Expectativa ainda é PT e PSDB no 2º turno, diz Felipe Borba

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Da ABr

O livro 25 Anos de Eleições Presidenciais no Brasil, lançado em julho passado pela Appris Editora, de Curitiba, faz o registro e análise do maior período de estabilidade democrática que o Brasil desfrutou em sua história – um quarto de século em que a população foi chamada para escolher livremente, por sete vezes, o presidente da República.

A publicação conta com artigo de 23 pesquisadores das principais universidades do país (USP, UFRJ, UniRio, UERJ, UFPR e UFMG) e aborda tendências eleitorais, evolução de votos, financiamento de campanhas, horário eleitoral e papel da imprensa. Os textos foram organizados pelos cientistas políticos Argelina Cheibub Figueiredo e Felipe Borba. Por WhatsApp, Borba deu a seguinte entrevista à Agência Brasil.

Agência Brasil: As eleições e campanhas que tivemos desde a redemocratização pós-regime militar são muito diferentes daquelas do passado?

Felipe Borba: Naquele primeiro momento, o voto, o presidente, era eleito com maioria simples dos votos. Juscelino [Kubitscheck] foi eleito com 35% dos votos, o que naquele momento gerou uma crise de legitimidade. A partir de 1989, ano da eleição de Fernando Collor, já é exigida a maioria absoluta dos votos. Caso o candidato não alcance [ao menos, a metade mais um], disputa o 2º turno. A segunda diferença é a expansão do eleitorado. Incluímos os analfabetos como eleitores. Isso ampliou bastante o eleitorado, tornando a dinâmica bastante diferente daquele momento anterior. Por fim, antigamente havia três partidos grandes – o PTB,  o PSD e a UDN – esses dois últimos tinham mais capilaridade. Quando ocorre a intervenção já no governo militar [após o golpe de abril de 1964], o PTB começava a se expandir para o interior. No período após a redemocratização, há uma capilarização maior, a política é nacional e mais fragmentada do que naquele momento.

Agência Brasil: Que impacto teve a adoção do voto eletrônico?

Felipe Borba: O voto eletrônico teve efeito muito forte sobre o percentual de votos brancos e nulos, que diminuíram. A queda aconteceu drasticamente na virada da eleição de 1998 para a eleição de 2002. Em 1998, o voto eletrônico ainda não havia sido adotado universalmente, mas em 2002, sim.

Agência Brasil: Como avalia as mudanças na legislação eleitoral?

Felipe Borba: A mudança na legislação eleitoral para este ano é problemática em alguns pontos. Primeiro, diminuiu muito o período de campanha. E diminuiu muito também a quantidade de minutos da campanha eleitoral no rádio e na televisão. Ao mesmo tempo, ela alterou a regra de distribuição do horário de propaganda entre os candidatos. Até 2014, vigorava a regra na qual até um terço da propaganda era distribuída igualmente entre os candidatos e dois terços proporcionais aos partidos e coligações na Câmara Federal. Na verdade, o que essa legislação proporcionou foi uma cartelização: poucos partidos conseguem ter tempo de televisão. Nessa campanha, teremos [Geraldo] Alckmin [PSDB], o candidato do PT e o candidato do MDB, [Henrique] Meirelles com tempo para poder falar, enquanto os demais candidatos terão pouquíssimos segundos. Cria uma desigualdade muito grande entre os candidatos. Do ponto de vista da democracia é ruim porque impede a discussão do país. Como candidatos com cinco, sete, doze segundos vão se apresentar para o eleitorado e mostrar suas propostas? Do ponto de vista eleitoral, [a nova legislação] dificultou muito a competitividade dos pequenos partidos e, do ponto de vista da democracia, dificultou muito a discussão de políticas públicas.

Agência Brasil:Teremos de fato o fim da hegemonia da televisão?

