
 
 
Jornal GGN – As últimas pesquisas Datafolha e Ibope divulgadas mostram o crescimento do candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL), logo no primeiro turno, e um empate mais favorável a ele em segundo turno. Os dados vêm preocupando adversários, sobretudo setores da esquerda.
 
De acordo com a coluna de Mônica Bergamo, na Folha desta quarta-feira (03), o risco aventado é de, inclusive, o candidato conseguir aumentar as expectativas de voto e “liquidar a fatura da eleição no primeiro turno”.
 
Por isso, os principais adversário, o PT de Fernando Haddad e o PDT de Ciro Gomes, apresentam a partir de agora uma reação mais confrontativa a Bolsonaro em suas agendas de campanha. Segundo a colunista, a conclusão de que era preciso reagir contra o candidato da extrema direita de maneira mais efusiva não era consenso até a tarde de ontem (02).
 
Mas a estratégia mudou. E o discurso conciliatório que Haddad mantinha até então deve dar lugar, a partir de agora, a um tom mais alto e confrontos direitos.
 
Essa estratégia de ataque estava reservada para a campanha que seguiria a partir da próxima semana, em busca de garantir o segundo turno das eleições presidenciais de 2018. Mas a medida foi antecipada pela alta do capitão reformado nas últimas pesquisas eleitorais.
 
Bolsonaro atingiu 32% das intenções de voto, de acordo com a última sondagem do Datafolha, divulgado na noite desta terça-feira (02). Assim, as possibilidades, ainda que pequenas, de que Bolsonaro consiga ser eleito ainda no primeiro turno aumentam. 
 
É nesse sentido, por exemplo, que até mesmo o candidato que aparece em terceiro lugar nas pesquisas, teoricamente já fora da disputa presidenciail, também está reagindo não mais contra Haddad, seu concorrente direto por reduto de eleitores. Mas contra Jair Bolsonaro.
 
 
“Se você não quer Bolsonaro presidente, vote CIRO 12 já no primeiro turno”, mudou o tom da campanha Ciro. Mas segue na estratégia de defender que ele é o único que consiguiria vencer as eleições em segundo turno contra o candidato da extrema-direita.
 
No último vídeo divulgado nas redes sociais, Ciro usou imagens dos movimentos das mulheres no último sábado contra a candidatura de Bolsonaro: “#CiroSim” foi a hashtag estampada ao acompanhar o vídeo que repete o “#EleNão”.
 
 
Já Haddad começou a transição para as críticas contra o Bolsonaro em sua agenda de campanha nesta terça, no Rio de Janeiro, quando participou de atos na Cinelândia. “O país adoeceu com esse fascismo, esse obscurantismo que não para de crescer. É tomar dia 7 de outubro, 13, e dia 28 de outubro, 13”, afirmou.
 
 
“Nós vamos desarmar os espíritos, porque nós não queremos mãos armadas”, disse, em referência a uma das propostas do candidato da extrema-direita, que defende o porte de armas à população. “Nós queremos um livro numa mão e uma carteira de trabalho assinada na outra”, defendeu o candidato do PT.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Acredito que Ciro irá pegar o

    Acredito que Ciro irá pegar o segundo lugar na disputa eleitoral a partir do próximo debate. Pesquisas internas já indicam uma diferença de uns 3% entre ele e Haddad e o cruzamento de curvas deve acontecer por hoje ou amanhã. Quero só ver o que o Ibope e Datafolha vão fazer pra concertar os seus kamikazes.

  2. Enquanto continuarem a definir incorretamente o ……..

    Enquanto continuarem a definir incorretamente o movimento de Bolsonaro como um Neofascismo, só caminharão passos para trás.

    A reação das classes sociais mais desfavorecidas aos movimentos identitários, só pode ser explicada por um neoconservadorismo. Este sim um produto claro e refinado do neoliberalismo, da globalização e de uma pauta imprópria para as classes mais desfavorecidas.

  3. Troca de direitos civis por direitos sociais e a …….

    Troca de direitos civis por direitos sociais e a contraposição das pautas identitárias ao neoconservadorismo.

    Mais uma vez a classe média acha que sua pauta de reivindicações de direitos civis em detrimento aos direitos sociais é a solução das pautas da sociedade como um todo, ignorando que o neoconservadorismo que é confundido com o fascismo, é a verdadeira grande pauta de parte da sociedade menos favorecida.

    As aparentes multidões de mulheres no famoso EleNão esbarraram numa constatação muito simples, que as pautas de direitos civis além de não substituir as pautas de direitos sociais se choca com a onda de neoconservadorismo.

    A estética pequeno burguesa de mulheres gritando pelo direito de ter controle do seu próprio corpo, que é uma reivindicação universal para todas as categorias sociais, é uma prioridade mais burguesa do que proletária, que não tem o reflexo esperado nas manifestações do EleNão, porém esta ruptura aparentemente contraditória, pois tanto a mulher burguesa e mais ainda a mulher proletária sofre do controle de todos os aspectos de sua vida, mas para entendermos o porque é necessário retornar um pouco ao passado e procurarmos entender o que ocorre na chamada transição da sociedade burguesa tradicional para a sociedade pós-burguesa e pós-capitalista, estas duas são mais transformações sociais do que de forma de produção.

