Haddad pretende implantar política de compliance em campanha de reeleição

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT) pretende implantar um sistema de compliance em sua campanha de reeleição este ano, segundo informações de Sonia Racy no Estadão desta terça (28). De acordo com a coluna, o sistema será desenvolvido tão logo ocorrer a definição da equipe que irá tocar o projeto de recondução ao Paço.

Haddad participou, na semana passada, de um jantar em bairro nobre de São Paulo, em homenagem a sua família. A coluna do Estadão acompanhou o evento social e destacou que alguns convidados desvincularam Haddad do PT. Haddad, por sua vez, fez uma fala dizendo que independente de qualquer coisa, ele deixará um legado para a cidade.

“Ficará um legado”

A noite de Haddad entre amigos, eleitores e curiosos

Do blog da Sonia Racy (Estadão)

Uma turma da São Francisco e da classe artística paulistana compareceu ao jantar que Ernesto e Lili Tzirulnik ofereceram a Fernando Haddad e família na noite da última sexta-feira, em uma cobertura de um edifício de Higienópolis. Não estavam lá, necessariamente, por um apoio à candidatura do petista. Alguns por amizade ao anfitrião, outros por uma certa curiosidade ou até simpatia ao petista menos petista da trupe.

Ao contar que foi um dos fundadores do partido, Tzirulnik refletiu sobre o PT e Haddad. “Percebemos que o PT é igual aos demais partidos. Mas alguns que estão lá, não são. Por isso temos que celebrar aqueles que não são”, afirmou.

O jantar, disse o advogado, especialista na área de seguros, era uma homenagem à família de Haddad, que fez sacrifícios para que Fernando pudesse governar. E cita como exemplo o caso de Frederico, o primogênito de Haddad, que sonhava trabalhar com direito administrativo, mas, “com receio de sujar a água do pai, acabou caindo no meu escritório”.

Lili, a dona da casa, fez questão de usar um vestido azul. Sinal de que não se tratava de um encontro de petistas? “Vou nas manifestações do Vem Pra Rua, mas Haddad é diferente do PT.”

Tinha gente, ali, que disse que não vota em Haddad. Tinha os que disseram ser o atual prefeito sua segunda opção de voto. Foi o caso do pesquisador Danilo Dunas, que até recitou um poema durante o jantar, feito para sua formatura na São Francisco, em 2008. “Voto no Haddad apenas se uma opção pior estiver na iminência de ganhar o pleito. Foi assim nas eleições passadas. Serra e Russomanno no segundo turno não dava. Mas meu voto hoje é da Erundina.”

Os homenageados, ao chegarem no apartamento — onde já estavam quase 220 convidados — não sentaram um minuto sequer nas cerca de três horas em que permanecem na festa, com direito a música dos grupo Seis com Casca.

Uma senhora, dita tucana roxa e que não quis se identificar, contava à coluna que foi ao jantar por curiosidade. Pessimista com a política nacional, dizia em tom de lamento que nunca imaginou torcer para que Temer tivesse êxito em sua gestão “para ver se o País volta a andar”. Já a ativista do ciclismo Renata Falzoni falava a Ana Estela e Lili que não votava no PT desde 1984 por não encontrar na sigla espaço para os anseios verdes que ela tinha desde aquela época.

Política à parte, na sala do apartamento, Haddad conversava com o saxofonista Ivo Perelman. Comentava sobre os talentos artísticos da caçula, Ana Carolina. “Minha filha toca piano e violão e é interessante o modo como ela lida com o som. Já tem um domínio interessantíssimo”, dizia o prefeito ao músico. Na avaliação de pai exigente: “Ela toca um violãozinho bastante razoável” e “vai ser uma pianista justa”.

Do outro lado do salão, os advogados Pierpaolo Bottini e Alberto Toron conversavam em uma rodinha, quando Toron chamou um brinde com os colegas próximos.

A classe política não foi convidada. A ideia, segundo Paulo Teixeira – o único político do salão, além de Haddad – era ser um encontro sem arrecadação (até porque a lei ainda não o permite), sem pedido de votos e sem apoio político. Teixeira esclareceu que estava lá no papel de advogado, mas não hesitou em dizer, brincando, que tentava levar Frederico para a tesouraria da campanha do petista – onde ele é o tesoureiro. Os pais, cautelosos, disseram que ele não terá um papel definido na campanha.

Em outro momento, Haddad explicava a Anna Muylaert a situação das pessoas em situação de rua na cidade. Referia-se ao protocolo sobre como lidar com os moradores de rua e ressaltou o trabalho que é “inaugurar” São Paulo todos os dias – referindo-se à questão de limpeza e zeladoria. “Hoje mesmo, sobraram 1.200 vagas na tendas”, ressaltou, sobre os espaços que a Prefeitura disponibilizou na semana passada para abrigar os moradores de rua durante as noites frias da cidade.

À coluna o petista, monossilábico, não quis comentar o fato de haver pessoas  no jantar que o desvinculam do PT. Restringiu-se a dizer que “havia todo o tipo de gente no encontro”. Confirmou que deseja implantar uma política de compliance em sua campanha. E que ela será feita após chegar a uma definição da equipe que irá tocar o projeto e de como se dará esse monitoramento.

Já na hora da fala aos convidados, agradeceu aos anfitriões e lembrou outra recepção organizada por Tzirulnik, quando lançou a campanha em 2012… Brincou com o fato de, mesmo já tendo cumprido praticamente todo o mandato, conseguir hoje estar melhor nas pesquisas eleitorais do que quatro anos atrás. “Naquela ocasião eu conseguia ter menos intenção de votos que hoje”, disse, provocando o riso dos ouvintes.

Sem pedir votos, mostrou convicção na defesa de sua gestão, ao dizer que “independentemente de qualquer coisa, ficará um legado”. E ressaltou um vício típico de quem é professor: “Eu ponho muita fé no argumento. E, como político, na paixão pelas ideias que defendo.”

Quando faltavam poucos minutos para a meia-noite, Haddad pediu a Ana Estela para irem embora, pois teria compromisso no sábado de manhã. O anfitrião não deixou que saíssem sem que, antes, Nelson Ayres e Ulisses Rocha tocassem para o casal — que, desta vez, sentou-se para curtir a homenagem.

Meia hora depois, o casal partiu. No dia seguinte, o Haddad faria reunião para tratar de seu programa de governo.MARINA GAMA CUBAS

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

11 Comentários

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  1. Ser petista, que nāo ė o meu

    Ser petista, que nāo ė o meu caso, ė outra coisa. Linda presença do Haddad nesse ambiente conservador. Acho que vou virar petista, são pessoas muito especiais.

  2. E tem quem reclame do André

    E tem quem reclame do André quando faz coluna social. A dele você termina de ler mais sábio, essa aqui foi total perda de tempo. Sem pé e nem cabeça. 

    1. Prezado Jaime:

      A matéria tem pelo menos duas informações importantíssimas: 

      1. Sistema de compliance na campanha à reeleição – Traduzindo, cada centavo que entrar terá de ter rigorosa origem e destino documentados de tal forma que nenhum tribunal do mundo conteste, nem o Gilmar Mendes.Vc sabe como age um departamento de Controles Internos/Compliance (procedimentos de acordo com a norma) numa instituição financeira, numa grande empresa? Isso é inédito, vai inaugurar um novo tempo nas campanhas (aquela encomenda de 5 milhões de santinhos à gráfica que caíram do céu, ninguém sabe quem pagou, por exemplo);

      2. Local da festa – Uma cobertura de um apartamento em Higienópolis, onde cabem 220 pessoas. Deu para sacar? Por que alguém faria isso, e chamaria pessoas que não podem sequer com a cor vermelha? Será porque Haddad seria palatável para essas pessoas? Uma opção ao show de horrores que virá? E que o anfitrião gostaria de contar com o prefeito por mais 4 anos? Caso contrário, porque faria tamanho regabofe? Acompanhe os mapas de votação no dia seguinte e veja de onde virão os votos do Haddad. Haverá surpresas. 