Felipe Borba: Ainda é muito cedo para dizer que veremos o fim da hegemonia da televisão. A capilaridade da televisão ainda é muito grande. Há pesquisas que mostram que 95% dos brasileiros assistem televisão e boa parte assiste diariamente. A televisão ainda é a principal fonte de informação e de entretenimento. Mas ela começa sim a sofrer competição das redes sociais e das mídias sociais. Até porque, como dissemos, a propaganda na televisão diminuiu. As mídias sociais podem ser uma forma de contrabalancear essa falta de espaço na televisão. O que reforça o peso da televisão é que, em geral, as campanhas eletrônicas tendem a circular dentro de uma mesma bolha. Entre pessoas parecidas, entre pessoas iguais. Não rompem barreiras sociais como a televisão, que entra na casa da pessoa durante o intervalo do programa que está assistindo, e ela acaba vendo a propaganda de um candidato que não estava disposta a ver inicialmente. Com a mídia social, como os grupos de WhatsApp, há mais a tendência de reforçar do que alterar as predisposições.

Agência Brasil:  A eleição que ocorrerá em outubro de 2018 será muito diferente das estudadas por vocês nos últimos 25 anos?

Felipe Borba: Elas são semelhantes em muitos sentidos porque dois partidos polarizaram a disputa. Com exceção da primeira eleição, que tivemos Fernando Collor presidente, de 1994 até 2014, PT e PSDB disputaram a hegemonia política. O que pode ter de novo é que essa polarização pode, enfim, ser enterrada ou, pelo menos sufocada momentaneamente. Existe muita incerteza neste pleito. Até agora, o [Geraldo] Alckmin não conseguiu decolar como candidato; é possível que esse nicho da centro-direita seja ocupado pelo [Jair] Bolsonaro (PSL). Ao mesmo tempo, existe uma incerteza muito grande se o PT estará no 2º turno – dada a condição política do ex-presidente Lula e transferência ou não de votos para o [Fernando] Haddad (vice de Lula). A expectativa ainda é que PT e PSDB possam se enfrentar no 2º turno, pela capilaridade que os dois partidos têm, pela estrutura, pelos recursos de campanha, tempo de televisão, militância política que podem levar ao partido.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Entrevista obsoleta

    Depois de ontem, no TSE, todas essas conversas ficaram obsoletas.

    Agora a discusão é de partir contra o STF, com Lula candidato mesmo, exigindo uma posição: ou apoiam o golpe e deixam a sua digital nele; ou acabam com o golpe, de uma plumada.

    1. Exato

      Assino embaixo. Esses ministros precisam arcar com o ônus da monumental MENTIRA que armaram contra ele.

      Eles ainda tem uma chance: Acatar a liminar da ONU (vide o voto do Fachin) e soltar o maior líder popular da nossa história.

      Estou desconfiada que o Fachin não acredita mais no golpe…Será que ele quer voltar às suas origens? 

      A conferir.

       

      P.S O voto do Fachin deixou os golpistas preocupados, afinal, ele é o relator da lava-jato.

       

  2. A melhor solução será derrotar Bolsonaro no primeiro turn

    Ouvi o jornalista Breno Altman afirmar, em conversa no Fórum Revista com Renato Rovai, que a melhor alternativa eleitoral para o PT no segundo turno da eleição presidencial será enfrentar Bolsonaro. Do meu modesto ponto de vista, esta estratégia é uma temeridade e, no limite, é irresponsável. Se a estratégia eleitoral do PT for realmente esta enunciada por Altman, mais uma vez, na história do Brasil, paulistas estariam reduzindo o país a São Paulo.  Agora, mais uma vez, submeteriam o projeto de nação e submeteriam a Política ao marketing eleitoral. Ainda continuo imaginando que Ciro e Haddad, como defendeu lucidamente Jaques Wagner e outros,  teria que ter sido a chapa para vencer tanto Alckmin quanto Bolsonaro. 

