Mais algumas impressões sobre as eleições, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Mais algumas impressões sobre as eleições

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Em 2014 as abstenções, votos nulos e brancos somaram 29% dos eleitores. Esse percentual se manteve inalterado, mas o número absoluto de “não votos” foi maior que o de 2014. Naquele ano haviam 141.824.607 eleitores, em 2018 esse total subiu para 147.302.357.

Nos últimos quatro anos a imprensa e o Judiciário demonizaram a política. Mas esse fenômeno não foi capaz de desmobilizar eleitoralmente a população brasileira mais do que ela já estava desmobilizada.

O espaço para ambos candidatos presidenciais crescerem é limitado. Mas os limites impostos à candidatura de Jair Bolsonaro são maiores do que os de Fernando Haddad. Além de abocanhar uma parte dos eleitores de Ciro Gomes e os eleitores de Boulos, o candidato do PT tende a crescer mais entre os eleitores que preferiram adiar a decisão para o segundo turno. Mas isso vai depender da estratégia que será utilizada.

Na ótica em que fui pegar meus óculos, a vendedora lamentou que teremos que votar mais uma vez. “Ele já teve votos suficientes e deveria ser o presidente”, disse ela. Quando mencionei o percentual da votação de Bolsonaro em relação ao total de votos válidos a moça ficou calada. Ela é empregada registrada e parece não saber que o candidato do PSL pretende cassar direitos trabalhistas e previdenciários dos operários.

Bolsonaro tem uma grande rejeição e nenhum espaço para crescer no eleitorado do PT. Fernando Haddad tem uma baixa rejeição e algum espaço para tirar votos do adversário. Se conseguir fazer seu discurso em favor dos direitos trabalhistas e previdenciários chegar aos eleitores de Bolsonaro o PT ganha a eleição com facilidade. Caso contrário, vitória de Haddad é incerta ou será bastante apertada.

Chamou atenção esse ano o fato de vários eleitores de Bolsonaro terem filmado ou fotografado seus votos e mostrando suas armas de fogo. Os votos deles podem ser anulados pela Justiça Eleitoral. A opção pela violência homicida não deve ter espaço numa democracia.

As urnas não existem para purificar a sociedade, nem para possibilitar o extermínio dos adversários. As eleições são realizadas para dar a cada grupo político o espaço público merecido em razão dos votos que conseguiu obter pacificamente. Finda a eleição, os diversos grupos são obrigados a coexistir.

O discurso de Bolsonaro, contudo, parece excluir a possibilidade de coexistência. Logo depois do TSE anunciar o resultado do primeiro turno, o candidato do PSL levantou suspeitas sobre a apuração e disse que não tolerará nenhum tipo de ativismo depois que tomar posse.

A atividade política permanente é uma característica dos regimes democráticos. As eleições não definem o cenário político de maneira definitiva e imutável. Elas apenas conferem legitimidade temporária àqueles que irão exercer os cargos eletivos.

Além disso, o ativismo é garantido tanto pela CF/88 quanto pela Declaração Universal dos Direitos do Homem quanto pelo Pacto de São José. Nenhum presidente, por mais votos que tenha tido, irá conseguir silenciar a totalidade da população. Se tentar reprimir os grupos políticos derrotados Bolsonaro conseguirá apenas aumentar a resistência às suas ambições tirânicas.

O autoritarismo de Bolsonaro fica ainda mais evidente se levarmos em conta que ele também desautorizou o ativismo judicial. Uma coisa é criticar o excesso de politização do judiciário (algo que eu mesmo tenho feito), outra muito diferente é um presidente afirmar que irá interferir no funcionamento dos outros poderes autônomos da república.

É lamentável que o candidato mais votado no primeiro turno tenha dito que se for eleito não tolerará qualquer tipo de ativismo. Ao ameaçar os cidadãos que pertencem aos partidos políticos adversários do PSL e insinuar que não tolerará dissidência no Poder Judiciário, Jair Bolsonaro demonstra que ignora ou, pior, que despreza totalmente, os limites impostos ao chefe do Poder Executivo pelo art. 85, II e III, da CF/88.

Causa estranhamento a imprensa ter reproduzido o discurso de Bolsonaro sem qualquer tipo de advertência. Essa predileção por um candidato autoritário custará caro aos próprios veículos de comunicação. Afinal, a intolerância política de Bolsonaro irá necessariamente leva-lo a censurar os jornalistas caso eles noticiem as medidas repressivas que ele adotar para silenciar os adversários e o Judiciário.

Uma última observação se faz necessária. A violência política dos eleitores do PSL está se espalhando e já se tornou letal https://extra.globo.com/casos-de-policia/mestre-de-capoeira-morto-com-12-facadas-apos-dizer-que-votou-no-pt-em-salvador-23139302.html?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=Extra. Não vi Jair Bolsonaro desautorizar assassinatos políticos em seu nome. Portanto, ele tem sangue nas mãos e deve ser imediatamente desqualificado pelo TSE.

O segundo turno é desnecessário: Haddad já pode ser declarado presidente do Brasil. Todavia, a inabilitação eleitoral de Bolsonaro em razão da violência política por ele estimulada ou não desautorizada admite outra hipótese. Em tese, seria possível Ciro Gomes solicitar ao TSE um segundo turno entre ele e o candidato do PT.

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

9 Comentários

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  1. Falta coragem ao TSE e STF para desqualificar o candidato

    Eles temem o eleitor armado do capitão mais do que o eleitor esquerdista, que é um cordeirinho na fila do abate. Por isso não o declaram culpado por racismo no STF, o que o tornaria ficha-suja e inelegivel.

  2. bom post

    Concordo com sua observação.

    Só não concordo com por ultimo paragrafo.

    O TSE  nada fez para diminuir as fake news. Tudo para ingles ver. NADA fará para enquadrar o candidato fascista.

    Nem sequer punir as tv que deram espaço irregular ao Bolsonaro. Isenção ZERO.

    Por outro lado, na imprensa continua a manipulação, nem com o perigo da extrema direita ela faz uma autocritica.

    Para eles só o PT tem que fazer a autocritica.

    Leio nos jornais que uma jornalista bulgara, foi violada e assassinada. Um jornalista saudita desaparece no consulado na Turquia sem deixar vestigios. O mesmo vai acontecer aqui. Os fascistas vão ter um acerto de contas com a imprensa.

    Não tenham duvidas disso!

     

    1. Ciro só irá para o segundo

      Ciro só irá para o segundo turno se Bolsonaro for desqualificado pelo TSE. A hipótese de renúncia de Haddad simplesmente não existe. 

      Se prevalecer o quadro atual você tem várias opções: votar em Haddad, votar no Bozo, votar em branco, anular o voto ou não ir votar. Você não poderá votar no Ciro.  

  3. Em tese

    Mas a realidade surrealista do Brasil é o que li ontem sobre a imprensa nacional esta discutindo se Jair Bolsonaro pode ser catalogado como candidato de extrema-direita. Enquanto isso, a imprensa mundial ja deu o veridito e clama por socorro para o Brasil!

    1. A imprensa brasileira apoiou
      A imprensa brasileira apoiou o “golpe de estado de 2016” e escolheu chama-lo de “processo regular de Impedimento”. Não deveria causar estranhamento a nova dúvida cruel da imprensa a respeito de Bolsonaro ser ou não de extrema direita. Me parece evidente que os barões da mídia parecem acreditar que poderão conviver pacificamente com um dos algozes de Dilma Rousseff. Pano rápido… quando chegaram ao Brasil os portugueses se depararam com os índios. Eles tinham ou não alma? Essa dúvida teológica foi resolvida com a criação da categoria “criaturas de deus”. Eles não eram filhos de deus, como os cristãos. Portanto, caso não se submetessem à conversão (e ao poder colonial) os índios poderiam ser escravizados e exterminados. Como é que os invangélicos do Bozo chamam aqueles que não são invangélicos: “criaturas de deus”.  A dúvida da imprensa (o Bozo é ou não de extrema direita?) é apenas uma forma diferente de colocar outra dúvida (os brasileiros pobres e eleitores do PT podem ou não ser exterminados?).

