Por que é tão frágil a democracia brasileira?, por Daniel Aarão Reis

“Resta-nos a opção do menor mal. Contudo, o voto só ganhará sentido caso a escolha seja apoiada no compromisso com o aperfeiçoamento das instituições”
 
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
 
Jornal GGN – A história cobra a impunidade de crimes contra a humanidade, apontando para a necessidade de uma profunda auto análise dos erros e a devida correção dos envolvidos, caso contrário a trajetória será de eterno retorno aos equívocos cometidos em âmbito político. Esse é o alerta de Daniel Aarão Reis, na sua coluna publicada neste sábado (06), no jornal O Globo.
 
“Tudo começou lá atrás, quando as grandes maiorias resolveram silenciar sobre um tempo que findava. Já acontecera depois do Estado Novo, quando um manto foi jogado sobre os crimes do varguismo. Os resultados não foram edificantes — elegeu-se como presidente o general Dutra, ex-simpatizante do nazismo. Em seguida, o próprio ex-ditador retornou ao governo “nos braços do povo””, retoma o articulista lembrando que, nos anos 1980, a experiência foi análoga quando o discurso foi o de “olhar para a frente, ignorar o espelho retrovisor”:
 
“Na alegria da abertura, falar dos crimes da ditadura civil-militar era quase uma atitude de mau gosto”, completou. As consequências disso influenciaram, até mesmo, textos da Constituição de 1988 que, mesmo sendo um avanço em termos de legislação, nas áreas de direitos políticos e sociais, não alterou o modelo social construído e reforçado na ditadura, isto é: 
 
“A hegemonia do capital financeiro; a predação do meio ambiente; as desigualdades sociais; a civilização do carro individual nas megalópoles hostis à vida; as empreiteiras e suas obras faraônicas; o agronegócio concentrador de terras e de rendas; a centralização do poder num Estado gigantesco; a mídia monopolizada; a preeminência das Forças Armadas, ‘garantidoras da lei e da ordem’, replicando tendências históricas, onde os funcionários públicos uniformizados transformam-se em tutores da nação, com suas corporações fechadas, fora do controle da sociedade”, analisa Aarão Reis
 
Mas, para o colunista, o pior estaria por vir, com as principais forças políticas partidárias – PT e PSDB – “preferindo o atalho das alianças com grupos conservadores, desfigurando-se e se corrompendo no sentido próprio da palavra”. Assim, reforça, os partidos que nasceram do povo, abandonaram o que prometiam de melhor: “suas intenções originais e promessas de renovação”.
 
“[Eles] se associaram as bandeiras em nome da Realpolitik e a mixórdia das cumplicidades com o mundo dos negócios”, completa.
 
A força dos dois partidos que se mantiveram como os principais nas disputas eleitorais até o último pleito e que, de alguma forma, ainda dividem corações de boa parte da população, explica o colunista, está nas conquistas, com bases não estruturais, mas que deram ânimo para o país:
 
“Houve o controle do dragão da inflação, que parecia imbatível. E os anos eufóricos dos mandatos de Lula, a autoestima nacional lá no alto, os mais confiantes falando num país que poderia ser modelo civilizacional para o mundo”. Mas tais êxitos foram abaixo ao impacto de crises econômicas, “mostrando as mazelas cobertas pelos véus do otimismo: o caráter aristocrático e corrompido do sistema político”.
 
E assim chegamos no primeiro turno das eleições presidenciais de 2018 com as expectativas ainda depositadas nos dois principais partidos políticos brasileiros mais como “resultado da nostalgia” do que fruto de mudanças estruturadas e reais no sistema político-social brasileiro.
 
“Resta-nos a opção do menor mal. Contudo, o voto só ganhará sentido caso a escolha seja apoiada no compromisso com o aperfeiçoamento das instituições. Este objetivo será alcançado não apenas através de eleições, mas da auto-organização das gentes e de sua participação permanente”, conclui Aarão Reis apontando para a marcha das Mulheres, no movimento #EleNão como uma indicação do caminho a ser trilhado. Clique aqui para ler o artigo na íntegra. 
 
Redação

8 Comentários

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  1. A fragilidade de nossa

    A fragilidade de nossa democracia tem um nome: Rede globo!

    A megalomania de seus donos nos trouxe a isso!

    Acreditaram que podiam dizer ao povo como entender a realidade, sempre em seu ponto de vista – distorcendo…

    Após a segunda vitória do LULA no pós-mensalão partiram para a criação de um palanque eletrônico ininterrupto!

    Pois acreditavam que o tal populismo que diziam que o LULA fazia era eleitoreiro, não compreendiam o atendimento das necessidades humanas básicas e reais que uma nação tem de ter com seu povo!

    Para eles povo não passava fome, eles se viravam vendendo alvejantes nos sinais e sempre tem uma empresa doando alimentos, tem sempre um criança esperança por ai…

    Casa? 

    Podiam muito bem morar em gloriosas favelas ou com parentes, só iriam para a rua os incompetentes que nada conseguiam na meritocracia do mercado…

    Nunca aceitaram que impostos tivessem outro destino que senão eles!

    Eu pago imposto, logo o imposto é meu – lógica simples dos ignorantes que nunca entenderão o que é uma nação!

    Se bolsonaro é real, agradeçam a ela…

    Foi mais de uma década de construção do projeto que deu em bolsonaro…

  2. Um Estado sem povo

    A democracia é frágil porque escravos índios e negros nunca tiveram direitos políticos, nunca participaram da construção do Estado, não fazem parte dele e o rejeitam.

    Em suma, nunca houve “democracia”, porque o Estado foi construído pelas elites só para elas, sem participação popular e contra os interesses majoritários do povo.

  3. O retrato da degradação

    O retrato da degradação política e social em 2018 :

    PATAS E FERRADURA DENTRO DE UMA CABINE ELEITORAL :

  4. A democracia brasileira era

    A democracia brasileira era frágil, agora praticamente não existe mais. Graças à rede globo e seus cupinchas no judiciário, e, claro, seus jornazistas marionetes dos marinhos, inclusive esse que escreveu a coluna, agindo como se não fizesse parte disso.

  5. A democracia é inexistente

    A democracia é inexistente grande parte pela esquerda tradicional, o PT principalmente. A esquerda que abdicou de qq trabalho de base e hoje joga todas as suas esperanças em eleições e na institucionalidade burguesa e pior, na idiotia que outro lado um dia jogará justo. confia nas instituições, não faz trablho de base, não politiza, não discute, não se recicla, apoia-se em ideias ultrapassadas e num marxismo mal lido e vergonhoso, faz apologia da burrice, da ignorância e do anti-intelectualismo. É preguiçosa e vagabunda, deixa o páreo para as redes sociais, esteve 13 anos no poder e eu nunca recebi um panfleto político. É carreirista, burocrata, intolerante e corrupta também. 

    Aí vem esses chucros que nunca pegaram um livro de teoria política na mão botar a culpa na direita e na Rede Globo….pelo amor de Zeus, a direita e a Rede Globo fazem o papel delas e bem feito, diga-se de passagem. Quem deveria fazer alguma coisa é quem se autorotula de esquerda e passa a maior parte do tempo vomitando frases feitas, tomando cerveja, usando camiseta do Che Guevara e vagabundeando por aí, em vez de trabalhar junto à massa popular conservadora e reacionária como sempre. Depositam todas as esperanças na cabeça do papai Lula, anulam seus pensamentos, julgam-se (devem ser mesmo)  estúpidos o suficiente para esperar o que o Lula tem a dizer de dentro da cadeia e vaõ culpar a direita e a Rede Globo pela sua vagabundagem e inércia. Tenha a paciência. 

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