Voto obrigatório dobra participação de ricos em relação aos pobres, aponta estudo

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Jornal GGN – O voto obrigatório aumenta a participação do eleitorado em cerca de 4,4%, mas o efeito da obrigatoriedade dobra a participação dos eleitores ricos em comparação com a dos eleitores com menor status socioeconômico. É o que afirma artigo de Gabriel Cepaluni e Daniel Hidalgo publicado na “Political Analysis”, indicado pelo Cepesp (Centro de Política e Economia do Setor Público).

Cepaluni e Hidalgo: os efeitos inesperados do voto obrigatório

A ideia de que o voto obrigatório reduz a desigualdade na participação eleitoral entre ricos e pobres é um dos resultados mais robustos da ciência política contemporânea. Eleitores de baixa renda comparecem menos em eleições do que eleitores ricos, motivando a produção de políticas para cidadãos privilegiados. O voto obrigatório seria um meio para reduzir a abstenção eleitoral e, portanto, eliminar a participação desigual entre ricos e pobres.

A literatura, contudo, negligencia as sanções não monetárias para fazer valer a obrigatoriedade do voto. Em diversos países, como Grécia (antes de 2001), Venezuela (antes de 1993), Bolívia, Peru e Brasil, o não comparecimento eleitoral restringe o acesso a privilégios, tais como a habilidade de obter um emprego estatal, realizar transações financeiras, viajar para o exterior e conseguir documentos oficiais. Esta sanções não monetárias, em geral, afetam prioritariamente cidadãos ricos ou de classe-média.

Em trabalho publicado na Political Analysis, Gabriel Cepaluni e F. Daniel Hidalgo empregam uma regressão descontínua (RD) que usa dois cortes populacionais baseados na idade dos eleitores. Especificamente, eleitores acima de 18 anos e abaixo de 70 são obrigados a votar, e eleitores abaixo de 18 anos e acima de 70 votam de maneira voluntária. Para comparar eleitores abaixo e acima destas faixas etárias, Cepaluni e Hidalgo exploram dados inéditos do cadastro eleitoral da eleição de 2010.

As datas exatas de nascimento e um banco de dados com mais de 140 milhões de indivíduos permite aos autores fazer comparações precisas entre eleitores muitos parecidos, que apenas se diferenciam com relação à obrigatoriedade ou não do voto. Cepaluni e Hidalgo também utilizam dados educacionais com um proxy para status socioeconômico, pois a correlação entre renda e educação é bastante forte no Brasil e em outros países.

O voto compulsório aumenta a participação tanto para os jovens quanto para os eleitores idosos. No entanto, contrariando a literatura existente, o efeito é maior para os eleitores mais escolarizados.

O voto obrigatório aumenta a participação em cerca de 4,4%. Contudo, o efeito entre os eleitores com educação primária ou mais é de cerca de 6,67%, e nos eleitores com menos do que a educação primária ele gira em torno de 3,4%. Em outras palavras, o efeito da obrigatoriedade do voto dobra a participação dos eleitores ricos em comparação com a dos eleitores com menor status socioeconômico.

Os resultados são surpreendentes. Porém, eles passam a ter sentido quando os autores mostram – por meio de um survey representativo nacional – que os indivíduos com maior status socioeconômico são mais afetados por sanções não monetárias. Assim, o trabalho de Cepaluni e Hidalgo contribui para o debate sobre o voto obrigatório, sugerindo que o sistema eleitoral brasileiro deve ser repensado para se tornar mais inclusivo.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

28 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Quanta estupidez! O texto

    Quanta estupidez! O texto parece um conto de fadas. Os mais ri8cos são uma minoria…..a grande maioria da poulação é pobre! Estão querendo acabar com o voto obrigatório para acabar de vez com a democracia. 

    Este texto é puro lixo!

    1. Cumã?

      Quer dizer que a “causa” sei lá do “não é a toa” que estiver implicito no seu comentário é que todo mundo vota?

      1) Existem cerca de 200 países no mundo. Estar entre os 10 primeiros em alguma coisa positiva parece postivo…

      2) Da mesma forma que em qualquer lugar do mundo com voto facultativo, aqui também é, pois vc pode votar branco ou nulo.

