Menos de 1/3 das perguntas no Roda Viva com Manuela foi sobre projetos

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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No geral, foi uma roda anti-esquerda, anti-feminismo e anti-democracia, que Manuela contornou com muita habilidade e competência nas respostas

Jornal GGN – Foram cerca de 3 dezenas de perguntas à Manuela D’Ávila no Roda Viva de segunda-feira (25). Somente em menos de 1/3 delas, a candidata à Presidência da República pelo PCdoB teve a oportunidade de falar sobre seus projetos.

De maneira insistente, a bancada do programa se demonstrou mais interesse em fazer uma espécie de autópsia nas “ideias comunistas” de Manuela. Não teve um único bloco em que ela não tenha sido confrontada com questões inquitoriais sobre socialismo, comunismo, a relação da esquerda contemporânea com regimes que violam direitos humanos, liberalismo, etc. 

O apresentador Ricardo Lessa perdeu alguns minutos insistindo em saber que história sobre Josef Stalin Manuela conta à sua filha, se ele é pintado como um “cara legal”. A candidatura respondeu que Stalin protagonizou, ao lado de outros líderes mundiais, um “ciclo de mortes e guerra”. Como não fez um ataque frontal que pudesse satisfazer o gosto do freguês, foi cobrada, mais ao final do programa, por João Pinheiro da Fonseca, que disse: “Sua defesa de Lula supera a de Stalin”.

Quatro entrevistadores, aliás, insurgiram-se contra Manuela quando ela disse que Lula foi condenado sem provas. Lessa, Vera Magalhães, Fonseca e João Gabriel Lima disseram que as provas eram fartas; que “quatro instâncias” confirmaram o juízo de Sergio Moro (a informação não procede) e insinuaram que era apropriado a candidata fazer críticas ao Judiciário. 

Em um programa que deveria zelar pela pluralidade de ideias, Manuela foi obrigada a dizer: “Eu tenho direito de questionar qualquer agente público e eu questiono a atuação desses juízes.”

Com Lessa e Fonseca, Manuela também teve de responder a perguntas que insinuaram que ela não sabe pensar por si, que segue diretrizes de homens que estão acima dela dentro da estrutura partidária ou da própria política.

Insistiram pelo menos 3 vezes, em momento distintos, em saber se e quando ela iria desistir da candidatura. Em um desses momentos, ela disse achar curioso que a questão não seja insistentemente feita a outros candidatos (homens) nanicos. Vera tentou afastar um debate sobre o teor machista das perguntas dizendo que não tem nenhuma “questão de gênero” na dúvida. “O [Henrique] Meirelles deve ouvir isso todo dia.”

O feminismo, embora presente na conversa, foi discutido com a profundidade de uma piscina infantil. Em um dos momentos, só foi pautado para extrair a ideia de que Lula é machista. Foi quando Letícia quis saber como Manuela avaliou um discurso em que o ex-presidente destaca a beleza da candidatura como atributo. João Gabriel Lima levantou um debate sobre aborto e Lessa quis saber qual foi o episódio mais machista que a candidata vivenciou em sua carreira política.

Entrevistadores chegaram a colocar palavras na boca de Manuela, como se não estivessem ali ouvindo as respostas. O levante contra a defesa de Lula escancarou uma tentativa de censurar qualquer narrativa que coloque em xeque a atuação da Lava Jato.

A composição do Roda Viva teve o claro propósito de colocar a história e as pautas de esquerda em xeque o tempo inteiro. O expoente nesse aspecto foi o assessor de Jair Bolsonaro, Frederico D’Ávila com a célebre frase: “O facismo é de esquerda”. Mas os demais também contribuíram.

Vera Magalhães, por exemplo, fez questão de colocar que não acredita em comunismo e disparou que a esquerda brasileira atual parece ter feito um “pacto de condescendência com a corrupção”. Fonseca disse, literalmente, que Manuela promove discurso de ódio em suas redes sociais. Com canal no Youtube, o economista não esconde sua contrariedade com o feminismo e programas considerados de esquerda. Leia mais aqui.

No geral, foi uma roda anti-esquerda, anti-feminismo e anti-democracia, que Manuela contornou com muita habilidade e competência nas respostas. Mas não foi à toa que o PT, Dilma Rousseff, Guilherme Boulos, Ciro Gomes e outros sairam em sua defesa.

A candidatura expôs afinidade com um programa econômico que resgate o potencial de investimento do Estado e promova o crescimento da indústria. Disse que, se eleita, derrubaria a reforma trabalhista de Michel Temer e abriria caminho para fazer o mesmo com a PEC do Teto dos gastos. Flertou com taxação de heranças e grandes fortunas como modo de aumentar a arrecadação e usou o governo do Maranhão, sob Flávio Dino (PCdoB), como exemplo de sucesso inúmeras vezes.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

3 Comentários

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  1. Há caras no roda viva que são

    Há caras no roda viva que são arrogantes, pretencios e desrespeitosos. Não costumam deixar o entrevistado falar. Com essa atitude não procuram esclarecer ideias, mas tentam passar para a opinião pública a ideia de que conseguem massacrar qualquer candidato, de modo particular quando pensam diferente deles. Eles nunca atingirão estatura intelectual de grandes jornalistas.

  2. é a RTC – Rede Tucanolândia de “Cultura”

    Mudou também o nome do programa: Vox Tucanus  … infelizmente a grande maioria do jornalismo está trampando apenas por grana. A profissão foi pro ralo faz tempo! Zero de vergonha. Zero de pudor. Agora, nós contribuintes paulistas, termos que pagar por uma MERDA desta é que não é fácil… Fazem jornalismo de esgoto com nossa grana!!!

  3. Pois é, a esquerda deveria

    Pois é, a esquerda deveria boicotar o programa e não aceitar convite. Assim, rapidinho o programa ficará sem audiência e será encerrado, se não mudar.

     A questão é se ela poderia responder o que eles mereciam ouvir como respostas pelas perguntas que fizeram. Responder mal a imprensa é pecado mortal.

    Fazer sentir medo do comunismo é a tática mais usada por enganadores. O medo é a melhor forma para convencer os ignorantes, eles não precisam entender nada, mas desde que sintam medo, farão tudo que lhes for dito ser necessário fazer para evitar aquilo do que sentem o medo. 

     

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