A Eletrobras dá prejuízo? Ela é ineficiente?, por Rita Dias

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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A Eletrobras dá prejuízo? Ela é ineficiente?

por Rita Dias

Um estudo mais rigoroso mostraria que a Eletrobras vem sendo sucateada desde os anos oitenta, sendo exceção o período do governo Lula, contrabalançado pela forte retomada do sucateamento no governo Dilma. Todavia, a qualidade de seus ativos e de seu corpo técnico garante ainda hoje sua eficiência operacional.

A Eletrobras apresentou lucro de R$ 1,7 bilhão no primeiro semestre de 2017 e de R$ 3,4 bilhões em 2016. Todavia, a empresa apresentou resultados negativos entre 2012 e 2015. Para entender cada um desses resultados é preciso olhar sua composição em detalhes. 

Entre 2012 e 2015, a Eletrobras sofreu com os impactos de acontecimentos não relacionados com a operação eficiente de suas usinas e linhas de transmissão, como, por exemplo: i) a edição da MP 579, que se transformou na Lei 12.783; ii) a avalanche de provisões relacionadas aos processos do empréstimo compulsório; iii) impairments relacionados, principalmente, com a Lei 12.783, que alterou a projeção de receitas, e com a interrupção de obras, especialmente de Angra III; e iv) os prejuízos das suas subsidiárias de distribuição.

Estes foram os principais fatores responsáveis pelos prejuízos recentes da Eletrobras. Antes da edição da MP 579, a Eletrobras apresentou lucro durante noves anos em sequencia, de 2003 a 2011 (em média, R$2 bilhões de lucro/ano), sendo os lucros de 2010 e 2011 de R$ 2,5 bi e R$ 3,8 bi, respectivamente. Segue abaixo uma tabela que mostra o lucro da Eletrobras desconsiderando os impactos dos eventos não operacionais, citados acima, além do EBITDA Gerencial divulgado pela empresa, que exclui itens não recorrentes:

Um indicador financeiro comumente utilizado na análise da produtividade e eficiência do negócio, que compara o potencial de geração de caixa (Ebitda) com as Receitas Operacionais Líquidas, tem mostrado evolução constante no período recente. Este indicador passou de 11% em 2015 para 13% em 2016 e, em 2017, está em 24%, o que mostra que a empresa está gerando recursos em suas atividades operacionais, mesmo com a influência dos resultados ruins do segmento de distribuição.

Apenas com a Lei 12.783 a Eletrobras teve uma perda de receitas de cerca de R$10 bilhões anuais, além de sofrer uma baixa de ativos de montante de valor aproximado a este. A lei provocou uma perda de receita não proporcional à redução nas despesas, representando, assim, grande prejuízo para Eletrobras de 2012 em diante. A revogação dessa lei, colocada como descotização das usinas, proposta pelo governo, caso ela ocorresse com as usinas permanecendo na Eletrobras, ou seja, caso o governo optasse por fazer a mesma mudança regulatória sem privatizar a Eletrobras, elevaria a receita anual da Eletrobras e significaria a reversão da maior parte dos impairments e de contratos onerosos contabilizados pela empresa. Isso significa que, caso o governo decidisse pelas mudanças regulatórias, mantendo a Eletrobras pública, ela se tornaria altamente lucrativa nos segmentos de Geração e Transmissão, o que por si só já comprova sua eficiência. É fácil propagar a eficiência do setor privado quando as condições oferecidas a ele pelo governo são muito vantajosas quando comparadas as condições impostas às estatais (vide os preços praticados pelas usinas da Eletrobras).

Além disso, a retomada das obras de Angra III, com a redefinição de suas tarifas e antecipação do cronograma da obra, levando em consideração seu caráter estratégico, principalmente relacionado ao domínio da tecnologia nuclear, atuaria no mesmo sentido de rápida recuperação da empresa. Outra medida cuja resolução se dá no âmbito institucional, sem que haja relação com a privatização, seria a resolução do imbróglio dos passivos de empréstimos compulsórios, que hoje chegam a R$13,9 bilhões. Apenas a correção monetária dos empréstimos compulsórios foram de R$3 bilhões em 2016 e as despesas com pagamento ultrapassaram R$ 500 milhões. Ou seja, a resolução do problema jurídico do Empréstimo Compulsório, que já está no STF, poderia trazer um alívio substancial para empresa. É bom lembrar também que, normalmente, as privatizações costumam deixar um rastro de passivos para a União… a Eletrobras pode ser vendida por R$20 bi, mas é provável que o setor privado não assuma essas dívidas e, nesse caso, o resultado final da privatização pode ser inclusive negativo para as contas do Estado.

