Ronaldo Bicalho
Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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A maldição do petróleo e o boom do preço nos anos 2000

Do Blog Infopetro

Em duas postagens anteriores (*), abordamos a validade da tese de maldição de recursos naturais quando considerados os países ricos em petróleo. Nesta postagem, utilizamos instrumental econométrico mais robusto para identificar a validade da tese para a década de 2000.

A hipótese teórica da chamada maldição dos recursos naturais (MRN) diz que quanto maior a abundância de recursos naturais em determinado país, menor tende a ser o ritmo de desenvolvimento econômico. De maneira mais especifica este argumento é utilizado para relacionar o baixo desempenho econômico dos países ricos em petróleo com a existência de uma maldição do petróleo.

Existem dezenas de modelos dedicados a explorar as diversas facetas da MRN. No entanto, poucos modelos se dedicam a tratar do tema em períodos de análise mais recentes. Esta postagem busca investigar a situação desta “maldição do petróleo” ao longo dos anos 2000. Essa década foi marcada pela situação peculiar de uma valorização dos termos de troca dos produtos básicos, que pode ser verificada pela explosão do preço de diversas commodities, dentre as quais se destaca o boom no preço do petróleo.

MRN ou ciclo de preços?

O período de tempo usualmente considerado para estudar a MRN, décadas de 1980 e 1990, se caracteriza por preços deprimidos das commodities, o que, certamente, impacta negativamente o desempenho econômico dos países intensivos em recursos naturais. Nas, os países ditos emergentes estavam sofrendo a reversão dos ciclos de investimento iniciados nas décadas de 60 e 70. Os anos 80 ficaram conhecidos em diversos países do mundo como a década perdida, e mesmo as economias centrais tiveram que fazer ajustes para romper a estagflação que caracterizou este período.

No caso do petróleo, os efeitos são ainda mais intensos devido aos eventos que marcaram o mercado de petróleo nas décadas de 1970, 80 e 90. Enquanto a década de 1970 foi marcada por dois grandes choques de preço que fizeram o preço nominal do petróleo saltar de 3 para cerca de 40 dólares por barril entre 1973 e 1979, as décadas de 1980 e 1990 são caracterizadas pela grande retração no preço e a seguida estagnação a preços baixíssimos durante todo o período que vai de 1980 a 1999, conforme se pode observar no gráfico 1. Neste período se pode perceber que a curva dos preços internacionais do petróleo fica por quase duas décadas inteiras num aspecto de “L”. Este período ficou conhecido na indústria como o contrachoque do petróleo, e é caracterizado pelo excesso de oferta que levou os preços a atingirem níveis reais não muito superiores aos da década de 1960.

Durante a década de 1980, os preços do petróleo no mercado internacional (Brent) caíram quase 60%. Na década seguinte, a queda acumulada foi de 9% (tabela 1). 

Gráfico 1 – Evolução dos preços reais do petróleo e médias decenais (US$ 2012/bbl) – 1970 -2012

                                                                                    luciano102013a

Nota: 1970 – 1983: Arabian Light. 1984 – 2012: Brent

Fonte: BP – BP Statistical Review of World Energy 2013

 

Tabela 1 – Variação dos preços do petroleo acumulada nas décadas 1980, 1990 e 2000.

 

1980-1990

1990-2000

2000-2010

Variação dos preços

-59,4%

-8,8%

120,3%

Fonte: BP – BP Statistical Review of World Energy 2013

Na década de 2000, os países exportadores de commodities se beneficiaram sobremaneira dos recursos conseguidos com o aumento dos preços que o mercado paga pelos seus produtos. Entre 2000 e 2010 os preços do petróleo mais que dobraram no mercado internacional (tabela 1 )[1]. O que procuramos testar nesse estudo é se a maldição do petróleo, que é evidenciado no período de queda do preço, resiste em um período em que os preços experimentam um boom. (…) Continua no Blog Infopetro

Ronaldo Bicalho

Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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