      3) Com base em (2) a única diferença é que vc deve gastar um tempinho do seu dia a cada dois anos para justificar ou entrar numa cabine e exercer o seu “direito facultativo”.

      Será que isso é causa para qualquer atraso? Será que que pode menos pode mais?

      Vamupará com esse papo furado!

  2. Esta matéria é muito estranha para não dizer absurda

    Leiam esta frase.

    “O voto obrigatório aumenta a participação em cerca de 4,4%. Contudo, o efeito entre os eleitores com educação primária ou mais é de cerca de 6,67%, e nos eleitores com menos do que a educação primária ele gira em torno de 3,4%. Em outras palavras, o efeito da obrigatoriedade do voto dobra a participação dos eleitores ricos em comparação com a dos eleitores com menor status socioeconômico.

     

    Esta matéria me parece ser uma manipulação.  Depois da frase acima incluir os eleitores com educação primária ou mais em eleitores ricos —- Isto é um absurdo total me parece que isto faz parte da campanha para o fim do voto obrigatório . eu não estou acreditando no que estou lendo. Isto é manipulação pura.  Em cima desta frase construir a tese de mundanças na obrigatoriedade  é  um absurdo

    A quem de fato interessa isto?

     

    1. Também acho muito estranho a conclusão em que se chega.

      Primeiramente FORA TEMER !

      Não vejo como voto obrigatório, uma vez que se pode votar em branco e nulo, portanto não sendo obrigado a votar em ninguém.

      O que é obrigatório é a presença no local de votação, mas não a obrigatoriedade de votar em alguém.

  3.  
     
    Foto da sala do apto do

     

     

    Foto da sala do apto do ex-ministro Antonio Pallocci em Ribeirão Preto. No teto o chassi da Lotus dirigida por Ayrton Senna… É ou não é ostentação?!?!

     

  4. Como o número de ricos é minúsculo comparado ao nº de pobres

    Essa conclusão é furada pois o dobro de um número minúsculo ainda será minúsculo comparado ao número de pobres. 

  5. quanta baboseira e quanta

    quanta baboseira e quanta perda de tempo! o meu voto, junto com os de mais umas 54 milhões de pessoas, foram jogados no lixo e hoje eu sou governado, por voto direto, por quem nunca seria eleito…

    1. isso….

      Voto obrigatório é a antitese da democracia. É começar a liberdade pelas algemas. É a imposição de alguns frente à vontade da maioria, é aceitar a ideia ditatorial de quem pensa saber ou valer mais que outro. Voto obrigatório é voar em “gaiola de ouro”. Ser livre para votar é ser livre para errar, ser livre para corrigir e ser livre para acertar. Voto não é principio, voto é consequencia. A liberdade deveria ser a obrigatoriedade.

  6. Quanta sandice! É bem

    Quanta sandice! É bem possível que entre menores de 18 anos e maiores de 70 anos possa haver um maior número de faltosos às votações.

    Os menores de 18 (principalmente se são pobres) podem faltar com seus votos, porque, além de muitos ainda não terem desenvolvido fortemente a cidadania em si, podem também não ter dinheiro para gastar com locomoção; quer para regularizar situação eleitoral, quer para simplesmente ir votar.

    Os maiores de 70 anos (também, principalmente se são pobres) podem não votar, porque tal como os menores também podem ter dificuldades financeiras ou de saúde – porque os pobres se tratam menos, adoecem mais e também não têm grana sobrando.

    Se, por acaso, não houvesse obrigatoriedade de voto, só o dono do negócio ou o gerente da empresa iriam votar e voltariam aos seus negócios em seus carros (com motoristas, ou não) para ver se tudo e todos ainda estavam trabalhando como deviam.

    Sem esta obrigatoriedade, quem iria ficar sem votar, na faixa entre os 18 e 70 anos – a maior, sem sombra de dúvida – seriam mais de 90% dos eleitores; porque nenhum dos empregados do negócio, ou da firma, ou os operários da fábrica, ou assemelhados iriam votar. Só os donos e os gerentes.

    Nenhum dos fatos apresentados no texto justifica a alteração do tipo das sanções aos faltosos. Apenas, se os mais abastados são os que mais sofrem mesmo com as sanções não-monetárias existentes, eles deveriam então preocupar-se mais com a ausência aos pleitos eleitorais. Só isso. 

    Ah! a propósito, nem mesmo o motorista do dono do negócio votaria – embora estivesse “em trânsito”, ele não chegaria nem perto da sua Zona Eleitoral.  

  7. O voto obrigatório instituído pelo Getúlio e mantido em 1988

    O voto obrigatório instituído por Getúlio e mantido nas duas constituintes seguintes, foi pensado exatamente para que o pequeno número de ricos não comprasse facilmente os votos de milhares de pobres, e assim roubando da democracia a representatividade. A multa para quem não vota é irrisória para os ricos, já os pobres sentem orgulho de votar, e tenham certeza, se cá não fosse obrigatório o voto, jamais o Lula teria sido eleito. Vamos respeitar a constituição. Só quando o “nacional socialismo moreno” diminuir o fosso entre os muito ricos e os muito pobres, poderíamos pensar em torna-lo facultativo.  O nacional socialismo do Hitler era de extrema direita pois os benefícios do socialismo eram usufruídos somente pelos nacionais (nação ariana), um nacionalismo racial, no Brasil queremos um nacional socialismo moreno, de esquerda portanto, pois a nação brasileira é definida pelas fronteiras geográficas todos nascidos aqui são brasileiros sem excessão, e como temos muitas riquezas, temos de ser nacionalistas econômicos, se não fizermos assim, os espertos nos tomam tudo dizendo sermos comunistas. Essa enganação é persistente.

  8. Voto obrigatório
    Essa pesquisa é tão inútil quanto esperar isenção das altas cortes brasileiras. O que representa 4,4% em menos de 10% do todo? Mais uma pérola da direita.

  9. Ma…ma…mas … Cumã?

    Pelamôdideus! Estou vivendo no país da Alice? Agora qualquer doidão fala qualquer méida e ainda parece sério? Como no dia do desaniversário temos agora o dia da deseleição? Com deseleitores … que desvotam como eu que desvotei à toa, pois uma quadrilha cassou o meu voto na boa?

    Esses caras pegaram as bordinhas pra comer? “Acima” de 70 (perto de morrer) e “abaixo” de 18 (mas acima de 16)?

    Como diz Jucá, que porra é essa de mais 4,4% e 6,77%? Pegadinha de 1o. de abril em setembro? Tirada da cartola do chapeleiro maluco? % de que? Explica essa bobagem aí ou VTNC !

    O voto deve ser obrigatório enquanto houver coronelismo, curral eleitoral e diferenças socio-econômicas gritantes. Quem não quiser votar, que vote em branco ou nulo! Continua sendo FACULTATIVO.

    A única diferença é que de 2 em 2 anos vc gasta um pedaço do seu dia para evitar que alguém te proíba de exercer o seu DIREITO FACULTATIVO de votar ..  ou não! Vc só obrigado a comparecer e exercer esse direito.

  10. Eu não concordo com a

    Eu não concordo com a obrigatoriedade do voto. Desde que se garanta o direito ao voto, claro.

    Os eleitores desinteressados, que votam por obrigação – e não são poucos – , têm pouca consciência política. São eles que acabam elegendo ruçomanos e tititicas da vida, juntamente com seus penduricalhos, e outras aberrações.

  11. O voto(no sentido político)

    O voto(no sentido político) obrigatório é uma contradição entre termos. Se o voto deve ser a manifestação livre do eleitor com relação às opções ofertadas, inclusive, no extremo, podendo até anulá-lo, que sentido tem obrigá-lo a fazer isso? 

     

  12. Não caiam nessa
    Eles querem acabar com o voto obrigatório para restringir ainda mais o acesso dos pobres às zonas eleitorais. Quanto mais longe e mais filas tiverem nas urnas, mais pobres vão desistir de votar, principalmente se não for mais obrigatório.
    Rico tem facilidade para votar, tem mais urnas por habitantes e eles tem carro para facilitar o deslocamento. Rico só deixa de votar para viajar no fim de semana se a eleição não estiver acirrada, mas se tiver esquerdista perigando ganhar, ele vota.
    Não se enganem, fim do voto obrigatório é uma estratégia para diminuir o número de pobres votando.