    Com Lula perseguido pela (in)justiça – desprezado por um STF formado majoritariamente por nomeações de governos petistas -, e agora fora da disputa como candidato, quem poderia desbancar Bolsonaro, em primeiro lugar, seria Ciro, que faria o papel “antissistema” muito melhor do que Haddad.  Abrir mão da cabeça de chapa neste caso, sendo o PT o maior partido da esquerda, seria um gesto de grandeza, pois estaria abrindo mão em nome de um projeto programático de centro-esquerda e isto é maior do que o projeto de poder exclusivo do partido.

    Ao inviabilizar a aliança programática com Ciro antes do primeiro turno das eleições, o PT estaria abrindo mão de um segundo turno qualificado, pelo qual disputaria projetos de país com Marina ou com Alckmin?  Ao recusar a perspectiva apontada por Wagner, o comando paulista do PT poderá  até liquidar a fatura com Alckmin no 1o. turno. Em São Paulo, sim, mas não no resto do Brasil. Abrindo a avenida para Bolsonaro crescer e chegar ao segundo turno, o “mito” terá muito mais tempo e espaço para visibilizar  suas propostas econômicas hiper-neoliberais e profundamente anti-liberais no campo dos costumes e,  mesmo derrotado, posará de líder da oposição. Por isso é fundamental derrotar Bolsonaro logo no primeiro turno.

    Depois de ter trocado Marina por Dilma em 2010, de ter demonizado e empurrado Marina definitivamente para a direita em 2014, de ter inviabilizado Ciro em 2018 o PT nos joga agora nos braços de Bolsonaro. Essa é a mais difícil equação. A campanha de Bolsonaro corre nas veias do afeto, mobiliza afetos de ódio, de intolerância, de punitivismos, etc. Uma parte ponderável do país está altamente susceptível a esse discurso, sobretudo nessa vertente supostamente “antissistema”.  Importante o combate que Bolsonaro sofrerá dos movimentos feministas, negros e lgbts e outros movimentos sociais, que polariza com os discursos carregados do ódio de classe, raça, cor, etc. que dominam as relações sociais brasileiras (e não só brasileiras). Mas talvez este combate seja insuficiente. É preciso ampliar mais.

    Alckmin é tipo Hillary Clinton piorada, é totalmente sistema. A vitória sobre Alckmin seria a vitória política e moral sobre o golpe. A luta para derrotar Bolsonaro é outra coisa, é o imponderável. Ele representa algo além do golpe do impeachment. Impulsionado pelo golpismo, Bolsonaro poderá unir do centro à extrema-direita. É perigosíssimo e ninguém sabe onde isto vai parar. 

  3. Difícil o Alckmin crescer.

    Difícil o Alckmin crescer. Ele perde muitos votos para a Marina Silva, Amoeda, Álvaro Dias e o próprio Bolsonaro. Provavelmente quem vai para o 2º turno serão o Haddad e o Bolsonaro. As elieções de 2018 não tem nada a ver com as de 1989. O país está polarizado em dois campos políticos bem definidos: a centro esquerda liderada pelo PT e a extrema direita liderada pelo Bolsonaro. 

    Quanto ao Alckmin, ele representa o projeto político do Temer, que tem  forte rejeição popular. O candidato do PSDB, além de não ter carisma, não consegue se dissossiar do golpe de 2016. Seu partido é visto pela população como um dos responsáveis pela trajédia econômica que vivemos hoje.

  4. Quem vai ganhar é o bug maroto nas urnas eletrônicas sem papel

    E nós aqui discutindo as eleições…

    Pior: se o buguinho falhar, como pode ter falhado em 2014, ou o candidato é alinhado ao golpe e à esta farsa de país ou iremos repetir o 183° golpe neste país. Sacuméquié, né:

    Se ganhar, não leva; se levar, não toma posse; se tomar posse, não governa; se governar, será derrubado…

    Ivamukivâmu!

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