Se Janot não é candidato, está com pinta de candidato, por Tereza Cruvinel

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Se Rodrigo Janot não é candidato a presidente em 2018, ao menos está com “pinta”. Essa é a avaliação de Tereza Cruvinel, que em artigo publicado no Brasil 247 nesta terça (28) demonstra como o discurso do procurador-geral é propício para a “hora dos outsiders” – nomes de fora da política com potencial para presidenciável.

Por Tereza Cruvinel

Janot e a hora dos outsiders

No Brasil 247

A recém divulgada Pesquisa Ipsos mostrou, além da impopularidade de Temer (70% de rejeição), a desaprovação geral da população aos políticos potencialmente candidatos a presidente em 2018 : 56% desaprovam Marina Silva; 63%, Aécio Neves; 68%, Lula; 55%, Geraldo Alckmin e José Serra.  

Em compensação, 55% aprovam Sergio Moro, e 42%, Joaquim Barbosa. Este é o cenário ideal para o surgimento de um outsider, um nome de fora do sistema político tradicional,  sem experiência eleitoral mas com atributos, adquiridos em outras atividades, que os credenciam aos olhos do eleitorado.  É o ideal da Lava Jato: deslegitimar tudo o que está aí para que das cinzas surja o novo.  O procurador-geral Rodrigo Janot não apareceu na pesquisa Ipsos, apenas Moro e Barbosa, mas o discurso que ele fez ontem, na abertura de um seminário,  é perfeito para esta hora propícia aos outsiders.

Entre intenção e a fala  sabe-se lá quantos quilômetros existem mas o discurso foi neste sentido:  acabou-se o sistema e com ele seus atores. É hora de olhar para o novo. Revisitando algumas partes do que disse,  cheias de plural majestático, Janot não pode reclamar desta interpretação. Vejamos.

Numa passagem ele diz que a Operação Lava Jato revelou que políticos e empresários transformaram “o Estado em um clube para desfrute de poucos”. “Algumas vozes reverberam o passado e ensaiam a troca do combate à corrupção por uma pseudo estabilidade, a exclusiva estabilidade destinada a poucos. Não nos sujeitaremos à condescendência criminosa: não é isso que o Brasil quer, não é disso que o país precisa”. E mais adiante: “Chegou a hora de quebrarmos também os grilhões do patrimonialismo, de nos libertarmos de um modo de ser que não nos pertence, daquele malfadado jeitinho associado à corrupção da lei que não traduz nossa verdadeira natureza. É hora de nos desvencilharmos da cultura de espoliação e do egoísmo. O país fartou-se desse modelo político”.

Depois, tratou o procurador de falar não para os participantes do seminário mas para o “grande público”, digamos assim: “temos hoje um déficit de representação política. Um descompasso entre o que quer o eleitor e o que faz o seu representante”. “Não chegaremos ao fim dessa jornada pelos caminhos do Ministério Público ou do Judiciário. Esses são peças coadjuvantes no processo de transformação e de aprofundamento dos valores republicanos. A Lava Jato, por si só, não salvará o Brasil, nem promoverá a evolução do nosso processo civilizatório. Para tanto, é indispensável a força incontrastável da cidadania vigilante e ativa”.

Vigilante e ativa, manifestando-se por meios diversos e, não precisou dizer com todas as letras, através do voto, da escolha de pessoas não comprometidas com o sistema condenado.

Se Janot não é candidato, está com pinta de candidato. O problema dos outsiders é que, não dominando os códigos da política e da representação, costumam incorrer em erros que não levam à estabilização política e sim a mais turbulências. Outsiders, de certa forma, foram Janio Quadros e Fernando Collor mas não eram completamente estranhos à política. Faltava-lhes a experiência no plano nacional, que Dilma também não tinha.  Um perfeito outsider é o candidato republicano nos Estados Unidos, Donald Trump.

Profecias do mercado

Em fevereiro o banco Goldman Sachs fez uma avaliação da conjuntura brasileira e, entre outras previsões pessimistas, apontou o cenário favorável ao surgimento de um candidato outsider em 2018. As conclusões foram assinadas por Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina.  Elas incluem previsão de queda do PIB entre 3% e 4%,  inflação acima de 7%, dólar entre R$ 4,30 e R$ 4,40 e aumento do desemprego para dois dígitos, o que é “socialmente e politicamente desafiador”. Foi antes do afastamento de Dilma mas o quadro não mudou.

Com o gasto público estourado e a resistência a novos impostos, enfrentar o problema fiscal será “muito difícil” e a perspectiva para reformas de médio prazo são “sombrias”, diz o banco. Pulando para 2018, avaliou que “dado o desencantamento e a rejeição ao status-quo político, há risco crescente da emergência de um candidato populista outsider de fora do establishment.”

Um outsider não é, necessariamente, populista.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

10 Comentários

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  1. dois ambiciosos presidentes e uma só poltrona, vai dar briga

    Neste momento a briga é para quem vaza a melhor delação, ente o menino moro e o janot dos cabelos pintados estilo senador norte americano, a presidência da ditadura do Brasil está empatada.

  2.  
    Discursozinho medíocre,

     

    Discursozinho medíocre, porém, suficiente para ganhar apoio entre videotas com problemas de catarata. Tem toda pinta pra descambar pra uma candidatura de recheio fascista. Mas, vamos em frente pra vê no que vai dar.

    Orlando

  3. Imperador?

    Ainda tem gente que acha que um Presidente bacana resolve tudo. Isso atenta contra o bom debate de opções políticas para o Brasil

    Quero ver um candidato bacana, em nome de partido pequeno, arrumar base no congresso e estabilidade por 4 anos.

    Nos tempos de hoje só leva quem também conquista maioria no parlamento.

  4. E este comício não é o primeiro

    O comício de Janot

    Por · 28/06/2016

    comiciojanot

    O Dr. Rodrigo Janot tem todo o direito de pensar o que quiser sobre o sistema político brasileiro.

    Duvido que pense algo mais duro e condenatório do que eu penso , depois que assisti, nos últimos 40 anos – aliás sob o silêncio do MP e do Judiciário – a mercantilização dos sistema eleitoral.

    “Algumas vozes reverberam o passado e ensaiam a troca do combate à corrupção por uma pseudo estabilidade, a exclusiva estabilidade destinada a poucos. Não nos sujeitaremos à condescendência criminosa: não é isso que o Brasil quer, não é disso que o país precisa”, afirmou o procurador-geral na abertura de um seminário que vai discutir os grandes casos criminais do Brasil e da Itália. “Chegou a hora de quebrarmos também os grilhões do patrimonialismo, de nos libertarmos de um modo de ser que não nos pertence, daquele malfadado jeitinho associado à corrupção da lei que não traduz nossa verdadeira natureza. É hora de nos desvencilharmos da cultura de espoliação e do egoísmo. O país fartou-se desse modelo político”, completou (veja na Folha).

    Também estou nessa, doutor.

    Mas não com o poder de pedir para  prender, encarcerar, denunciar criminalmente, arrancar delações.

     

    Este poder é seu, e para ser legítimo tem de ser exercido com uma isenção quase monástica.

    Que não combina em nada com a linguagem de palanque que o Ministério Público vem adotando:

    Na avaliação do procurador-geral, o sistema eleitoral está “falido”. (A Operação)“Lava Jato desvelou, como nunca, o sistema de favores mútuos entre políticos, partidos e empresários, que mais do que locupletar os seus sócios, frauda a democracia representativa, conspurca os valores republicanos e transforma o Estado em um clube exclusivo para desfrute de poucos, mas penosamente custeado por todos os brasileiros. É hora de nos desvencilharmos da cultura de espoliação e do egoísmo. O país fartou-se desse modelo político”.

    De acordo, Doutor, mas quem tem o direito de dizer isso somos eu ou qualquer cidadão sem impedimentos políticos, não o senhor.

    O senhor tem de dizer: Fulano e Beltrano praticaram o crime do artigo tal, da lei qual.

    Mais nada.

    É a sociedade quem tem de julgar, não o Ministério Público dizer como deve ser o julgamento politico dos cidadãos.

    O senhor, não é de hoje, vem aceitando a posição messiânica do MP e a sua própria.

    Já nem tem pruridos em se confrontar com um STF desmoralizado por sua leniência com os denunciados que não são do PT e aqueles que merecem, como Eduardo Cunha, pausas de meses em sua contenção.

    Melhor faria o senhor explicando porque o MP não quer aceitar a delação que envolve Michel Temer.

    Mas o que se lê é diferente:

    Janot afirmou que os políticos precisam perceber o desejo de mudança na sociedade.”Se os nossos timoneiros não perceberem rapidamente a direção dos novos ventos, certamente estarão fadados à obsolescência democrática. Ficarão, com os seus valores ultrapassados, presos irremediavelmente no tempo do esquecimento e condenados pelo juízo implacável da história.”

    Janot está permitindo que o Ministério Público se transforme em um partido político.

    E Ministério Público é para acusar que merece ser acusado, não para fazer política, por mais meritória que possa ser ou parecer.

    No próximo post, vou mostrar quantos anos de cumplicidade Ministério Público e Judiciário tiveram, quando a mesma corrupção e os mesmos corruptores de hoje passaram impunes por suas mãos.

  5. Se Janot é candidato, então,

    Se Janot é candidato, então, terá que enfrentar Moro na disputa. 

    Hoje, aliás, será noite de autógrafo do livro de Moro em Curitiba, com direito à presença do Japonês da Federal, segundo li. Também consta do texto que Moro poderá se lançar candidato, aproveitando a oportunidade. 

    Um dia Moro é ovacionado num show de rock, e no outro o será também no lançamento do livro, escirto por um global. Como diz o ditado: “TÁ PODENDO!”

  6. Teoria & Prática

    Bonito na teoria e feio na prática!

    A Presidenta que não ROUBA E CONTRARIOU O CUNHA está para ser degolada no senado!

    Isso com APOIO DO MP QUE DISSE INCLUSIVE QUE ELA QUERIA AJUDAR O LULA, LULA QUE NADA DEVE E NEM TEME!

    É só a cabeça da Dilma rolar, que a do Sr. Janot rolará também, o tal de moro já está domesticado pelos marinhos, o negócio agora é curtir a fama…

    O Temer vai ter medo de trocar o procurador?

    kkkkkkkkkkkk

    Greve do MP?

    Seria uma greve bem vinda, iria durar anos pelo temer…

  7. Nassif;
    A IMPUNIDADE  gerada

    Nassif;

    A IMPUNIDADE  gerada pelo judiciário e o MP sem dúvida alguma é a maior causa do estado brasileiro ter chegado a este ponto de corrupção. 

    Pois caso tivessemos um judiciário que não fosse, parcial, seletivo, corrupto, perdulário, desonesto, hipócrita, midiático e vagabundo, teríamos um  Brasil mais igualitário e  justo.

    Portanto não tenho a menor dúvida de que tão prioritária quanto a reforma política é a fundação de um poder judiciário digno, o que não tem sido nos últimos séculos.

    Bravo jonot !!!!, comece por você e sua turpe e leve o judiciário junto.

    Genaro 

  8. Sem chance doutor. Ja mostrou

    Sem chance doutor. Ja mostrou o seu espirito corporativista ao tentar garantir os tais 20% para o MPF. E faz vista grossa ao uso do dinheiro da corrupção no pagamento de honorarios aos advogados dos delatores. Enquanto petroleiros e acionistas estiverem desunidos e em lados opostos sua operação redentora continuara a iludir o brasileiro desatento. Os dois polos da politica brasileira querem usar a lava-jato como coringa. Mas isso um dia acaba. Cuidado, a mão que aplaude é a mesma que apedreja.

  9. Lava jato a Procura de um presidente

    A Lava jato cometeu tantas ilegitidades, que precisa de alguém para aboná-la. Por isso, esse desespero de achar algum candidato coadune com suas decisões singulares. Hoje há um desespero para torná-la incontestável. Qualquer um que ameace isso, hoje será combatido. O medo de cruzar com a verdade no futuro, é grande.

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