  13. Pesquisa digna do Prêmio Ignóbel

    “O voto obrigatório aumenta a participação em cerca de 4,4%”. Tá bom! Nos EUA, com voto não obrigário, o porcentual de pessoas em condições de votar que efetivamente comparecem às urnas dificilmente chega a 50%. No Brasil quanto é? 70%? 80%? GGN já escolheu melhor suas pautas.

  14. bloqueio de CPF

    Ha um erro na analise. A 1a. punicao é o bloqueio do CPF, algo que atinge a TODOS.

    Só os miseraveis, ou muito pobres escapam disto. Ate p tirar beneficio no banco precisa do CPF ok.

  15. A porcaria da questão …

    A porcaria da questão é que se discute o melhor para o Estado e não o simples direito do cidadão que quer ficar em casa vendo Tela Quente ou Silvio Santos , um direito dele , seja rico ou pobre , a questão no Brasil é sempre o maldito Estado e tudo girar em torno dele.

    Voto hoje em dia pois é mais barato ir votar que depois perder um dia de trabalho para desonrolar a multa no TRE.

    Outra besteira homérica da matéria e dar a impressão que temos 50% de ricos e 50% de pobres e isto faria os ricos superarem os pobres no dia da eleição , tem pobre à beça amigo ….. aliais um dos problemas da nação.

  16. O voto me parece tão

    O voto me parece tão obrigatório quanto a existência pátria, cidadã, institucional. Imagina o que seria uma campanha dos meios de comunicação tacitamente cartelizados, como são no Brasil, para desincentivar o voto, a participação das pessoas na escolha de seus representantes… Sei que hoje essas empresas já se esforçam por direcionar, senão o voto neste ou naquele candidato, nessa ou naquela tendência. Por exemplo, as páginas do OESP, da Globo, das publicações da Abril são sempre coalhadas de propaganda comercial e de matérias que difundem o consumo como modo obrigatório de vida. Há partidos ou tendências que se alinham com essa ideologia? Será que essa ideologia é a única possibilidade? Será que em publicações de todas as sociedade o consumo é tão tido como única opção? É obrigatório consumir mas não é obrigatório votar?

    Sei que a prática ainda está muito longe dos ideais mas a mim parece que abrir mão dessa obrigatoriedade facilitaria a ascenção às intituições de quem já é do “clube”, das oligarquias centenárias. E tiraria, a meu ver, a legitimidade dos protestos e exigências dos representados.

    Acho que demos um passo importante ao afastar, pelo menos legalmente, as empresas privadas das campanhas eleitorais. E dizer que essa providência só fará aumentar e sofisticar o caixa 2, a mim parece má fé.

    No momento estamos sob regime de exceção democrática e nada leva a crer que candidatos de partidos em cujas colunas, ainda que enrustidamente, militem juízes eleitorais, serão penalizados. Mas creio que desistir de algo porque não está funcionando 100% mas que seria bom se funcionasse, não é uma boa ideia. Melhor seria, a meu ver, aperfeiçoar.

  17. Os dados apresentados não

    Os dados apresentados não permitem esta conclusão de que o voto obrigatório aumenta a participação dos mais ricos.

    Desde quando ter ensino primário é sinal de riqueza? Qual era o montante de votos deste grupos? Sem esta informação fica impossível saber qual foi o percentual apurado de eleitores que votaram em ambos os grupos.

    Enfim,mais um trabalho que parece feito encomendado por algum interessado em menosprezar,mais uma vez,o voto dos pobres.

    1. Outra.

      Um aumento de 6% em 10.000 são 600 votos, um aumento de 3% em 100.000, são 6.000 votos, relativizar os números é bem fácil se a metodologia e as contstatações são pinçadas fora de contexto. 

    2. os dados…

      É muito fácil. A opinião do povo deve ser soberana e livre. Obrigatório ou facultativo. Deixe o voto decidir. A democracia começa pela liberdade. Qualquer coisa diferente disto é ditadura.

  18. Por outro lado, se o vot não

    Por outro lado, se o vot não for obrigatório, quem acha que o patrão vai dispensar o empregado para ir votar, ao invés de produzir para ele ganhar dinheiro/ Isso na cidade, no campo…E o voto de cabresto ? Aumenta a possibilidde ou não ?

    Hoje a obrigatoriedade é de comparecer, pois o cidadão pode votar nulo ou em branco, que é o mesmo que não votar.

    è uma boa discussão.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador