Tchau, tchau Bolsonaro, volte em 2022, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Foto: Reprodução/Twitter

A polarização da disputa entre Haddad e Bolsonaro pode ser imaginada de diversas maneiras: civilização x barbárie; nordeste x região sul; católicos, judeus e muçulmanos x evangélicos; mestiços, negros e índios x brancos racistas; esquerda x direita; comunistas x fascistas; modernidade x atraso; capitalismo inclusivo x neoliberalismo; democracia x ditadura; futuro x passado; tolerantes x intolerantes; feministas x machistas; etc…

Cada uma dessas fórmulas empregadas para enquadrar a disputa eleitoral e/ou facilitar a compreensão do que está sendo disputado contém uma mistura de verdade e falsidade. Reduzir a própria narrativa e enquadrar a narrativa adversária dentro de um sistema binário (bem x mal; amigo x inimigo) é uma maneira de convencer o respeitável público a decidir seu voto com base em sentimentos básicos: medo, amor, esperança e ódio.

Num regime democrático, contudo, a disputa eleitoral não deveria ser dominada pela conjuração dos sentimentos, pois a política é ou deve ser diferente da guerra. A guerra separa os grupos humanos em campos irreconciliáveis movidos por um único propósito: a destruição do inimigo. A política, como disse Hannah Arendt, só pode existir num espaço delicado que é consensualmente criado por pessoas desiguais com a finalidade de decidir o que pode ser considerado um bem comum.

A democracia é um processo que iguala os homens, para que eles possam se distinguir não pelo nascimento, riqueza, sexo, ideologia ou partido político e sim pelos argumentos que são apresentados aos cidadãos com a finalidade de convencê-los a tomar uma decisão e não outra. O melhor argumento ou o argumentador mais habilidoso se impõe. Quando uma decisão é tomada, o curso da ação afetará toda a comunidade de uma maneira ou de outra. Mas a própria comunidade não deveria ser desfeita em virtude do que foi decidido.

O problema é que ninguém pode prever como uma decisão aparentemente adequada irá afetar a comunidade no futuro. Nenhuma nação está em condições de controlar a maneira como suas decisões serão interpretadas pelas outras nações. Os idealizadores do golpe de 2016 acreditaram que remover Dilma Rousseff do cargo criaria, por si só, as condições necessárias para o país voltar a crescer. A comunidade internacional reagiu mal à desdemocratização do Brasil. O resultado foi desesperador: nossa economia afundou muito e mais rápido.

Jair Bolsonaro se apresenta como um salvador da pátria. As propostas dele podem ser resumidas em dois grandes eixos: mais do mesmo neoliberalismo econômico (modelo econômico que fracassou sob o comando de Michel Temer) e; o aprofundamento do autoritarismo como forma de lidar com os conflitos decorrentes do empobrecimento de uma parcela significativa da população (regime político que fracassou sob o comando dos militares).

A imprensa brasileira, intoxicada pelo anti-petismo que ela mesma destilou e distribuiu desde que Lula ganhou pela primeira vez a presidência, tem adotado uma posição ambígua em relação a Bolsonaro. A imprensa internacional, contudo, preferiu ir direto ao ponto:  Bolsonaro representa um perigo para a América Latina e para o mundo. Se o candidato do PSL ganhar a presidência o isolamento do Brasil será maior e mais severo. Isso inevitavelmente provocará um recrudescimento dos conflitos políticos e econômicos dentro do país.

O que parece ser a decisão certa para a maioria dos eleitores (eleger Bolsonaro) pode ser a pior opção para o Brasil nesse momento. Lula disputou três eleições antes de ser eleito. Ele chegou ao poder no contexto adequado e conseguiu realizar um bom governo. Esta é a primeira vez que o Coiso disputa uma eleição presidencial. Não seria melhor deixar para votar nele daqui a quatro anos?

Existe outra questão que precisa ser considerada. Bolsonaro errou ao nomear Mourão como vice-presidente. O general já deixou claro que nunca vi bater continência para um reles capitão. Os conflitos entre Dilma Rousseff e Michel Temer resultaram no golpe midiático-jurídico-parlamentar de 2016. Uma disputa de poder séria entre Bolsonaro e Mourão não poderá ser resolvida sem derramamento de sangue. E quando dois exércitos se movimentam num território o maior prejudicado é a totalidade da população.

A carreira de Bolsonaro está apenas começando. Ele é jovem e pode tranquilamente disputar a próxima eleição presidencial. Se perder a disputa em 2018, o candidato do PSL terá quatro anos para organizar e fortalecer seu partido. Ele poderá ganhar a eleição de 2022 muito mais facilmente. Um fracasso de Fernando Haddad e a modificação do contexto internacional aumentariam as chances de Bolsonaro chegar não só à presidência, mas também ao poder absoluto. Levar consigo um vice-presidente menos perigoso do que o general Mourão seria uma vantagem adicional.

 

 

Fábio de Oliveira Ribeiro

7 Comentários

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  1. Falácia é reduzir o que está

    Falácia é reduzir o que está em jogo nesse momento. E penso que se porventura Haddad vencer uma ameça futura de Bolsonaro deve ser derrotada já. 

  2. #fascistas jamais

    Considero totalmente errada a possibilidade futura de qualquer um fascista vir a ser eleito presidente do Brasil. Afinal, penso que: um fascista jamais excluiria a barbárie de seus planos; jamais excluiria mestiços, negros e índios da sua mira de alvo; jamais excluiria seus atrasados métodos ditatoriais de uso do poder, em favor de qualquer outro mais moderno, democrático e humanizado; jamais excluiriam suas radicais intolerâncias, machismos e preconceitos por qualquer respeito aos direitos humanos e liberdade de expressão; etc…

     

  3. Por mim, nem em 2022…

    Pelo que temos assistido de mentiras, de insultos aos pobres, negros, gays,  mulheres, enfim por todos os atos de violência que seus seguidores têm protagonizado, haja vista o caso da Placa de Marielli, não o elegeria nem para síndico de meu prédio. Uma criatura má, quem sabe doente, que não demonstra amor, piedade ou qualquer outro sentimento que enobrece o ser humano. Talvez um psiquiatra possa esclarecer essa total falta de auto crítica e sentimentos…

    Link:        https://youtu.be/APGzGAYPazE

    [video:https://youtu.be/APGzGAYPazE%5D

  4. Artigo superficial e
    Artigo superficial e infantilizado, notadamente quanto à abordagem de desistência do candidato para 2022! Melhore o texto e volte daqui a 4 anos.

    1. Comentário superficial de um

      Comentário superficial de um eleitor do Bozo que vai chorar quando ele for derrotado ou deposto. Volte para o esgoto de onde você não deveria ter saído.

  5. As Favas Contadas

    Nassif: você acha que milico verdeoliva dá ponto sem nó? Em Realengo e Deodoro já estão preparando os festejos prós 120 anos dos tais mamando nas tetas da Nação. Com direito a parada militar. Brasilia vai mudar de nome. A sugestão mais votada foi NeuesBerlin. O discurso inaugural será por uma pessoa do Çupremu que tem laços teutônicos profundos. 

    Porque, tirando aqueles 400 bravos pracinhas, mortos da II Gerra (negociados por VoltaRedonda), conte de 1899 até 2019 algum outro fato de bravura em prol de seu Povo.

    Segundo a grande mímia, o daBala tá eleito. Falta só empossar.

    Mas, parodiando o Vate, “Guararapes” é apenas um retrato na parede. Mas como doi…

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