Marina, jogadora de pôquer, por Wanderley Guilherme Santos

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Wanderly Guilherme Santos, na Carta Maior

Marina Silva, jogadora de pôquer
 

Marina Silva é a única candidata que nada tem a perder nesta eleição. Disputando a vice-presidência não será dela automaticamente a derrota de Eduardo Campos. Mas em propaganda futura seus seguidores creditarão a seu prestígio todos os votos dados a ele. Atribuindo o fraco desempenho de seu candidato nas pesquisas ao ainda pouco conhecimento do eleitorado de que Marina é a vice, a própria campanha do PSB tece o tapete para ela no futuro. Marina Silva, com bastante malícia, declarou em 2010 que perdeu ganhando. De fato, tornou-se nacionalmente reconhecida como candidata competitiva e com a bolsa entupida por cerca de 20 milhões de votos. Nada garante que repita o feito em 2014, nem que, nos votos finais a Eduardo Campos, a maioria se deva a ela e não a ele. Nenhum resultado de pesquisa, neste momento, pode assegurar muita coisa a respeito de nenhum candidato, exceto que, seja o resultado qual for, Marina Silva nada tem a perder.

Com o crédito já reivindicado pelos votos que o PSB receber na eleição presidencial, Marina ganhará, ademais, os aplausos pela votação que os candidatos da Rede, locatários da sigla socialista, descolem pelo Brasil a fora. Esse é o principal lance de Marina Silva nas eleições deste ano e é, explicitamente, o preço que está cobrando pelo acordo com Eduardo Campos. Ou melhor, uma porcentagem do preço, sendo outra, grande, o poder de veto sobre as coalizões que o PSB tenta construir nos pleitos estaduais. Neste ponto ela tem sido de uma contundência típica de José Serra, já mostrada anteriormente, ao atacar os pretendentes a acordos com o PSB, quando estes, segundo ela, ameaçam comprometer a reputação da Rede.

Não há nenhuma caridade evangélica na acusação de que Aécio Neves e o PSDB têm cheiro de derrota, dando início, com essa salva de artilharia, ao rompimento do fingido namoro entre os dois candidatos da oposição à presidência da República. Era de se esperar que os afagos se transformassem em agressões com a proximidade do pleito, mas o destempero de Marina Silva revela o estilo de concorrência que o candidato do PSDB, Aécio Neves, pode esperar dos “companheiros de projeto”, em especial da Rede e de sua proprietária ideológica.

Ainda um tanto sem jeito, Eduardo Campos busca trazer uma réstia de luz progressista ao obscurantismo marineiro, impedido, contudo, de desafiar as principais bandeiras de identidade da Rede. Já Marina Silva não concilia, precisamente porque não está apostando, mas construindo seu futuro político, ao contrário de Campos, destinado a arrastar a carga de uma derrota eleitoral que, após o fato, terá o sabor de desnecessária e maculada aventura.

O empurrão para a direita sofrido por Aécio é provavelmente o troco por sua desabrida proclamação de que seria o candidato do agronegócio. Não havendo fundamento conhecido para tamanha bazófia, restou-lhe a incômoda posição de parecer um desarvorado mendigo de apoios. Reforçando o hábito de seguir as veredas indicadas por sua candidata a vice, Eduardo Campos ensaia mordiscar as atitudes do candidato tucano, buscando situar-se entre o PSDB e Dilma Roussef.

Mas a estratégia geral da campanha tem todo o jeito de estar sendo elaborada por Marina Silva. Ainda não há registro de qualquer alteração nas bandeiras defendidas por ela na disputa de 2010, tanto no subliminar desgosto com o desenvolvimento econômico quanto na agenda retrógrada de suas convicções sociais e de costumes. Eduardo Campos é o retirante neste capítulo, mordendo a língua e abjurando suas crenças socialistas e progressistas do passado.

Quando ao Partido dos Trabalhadores for garantida a mesma licença para propaganda eleitoral de que gozam sem punição a coalizão Rede/PSB e o PSDB, o radicalismo estratégico de Marina Silva tornará inconvincentes as declarações de Eduardo Campos de que está no mesmo campo de Lula, apenas querendo mais e melhor. Marina não quer melhor nada e muito menos, mais. Sua visão de mundo é estranha aos desafios da humanidade, ao contrário do que anuncia, substituindo as dificuldades do afazer real pelo refúgio das utopias passadistas e de bucólicas reconstruções da natureza. As próximas decisões de Eduardo Campos serão sempre difíceis: ou disputa com Aécio Campos a posição de centro-direita, subscrevendo os preconceitos de Marina Silva, ou reduz sua exposição, permitindo que Marina conduza o processo, cuja derrota será inapelavelmente atribuída a ele. Há conservadoras e reacionárias que são exímias jogadoras de pôquer: Marina Silva é uma delas. 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

12 Comentários

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  1. Excelente artigo porém
    Excelente artigo porém discordo de que seja exímia jogadora, findada a eleição a aliança com a Rede se revelará inútil e será considerada uma das principais causas da provavel derrota de Eduardo Campos. Marina então não terá a confiança tantos dos progressistas (já não a tem) quanto dos conservadores e será abandonada pela mídia em caso de vitória de Dilma ou Aécio.

  2. Ela não é boba.

    Ela é muito mais inteligênte do que Aécio e Eduardo. Porem suas propostas são uma utopia, sem dizer que seriam danosas par o país.

  3. Pode ser que estou delirando,

    Pode ser que estou delirando, mas ainda acho que a Rede não foi criada propositalmente.

    Com qual propósito? 

    Manter-se em evidência, sem gastar um tusta, apostando em momentos melhores mais à frente. 

  4. WGS é um craque de longa

    WGS é um craque de longa data.

    Tudo que ele fala tem uma lógica de quem conhece a historia social brasileira e muita, muita teoria social.

    Embora ele expresse – a meu ver com um tanto de ironia e preocupação – muitissimo corretamente o papel político de marina, ainda sinto falta de uma qualificação importante: não conseguiu formar um partido, sequer, e faz pose de vítima.

    Repetindo: faz pose de valente com passado de sofrimento e ao mesmo tempo de vítima mas cadê o resultado.

    Mais uma vez: valente e vítima, pra mim, é contradição. Embora eu ache que pra ela faz todo sentido.

    Mas não conseguiu – fato – formar um partido! Que liderança é essa onde existe todo tipo de partido!

    Outra coisa que eu pergunto pra quem simpatiza com marina: alguém sabe alguma proposta dela sequer sobre meio ambiente? Não ouço nada.

  5. Avaliação generosa

    Uma generosa avaliação do Wanderley para esta “viúva” do Lula, que queria ser Dilma e não foi; e hoje é apenas uma Maria Magdalena arrependida.

    Péssima jogadora se pôquer fosse, que não teve competência nem para fazer o seu próprio partido, aproveitando os 15 minutos de glória da eleição passada, e que hoje sairá bem mais pequena do que entrou.

    Jogadora de pôquer que recebeu na eleição passada, todas as fichas anti-PT e anti-Serra, inclusive parte do que hoje serão brancos e nulos. Hoje esses mesmos votos serão redistribuídos, pois nem os brancos nem os nulos anti-tudo vão votar em Dudu como terceira via.

     

    1. Ou…

      Ou ela não formalizou seu partido porque NÃO QUIS e está apenas visando deixar seu nome em evidência para 2018. Um blefe. Eu vejo essa tal de rede como algo artificial, sem base social real alguma, uma mera construção publicitária. Marina não mostra nenhuma preocupação em fazer a política real, nem em mostrar propostas discutíveis em termos concretos. Esse tipo de “político” é perigoso para a democracia. Alguém lembra do hipócrita do Enéas “contra-tudo-o-que-está-aí”? São proto-fascistas.

  6. Essa aí …

    … também andou se atrapalhando, quando era ministra! Por exemplo, no licenciamento ambiental de algumas usinas hidroelétricas, ela as impediu de serem aprovadas. Ou seja, estava conspirando por um futuro apagão elétrico no Brasil e contra o governo do qual fazia parte. A melhor metáfora que define uma atitude dessas é traição. 

    Felizmente foi removida do ministério. 

    A considerar essa ideologia “contra usinas hidroelétricas”, resta então perguntar: ela estava trabalhando a favor de quem? Lembro que li em algum lugar (não sei se é verdadeiro ou não) que uma fornecedora francesa de usinas nucleares estava bancando algumas ongues inimigas de usinas hidroelétricas no Brasil, para assim “vender seu peixe podre”. Talvez a verdade esteja escondida por estes meandros.

    Também li, e faço a mesma ressalva, que ela iria desligar todas as usinas hidroelétricas brasileiras. Se isso ocorresse mesmo, os 200 milhões de brasileiros teriam que disputar com os 700 mil índios o que sobrasse de nossas matas. Isto é, o Brasil voltaria à fase pré-cabralina. Obviamente isto é uma imbecilidade, uma cretinice, uma idiotice total e completa. Uma “otoridade” que fizer isso, não entende absolutamente nadica de economia. 

    Também não acredito nessa estória de “ter 20 milhões de votos”. Teve esses votos numa determinada circunstância sim, mas não há nenhuma obrigação, nem moral, nem por tradição de esse eleitor votar novamente nela, e, se ele souber como ela atrapalha a vida do país, vai tratar de fugir do quantitativo destes 20 milhões.

    Lembram: aquele marajá caçador cassado super-trapalhão e aparentemente bi-polar, também foi eleito com dezenas de milhões de votos; depois, achando que ele era portador dos mesmos votos se candidatou a prefeito de São Paulo e não obteve quase nada de votos por lá. 

    Além disso, essa afirmação de “ser portadora de 20 milhões de votos” remete ou à República Velha (pré-Vargas I), ou então é mais uma dessas mistificações jornalisticas idiotas, copiadas por jornalistas preguiçosos demais em analisar o que escrevem.

    Em suma, aparentemente é bem fácil destruir esta mistificação. 

     

  7. Como Deus é brasileiro,

    Como Deus é brasileiro, graças a Deus, ela será uma perdedora até o final dos tempos. E essa mania de disputar eleições para cargo que nunca será eleita, nos dará oportunidade de, aos poucos, conhecer melhor a figura que todos escondem. Essa de consultar deus para saber se ia aceitar/deixar/disputar as leições é de espantar. Pode internar. Deve ser louca varrida. Mas muito esperta. Ou será a sua turma?

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