O lugar de Eduardo Campos, por Maria Cristina Fernandes

Do Valor

O lugar de Eduardo Campos

Por Maria Cristina Fernandes

Pato manco é uma expressão usada na política americana para designar o presidente que perde força política depois de reeleito quando todo mundo já começa a pensar – e trabalhar – na sua sucessão.
 
É a partir das eleições legislativas de meio de mandato, quando os presidentes testam sua força no Congresso, que os patos da Casa Branca ameaçam cambalear. Daí que pareça precoce retratar o presidente Barack Obama, reempossado há oito meses, como parte deste bando.
 
No Brasil nenhum dos dois presidentes reeleitos foi pato manco. Fernando Henrique Cardoso teve um segundo mandato mais difícil que o primeiro mas manteve a iniciativa política. Para desgosto de seu candidato, José Serra, chegou até a reunir os candidatos a sua sucessão para expor o ajuste fiscal adicional que faria antes de deixar o governo.
 
Luiz Inácio Lula da Silva teve um segundo mandato mais bem avaliado que o primeiro. A iniciativa política retomada no pós-mensalão traçaria o rumo da reeleição e de um mandato mais próximo do que o PT avaliava ser sua missão de governo. A popularidade estratosférica e a eleição de uma novata em urnas como Dilma Rousseff fez de Lula o exemplo mais distante de um presidente que atravessa seu segundo mandato mancando.
 
O instituto da reeleição é tão novo no Brasil que qualquer semelhança com o que se passa nos Estados Unidos será mera coincidência. Há três fatores, no entanto, que predispõem a presidente Dilma Rousseff a um segundo mandato mais trôpego – e bem antes das eleições municipais de 2016.

 
O primeiro é econômico. Vai ser muito difícil para qualquer próximo presidente resistir à pressão por ajustes – fiscais, monetários, planetários. São ajustes que requerem capital político e o desgastam.
 
O segundo é eleitoral. A multiplicação de possíveis candidaturas pode levá-la a enfrentar uma campanha mais dura do que a de 2010. Uma oposição mais fortalecida e a ausência da perspectiva de poder hoje trazida pela reeleição indicam que, se reconduzida, Dilma pode exercer um segundo mandato sob condições políticas mais adversas.
 
O terceiro é partidário. Os decibéis que se medem na disputa interna do PT são uma prévia do dissenso que marcará o partido num eventual segundo mandato de Dilma. Pela ausência de um sucessor natural e pela dificuldade da presidente de navegar em seu próprio partido, a tentativa de emplacar um preferido, como o ministro Aloizio Mercadante, é promessa de encrenca.
 
É por isso que o PT sempre tira da manga o nome de Lula como o remédio para todos os males. Se os três cenários do apocalipse se confirmarem é ele quem volta, creem os petistas.
 
Uma campanha queremista é capaz de enfernizar a vida de quem quer que se eleja. Como as maiores chances ainda são da reeleição de sua candidata é natural que Lula esteja a buscar alternativas.
 
No calendário da reaproximação do ex-presidente com o governador Eduardo Campos o que mais aparece é a emergência das manifestações que afetaram a popularidade de Dilma e geraram ceticismo em torno de nomes associados à política tradicional, como o do governador de Pernambuco.
 
Mas a reaproximação também coincide com a percepção de que as dificuldades da presidente com o empresariado resistiram aos sucessivos regalos tributários com que este governo tentou reativar a economia desde a posse. Lula, ao contrário do seu partido, já deu muitas mostras de que vê na confiança empresarial uma alavanca do PIB.
 
Marina Silva, a despeito das grifes tucanas que tem atraído, ainda assusta. O senador Aécio Neves lidera as enquetes do gênero, mas muitos daqueles que mostram preferência pelo tucano revelam que optariam por Eduardo Campos se nele vissem viabilidade eleitoral.
 
Não parece ter sido outra a razão por que o deputado Sérgio Guerra, principal braço direito da candidatura Aécio, declarou a Murillo Camarotto, do Valor, que os tucanos contam com a candidatura Campos para levar a disputa ao segundo turno, mas prefeririam que ele falasse mais ao eleitor (petista) do que ao empresariado (tucano).
 
O incômodo com a empatia entre Campos e o empresariado também já havia sido manifestado por dirigentes petistas que, no início do ano, chegaram a verbalizar a pressão por um ultimato governista ao capital para que se soubesse quem, de fato, estava ao seu lado.
 
Enquanto petistas e tucanos mostram suas cartas, Eduardo Campos e, principalmente, Lula escondem as suas.
 
O governador retomou controle sobre sua própria sucessão, que chegou a ser ameaçado pelo poder de cooptação de um Planalto disposto a enfernizar a vida em seu quintal para desestimulá-lo a um voo nacional. Acercou-se dos governadores preocupados com uma candidatura que os afastasse das benesses do poder. Retraiu-se para se distanciar dos protestos e, quando voltou à cena, estava com um discurso mais moderado. Esta semana voltou a dizer que seu grupo político e o PSDB, desde as diretas já, nunca estiveram no mesmo palanque presidencial.
 
Aquilo que Lula conversa com Campos, um e outro não contam para ninguém, mas as digitais de ambos indicam a armação de um jogo. Para livrar Campos da pecha de traidor com a qual o PT o ameaça, Lula já disse que o governador nada lhe deve e tem o direito de seguir seu caminho.
 
Concluiu que a rota de seu conterrâneo não tem como ser seguida por Dilma. Melhor, então, que seja percorrida por um ‘adversário amigo’ tanto para a guerra eleitoral que se aproxima quanto para um eventual segundo mandato. É um lugar que independe até mesmo da confirmação de Campos como candidato.
 
Um Eduardo Campos no Ministério da Fazenda, por exemplo, é o que pode haver de mais próximo de um Lula III no mercado eleitoral. De uma só tacada, reconquistaria a confiança empresarial, frustraria as pretensões dos petistas que já se arvoram pela preferência da presidente, e manteria 2018 na órbita de ambos. Qual dos dois disputará é outra história. Se 2014 é uma página em branco, a disputa seguinte é uma enciclopédia em aberto.
 
Sim, falta combinar com os búlgaros. Se reeleita, a capacidade de Dilma resistir a tão mirabolantes planos será diretamente proporcional à firmeza com que estiver se locomovendo.
 
Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras
 

 

Redação

12 Comentários

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  1. Antes de pensar em uma

    Antes de pensar em uma posicao como ministro para Eduardo -que seria prematurissimo- nao seria melhor deixar lo mostrar a que veio?

    (E se for ideia de Lula, torca o pescoco dele pra mim!)

    Campos pode ser ate pop star no estado dele, mas isso nao vai garantir muito no cenario nacional a nao ser que ele tenha trabalho espetacular para mostrar.

    Desses, que ele ja tenha feito, a gente nao ouve quase nada de ninguem.

    Em tempo:  nao havera (nem haveria qualquer razao para)trairagem do PT com ele, ate agora tudo indica que ele eh um bom candidato de oposicao SE SOMENTE SE continuar a evitar os caroneiros futuramente sem-partido, os tucanos.

  2. E CAMPOS nao demarcou

    E CAMPOS nao demarcou terreno, ainda, partido e avo com referencia a esquerda, “ligado ao lula” no seu estado,,,

    apos se articular para candidato, se aliou a os anti pt-lula, no seu estado, em minas, no parana e sao paulo, suas articulacoes com aercio, psdb, pfl e pps,,,

    sem marina, poderia ser o anti ptxpsdb, com marina ocupando espaco dos descontentes, corre risco de nao ser a favor de nada e ter todos setores contra, os petista por exemplo, ja cultivam uma certa raiva que se transforma em resistencia ou rejeicao numa eventual 2018 com campos disputando presidecia pelo campo petista,,,

    se continuar assim, serios riscos de sair menor do que entrou na corrida,,,

  3. Fiquei encantado com a bola

    Fiquei encantado com a bola de cristal de longo alcance da Cristina, também quero uma, dá para contar onde comprou?

  4. “Pato manco é uma expressão

    “Pato manco é uma expressão usada na política americana para designar o presidente que perde força política depois de reeleito quando todo mundo já começa a pensar – e trabalhar – na sua sucessão”:

    Faltou o “nao” aqui, lame duck eh o presidente/politico que nao foi reeleito e tem varios meses pra sabotar a legislacao do proximo ocupante do cargo.  Que frequentemente acontece, por sinal, especialmente feito por baixo clero a caminho da porta de saida.

  5. O segundo é eleitoral. A

    O segundo é eleitoral. A multiplicação de possíveis candidaturas pode levá-la a enfrentar uma campanha mais dura do que a de 2010. Uma oposição mais fortalecida e a ausência da perspectiva de poder hoje trazida pela reeleição indicam que, se reconduzida, Dilma pode exercer um segundo mandato sob condições políticas mais adversas

     

    Depois dessa parei de ler…

  6. Sera que teriamos Lula de

    Sera que teriamos Lula de volta em 2018 ? (sempre achei que em 2018 teremos Haddad ).  Com Edu Campos ministro ? Não seria melhor, vice, então ? Ministro tem mais visibilidade porém é mais facil de ser derrubado. Ja um vice pode se fazer conhecido e ser um passo para a proxima eleição, ja que Lula em 2022 estara bem mais velho… De toda forma, acho que a historia ainda dara seus saltos e “que sera, sera!”

  7. Acho que Campos e PSB são os

    Acho que Campos e PSB são os entes com maiores chances de crescer daqui pra frente. Eu torço para vê-lo em 2º turno.

  8. Esse artigo é um delírio

    Esse artigo é um delírio puro. Em primeiro lugar, todos os indicadores levam a crer que a economia mundial está se recuperando em todos os cantos do planeta, o que pressupõe um cenário futuro melhor do que Dilma enfrenta em seu primeiro mandato. Em segundo, afirmar que a oposição estará mais fortalecida, me parece mais torcida do que análise, pois não há nenhum elemento a indicar tal caminho. Ao contrário, tudo leva a crer que a oposição minguará mais uma vez, como tem sido a cada eleição. Em terceiro, não há nenhuma reaproximação recente entre Lula e Eduardo Campos, a menos que o ex-presidnte estivesse com uma máscara de Aécio Neves, na foto amplamente divulgada pela mídia. Finalmente, a especulação sobre a volta de Lula ao poder já deu o que tinha que dar. Quantas vezes ele terá que dizer e provar o contrário? Tenha a santa paciência.

  9. Eduardo Campos
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    RUMO A 2014

    “Não houve decisão”, diz Eduardo Campos

    Presidente do PSB revela que conversa com o governador Cid Gomes foi sobre temas nacionais e que não confirmou candidatura à Presidência da República

    Publicado em 13/09/2013, às 06h00

     Orkut

    Beatriz Albuquerque

     

     

     / Foto: Edmar Melo/JC Imagem

    Foto: Edmar Melo/JC Imagem

    O governador Eduardo Campos (PSB) desmentiu, ontem, o suposto anúncio que teria feito ao governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), durante reunião na noite de segunda-feira. No encontro, Eduardo teria revelado ao correligionário, segundo sites de notícias, sua “disposição” de ser candidato à Presidência, em 2014. De acordo com o socialista, foram discutidas “todas as possibilidades do quadro político”. “Mas não houve nenhuma decisão”, garantiu.

     

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    Além de Cid, participaram do jantar o ministro Fernando Bezerra Coelho (PSB); o prefeito de Fortaleza (CE), Roberto Cláudio (PSB); o presidente da Assembleia Legislativa, Guilherme Uchoa (PDT); e o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF). A conversa entre os governadores repercutiu nacionalmente, indicando que Eduardo teria dito a Cid que “se a eleição fosse hoje, seria candidato a presidente”. “Hoje eu sou. Para ganhar, para perder. Para fazer 1% ou 30%”, teria confessado o pernambucano ao cearense.

    Porém, segundo Eduardo, os temas discutidos no jantar foram o cenário político no Ceará, a situação dos Estados, questões administrativas, economia e os contatos com lideranças de outros partidos. “Ele (Cid Gomes) mantém o entendimento da defesa da aliança (com o PT) e está interessado em seguir construindo o PSB no Ceará. Entende que é legítimo que outras lideranças do partido defendam uma posição contrária à dele. Vamos decidir tudo em consenso”, esclareceu o pernambucano.

    No Ceará, o PSB têm representantes em todas as esferas do Poder. Governa o Estado e nas últimas eleições conquistou a Prefeitura de Fortaleza.

    Apesar de Eduardo Campos, presidente do PSB, ser apontado como um dos presidenciáveis, Cid Gomes defende que seu partido apoie a presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014.

    Segundo Eduardo, o PSB nacional faz parte de um projeto que governa o país há mais de dez anos e procura ajudar com apoio e críticas. “Sempre tivemos uma postura de solidariedade. Agora mesmo, quando se abateu uma crise política no país, vocês viram a atitude do PSB. Nós nunca tivemos uma postura de expor o governo como outros aliados procuraram fazer no momento de uma fragilidade política”, disparou o governador, que vem acentuando as críticas à gestão da presidente Dilma 

     

  10. Tenho certeza

    Tenho certeza que se esta for a intenção de Lula, ele ja terá “combinado com a Búlgara”.

    Como muitos aqui, tambem torço por Hadad, mas acho que o Lula já sacou que o instituto da reeleição não vai durar, logo, após Dilma, Campos e após este, Hadad.

    Lula conhece, como ninguem neste país, o tempo da política.

    Aliás o que falta à oposição é isto: Conhecer o tempo da política.

    FHC se não lutasse pela reeleição teria feito seu sucessor.

    Sem o ônus de manter o real artificialmente valorizado, este poderia fazer um governo melhor que o governo FH II. Quem sabe ( bate tres vezes na madeira ) estariam no poder até hj.

    Para quem , como eu , não gosta dos tucanos, é muito bom que a oposição não conheça o tempo da política, assim, figuras como Serra, José Guerra, Álvaro Dias e quetais, sempre estarão por aí , atirando no próprio pé.

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