Tempo de propaganda eleitoral é uma aberração antidemocrática, por Janio de Freitas

Lógica que garante mais tempo para candidato com maior bancada na Câmara favorece “transações espúrias” retroalimentando deficiências do sistema político brasileiro
 
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Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr
 
Jornal GGN – O sistema que define o tempo de propaganda gratuita na TV e rádio, de cada candidato, é uma “aberração antidemocrática”, pondera Janio de Freitas, na sua coluna deste domingo, na Folha de S.Paulo. 
 
O tempo de exibição gratuita da candidatura de cada concorrente é determinado pelo tamanho da sua bancada na Câmara Federal. Em outras palavras, o partido ou coligação com mais deputados têm mais tempo de rádio e TV. Janio avalia que esse mecanismo favorece “transações espúrias” entre partidos. 
 
O horário eleitoral gratuito começa 31 de agosto e terá 35 dias de duração, divididos em blocos entre os candidatos a presidente e a governador. Ao todo, os eleitores serão expostos, diariamente, a 70 minutos de inserção. Entre os candidatos à presidência, Geraldo Alckmin terá o maior tempo, com 5min32s, graças ao chamado efeito “novo centrão”, somando PSDB com DEM, PP, PPS, PTB, PR, PSD, SD e PRB. Lula (ou Haddad) terá 2min23, Alvaro Dias, 40s, Ciro gomes, 38s, Marina Silva 21s e Bolsonaro, 8s. 
 
“Por mais que a eficácia da propaganda gratuita em TV seja relativa, a disparidade entre os tempos dos candidatos é uma aberração antidemocrática. Nem ao menos decorre das proporções da representação partidária, pretendidas pela legislação”, critica Janio lembrando que, levantamento mais recente do Datafolha, mostram Alckmin com apenas 6% das intenções de voto. Entretanto, seu tempo de TV supera a soma de todos os seus concorrentes, exceto acrescentando João Amoedo e João Goulart Filho.
 
“Os números de inserções, nos 35 dias de propaganda gratuita na TV, trazem outra disparidade. Para aqueles mesmos candidatos, serão 434 de Alckmin, 189 de Lula, 53 de Alvaro Dias, 51 de Ciro Gomes, 29 de Marina Silva, que chega a ficar de fora no equivalente a uma semana de propaganda, e 11 de Bolsonaro, com presença que não alcança um terço dos dias de transmissão. A diferença é brutal”, conclui Janio, avaliando que com o tempo que irá dispor na propaganda eleitoral, Alckmin poderá “provocar uma mexida nos percentuais de vários candidatos”.
 
Para o articulista, o quadro que favorece o candidato do PSDB é sintomático. Alckmin não apresenta inovações em um sistema eleitoral recheado de deformidades. 
 
“Joga como sempre foi o jogo dos que se aliam a qualquer um, sem se apegar a exigências contrárias à ambição. Se dava para fazer o negócio, fez. A disparidade excessiva daí resultante, porém, tornou mais obscuras as possíveis propensões dessa disputa eleitoral”, conclui.  
 
Redação

4 Comentários

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  1. O jogo só acaba quando

    O jogo só acaba quando termina, já dizia um filósofo (rss).

    Vai correr muita água debaixo dessa ponte. Até a reta final nos riremos muito, nos digladiaremos com nossos antagonistas, mas também nos indignaremos em demasia com os novos Enéas e Tiriricas, que hoje são representados até por Alkmin. 

  2. E os tempos iguais na Revolução Nicaraguense

    a 1ª eleição na Nicarágua pós revolução sandinista foi igual pra todos os partidos. Jânio escreve o q a gente sabe,mas alguém já disse q às vezes é necessário se dizer o óbvio.O tempo encurtado 45 dias nestas eleições favorece os candidatos q já estão em mandatos (de governadores,deputados, senadores, e nas futuras eleições pra vereadores e prefeitos.O percentual de NÃO renovação pode beirar 80%,pois é este o record de em mandatos concorrerem a reeleições.Todo o sistema eleitoral tá errado, favorece a concentração,o status quo.A “moderna” proposta de voto distrital piora (Wanderley Guilherme dos Santos já escreveu sobre isto).Mas o voto proporcional(o brasileiro)deforma tb.A proporcionalidade de cadeiras por estado é outra coisa…

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