Fica evidenciado assim que a Eletrobras pode manter-se lucrativa sem causar os danos colaterais de aumento de preços e de perda de soberania nacional, basta um pouco de vontade política. Uma proposta que envolvesse um reajuste modesto nas tarifas aplicadas aos ativos renovados já seria suficiente para resolver os desequilíbrios financeiros da Eletrobras.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. Empresas públicas que operam no vermelho não são privatizadas

    Capitalista só compra empresas públicas lucrativas. Eles jamais investem em empresas públicas que operam no vermelho.

    1. Na verdade elas compram,

      Na verdade elas compram, mesmo porque faz parte da lógica quebrar as empresas públicas para justificar a sua venda.

      Mas note, o grande negócio não é a compra de ativos que podem estar ou não dando prejuízo contábil, o grande negócio que interessa nas privatizações é a compra dos mercados. Amanhã se trocam as máquinas e se constroem-se novas instalações mais eficientes. Já o direito de explorar um território não tem preço; tanto que nações vão a guerra por isso.

  2. O artigo expõe contra a

    O artigo expõe contra a privatização da Eletrobrás, mas raciocina da mesma forma que os *especialistas* cretinos da Globo e Cia. Ou seja, que importa análisar o lucro do balanço contábil pura e simples…

    O lucro de uma empresa tem que ser tomado como o lucro global. Para ser didático para os retardados da mídia (desculpem o pleonasmo), suponha uma empresa A de grande porte que compra energia de uma companhia B sendo lucro de B igual a 10%. Acontece que para a empresa A seria vantajoso construir ela mesmo uma usina mesmo que o lucro virtual dessa usina seja 1%, pois qualquer redução de custo de seus insumos é aumento do seu lucro final.

    Esse é o raciocínio que deve ser feito, ou seja, os analistas têm é que se preocupar em calcular qual é a despesa atual e qual será a despesa futura se as empresas forem privatizadas, particularmente se o forem para capitais internacionais.

    1. Cabeças de planilha

      O seu primeiro parágrafo é cirúrgico. A questão energética, em qualquer país, deveria ser tratada como uma questão de soberania nacional. Assim, o papel que a Eletrobras desempenhou e desempenha vai muito além do simples viés contábil. O sistema elétrico brasileiro é um dos mais complexos e eficientes do mundo, que propicia desenvolvimento econômico e social. Como precificar isso?  

  3. Concordo com um porém

    Eu trabalho na Eletrobras e concheço todos esse problemas da empresa.

     

    De fato a Eletrobras tem jeito. Basta resolver alguns imbróglios: Angra 3, Empréstimo Compulsório, RAP O&M das concessões de transmissão renovadas, definição das regras de revisão tarifária e de incorporação de melhorias das concessões de geração renovadas, venda das distribuidoras e um plano de demissão voluntária digno.

     

    Mas dizer que no governo Lula não teve sucateamento é brincadeira. 

     

    Durante o governo Lula a eletrobras entrou em diversos negócios e SPEs que eram claramente armadilhas. A Eletrobras gastou dinheiro para contruir Santo Antonio, Jirau e Belo Monte em troca de uma taxa de retorno ficticia. Na pratica o retorno financeiro destes investimentos tem sido muito baixo e em alguns casos o VPL já está negativo.

     

    Ainda em 2003, com o novo modelo, a Eletrobras teve sua Energia descontratada, tendo que revender a preço irrisórios.

     

    O Luiz Pinguelli Rosa foi um dos dissidentes da equipe energética de Lula, ainda nos primeiros anos do governo, antes da publicação do Novo Modelo. Uma de suas principais críticas era o enfraquecimento da Eletrobras. Coincidência ou não, o valor das ações ordinárias da estatal acumulou queda de mais de 40% desde a aprovação do Novo Modelo até antes da MP 579. Com a MP 579 a Dilma transformou as ações da empresa em pó. 

