Fukuyama a fim de uma nova história, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Fukuyama a fim de uma nova história, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Não sou exatamente um admirador de Francis Fukuyama. Deixei bem claro isso há 4 ano aqui mesmo no GGN:

“Na década de 1990 a imprensa anunciou exultante que a História havia acabado. Vários pseudo-intelectuais das redações dos jornalões brasileiros se renderam à tese de Francis Fukuyama, segundo a qual  “o advento da Democracia Liberal ocidental seria o ponto final da evolução sociocultural humana e a forma final do governo humano.”

A História, entretanto, seguiu seu curso. Na última década, os EUA, a maior Democracia Liberal ocidental segundo o autor nipo-americano, se transformou num Estado policial que vigia a totalidade das ligações telefônicas e das comunicações virtuais de seus cidadãos. Isto além de espionar de maneira sistemática países adversários e até governantes de potências aliadas.”

Volto a mencioná-lo por uma razão bastante singela. Ontem ele postou no Twitter a seguinte mensagem:

A estratégia do “Cala a boca filho da puta, sabe com quem você está falando”, que era tão comum durante a Ditadura Militar de 1964/1985 voltou a ganhar força no Brasil. Naquele período, porém, o uso desta estratégia verbal de diminuir o adversário/interlocutor e/ou crescer diante dele estava confinada dentro de nossas fronteiras. Atualmente, em razão da popularização da internet e da campanha bestial conduzida por Bolsonaro, ela se espalha mundo afora atingindo indiscriminadamente brasileiros e estrangeiros.

Não reproduzirei aqui os ataques grotescos que o autor nipo-americano sofreu antes e depois de postar essa mensagem no Twitter. Como ocorreu no caso de Roger Waters, os intolerantes apoiadores do mito são incapazes de aceitar algo tão trivial quanto a liberdade de consciência e de expressão ou de compreender e aceitar as opções políticas de qualquer celebridade que ouse criticar o mito.

Esse episódio envolvendo Fukuyama é sintomático. Ele demonstra que os apoiadores de Bolsonaro são incapazes de fazer qualquer distinção entre capitalistas e comunistas. Qualquer manifestação contrária ao chefe da matilha é interpretada como algo inaceitável. O grau de fidelidade que eles devotam ao seu líder é mitológico. A submissão que eles exigem de todos, inclusive dos amigos deles em potencial, é absoluta. Qualquer sinal de resistência é interpretado como traição passível de imediata condenação. Por enquanto eles executam artistas e escritores considerados dissidentes apenas com ofensas verbais. Impossível dizer o que eles farão se chegarem ao poder.

O crescimento do nazismo na Ucrânia e no Brasil provam satisfatoriamente que Francis Fukuyama estava errado. A democracia liberal não conseguiu se tornar o ponto final da evolução sociocultural humana. A história não chegou ao fim, pois nenhuma forma final de governo conseguiu se impor. Os regimes políticos autoritários que Fukuyama considerava ultrapassados estão ressurgindo com força, inclusive nos EUA.

Bolsonaro usa Trump como modelo. Entre ambos, porém, existe um abismo. Fukuyama parece ter notado esse fato crucial que a imprensa brasileira prefere ignorar. Os ataques que ele sofreu no Twitter deveriam acender todos os sinais de alerta, mas não creio que isso irá ocorrer. Os barões da mídia já escolheram ficar ao lado do mito (do messias, na linguagem de um deles).

Comprometida pelo golpe de 2016 e pelo desrespeito à decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU que garantia o direito de Lula de disputar a presidência, a imagem do Brasil será totalmente destruída se Bolsonaro ganhar a eleição. Mas esse é apenas um detalhe diplomático e econômico que o mito é incapaz de compreender. O que causa mais estranhamento é o fato dos principais prejudicados em potencial (os empresários e exportadores) seguirem a manada que pretende jogar o país no abismo.

Os ataques feitos ao autor da tese do fim da história comprovaram o que eu disse há 4 anos. Em razão do comportamento dos eleitores do mito

“…podemos concluir que a tese do fim da História foi definitivamente enterrada. A Democracia Liberal não é mais o paradigma de organização política ocidental.”

Se Jair Bolsonaro ganhar a eleição, nos próximos anos Fukuyama terá uma excelente oportunidade para fazer um estudo de caso a fim de revisar sua tese. Entretanto, não creio que será muito aconselhável ele vir pessoalmente ao Brasil.  

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

4 Comentários

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  1. Temos o nosso Hitler

    Vá falar mal de Hitler naquela época… Esse Boçalbosta é um fascista, psicopata, obtuso, limitado. Há um pequeno grupo de seus eleitores, onde inclui-se nazifascistas, que o defendem até a morte.

  2. O que fazer!
    As forças políticas ou aderiram a Bolso ou ficaram neutras. Que sabemos que é o mesmo que apoiar.
    Não acho bom que Haddad se afaste de Lula.
    Acredito que Haddad tem que denunciar ao todo momento o fascismo e o que o Brasil se transformará. Pois o povo se lembrará qdo tudo começar a acontwcer. Assim se houver pouco de liberdade poderá se recuperar a razão a partir de 2020.
    Acho também que Ciro destruiu sua vida política!

  3. bom post

    Está cada dia mais claro que em volta do Bolsonaro e dos filhos dele tem uma turma que o idolatra.

    Não é algo racional. São os que fazem arruaça e vão continuar.

    Em seguida, vem a turma, muito numerosa, dos que se sentem prejudicados pelo avanço das mulheres, negros, gays etc. O que os americanos chamam ” deixados para trás” do sonho americano.

    O video no canal le monde Diplomatique, ” porque os pobres voltam na direita” ajuda a entender.

    Acho que vale para o Brasil. Sãp os anti-pt, saudosista de um passado.

    Por ultimo, tem aqueles, mais numerosos ainda,  que acham a situação insuportavel em todos os aspectos (como eles não tivessem culpa) e acham que o mito vai resolver os problemas.

    Na bala se necessário!.

    São aqueles que no ato de votar apertaram a tecla F—-SE.

     

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