    O maio de 1968 inaugurou uma nova etapa de um comportamento, que foi visto por muitos como algo revolucionário principalmente por amplos setores pequeno burgueses de esquerda. No maio de 68 se nega a sociedade burguesa com seus pilares conservadores da época, religião, família e estado, em resumo o conceito de autoridade. Ou seja, se passa de uma luta anticapitalista para uma luta que pretendia tirar os pilares da sociedade burguesa do passado e por consequência se pensava estar lutando diretamente contra o capitalismo.

    Porém, como o capitalismo se adapta mais rapidamente do que os conceitos gerados contra ele, a sociedade pós-burguesa advinda da destruição dos antigos conceitos conservadores do passado, são rapidamente transformados em mercadorias e vendidos como uma forma de protesto. Chamo a atenção que na época surgiu uma propaganda em que explicitamente procurava identificar a liberdade com o uso de uma determinada marca de calças jeans.

    Ou seja, a revolta de 68 é digerida pelo capitalismo, vendida como modismo mercadológico, enquanto as relações de luta pelo poder entre classes são embaralhadas e substituídas por lutas pura e simples de direitos civis de minorias, ou mesmo maiorias, que sofriam a repressão do capital.

    A proposta emancipação da sociedade do capitalismo transforma-se na emancipação do capitalismo propriamente dito. A crítica ao capitalismo é substituída pelo direito de tanto consumir como de ser consumido como mercadoria. A nova sociedade que pensava que estava na direção da emancipação da superestrutura capitalista, termina priorizando o individualismo e o hedonismo narcisista. A negação dos elementos que identificavam a repressão da sociedade burguesa do passado, ou seja, seus pilares conservadores, religião, família e Estado, são todos negados, restando somente o mercado como a saída individual de cada um.

    A negação de tudo, exceto o mercado, derruba não só as velhas estruturas burguesas, mas através da globalização, derrubam as estruturas sindicais que possuíam os códigos de luta contra o capital, ou seja, junto com a sociedade burguesa anterior caem as organizações sindicais, que não estavam preparadas para um novo inimigo, o capital internacional desenraizado de seus limites nacionais do passado.

    Os últimos resquícios do sindicalismo ainda sobrevivem nas empresas públicas, pois nelas o “patrão” é claramente identificado, e devido a isto a luta do capital pela privatização, além de reforçar os lucros pela exploração de serviços oligopolizados, destruí o tecido sindical.

    O que se chama nos dias atuais de sociedade pós-capitalista ou pós-burguesa, é a caracterizado não pela emancipação da sociedade do capitalismo, mas sim emancipação do capitalismo propriamente dito, este último se livrando da velha consciência burguesa. Livra-se desta maneira da crítica interna dos próprios burgueses, por outro lado se livra dos valores éticos do passado burguês, uma espécie de parricídio da origem do capitalismo, ou seja, na sociedade pós-burguesa o capitalismo mata a sociedade burguesa só restando o mercado.

    As palavras chaves do maio de 68 como o proibido proibir ou não deve existir a autoridade, dão a partida para a nova sociedade de mercado, sem as amarras dos valores do passado para sem eles começar esta nova sociedade ser o objeto de tudo. Em resumo, a priorização da sociedade pós-burguesa é o gozo individual acima de tudo, o hedonismo como forma de vida, pois simplesmente é proibido proibir.

    Como as classes trabalhadoras perdem o seu referencial de resistência, e escuta das classes dominantes um discurso puramente de liberdades e direitos civis e individuais, reage a tudo isto através de um neoconservadorismo que procura em parte a reconstrução de um passado com maiores referenciais dando origem a uma reação que por muitos é confundida como um neofascismo. O neoconservadorismo é uma reação ao hedonismo individualista, porém apesar de negar o individualismo, de forma aparentemente contraditória esse neoconservadorismo aceitação o mercado não como uma construção burguesa mas uma forma de reagir através de sonhos irreais da saída individual, moldam-se novas palavras, como o empreendedorismo, para antigos conceitos, procurando tirar palavras como classes sociais e luta de classes do léxico do trabalhador.

    Este neoconservadorismo, paradoxalmente mesmo sendo uma reação a uma nova construção capitalista, baseada num relativismo moral de pessoas ligadas ao mercado na ponta superior da cadeia de produção, é uma oposição ao modernismo sem a negação do neoliberalismo. Enquanto o liberalismo do século XIX ou anteriores era revolucionário devido a sua negação ao conservadorismo aristocrático, que se contrapunha ao mercado.

    Agora o neoconservadorismo se contrapõe a modernidade, caracterizada pela busca de novos direitos civis e humanitários, sem negar o caráter utilitário que é apoiado pela sociedade de consumo moderna. Há uma espécie de ruptura entre as estruturas culturais das econômicas

    O neoconservadorismo identifica a modernidade social como licenciosa e depravada, entretanto apesar de romper com a modernidade social pensa em usufruir dos confortos criados sobre a égide desta, aceitando tudo aquilo que o mercado lhes impõe para consumir.

    A luta entre a tentativa de prosseguir nas pautas de direitos civis, com a contraposição do neoconservadorismo, é claramente representada pelo EuNão, que mostra que há um fosso, aparentemente intransponível, entre a pauta identitária que serve magistralmente a todos e a pauta reativa neoconservadora, que nega os efeitos e não as causas de sua miséria.

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador