Vitória de Crivella é a ponta do projeto político da IURD, por María Martín

 
Jornal GGN – Marcelo Crivella, de 59 anos, foi eleito prefeito do Rio de Janeiro com mais de 59% dos votos, impulsionado pelo eleitorado evangélico, que são um terço dos quase 4,9 milhões de votantes no Rio de Janeiro. 
 
Na edição brasileira do El País, María Martín analisa a  vitória de Crivella e de seu partido, o PRB, braço político da Igreja Universidade. Ela afirma que o segundo turno carioca colocou, frente a frente, duas caras do Brasil de hoje, de um lado o modelo conservador de Crivella, e, do outro, a resistência das forças de esquerda representando por Marcelo Freixo, do PSOL.
 
Para ela, a prefeitura da segunda cidade mais populosa do país é uma “conquista sem precedentes para os evangélicos”, que já concentram poder no Legislativo, mas tinham pouco peso em cargos executivos. 

 
Leia mais abaixo:
 
Do El País
 
Vitória de Crivella no Rio, a ponta de lança do projeto político da Igreja Universal
 
Influente membro da terceira igreja evangélica mais numerosa do Brasil governará a cidade-vitrine do país
 
Por María Martín
 
O Rio de Janeiro, a segunda maior cidade do Brasil, sede dos últimos Jogos Olímpicos e do Carnaval mais famoso do mundo, acaba de eleger prefeito o líder evangélico Marcelo Crivella, de 59 anos. Sua vitória, com 59,37% dos votos decide uma eleição que levou ao segundo turno as duas faces do Brasil de hoje.
 
Em um extremo estava o modelo conservador encarnado por Crivella, senador desde 2002, engenheiro, cantor gospel de sucesso, defensor da teoria criacionista, evangelizador na África e ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, a terceira com mais fiéis do Brasil, fundada por seu tio Edir Macedo, que controla a segunda maior rede de TV do Brasil, a Record. No outro, Marcelo Freixo, um professor de história, de 49 anos, deputado estadual e defensor da legalização do aborto e das drogas, que encarnou a resistência das forças de esquerda em plena crise do Partido dos Trabalhadores, da ex-presidenta Dilma Rousseff, destituída do poder há apenas dois meses. Para além dos espectros ideológicos irreconciliáveis, os programas de ambos os candidatos divergiam em alguns pontos, como a participação da iniciativa privada na gestão da cidade, que Crivella defende.
 
A folgada vitória de Crivella, do Partido Republicano Brasileiro (PRB), braço político de sua igreja, foi impulsionada pelo eleitorado evangélico, que representa um terço dos quase 4,9 milhões de votantes, e pelos eleitores mais pobres e menos instruídos. Crivella, que disputava sua terceira eleição a prefeito da cidade e já tentara se tornar governador em 2006 e 2014, atraiu também os votos de seus aliados políticos de centro e direita, como Índio da Costa (PSD) e Carlos Osório (PSDB) e a maioria dos vereadores eleitos pelo PMDB, e da direita radical, representada por Flávio Bolsonaro (PSC).
 
Freixo, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), paradoxalmente, contou com o apoio das classes mais ricas e educadas, assim como dos mais jovens. Os grandes vencedores, porém, foram a abstenção (26,85%) e os votos brancos (4,18%) e nulos (15,90%). A ressaca da crise política, os escândalos de corrupção e o longo processo de destituição de Rousseff se traduziram em desânimo nestas eleições municipais. Apesar de o voto ser obrigatório no Brasil, a abstenção já tinha sido a protagonista no primeiro turno no Rio e em outras grandes capitais, onde os candidatos mais votados não conseguiram superar a soma dos votos não dados.
 
No seu primeiro discurso como prefeito, Crivella agradeceu a Deus, sua família, seus aliados e até a Igreja Católica. “Aquele que se elege é apenas um representante de todos os que lutaram junto para que nosso projeto pudesse alcançar o coração dos nossos eleitores. É um momento de imensa emoção, sobre todo para mim que já vinha tentando ser prefeito do Rio em varias ocasiões. O momento em que saiu o resultado foi insquecível”, disse acompanhado da esposa e dezenas de militantes.
 
Crivella criticou, mais uma vez, a imprensa que, segundo ele, orquestrou uma campanha contra sua candidatura. Nos bastidores, na verdade, há também uma luta de poder entre a TV da Igreja Universal, a TV Record, e sua principal concorrente, a TV Globo. “Vencemos uma onda enorme de preconceitos, por parte de uma mídia facciosa que se opôs à nossa campanha”, diz Crivella.
 
Uma vitória sem precedentes
 
Crivella na prefeitura da segunda cidade mais populosa do Brasil é uma conquista sem precedentes para os evangélicos. As igrejas evangélicas estão em expansão no Brasil: o número cresceu 61% entre 2000 e 2010. Seus pastores já concentram poder no Legislativo –são 80 parlamentares, 14% a mais do que na última legislatura–, mas têm, até agora, pouco peso em cargos executivos.
 
O novo prefeito, que se empenhou durante toda a campanha em suavizar seu papel em uma igreja que demoniza outras religiões e vê a homossexualidade como um pecado terrível, promete não misturar religião com política. No entanto, Crivella já declarou anos atrás que trocou o altar pela política por determinação de sua igreja e que algum dia o Brasil teria um presidente evangélico. “E, então, queridos irmãos”, disse a um grupo de pastores em 2011, “poderemos ser a igreja evangelizadora dos últimos dias e levar o evangelho a todas as nações da terra”. Agora deverá demonstrar com sua gestão e suas indicações que seu gabinete ficará afastado do púlpito. Entre os nomes que têm se discutido para ocupar as secretárias de Crivella está o do cientista político e editor César Bejamin, para a pasta de Educação, Carlos Osório, candidato derrotado do PSDB, na secretaria de Transportes, e Índio da Costa na Casa Civil, embora ele prefira a secretária da Saúde.
 
Crivella deve enfrentar o enorme desafio do Rio pós-olímpico. A cidade, de mais de seis milhões de habitantes, enfrenta depois dos Jogos um brusco aumento do desemprego e sofre os reflexos da grave crise financeira vivida pelo país e, sobretudo, o Estado do Rio, em áreas fundamentais como segurança e saúde. Os cariocas precisam também de itens básicos como saneamento, ruas que não se tornem rios na época das chuvas, moradia social e ônibus com ar condicionado em verões que ultrapassam os 45 graus. O Rio precisa também projetar-se como destino de turismo internacional, não só de visitantes, mas de empresários e eventos esportivos, para rentabilizar as milionárias obras e as mais de 50.000 vagas de hotel com as que a cidade chegou à maior festa esportista do mundo.
Redação

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Ressaca

    Tempos negros ! 

    Crivella vence na onda de porre anti petista. Em São Paulo , João Dória também.

    Compreensível , mas quando vier a ressaca te segura ………

  2. Pois sim. Lá se vem o “comida

    Pois sim. Lá se vem o “comida pouca, meu pirão primeiro”. Só de pensar nele e em seu entorno os anjos dizem amém e se mandam. O Rio, foi-se.

  3. Esse aí é como Pedro. Começou

    Esse aí é como Pedro. Começou ministro da pesca, agora está tomando o templo de volta. Em breve Brasília será o Vaticano da sua turma. Como ateu e entusiasta do estado laico, aberto a todas as crenças desde que fora do poder, só tenho a agradecer aos envolvidos. Acabamos com a fome e detonamos com o resto.

  4. Análise superficial

    O cara tenta quatro vezes e consegue na quinta. O Lula tentou três e conseguiu na quarta. O Crivela não é um fenômeno político. Não é uma construção da direita. Não se trata de um paladino da IURD. Ele ganhou do voto branco e nulo. Contra um candidato que não acreditou que chegou no segundo turno. Contra o desinteresse da população na política. O Crivela tem um currículo que foi bem comunicado. Ele é bem articulado, fruto de anos no Senado, na cátedra e até na sua igreja. Só isso. O que passa disso é desculpa da esquerda. Choro de perdedor. E mais uma teoria da conspiração.

  5. Vou eu meter minha

    Vou eu meter minha colher,atrevido que sou.E a Globo fica onde?Quem sabe uma  fusão.O problema que antejevo é o nome que poderia surgir desse parto.Igreja Universal do Reino da Globo.Nem pensar.Sugiro Igreja Universal do Reino das Trevas.

  6. Não tenho nada contra a

    Não tenho nada contra a crença de ninguém, mas o fundamento político dos pentecostais é o Velho Testamento, um texto segregacionista e de propósito de expansão da fé, de “povo escolhido”, de apontar inimigos e dizer que são o Diabo. Bem diferente da tolerância e quase ecumenicidade da igreja católica (decadente) atual. O Neo Pentecostalismo é uma cruzada de poder e dinheiro. Conheço muitos evangélicos que votaram no Freixo, da denominação Batista, anterior à Neo Pentecostal. Não tem nada a ver com os eleitores do Crivella, Éssa é radical,  Crivella foi eleito por um mix de radicais e de órfãos da direita. Não botará as asas de fora nesse cenário mas vai pavimentar o projeto monolítico de poder da IURD. 

  7. Podridão No Reino da Dinamarca?

    “Oh, pávidos tendeiros, gentis bufarinheiros, a cidade é vossa. Pilhai com decência.” — Afrânio Zuccolotto

     

    Nassif: o enfrentamento CRIVELA x FREIXO tem por íntimo tão somente a rivalidade entre o pessoal do Templo de Salomão (TV Record) e o pessoal do Jardim Botânico (TV Globo). 

    O interesse de qualquer deles reside nas captações pecuniárias lícitas (BNDES etc., a fundo perdido) e ilícitas (propinas, caixa 2 e outras formas de locupletação). Dizem que já frequentam ambas as modalidades. Portanto, a questão se resumiria em aumentar a participação no botim. 

    O resto, que me perdoe a María Martím, com sua brilhante reportagem, é balela acadêmica.

    Porque, veja uma breve análise dos gastos de campanha e a realidade dos candidatos. Como parâmetro o cenário da Prefeitura de São Paulo.

    Segundo apurado, os gastos do candidato que venceu o pleito somaram R$ 13.573.000,00.

    O derrotado administrador ganha em torno de R$ 30 mil por mês. Isto equivale aproximadamente a 34 salários mínimos. O mandato é por 4 anos. Ou seja, 48 meses.

    Dividindo-se o valor gasto pelo salário mensal do Prefeito concluímos que ele precisaria em torno de 452 meses, ou 37 anos, para reincorporar esse valor ao seu patrimônio.

    Abandonando a ingenuidade popular, temos que uma pessoa que ganha R$ 30 mil e gasta (para repor as despesas) R$ 282.770,00, ambos por mês, teria um déficit de R$ 252.770,00 o que equivale a R$ 12.133.000,00 ao final do mandato de 48 meses.

    O Prefeito pagaria para trabalhar? Para quem declara um patrimônio de R$ 180.000.000,00 como o eleito, seria aceitável esses 9% da sua fortuna pessoal. Um espírito altruísta. Humanitário.

    Mas os que conhecem esses Prefeitos, homens de altos negócios e de grandes negociatas sinistras, sabemos que não rasgam dinheiro. Logo…

    Deixo para você, Nassif, a dedução!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador