The New York Times: Escolha triste do Brasil

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Foto Miguel Schincariol/Agence France-Presse — Getty Images

Jornal GGN – Editorial de ontem, dia 21, do jornal The New York Times, traz o grave entrave por que passa a democracia brasileira. O jornal aponta que o candidato de direita dura, descrito como ‘o Donald Trump brasileiro’ parece estar à frente da corrida presidencial.

Segundo o NYT, Jair Bolsonaro é um brasileiro de direita com visões repulsivas. Deu as falas do candidato, quando disse que se tivesse um filho homessexual preferiria que ele morresse; o que gritou para uma colega no Congresso de que era muito feia para ser estuprada; também a declaração de os afro-brasileiros são preguiçosos e gordos. Lembrou ainda da declaração de que o aquecimento global equivale a ‘fábulas de estufa’. Informa aos leitores que o candidato de extrema-direita sente saudades dos generais e torturadores que governaram o Brasil por 20 anos. E lamentam que, no próximo domingo, tal personagem possa a vir a ser o presidente do Brasil.

O editorial entende que por trás dessa perspectiva assustadora há uma história que se tornou comum entre as democracias do mundo. O Brasil está emergindo de sua pior recessão, a Operação Lava Jato revelou corrupção arbitrária no governo, umex-presidente popular, Lula, está preso, e sua sucessora Dilma Rousseff sofreu um impeachment. Além do sucessor Michel Temer estar sob investigação. Junte-se a isso o descontrole da violência. Com esta lista de desatinos, os brasileiros estão desesperados por mudanças.

Contra esse cenário, as opiniões grosseiras de Bolsonaro são interpretadas como franqueza, sua carreira obscura como congressista como a promessa de um forasteiro que limpará os estábulos e sua proposta de um punho de ferro como esperança de um adiamento de uma média recorde de 175 homicídios, em um dia do ano passado. Cristão evangélico, ele prega uma mistura de conservadorismo social e liberalismo econômico, embora confesse apenas uma compreensão superficial da economia, diz o editorial.

E pergunta: soa familiar? Pois ele é o mais recente de uma longa lista de populistas que enfrentaram uma onda de descontentamento, frustração e desespero para o mais alto cargo em cada um de seus países, responde o jornal. Não surpreendentemente ele é frequentemente descrito com um Donald Trump brasileiro, diz o texto.

O jornal alerta que, se ele chegar ao Palácio, um dos perdedores será o meio ambiente, e mais precisamente, as florestas tropicais da Amazônia, conhecidas como os pulmões da Terra por seu papel na absorção do dióxido de carbono. Lembra que Bolsonaro prometeu desfazer muitas das proteções para as florestas tropicais para abrir mais terras para o poderoso agronegócio brasileiro. Ele levantou a perspectiva de se retirar do acordo climático de Paris, de desmantelar o Ministério do Meio Ambiente e impedir a criação de reservas indígenas – tudo isso em um país até recentemente elogiado por sua liderança na proteção do meio ambiente.

Não é apenas a mensagem “carne, Bíblia e bala” que trouxe o Sr. Bolsonaro à tona, diz o jornal. O popular Lula continuou sendo um forte candidato apesar de ter sido preso, até que o Supremo Tribunal Eleitoral decidiu, em agosto, que ele estava inelegível para concorrer. O Partido dos Trabalhadores voltou então para Fernando Haddad, como substituto, para concorrer: professor, ex-ministro da Educação e prefeito de São Paulo.

Diz que, embora Haddad tenha sobrevivido ao primeiro turno de votação, não conseguiu ainda superar a associação de seu partido com a corrupção e a má administração, que alimentou algo como ‘qualquer um, menos o PT’. E as pesquisas o trazem atrás de Bolsonaro no segundo turno.
 
Esta é a escolha colocada para os brasileiros, diz o New York Times. Mas é um dia triste para a democracia quando a desordem e o desapontamento levam os eleitores à distração e abrem as portas para populistas ofensivos, cruéis e teimosos, conclui o editorial.
 
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Fascismo é como pimenta: no

    Fascismo é como pimenta: no dos outros, é refresco.

    Será que o NYT lamenta mesmo, a escolha que estamos prestes a fazer?

    Ou vai lamentar, somente, se interesses americanos forem contrariados pelo Capitão?

    Mas como esperar isso de alguém que bate continência à bandeira americana?

    Claro, o NYT está preocupado com o meio ambiente, com o agronegócio, com o Acordo de Paris.

    O Brasil, portanto, com capitão ou professor, deve permanecer na posição de sempre.

    Genuflexa.

    E viva o alinhamento automático!

    Com o capitão, ou com o professor.

    E, se a coisa desandar, serve um general, também.

     

  2. Para não botar mais lenha na fogueira, toffoli se omite

    Quem cala, consente.

     

    No Caminho, com Maiakovski

    (Eduardo Alves da Costa)

     

    Tu sabes,
    conheces melhor do que eu
    a velha história.
    Na primeira noite eles se aproximam
    e roubam uma flor
    do nosso jardim.
    E não dizemos nada.
    Na segunda noite, já não se escondem:
    pisam as flores,
    matam nosso cão,
    e não dizemos nada.
    Até que um dia,
    o mais frágil deles
    entra sozinho em nossa casa,
    rouba-nos a luz, e,
    conhecendo nosso medo,
    arranca-nos a voz da garganta.
    E já não podemos dizer nada.

    Nos dias que correm
    a ninguém é dado
    repousar a cabeça
    alheia ao terror.
    Os humildes baixam a cerviz;
    e nós, que não temos pacto algum
    com os senhores do mundo,
    por temor nos calamos.
    No silêncio de meu quarto
    a ousadia me afogueia as faces
    e eu fantasio um levante;
    mas amanhã,
    diante do juiz,
    talvez meus lábios
    calem a verdade
    como um foco de germes
    capaz de me destruir.

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