Maia, Temer e Doria em Davos revela ansiedade eleitoreira, por Mathias Alencastro

Mathias Alencastro: a passagem dos três na estação de inverno suíça tem tudo para terminar num belo espetáculo de cacofonia institucional
 
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Jornal GGN – O Brasil nunca esteve tão desprestigiado no mundo desde a era Collor, avalia o cientista político Mathias Alencastro, com a movimentação do chamado centro político brasileiro em participar do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. O presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente da República Michel Temer (MDB) e o prefeito de São Paulo João Dória (PSDB) colocaram o evento em suas agendas, mas Alencastro observa que os três não possuem razões concretamente técnicas para participarem, apenas eleitorais. E isso está cada vez mais claro para o mundo e vai prejudicando a imagem do país. O governador e pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB-SP) também participará, mas foi convidado porque o Estado de São Paulo irá sediar a rodada regional do Fórum Econômico na América Latina. Acompanhe a seguir a coluna de Alencastro publicada na Folha de S.Paulo.  
 
Folha de S.Paulo
 
Presença de Maia, Temer e Doria em Davos revela ansiedade eleitoreira
 
Mathias Alencastro
 
Diante do ocaso das instituições multilaterais, que perderam proeminência desde o apagão diplomático dos EUA, o Fórum Econômico Mundial de Davos, até pouco tempo atrás tido como um mero salão de negócios, vem se tornando um evento eminentemente político.
 
Na edição do ano passado, Xi Jinping elevou a China ao status de defensora do livre mercado. Agora, Emmanuel Macron pretende posicionar a União Europeia, fortalecida pelo recuo da direita ultranacionalista, como principal liderança do chamado mundo livre.
 
O Brasil estará representado por três potenciais candidatos à presidência oriundos de três partidos do centro. A julgar pelas encrencas subjacentes às pretensões de Michel Temer, Henrique Meirelles e João Doria, a passagem dos três na estação de inverno suíça tem tudo para terminar num belo espetáculo de cacofonia institucional.
 
A presença de João Doria na comitiva gera perplexidade. Durante o seu primeiro ano de mandato, o prefeito de São Paulo viu o seu enorme capital eleitoral derreter em razão de uma série de viagens irrelevantes para os interesses da cidade. Ao se lançar na primeira oportunidade do outro lado do Atlântico para participar de um evento no qual as questões urbanas são relegadas a segundo ou terceiro plano, Doria demonstra incapacidade de aprender com os erros do passado.
 
Temer vai, mais uma vez, constatar seu isolamento diplomático. O governo Macron, por exemplo, orientou os diplomatas a manterem as relações com o presidente no mínimo protocolar. Quem deve ficar nos holofotes é Meirelles, que vai penar para emplacar a narrativa de retomada econômica. A obsessão do governo com os rateios da economia doméstica vai reforçar a impressão entre os interlocutores que a décima economia do mundo abandonou qualquer pretensão de pesar nos principais debates globais.
 
Num momento em que as ambições eleitorais tendem a contaminar cada vez mais o discurso oficial, a comitiva terá a difícil missão de evitar novos embaraços. Outro pré-candidato do centro, o Presidente da Câmara Rodrigo Maia, ousou uma analogia grotesca entre escravidão e Bolsa Família em Washington, na semana em que os americanos celebram Martin Luther King. Um absurdo se considerarmos que a Índia do governo ultraliberal de Narendra Modi, uma das estrelas de Davos pela sua pujança econômica, está prestes a anunciar um programa de renda mínima abertamente inspirado na política pública brasileira.
 
Pelo seu histórico, o Bolsa Família é muito mais de que o legado de um governo contestado; é um patrimônio de Estado. Ao denegri-lo para agradar o seu eleitorado mais reacionário, Maia comprometeu a imagem de um poderoso instrumento de soft-power.
 
Depois de assumir o poder em condições polêmicas, ver-se envolvido em inúmeros escândalos e flertar com o ridículo nos deslocamentos internacionais, o centro corre o risco de arranhar ainda mais a imagem brasileira por causa da sua ansiedade eleitoreira. E confirmar o que muitos pensam: o Brasil nunca esteve tão desprestigiado no mundo desde a era Collor. 
 
Redação

7 Comentários

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  1. Para quem quer vender uma cidade, uma unidade da federação,

    quiçá um pais inteiro, Davos é o lugar certo onde encontrar compradores. Como é na Suiça, dá até para acertar os fees diversos e informar os IBAN’s das contas no local e na hora.

  2. Antes de 1930 o Brasil era um

    Antes de 1930 o Brasil era um país rural.

    Depois de Getúlio Vargas o Brasil havia começado a se tornar um país urbanizado e industrializado.

    Getúlio, contudo, era um homem modesto.

    Ele nunca foi à Europa.

    Todos os pilantras que pretendem destruir o legado getulista adoram vagabundear na Europa á custa da população. 

    Isso explica tudo.

    Além de vira-latas que sonham ser sofisticados, eles sairão da história antes de entrar na vida política brasileira. 

  3. Essa Folha de São Paulo Não Perde Sua Temeridade Mesmo

    “Outro pré-candidato do centro, o Presidente da Câmara Rodrigo Maia…”

    Centro?

    Só falta publicarem algo que insinue que o Lula é da Extrema Esquerda!

     

     

  4. mas

    o que que esse penduricalho de chaveiro dória foi fazer em Davos?

    O conde a gente sabe, o chorão e o cambono careca, também,

    mas dória?

    Bom, um palhaço pra animar a festa  é sempre benvindo.

    Quem sabe dessa vez  o Macron dê um tchauzinho pra ele.

    Pode até rolar uma selfie.

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