     

    A Dilma colocou foi a pá de cal e agora quer posar de defensora da Empresa.

     

    Mas falar que Lula tratou de forma correta a Eletrobras é piada. 

     

    A Empresa só tomou porrada desde o fim do governo militar e de todos os governos seja PT ou PSDB.

    1. Ainda em 2003, com o novo

      …A Eletrobras gastou dinheiro para contruir Santo Antonio, Jirau e Belo Monte em troca de uma taxa de retorno ficticia. Na pratica o retorno financeiro destes investimentos tem sido muito baixo e em alguns casos o VPL já está negativo.

      Ainda em 2003, com o novo modelo, a Eletrobras teve sua Energia descontratada, tendo que revender a preço irrisórios… Com a MP 579 a Dilma transformou as ações da empresa em pó. 

      Ok, mas esse sacrifício da Eletrobras e depreciação do seu valor de mercado significam prejuízo ou lucro do ponto de vista global ao país? Você sabe quantificar? Ou só importa o valor das ações? Aliás, ações que servem a dar lucro a especuladores na bolsa de Nova York.

       

       

      1. Vale lembrar que as

        Vale lembrar que as concessões venceriam em 2015 e se não renovasse pela MP579, teria que disputar em um leilão com outorga bilionária.

  4. Quem não se lembra dos

    Quem não se lembra dos bueiros explodindo no Rio de Janeiro por falta de manutenção? Era uma empresa privada (se não me engano chilena) a concessionária. Ninguém se iluda com a mentira da redução das tarifas. As telecomunicações (por celular) melhoraram por causa da explosão de tecnologia nas comunicações móveis, que são rentáveis até na África e as tarifas do serviço só estão caindo por conta do Facebook e do WhatsApp.

  5. SERVIÇOS PÚBLICOS

    Acreditamos que ADMINISTRAR não é simplesmente fazer dar lucro ou prejuízo. Existe ADMINISTRAÇÃO FAMILIAR, ADMINISTRAÇÃO PRIVADA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Não se pode conduzir a coisa pública como se fosse privada ou familiar. Em primeiro lugar, empresas que prestam serviços públicos não tem objetivo de dar lucro, e sim de prestar bons serviços, preferentemente sem gerar prejuízos. Caso exista prejuízo, é muito melhor despesas com os serviços públicos ser dividida com toda a população que utiliza do que lucro com alguns particulares. Assim sendo, duas premissas aparecem:

    1)  EMPRESAS QUE PRESTAM SERVIÇOS PÚBLICOS NÃO DEVEM SER ALIENADAS OU PRIVATIZADAS e

    2) SERVIÇOS PÚBLICOS PRESTADOS POR EMPRESAS PRIVADAS SÃO NEFASTOS PARA A POPULAÇÃO. 

    Lucro ou prejuízo nunca podem influir na privatização de empresas que prestam serviços públicos. O único critério aceitável para privatizar serviços públicos seria o de PERDA DA LIBERDADE DA POPULAÇÃO. Aliás, privatização de serviços públicos causa justamente isso: PERDA DA LIBERDADE o que é inadmissível.

     

  6. A Eletrobras é gargalo no desenvolvimento do País

    Vários projetos de implantação de Usinas estão parados porque dependem da Eletrobras investir nas linhas de transmissão. A Eletrobrás não tem caixa e está tendo que buscar investidores internacionais para assurmirem essas obras.São muito sanos de prejuizo e quem paga é o mais pobre, sempre. A Eletrobras por sí só já está privatizando seus negócios, basta ver a quantidade de SPEs que criou entre 2004 e 2014 para fugir da fiscalização do TCU e de alguma forma ter a agilidade do setor privado.   A Eletrobras investiu milhões em parques  eolicos e hoje estão sucateados sem mesmo ter gerado energia, esses prejuizos não aparecem em relatório nenhum…. Defender que a população pague por prejuizos de estatais é defender a miséria no país, visto que quem não tem como escapar disso são os mais pobres.   Imagine se a Embratel não tivesse sido privatizada, hoje internet seria monopolio da Embrastel…jamais seria acessivel para todos, jamais haveria acesso a celular e tantos aparelhos celulares no pais. Só pra lembrar uma linha telefonica antes da privatização custava US$ 3.000 e o tempo para instalar até 5 anos, as vezes mais.

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