       

  4. Surrealismo
    Estamos discutindo desqualificação do candidato que, segundo a mídia, já está negociando ministérios com compadres. Eles estão certos da vitória, subestimando a capacidade de reação da esquerda. Pode ser a oportunidade surreal.

  5. Eleições multi-fraudes

    Essas eleições podem ser chamadas de tudo, menos de democráticas e legítimas.

    Antes de mais nada: Eleição sem Lula é fraude!

    O Bozo disseminou antes do primeiro turno que não aceitaria perder, que isso seria fraude. As esquerdas e os “democratas” cairam de pau, dando a entender que não havia tal possibilidade. Ou seja, legitimaram o resulltado da votação eletrônica impossível de ser auditada.

    No dia das eleições, milhões de bolzominions robóticos espalharam notícias falsas de fraudes eleitorais pelo whatsup. Ou seja, o bozo estaria sendo vítima de fraudes. 

    Tudo estratégia de guerra híbrida diversionista para que as fraudes cibernéticas que os próprios nazifascistas promoveram e delas se beneficiaram fossem protegidas por uma cortina de fumaça, como as muitas que temos visto nesse amplo âmbito de falsidades.

    Nazifascistas não têm escrúpulos!

    Enquanto isso, intelectuias bem pensantes das “esquerdas” se apressam em analisar os erros do PT. 

    Da noite para o dia, os votos no bozo subiram acima da margem de erro de inúmeras pesquisas, a exemplo dos inacreditáveis, literalmente, 10 pontos acima da independente promovida pelo BR 247, cujos levantamentos se encerraram na tarde do sábado, portanto, menos de 15 horas do início da votação?

    Podem me chamar de “antidemocrático” e adepto de teorias da conspiração.

    O fato é que o STF está sob intervenção militar e ninguém me convence de que não estaria havendo FRAUDE cibernética nessas eleições.

    Apenas na véspera da votação as forças da repressão, que tanto alardearam que iam fazer no combate às fake news tirou 35 páginas do ar, após o estrago feito, mesmo assim,apenas  por solicitação do PT. As aparências dos controladores estatais das fake news foram mantidas e os intelectuais bem pensantes das esquerdas exaltaram.

    Postagens de matérias no facebook foram repetidamente censuradas. Aqui mesmo nesse GGN inúmeras foram as denúncias dos leitores. Como paliativo e até agora sem nenhuma posição contundente da esquerda bem pensante, apenas foi sugerido a publicação de links ao invés de compartilhamentos.

    Mas, como é possível em um dia a Dilma estar em primeiro lugar para o senado e no dia seguinte perder em quarto lugar?

    Como é possível um candidato que mal aparecia nas pesquisas ganhar o executivo em MG?

    Como é possível o Eduardo Suplicy estar em primeiro lugar para o senado em um dia e no dia seguinte perder em quarto lugar?

    A história da multinacional Smartimatic, detentora do código fonte do sistema utilizado pelo STF (https://www.youtube.com/watch?v=vm48DDvKtIo), tem seus frêmitos:

    https://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-40808557

    https://en.wikipedia.org/wiki/Smartmatic#Relationship_with_Venezuelan_government

    Sobre as urnas:

    1- conseguiram, esses profissionais, fazerem ataques ao sistema de inicialização da urna; 2) conseguiram gerar um boletim de urna falso; 3) consweguiram, também, obter a chave criptográfica da urna; 4) conseguiram, ainda, e o que é o mais grave – recuperar a ordem do RDV(Registro Digital do Voto) que é o que garante o sigilo do voto. e. portanto, conseguiram identificar quel era o primeiro, o segundo. o terceiro voto de cada um dos eleitores;

    https://www.youtube.com/watch?v=brfm4G1DGHQ

    E para piorar, mais esse, 

    https://www.youtube.com/watch?v=TncaJCTmKXM

     

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