      1. Fernando, agradeço os

        Fernando, agradeço os esclarecimentos. Mas:

        1. O estilo da matéria foi supérfulo, mostrou gente rica se comportando como gente rica. O autor não conseguiu mostrar algo realmente interessante, só o esperado. A preferência pelo PSDB (que para eles não está no governo federal) ou a opção pelo “exotismo” com a declaração de voto na Erundina não é novidade nenhuma, pelo contrário, consolida o esteriótipo. 

        Em suma, sem ter estado lá eu poderia ter escrito isso tudo como ficcção com base no meu conhecimento do inimigo.

        2. A curta meção ao compliance é mera jogada de marketing, um chamariz para manchete. Nem o autor do texto lhe deu mais importância do que as aulas de piano da Ana Carolina. Outros candidatos terão seus slogans para justificar suas campanhas limpas.

        Não nego que seja importante um modelo eficiente de gestão e controle das doações, mas nos dias de hoje, com a mídia que temos, esse compliance do Haddad vai ser tão relevante quanto forem a transparência dos adversários. Se o PSDB não quiser melhorar a gestão financeira da candidatura Dória apostando na amizade com o TRE-SP, então não existirá meio de comunicação interessado em dar destaque a forma como Haddad cuida bem do seu dinheiro.

        Vemos esse comportamento com o Orçamento de São Paulo. Os indicadores de Haddad são melhores em todos os sentidos e num cenário onde sabotaram seu IPTU Progressivo, temos crise econômica e mesmo assim São Paulo está saudável e ainda conseguiu inédito Grau de investimento Internacional. É esse o mesmo tratamento que o compliance do Haddad terá.

        1. Jaime

          Por causa de um compromisso, vou complementar mais tarde, conheço profundamente quem estava numa espécie de compliance informal na campanha de 2012, que passou tranquilamente pelo TRE, pelo que depreendi, agora será uma equipe formal, parece que o PT acordou para o fato de os golpes se darem via judiciário, daí não deixar margem a qualquer tentativa de manobra. 

          1. Não duvido da eficácia da

            Não duvido da eficácia da forma, Fernando. Mas além de muito pouca informação útil neste texto também lembremos que basta  um cara qualquer inventar uma suspeita que não vai ter transparência que salve as contas do Haddad. A mídia já as terá condenado e Giar que preside o TSE as colocará em suspeição. Roteiro previsível usado contra Dilma  

      2. Ainda bem que voce explicou o

        Ainda bem que voce explicou o que é compliance. Fui lendo o texto na expectativa de entender o que era esse bicho e o autor nao se da ao trabalho de esclarecer, certo de ser um termo tão comum quanto feijão. Por ai ja se pode ter uma ideia do perfil desse reporter.

    2. Jaime,
      Vá ao dicionário,

      Jaime,

      Vá ao dicionário, entenda o significado de cumpliance. Fiz isso, e o sentido da matéria, passou de sem importância a interessante.

  3. Compliance – Revista Brasileiros, março/2016

    Gigantes no divã

    Encurraladas pela Lei Anticorrupção e apavoradas com a Operação Lava Jato, as maiores empresas com atuação no Brasil gastam milhões para prevenir, reeducar e fiscalizar funcionários contra práticas ilícitas

    30/03/2016 9:26, atualizada às 30/03/2016 14:34 
     À prova de fraude? -  Ronaldo Fragoso trabalha há 25 anos implantando setores de compliance em empresas preocupadas em se proteger da corrupção. Foto: Luiza Sigulem

    Ronaldo Fragoso trabalha há 25 anos implantando setores de compliance em empresas preocupadas em se proteger da corrupção. Foto: Coil Lopes

    Foi durante um evento com empresários e membros do Judiciário que um procurador da Lava Jato discorreu sobre os efeitos da Lei Anticorrupção, em vigor no Brasil desde 2013. “Ele dizia que altos funcionários tendiam a se arriscar em algum ato ilícito quando percebiam que o benefício da corrupção compensava os riscos da pena”, recorda-se Ronaldo Fragoso, o sócio-líder de consultoria em gestão de riscos da Deloitte no Brasil, uma multinacional com 400 funcionários no País dedicados a investigar e prevenir atos de corrupção dentro de empresas.

    Se de um lado a lei passou a exigir das companhias uma tonelada de novas regras, de outro a Operação Lava Jato provocou uma crise de consciência, principalmente entre as gigantes de capital aberto. Sob o temor de assistir a um dos seus funcionários algemados em rede nacional e de quebra perder dinheiro com a fuga de investidores, a opção foi colocar a mão no bolso e gastar até alguns milhões para criar o que o mercado chama de compliance, um setor inteiro anticorrupção. Todo mundo entra na análise: do revendedor ao alto executivo.  Na Petrobras, cerca de mil pessoas são investigadas internamente. Envolvida na Laja Jato, a empreiteira Camargo Corrêa iniciou um programa de delação interna para encorajar seus 15 mil funcionários a colaborar com as investigações da Polícia Federal.

    Uma pesquisa da Deloitte com 103 empresas mostra os efeitos da lei e da operação. No ano passado, 65% delas já tinham algum programa do gênero. Eram 30% em 2013. Não é para menos. A desvalorização de uma empresa envolvida em um escândalo de grandes proporções pode chegar a 90% de seu valor. “A corrupção é como um câncer mesmo. Se negligenciar, ele se espalha pelo corpo e te mata.”

    Brasileiros – O que é compliance e como esse termo nasceu?
    Ronaldo Fragoso – Compliance significa estar em conformidade com determinada regra, que pode ser de natureza externa, como uma lei, ou uma orientação da própria empresa. O conceito já está nos mercados maduros há mais de 40 anos, quando os americanos adotaram o FCPA (Foreign Corrupt Practices Act), que serviu de norte para a nossa Lei Anticorrupção. No início, essas regras ganharam fama por penalizar funcionários corruptos até com prisão. Isso foi evoluindo até a aprovação da Sarbanes-Oxley (aplicada a todas as empresas em território americano, mesmo estrangeiras). Essas regras afetaram principalmente as empresas de capital aberto, que perceberam que não era mais possível se adequar a regras externas se a empresa não contasse com pessoas treinadas e mecanismos próprios de avaliação.

    E quando esses departamentos chegaram ao Brasil?
    Eles chegaram primeiro em 2002, depois da Sarbanes-Oxley, mas principalmente após a aprovação da Lei Anticorrupção. De três anos para cá, várias empresas, e não só as de capital aberto, perceberam que também poderiam ser afetadas pela legislação, principalmente as que se relacionam com governos. Foi um efeito manada.

    De que forma as empresas iniciaram a readaptação?
    Para começar, inicia-se uma discussão interna e treinamento de funcionários. Estruturalmente, cria-se canal de denúncia, um comitê de governança corporativa, como auditoria interna e gestão de risco.

    A que tipo de empresa o compliance é aconselhável?
    Aquelas com faturamento de pelo menos R$ 100 milhões por ano e muitos funcionários. Quanto maior a empresa, mais complexo o programa. Já uma microempresa só terá essa preocupação quando ganhar empregados. Mas como a lei vale para todos, pelo menos o dono e o gestor precisam ter um olho sobre isso.

    E como essa nova cultura muda a percepção dos funcionários?O interesse aumenta quando eles veem algum empresário conhecido sendo preso. “Significa que alguém na minha empresa pode ser preso amanhã, até meu presidente?” E tem histórias de pessoas que eles conhecem que acabaram presas, indiciadas. Isso cria um interesse coletivo e a necessidade de as empresas tomarem providências eficientes.

    As redes sociais e a “viralização” de denúncias de corrupção aceleram o combate aos desvios em uma empresa?

    A velocidade da informação na rede social cria preocupação muito maior. Se antes as companhias eram mais descuidadas, hoje elas sabem que estão sujeitas a uma exposição gigantesca. O que antes demoraria meses até que a população soubesse, hoje leva minutos. A polêmica começa nas redes sociais, vai para o jornal, televisão, rádio. A gente mesmo tem um serviço chamado brand protect, que monitora a percepção das marcas de acordo com o que se fala delas nas redes.

    O gigantismo das companhias no mundo globalizado facilita a prática de corrupção?
    A cultura empresarial é que precisa mudar: o exemplo vem de cima, de maus administradores. Isso contribui muito para o comportamento da companhia. Agregue a isso uma empresa complexa, que atua em centenas de países, tem relacionamento com governos de tudo quanto é lugar… Mas a forma como a empresa lida com a corrupção é mais determinante do que o tamanho dela.

    Essas práticas são mais frequentes no alto ou baixo escalão?
    Tem de separar fraude da corrupção. Fraude é uma vantagem pessoal em uma área de suprimentos, vendas, em nível operacional. Ali os montantes não são tão relevantes. Corrupção envolve gente de alto escalão ou uma cadeia maior de pessoas e atinge grandes valores, contratos, licitação. Precisa de mais gente porque a complexidade do processo é maior.

    Qual o papel dos executivos na conscientização dos funcionários?
    O comportamento deles é preponderante. Essas pessoas são o exemplo. Se elas aceitam determinadas negociações, conversam com sua equipe sobre como burlar regras, esse processo se dissemina e a empresa começa a entender que isso pode ser feito, e dificilmente você consegue corrigir.

    Quando o aconselhamento é melhor do que a punição? Segunda chance é permitida a um funcionário comprovadamente corrupto?
    A penalidade está diretamente ligada ao fato. Se a empresa tem uma política que proíbe dar ou receber presentes com quem negocia e alguém burla essa regra, recomenda-se uma advertência, suspensão ou pena específica. Diferente de quando há uma denúncia de corrupção em um contrato, em que aquela pessoa tem relação de parentesco com a empresa contratante. Nesse caso não há nada que se possa fazer a não ser desligar o funcionário, inclusive por justa causa se a regra da empresa for clara a esse respeito. É demitir, buscar reparação na Justiça e recuperar os danos para mostrar que se está atuando.

    Quanto tempo pode levar para recuperar uma empresa que passou por um grande escândalo?

    A desvalorização de uma empresa chega a 50%, 80%, às vezes 90% de seu valor. Para recuperar, pode demorar um, dois, cinco anos. Mas tem caso que você não recupera nunca. Em algumas, cria-se uma bola de neve. Acaba entrando em recuperação judicial e fecha sem recuperar seu valor. Já outras reagem rapidamente e saem da crise em seis meses, um ano. A corrupção é como um câncer mesmo. Se negligenciar, ele se espalha pelo corpo e te mata.

    E por que é melhor terceirizar esse ser­viço?
    Quando uma empresa sofre um processo desses, ela não consegue fiscalizar e criar regras de controle interno utilizando as mesmas pessoas. Ela precisa de auxílio externo, o que traz conforto para a administração, mercado e órgão regulador, que às vezes exige a contratação de uma empresa externa para garantir a independência do trabalho.

    E quanto custa para implantar um programa desses?
    Pode ficar entre R$ 100 mil e R$ 200 mil, e depois amplia. Tem empresa que gasta alguns milhões, mas depende da complexidade. Agora, quando se trata de uma companhia global já com problema grave, como Siemens e Volkswagen, são centenas de milhões, até bilhões de dólares em novos programas, novo pessoal, mas esses são casos extremos.

    Qual o tamanho do prejuízo que o com­pliance pode evitar em uma empresa que não esteja envolvida em corrupção?
    As fraudes e a corrupção causam perdas de receita que podem chegar a 5% do faturamento. É preciso notar que a vantagem financeira da corrupção acaba se perdendo com o tempo.

    No Brasil, a procura aumentou depois da Lava Jato?
    É um fato. Uma quantidade muito grande de empresas colocou essa pauta nas reuniões de conselho e diretoria executiva. Sou chamado para explicar quais são as boas práticas, os passos que precisam ser dados, quais as áreas críticas, exemplos a serem seguidos… Virou assunto principalmente nas empresas reguladas, do mercado aberto, como energia, Telecom, setor público. Elas têm uma preocupação maior porque devem satisfação tanto ao mercado quanto ao órgão regulador. Elas têm de garantir que seus mecanismos respondam a requisitos do Ministério Público, CGU (Controladoria-Geral da União), Polícia Federal, Banco Central.

    E como as companhias envolvidas na operação tentam se readequar?
    Elas estão refazendo ou fortalecendo sua estrutura de compliance para, no final do dia, preservar o que vale: gerar e proteger valor para seus acionistas. A Siemens e a Volkswagen admitiram que suas estruturas não eram suficientes e várias delas passaram a investir nisso para reconquistar a confiança dos investidores.

    Em que proporção os setores de compliance vão crescer no Brasil nos próximos anos?
    Eu diria que de 30% a 50% em relação ao que se tem hoje. Falo por nós mesmos. Tivemos um incremento em mais de 50% de nossos profissionais nos últimos dois anos. As empresas terão de se movimentar nessa proporção. Se ela tem três pessoas dedicadas à área, vai precisar dobrar. Mas se tem dez, vai contratar uma ou duas.

    O senso comum diz que “o Brasil é um país mais corrupto do que a média”. A atuação da Delloite no exterior comprova essa tese?
    Nós usamos um índice independente de corrupção global que mostra o aumento da percepção de que a corrupção piorou no Brasil. Algumas teorias dizem que isso sempre aconteceu, mas a gente não via. Minha sensação é que, nos últimos anos, houve aumento de casos, sim. Agora, houve mais investigação também. Nós vamos conviver com isso por alguns anos ainda. Ficou parecendo que estava tudo bem nos últimos anos, mas, de repente, não estava. Agora parece que toda empresa é corrupta, todo governo é corrupto, e não é. Na verdade, não estava tão bem antes, nem está tão ruim agora.

    E é possível apontar um país em que as práticas empresariais sejam notadamente honestas?
    Não existe nenhum país 100%. Os índices dos países nórdicos e do Canadá estão bem acima do nosso. Eles são considerados mais honestos em diversos aspectos, como atravessar na faixa e só quando o sinal permite. Coisas que aqui a gente ainda vai demorar um tempo para assimilar. Mas isso não quer dizer que não haja corrupção nesses lugares. Sempre existiu e sempre vai existir. O que se pode fazer é reduzir a corrupção.

    Como a Deloitte lida com os casos de corrupção fora do Brasil?
    Temos um centro de governança corporativa global em que discutimos essas práticas no mundo todo. O que está acontecendo nos Estados Unidos, Londres, Japão, França, no Brasil, no Chile. O nosso modelo de lei anticorrupção é muito parecido com a lei norte-americana. Essas coisas conversam entre si.

    A politização da Lava Jato não pode prejudicar o futuro de algumas construtoras, trazendo riscos para o País?
    Todos vão sofrer, seja a Petrobras, sejam as construtoras. Mas acredito que elas estão fazendo a lição de casa para restabelecer a confiança perdida. Não acho que será uma catástrofe que vá matar as empresas. A Lava Jato já cria mudanças internas. Será um fator determinante para o futuro do País ao criar uma consciência coletiva sobre a importância de inibir a corrupção.

    Link curto: http://brasileiros.com.br/7e5N1

     

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