Possibilidades civis e militares da política brasileira em 2018, por J. Carlos de Assis

Fotor extraída do blog Jair Sampaio

Possibilidades civis e militares da política brasileira em 2018

por J. Carlos de Assis

Lula tem uma justificativa pessoal  e política para se colocar numa posição conciliadora em face do centro e da direita na perspectiva das próximas eleições. Isso pode ser entendido não propriamente como rendição aos conservadores mas como uma forma de pavimentar sua volta ao poder sem uma resistência intransponível. A lógica que comanda o ex-presidente é de que a esquerda  e a maioria dos progressistas estão com ele de qualquer maneira, de sorte que a inclinação para o centro e a direita pode lhe render apoios adicionais.

Muita gente está interpretando a situação eleitoral desse jeito, não só eu. Contudo, de minha parte, tenho dúvidas inquietantes. A direita, as classes dominantes e as elites dirigentes do país estariam dispostas a um compromisso com Lula e, sobretudo, com o PT? Ou não seria para eles mais fácil prolongar o golpe jurídico contra o ex-presidente e contra seu partido mediante uma simples canetada do Juizado federal de segunda instância em Porto Alegre para impedi-lo de candidatar-se por força da Lei da Ficha Limpa?

Consideremos a questão objetivamente. As forças mais reacionárias do país, com os argumentos mais infames, promoveram a  compra a dinheiro – só no caso da Fiesp, R$ 500 milhões – para formar a maioria de dois terços no Congresso  a fim de promover o impeachment de Dilma. Afastada a presidenta, já não era preciso mais dinheiro em espécie para comprar a maioria do Congresso porque estavam à mão do usurpador todos os ministérios e centenas de cargos públicos, sem falar em emendas parlamentares, todos conversíveis em dinheiro fácil e caixa dois eleitoral.

O Governo tornou-se uma feira livre de negociatas. Malas de dinheiro sujo correram soltas na própria cozinha do Planalto. Não houve lugar, até agora, para o exercício governamental de sua principal responsabilidade, a saber, o ataque frontal à recessão e ao desemprego. Ao contrário, as iniciativas de Henrique Meirelles foram na direção oposta, promovendo uma sequência de ajustes fiscais  que contraem ainda mais a economia, já em depressão pelo terceiro ano seguido, a despeito da publicidade paga e da manipulação de estatísticas do PIB para convencer o povo do contrário.

A grande mídia mantém total fidelidade ao Governo usurpador. É o único suporte que ele tem pelo menos em parte da opinião pública manipulada. Mas em termos eleitorais, pelo que indicam as pesquisas de opinião, Lula continua sendo uma ameaça a se levar a sério. A questão central passa a ser: depois do que se fez em matéria de agressão ao direito e à Constituição,  com a inequívoca cobertura do Judiciário e da mídia, as classes dominantes e as elites dirigentes do país estariam dispostas a uma disputa eleitoral honesta com Lula?

Para as oposições ao regime, o risco já não é mais serem derrotadas em projetos de lei e em emendas na atual legislatura – elas perderão sempre, dada a constituição atual do Congresso -, mas a composição do parlamento a ser eleito em 2018. Com a manipulação de emendas parlamentares e o recurso a expedientes como a entrega a Moreira Franco de R$ 1,6 bilhão para publicidade oficial, estamos diante de mecanismos de corrupção absoluta do financiamento da próxima eleição, o que levaria a reproduzir, em 2018, o Congresso atual.

Existe, porém, outra questão mais fundamental. Daqui até as eleições há tempo suficiente para uma escalada de protestos contra um governo que fechou todas as frestas para um jogo democrático limpo. A consciência crescente de que estamos sendo governados por bandidos, num conluio entre Executivo corrupto e Legislativo vendido, eventualmente pode se traduzir em formas de protesto crescentes e violentas. Constitucionalmente, as Forças Armadas podem ser chamadas a intervir. A pergunta é: em favor do povo ou dos bandidos?

É que os bandidos estão tentando convencer o povo, e nele as Forças Armadas, de que a crise brasileira, a política e a econômica, se deve à “roubalheira” do PT. Quem me conhece sabe que desde 2003 fui crítico da política econômica do Governo, que a meu ver culminou com a suprema estupidez da nomeação de Joaquim Levy para a Fazenda. Isso me dá uma condição de neutralidade para dizer que a crise econômica, subjacente à crise política desde 2015, se deve exclusivamente ao aprofundamento da política neoliberal de Temer e Meirelles.

Se os militares observarem seus próprios projetos inconclusos – submarino nuclear, mísseis do Exécito, caças para a FAB, artilharia de costa –  entenderão que a Defesa está sendo profundamente atingida pelos ajustes fiscais do Governo. A isso se contrapõem os generosos (e necessários) investimentos de Defesa no Governo Lula. Esse esmagamento da capacidade de investimento está acontecendo também fora da área militar. Mas o importante é que isso decorre da vontade do Governo, e não a alguma insuficiência intrínseca da economia brasileira. Ao contrário, somos ricos, por exemplo, no pré-sal. Mas Temer nos está empobrecendo ao entregá-lo às petrolíferas mundiais.

Sem uma grande mobilização social, insista-se, será impossível  a renovação do Congresso em 2018. Entretanto,  diante do cerceamento da democracia pelo conluio entre executivo corrupto e legislativo vendido, podemos ter uma convulsão social pelo meio do caminho. Nesse caso, o governo-bandido pode tentar envolver as Forças Armadas como seu único apoio real, além do midiático. Em resposta a isso, a sociedade civil teria de apoiar a parte do Parlamento progressista, limpa e nacionalista para convocar imediatamente eleições gerais, seguida de uma Constituinte, com algum respaldo das Forças Armadas.

 

 
Redação

7 Comentários

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  1. Caro José Carlos de Assis
     O

    Caro José Carlos de Assis

     O setor hegemônico do exército, é entreguista, capitão de mato. Eles massacrarão  os petralhas, CUT, PCdoB, entre outros e os movimentos sociais com a maior tranquilidade.Esse setor hegemônico, ou falange Ustra, em nome do entreguismo e para ficarm bem na fita, também pegarão Temer, Aécio, etc etc etc para dar o formato de que estarão combatendo a corrupção.

    “A pergunta é: em favor do povo ou dos bandidos?” Usarão os bandidos, a quem apoiam na surdina, como degrau para dar continuidade ao projeto encaminhado dos golpistas.

    Esse setor hegemônico tem verdadeira paura do PT, Paulo Freire, Fórum de SP e dos movimentos sociais etc etc

    Babam de bronca.

    Povo bom, é aquele que aceita ser massacrado, e se contenta com os almoços benificientes, dos maçons entre outros.

    Saudações

     

     

  2. mais do mesmo

    a lógica do sr lula é “a esquerda está com ele de qualquer maneira”.

    espera-se que não.

    chega disso.

    o pais e o mundo precisam de mudanças estruturais, senão o planeta vai para as cucuias.

    o reformismo do lula foi uma proposta que se congelou na década passada, mas o brasil e o mundo continuaram rumo ao abismo.

    não há como se compor com os bandidos que deram o golpe nas urnas; precisa de uma reforma profunda no judiciário com expurgo em seus quadros; urge reforma agrária e expropriação de todas a concessões, bem como anular todos os contratos deste governo.

    enfim, para garantir a república ameaçada, o país talvez precise de um novo floriano e, como diz-se no conto, “varrer o terreno com ponta de sabre e bala de metralhadora”.

    ou vai, ou racha.

  3. Liberalismo, crime e terror

    Assis, quem pariu o monstro que finalmente se voltará contra elas próprias foram as elites liberais rentistas.

    Esses caras, obsedados pelo poder ilegítimo, ainda não se deram conta da iminente volta do chicote. A única chance de não perderem a cabeça na guilhotina é se Lula impedir.

    O Lula conciliador, com seu imenso poder de mobilização social, tem um preço na mesa de negociação, e esse preço em 2018 será infinitamente mais caro para as elites, agora golpistas, do que foi em 2002.

    A deputada Érika Kokay (PT) resumiu hoje no Twitter a estratégia petista, alertando para os riscos: “Lula já escolheu seus inimigos: a Globo e o mercado financeiro. Não há espaço para conciliação c/ setores que estão impondo a regressão social, política e econômica no Brasil. Tal ousadia pode acelerar o golpe dentro do golpe.”

    https://twitter.com/erikakokay/status/937676478011117570

  4. Como observador externo eu

    Como observador externo eu gostaria de comentar que o futuro pós-2018 do Brasil depende de três pontos básicos:

    1: O exército já deu sinais de que pretende intervir, o que na minha opinião pessoal já deveria ter acontecido a muito tempo atrás. Mas a questão é, o exército irá intervir a favor ou contra a população? Considerando a história escravocrata brasileira eu apostaria que seria contra a população, mas eu realmente, realmente gostaria de estar errado nessa aposta;

    2: A capacidade da “elite” brasileira de perceber a hora de parar e voltar atrás, considerando que tentar ganhar as eleições usando a farsa da “lava-jato” têm o sério potencial de causar uma revolta generalizada, para não dizer a possibilidade concreta de tornar o país em uma ditadura típica de repúblicas bananeiras africanas e isso não é bom para os negócios. E eu também estou pessimista neste ponto porque a “elite” brasileira é total, completa e absolutamente estúpida e pode estar realmente acreditando que irá se safar desse circo que ela criou sem sofrer as consequências. É por causa deles que eu recomendo que vocês deveriam começar uma revolta armada, porque eu não imagino como negociar um recuo com escravocratas incrivelmente estúpidos como estes;

    3: A capacidade da população se revoltar de forma generalizada quando a corda estourar (e eu garanto que ela vai estourar), e não estou falando dessas revoltas patéticas da classe média idiotizada pelas empresas de mídia. E mais uma vez eu temo que o sangue de escravo ainda está forte demais na população geral para fazê-la se revoltar como deveria contra ameaças tão óbvias.

     

    Então eu vejo dois cenários para o pós-2018 brasileiro: Uma democracia de fachada que não engana ninguém, ou uma ditadura militar.

  5. lula e o centro

    Não me parece sensato pensar as conjunturas políticas como se fossem uma sequência necessária e, portanto, previsível, como uma operação aritmética, do tipo 1 mais 1, excluídos esses mesmos cálculos nos julgamentos dos tribunas de contas do Brasil, onde 1 mais 1 pode resultar 5.

    O aceno de Lula para a classe média é acertado por uma única e poderosa razão: em nosso país não há uma classe média, mas várias classes médias, graças ao nosso atraso economico-social. Explico-me.

    No Brasil, o setor de serviços emprega mais gente que a agricultura e a indústria juntas. Por caminhos diferentes, nos igualamos hoje aos Estados Unidos, onde o emprego industrial se encolheu de forma brutal. O setor de serviços, lá, como cá, dedica-se, como sabemos todos, ao alegre esporte de esfolar sem piedade sua clientela, cuja renda tem-se esfumado a olhos vistos. Vejam-se os nossos planos de saúde privados e o Obama care,  insuficiente sob qualquer perspectiva, já liquidado por Trump.

    Por outro lado, o Brasil e os Estado Unidos não são como a Federação Russa e a China Popular, nesse mesmo aspecto. Para uma melhor compreensão do que foi dito acima, basta destacar que a ampla classe média desses países está concentrada nos serviços públicos, como no setor de Educação, na Saúde etc  na pesquisa científica de todo tipo e, muito importante, nos monopólios industriais, organizações que são o caminho mais curto para o socialismo, segundo a arguta lição de Lenin. 

    Os inimigos da liberdade de nossa gente perceberam, neste momento, a possibilidasde de se aproveitar esta situação. com um pouco mais de antecedência tática que a esquerda. No entanto, de um ponto de vista estratégico, nem Lula nem Dilma deixaram de levá-la em conta em seus governos, quando tornou-se uma bandeira arquiconhecida na época sua intenção de transformar o Brasil num país de classe média, não obstante os narizes torcidos de muita gente no PT.

    Quem duvida, repare na programação da Globo, neste momento, incentivando, com um visível desespero, uma falsa luta contra o preconceito racial, inócuo no seu formato lamuriento e ressentido, na esperança de semear a divisão entre os setores médios negros de nossa sociedade e o resto de nossas camadas populares. A Casa Grande não terá as sua Centúrias Negras.    

  6. As forças armadas do Brasil

    As forças armadas do Brasil desde a lavagem cerebral promovida pelos americanos em suas escolas (frequentadas que foram pelos golpistas dos anos 50 e 60) em função da guerra fria são majoritariamente entreguistas, antipovo e sem projeto nacional. Prova disso é a absoluta falta de reação deles dentro da perspectiva institucional e legal aos desatinos da quadrilha no poder (pmdb+psdb+mídia+globo com o apoio do judiciário e mpf) que desmantelaram as maiores empresas do Brasil, cortaram projetos essenciais, criminalizaram a compra dos caças e a transferência de tecnologia pelos suecos, negociam com os EUA a cessão da base de Alcântara, congelaram investimentos em defesa e tecnologia e abandonaram o projeto Amazônia Azul. Continuam com a cabeça voltada para a segurança interna (das elites, óbvio) diante do COMUNISMO devidamente substituido pelo desejo de cidadania de milhões que interpretam como ameaça ao país. 

  7. Fui criado por um general

    Esquece! A alta cupula militar, os oficiais odeiam Lula e o PT. Acham que o pobre e o trabalhador tem seu lugar e tem que ser controlados. Adoram bradar que não permitiram a ditadura do proletario e não permitirão novamente.

    Escuto isso há mais de 30 anos… a mesma ladainha. Acham a Globo quase a bíblia, tudo que sai de lá é verdade e agora com um diferencial, criticam agendas de soberania nacional e apoiam projetos neoliberais.

    Os militares brasileiros são corruptos, vestem a bandeira americana embaixo da farda, acreditam ainda nessa bobeira de guerra fria de bem contral o mal, de comunismo e só pensam em manter seus beneficios porque se acham uns coitados.

     

    O maior erro de Lula foi cortejar as forças armadas, devia te-los sufocado ao máximo e aplicado essa verba gasta com eles em coisas melhores, nas forças armadas entre os oficiais só há golpistas raivosos ignorantes.

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