Chernobyl: relato de uma visita, por Alexandre Ferreira Ramos

Chernobyl: relato de uma visita

Por Alexandre Ferreira Ramos [1]

Ref. ao post 28 anos após acidente nuclear, fotógrafo faz vídeo incrível de Chernobyl

Recentemente, um vídeo feito por um drone no entorno da Usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia foi amplamente divulgado, em conjunto com um artigo [2], que apresenta informações que devem ser abordadas com maior precisão. Aqui, refino as informações apresentadas e relato minha visita ao sítio do reator acidentado de Chernobyl, exibido na figura ao lado.

Em consequência direta da radiação emitida pelos radionuclídeos liberados ao ambiente após o acidente do reator 4 da usina de Chernobyl, morreram 28 pessoas durante o ano de 1986, todos bombeiros que atuaram durante o período emergencial pós-acidente.

Mais dezenove bombeiros faleceram entre os anos de 1987 – 2004, a maioria por consequências da radiação. Esses bombeiros fazem parte de um grupo de 134 bombeiros sofreram da Síndrome da Radiação Aguda em decorrência de altas doses de radiação recebidas em curto intervalo de tempo.

Um total de 600 mil bombeiros atuou nas operações de restauro pós-acidente e neste grupo esperam-se a ocorrência de 4 mil cânceres fatais em decorrência da radiação. Essa estimativa foi realizada a partir de modelos e dados disponíveis para outras populações. Ressalte-se que dentre esses bombeiros, esperam-se a morte de 100 mil por cânceres cujas causas sejam outras que não a radiação. Para uma comparação, apenas no ano de 2010 o trânsito brasileiro matou mais de 40 mil pessoas enquanto que mais de 400 mil pessoas receberam indenizações por invalidez permanente do seguro DPVAT em 2013.

Não houve transmissão de efeitos de radiação distinguíveis à prole dos indivíduos por ela atingidos, como deixa sugerido o autor do texto comentado.

De fato, a região de Chernobyl é utilizada para estudos científicos a respeito dos efeitos da radiação. Em um desses estudos, publicado 10 anos após o acidente, no prestigioso periódico Nature [3], foi anunciada a detecção de altas taxas de modificações genéticas em roedores habitantes do entorno do reator acidentado, quando comparados com uma população de controle. Um ano depois, o mesmo grupo de autores escrevia uma retratação ao mesmo jornal [4] e informavam que suas conclusões estavam incorretas. É que um estudante, ao tentar reproduzir os resultados utilizando uma técnica mais precisa, não o conseguiu. Seus resultados mostravam que as taxas de mutação eram idênticas para as duas populações de roedores. Por fim, os pesquisadores ainda verificaram que estavam comparando espécies distintas de animais.

Também ocorreram 4 mil casos de câncer de tireoide em indivíduos que eram crianças no período do acidente, devido à ingestão de um isótopo radioativo de iodo, a iodina 131. Esses isótopos foram liberados após a exposição do vaso do reator acidentado e se acumularam nas pastagens e plantações da região. As hortaliças e o leite do gado que pastava na região foi ingerida pela população. O iodo (e a iodina), tendem a acumular-se, até a saturação, na glândula tireoide.

Ademais, é sabido que a radiação induz o câncer nessa glândula. Sendo assim, nas populações que não receberam pílulas de iodo como medida preventiva, houve o acúmulo de iodina na tireoide e esta induziu o câncer.

As informações acima constam de um relatório de consenso elaborado pelo Fórum Chernobyl, estabelecido em 2003, e composto pela Agência Internacional de Energia Atômica, em cooperação com outras agências da Organização das Nações Unidas (Organização Mundial da Saúde, o Programa para o Desenvolvimento, Organização para Alimentação e Agricultura, Programa para o Meio Ambiente, Coordenação de Assuntos Humanitários, Comitê sobre Efeitos de Radiação Atômica) e com os governos da Bielorússia, Rússia e Ucrânia. Cientistas de todo o mundo, especializados em meio ambiente, saúde, economia, ciências sociais, etc, foram convidados a reunir informações publicadas na literatura especializada, analisar esses estudos e estabelecer conclusões consensuais sobre os efeitos do acidente na Bielorússia, Rússia, e Ucrânia. Somente o relatório de 2008 sobre os efeitos à saúde apresentam 396 referências consultadas. A análise da literatura, e as conclusões a que se chegaram, foram compiladas e apresentadas em um conjunto de relatórios que consistem de mais de 600 páginas.

No dia 28 de junho de 2014 visitei a região do reator acidentado de Chernobyl, um dia após a Ucrânia assinar um acordo de livre comércio com a União Européia. Incluo aqui algumas fotos de minha visita, realizada com guia turístico ao custo de 200 dólares [5].

Após a ocorrência do acidente, os reatores 1, 2 e 3, também localizados na região,  permaneceram em operação e foram desativados paulatinamente. O último a ser desativado foi o reator de número 3, em 2000. Na foto abaixo, mostramos as linhas de alta tensão que levavam eletricidade da usina para o restante do país ou exterior. Ao redor dos cabos, notese que há vegetação densa, típica dessa área. Esta vegetação foi beneficiada pela remoção de grandes populações humanas, uma vez que não há agricultura ou mesmo manejamento da floresta para esse fim.

A remoção de aproximadamente 400 mil pessoas da região, motivou a volta de vida selvagem. É possível que no futuro, a chamada zona de exclusão de Chernobyl, compreendida por um raio de até 30 km de distância do reator acidentado, se torne um santuário ecológico. Esta informação foi colhida durante minha visita, enquanto eu conversava como guia. Na foto a esquerda vemos a ocupação por vegetais de uma edificação abandonada. Note que há lodo nas paredes. Já tive a experiência de visitar estações de trêm abandonadas no Estado de São Paulo e observei o mesmo padrão de ocupação por fungos e vegetais.

Abaixo também mostro a foto de cavalos que vivem na região. Após a remoção da população do entorno do reator acidentado cessaram a caça e a silvicultura. Por isso, grandes mamíferos e aves voltaram a frequentar a região, como javalis, lobos e a águiarabalva.

Essas transformações estão modificando a ecologia local. Por exemplo, recentemente foi publicado um trabalho científico em que se afirmava, categoricamente, que a radiação motivou uma elevação na ocorrência de anormalidades em andorinhas da região do reator [6]. Porém, os dados apresentados e a metodologia são insuficientes para sustentar tal conclusão. Isto motivou a redação de um segundo artigo, questionando os autores do primeiro trabalho [7]. O autor do segundo trabalho sugere que as anormalidades ocorrendo nas andorinhas locais são um processo de adaptação às novas condições da região. É que essas andorinhas costumam habitar regiões em que há atividade humana, o que não mais ocorre, e portanto, novas pressões evolutivas foram introduzidas.

Durante a visita, também visualizei a construção do novo sarcófago, que terá a função de confinar o reator acidentado e isolá-lo do ambiente ao redor. Este projeto foi estabelecido em 1997 e consiste na construção de uma estrutura semelhante ao ginásio do Ibirapuera. Esta estrutura está sendo montada ao lado do reator 4 e, quando estiver pronta, será transferida por trilhos, para cobrir o reator acidentado. Naturalmente, há operários atuando na construção dessa estrutura como é possível verificar na foto ao lado.

Outra estrutura em construção, ainda na área da usina, é o repositório do combustível usado nos reatores que permaneceram em operação, os reatores 1, 2 e 3. As duas estruturas, o sarcófago e o repositório do combustível usado, constituem o conjunto de obras necessárias ao descomissionamento da usina nuclear de Chernobyl.

Estas obras destinam-se a garantir a segurança ambiental da região. O financiamento dessas obras é oriundo de um esforço internacional, com o recebimento de doações da Comunidade Européia, Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Japão, Rússia, Ucrânia, etc e o custo final da obra é estimado em 2 bilhões de euros.

É importante mencionar as doses de radiação que recebi enquanto realizava minha visita. No local da construção do sarcófago, por exemplo, onde as doses eram as mais altas, a dose que eu recebia era de 2.03 mSv/h. Esta dose é mostrada na foto ao lado, do contador Geiger que utilizei durante minha visita ao sítio do reator acidentado. Medidas de dose de radiação em vôos comerciais, entre as cidades de Paris e Buenos Aires, a dose média recebida é de 3 mSv/h enquanto que no vôo de Paris a Tóquio, é de 6,6 mSv/h [8]. Uma breve nota, atrás do contador Geiger, há um jovem, que a época do acidente tinha sete anos e vivia na Polônia. Ele se recorda de que naquele período, seu pai lhe dizia para ingerir pílulas de iodo, para prevenir a absorção de iodina por sua glândula tireoide.

Essas observações in loco, a análise de estudos científicos realizados em Chernobyl, as comparações com dados do trânsito brasileiro, ou sobre as doses de radiação absorvidas em vôos comerciais, nos fazem refletir a respeito da diferença entre risco real e a subjetividade da noção de risco assumida por indivíduos. Não bastasse a subjetividade nesse nível, ela também induziu a um viés cognitivo em equipes científicas que realizam investigações de campo na região do acidente, como exemplificado pelos artigos aqui citados. Nesses trabalhos, os autores não avaliaram os experimentos e seus resultados, mas tentaram utilizar os dados para demonstrar um ponto-de-vista pré-concebido e, não necessariamente, correto. Esse tipo de comportamento levou dois dos autores dos trabalhos publicados na revista Nature a redigir um conjunto de reflexões acerca da profissão de cientista [9]. Uma fração significativa de suas conclusões são lições transmitidas a estudantes de primeiro ano de graduação em ciências naturais. Todavia, as forças do viés cognitivo e da ideologia foram tamanhas que autores somente incorporaram suas lições básicas pelos próprios erros.

Gostaria que este fosse um privilégio dos autores dos estudos aqui citados, mas estou mais inclinado a considerar que o comportamento enviesado seria compartilhado por fração significativa da comunidade científica. Ressalte-se ainda que o primeiro trabalho publicado na Nature apareceu para o público em 25 de abril de 1996, dez anos após o acidente, num clima de intensa pressão política, como os próprios autores reconhecem em suas reflexões.

O acidente de Chernobyl, devido a falta de informações a respeito, levantou toda uma gama de especulações catastrofistas. Ele paira sobre a cultura contemporânea como um mito, bastante semelhante ao de Ícaro. Em uma possível interpretação desse mito, Ícaro pagou com sua vida ao tentar ascender à luz do conhecimento. Paralelamente, não é difícil encontrar na internet textos em que apresentam-se o acidente de Chernobyl como o castigo recebido pela humanidade por seu desejo de compreender a natureza em seus níveis mais fundamentais e, com isso, beneficiar-se de suas propriedades [10]. Esse pensamento, composto de ideologia e obscurantismo, acabou por nortear a opinião de uma parcela significativa da sociedade. Todavia, considerando-se que um dos pilares centrais da civilização atual é a eletricidade, esse debate necessita ser realizado sobre bases científicas. Destarte, esperamos, com as limitações inevitáveis, ter apontado um caminho para que a discussão sobre Chernobyl seja realizada sobre fatos.

1 Escola de Artes, Ciências e Humanidades; Dept. de Radiologia, Fac. de Medicina; Núcleo de Modelagem de Sistemas Complexos. Universidade de São Paulo.

2 http://www.jornalggn.com.br/blog/alfeu/28-anos-apos-acidente-nuclear-fotografo-faz-video-incrivel-de-chernobyl

3 Baker et al, Nature, 380: 707 – 708, 1996.

4 Baker et al, Nature, 390: 100, 1997.

5 http://www.tourkiev.com/

6 Moller et al. Biol. Lett., 3: 414 – 417, 2007.

7 Smith. Biol. Lett., 4: 63 – 64, 2008.

8 http://www.hps.org/publicinformation/ate/faqs/commercialflights.html

9 Chesser e Baker. American Scientist, 94: 542 – 549, 2006.

10 https://jornalggn.com.br/blog/frederico-fuellgraf/chernobyl-cronica-do-dia-depois-por-frederico-fuellgraf

Redação

18 Comentários

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  1. Reatores que permanecem

    Caro Alexandre FRamos,

    O relato é muito bom, permite aos leigos uma informação sem conceitos pré-concebidos a respeito de tecnologia e usina nuclear, o que não significa que conseguirá anular o forte viés ideológico e obscurantista que sempre rondou o assunto, e acentuou-se após o estouro do reator 4 de Chernobyl.

    Sua proposta, repassada de modo bastante delicado e educado, me parece ser a de uma reflexão melhor elaborada sobre a utilização de energia nuclear como fonte de eletricidade.

    Eu faço parte da faixa formada por leigos que têm interesse sobre o assunto, e desta maneira sempre busquei acompanhar os principais fatos que ocorreram pelo mundo, Three Mile Island, Chernobyl e Fukushima, além do episódio de vazamento do Césio -137 no patropi. 

    Em minha opinião, o maior gancho dos contrários às usinas nucleares é o destino do lixo radioativo, material para o qual ainda não encontraram a solução ideal, mas o fato é que existem mais de 430 usinas no planeta e em torno de 70 delas em construção.

    Após o acidente nos USA na década de 70, não se fechou nenhuma usina em lugar nenhum, e após o acidente do Japão talvez não tenham sido fechadas dez delas, fora a maioria ( não todos)  dos reatores japoneses, e eu parto daqui – Se um reator nuclear representa todo este perigo que muitos afimam, por qual motivo ninguém desativa os reatores de jeito nenhum ?

    Sobre o destino do lixo nuclear, tudo indica que existe uma tecnologia bastante desenvolvida para lidar com a questão, caso contrário diversos países não estariam construindo mais de 70 reatores neste momento, número que seria maior caso não tivesse ocorrido aquela barbeiragem no Japão.

    Abrir mão de reator nuclear para ficar pendurado no exotismo das energias eólica, solar e outras, o bloqueio deste debate por aqui me parece mais um dos inúmeros erros grotescos que sempre ocuparam o patropi.  A construção de Angra 3, que também  deve ter sofrido atraso em função do acidente japonês, se arrasta desde os anos 80, terá potência equivalente à de Angra 2,  cerca de 1.300 MW e sabe-se lá quando ficará concluída.

    1. Outra pergunta estúpida.

      Parte dos elementos radioativos que existem nas usinas, existem na natureza com grau de concentração milhares de vezes menor, por que a diluição destes elementos até um grau de concentração compatível com as condições naturais não é feita e distribuída de forma diluída?

      1. DILUIÇÃO PELA NATUREZA

        Porque a diluição é realizada pela própria natureza e pode levar milhões de anos até se completar ao mínimo. Por exemplo: o chumbo é a meia vida do elemento urânio, que dura a milhares de anos e ainda continua o processo.

    2. Esta é a maior balela do
      Esta é a maior balela do assunto. Lixo nuclear nunca foi problema.
      O problema é a ignorância.
      Eles imaginam que a matéria que foi irradiada fica radioativa. Simples assim.

      Se vc se interessa, lei sobre reatores de quarta geração.

      1. Desculpem-me pela demora em

        Desculpem-me pela demora em responder, mas não tive a oportunidade de escrever antes devido a outras responsabilidades. De fato, engenheiros dão a questão do combustível usada como resolvida. Na França e no Japão, há o reprocessamento do combustível, e a consequente reutilização. Outra solução tecnicamente viável é o tratamento do combustível usado por reatores de fusão-fissão. Porém, está ainda não está disponível. A construção de repositórios subterrâneos, como adotada pela Suécia, também é possível. Neste caso, há que se considerar que se estão enterrando material que poderia ser utilizado. 

    1. Sim, uma pequena imprecisão
      Sim, uma pequena imprecisão do texto. Vou aproveitar sua deixa para fazer meu comentário.
      Foram 600mil homens diferentes, boa parte trabalhou por 50 segundos apenas. A maioria militares e não bombeiros.

      Tem outras pequenas imprecisões, não há previsão de.morte diferente no grupo de trabalho. Todos estão incluídos nas 4000 mortes previstas. As 4000 é a previsão de baixa do acidente. Não existe 4k +100k. Não faz o menor sentido.

      Dos mortos citados estão os operadores, duas crianças, o cinegrafista que fez todas as imagens da epoca e tripulantes do helicóptero que caiu bem sobre a usina.

      O relatório, tanto da ONU quanto o dos soviéticos hoje são aceitos como incorretos.
      O dos soviéticos obviamente mais incorreto. Atribui as causas aos operadores unicamente.
      Depois, após o suicídio do projetista do reator, deram o braço a torcer.
      O da ONU também foi tendencioso por atribuir peso demais a “insegurança” do projeto.
      A conclusão aceita hoje é que não há 1 motivo único. Foi o somatório deles.
      O acidente aconteceu por má operação do reator que era instável em determinadas configurações.
      Contribuíram para isso o mal treinamento de.pessoal e a doutrina de trabalho local que priorizava a.produção em detrimento da segurança.
      O designe do reator, como qualquer outro, é estável dentro das especificações em que foi planejado para operar. E mais instável que outros fora destas especificações.

      1. Obrigado pelo comentário, de

        Obrigado pelo comentário, de fato faltou clareza em meu texto. 

        Optei por não abordar a descrição do acidente e suas causas, fiz bem pois sua descrição é muito boa.

        Há a previsão de 4k mortes por cânceres causados pela radiação entre os trabalhadores que atuaram na eliminação dos efeitos do acidente. Em inglês, esses trabalhadores foram chamados “liquidators”. Minha tradução foi infeliz, pois os chamei de “bombeiros”. Dentre esses “liquidators” há militares, operadores da Usina, profissionais da área nuclear, etc. O relatório da ONU trata que havia 600 k “liquidators”, já o relatório produzido pelo governo ucraniano considera aproximadamente 300 k “liquidators”.

        Quanto às outras 100k mortes, elas não são contabilizadas como mortes causadas pelo acidente. Quis dizer que, sem considerar-se quaisquer efeitos da radiação causada pelo acidente, dentre os 600k individuos que atuaram na eliminação dos efeitos do acidente, 100k morreriam de cânceres cujas causas seriam outras. Isto é, suas mortes não serão efeitos indiretos do acidente.

  2. Algum engenheiro que trabalhe na área me responda.

    Tenho uma dúvida, por que reatores nucleares não são construídos em instalações subterrâneas?

    Caso fosse assim feitos qualquer contensão ficaria mais simples e custos com prevenção contra o choque de aviões, por exemplo, seriam minimizados!

    1. Extremamente leigo que sou,

      Extremamente leigo que sou, consigo imaginar um ponto negativo (custo, já que até um buraco de metrô custa uma fortuna, sem falar do LHC) e uma consequência grave (contaminação do solo), mas um especialista pode confirmar se esse meu palpite faz sentido.

  3. Falar sobre as mortes no

    Falar sobre as mortes no transito no Brasil nao tem sentido se nao houver coragem de se falar no fim da propaganda de bebidas alcoolicas, tal como se fez com o tabaco. Enquanto o lobby da cerveja enriquecer as burras da “cadeia produtiva” incluidas ai a publicidade e seus veiculos, as pessoas continuarao morrendo no transito. Sabe por que? Porque Sim.

    Portanto nao me venha falar em mortes no transito em comparacao a Chernobyl ou Fukushima (os japoneses sao especialistas em se desculpar por sua estupidez).

    Milhares de jovens brasileiros sao bestializados todos os dias com essa propaganda imoral pela cerveja que reconhece a culpa ao pedir para beber com moderacao. Deviam acrescentar tambem, matem com moderacao.

     

  4. Muito interessante a matéria.

    Muito interessante a matéria. Como sugestão, também seria de grande interesse uma reportagem sobre a situação das nossas usinas nucleares em Angra dos Reis.

  5. Sobre as causas acrescento
    Sobre o experimento….
    Era a quarta tentativa do teste que seria realizado para AUMENTAR a segurança do reator.
    Caso ocorresse algum mal funcionamento, existia um gap de 60 segundos em que a usina ficaria/poderia ficar SEM resfriamento pois este era o tempo necessário para que os geradores a diesel de emergencia atingissem sua potência.
    Para diminuir estes 60 segundos teorizou se que o reator ao se desligar teria capacidade para gerar energia suficiente para acionar as bombas que fazem a água girar no loop e/ou.se a própria inércia da água (que estava looping) era suficiente para resfriar.

    Os 60 segundos não eram um problema muito grande pois ainda haviam outros sistemas de segurança. Seria apenas um plus, um aperfeiçoamento para a segurança.

    Bom, o teste consistia em desligar TODOS OS SISTEMAS DE SEGURANÇA, desligar a usina e ver se a energia cinética do sistema era suficiente para suprir os sistemas de refrigeramento do reator.

    O teste estava agendado para o dia anterior. A usina foi desligada no dia anterior a meia noite, o teste se iniciou MAS receberam ordem para voltar a produzir. Então a usina voltou a 100% de carga pouco depois da meia noite.
    Apenas isto já seria suficiente para cancelar o teste. Porque? Por causa do veneno!
    Alguns dos produtos da fissão(xeon) são absorvedores de nêutrons, ou seja, diminuem a quantidade de reações. Estes são chamados de venenos por serem indesejáveis.
    Sabe se que reatores com potência instável produzem mais veneno, que tem uma meia vida de apenas 24 horas.

    Bom, voltando ao reator 4, ele foi desligado e religado em seguida criando assim uma quantidade imprevisível de veneno. O procedimento correto seria aguardar 24horas com o reator a plena carga ou desligado para que o Xeon decaisse e depois realizar o teste.
    Mas não fizeram isso.

    Outro agravante é que a troca de turno se dava a maia noite, hora escolhida para a realização do teste.

    A.meia noite do dia seguinte no reator foi desligado, todos os sistemas de segurança manualmente desligados e o teste se iniciou.
    O teste consistia em manter o reator em 700mW térmicos de potência e verificar SE a inercia da água seria suficiente para gerar energia para acionar as bombas.
    Aí começaram os problemas, não conseguiram estabilizar o reator em 700mW térmicos. O reator estava com potência MUITO inferior ao previsto.
    O que o novo turno (foi trocado) fez? Removeu as asyes de controle absorvedor as de nêutrons. E, aí é que é a parte incrível, mesmo removendo as astes de controle o reator não atingiu a potência. Isso era sinal de que? Lembra do veneno?
    Então o que os operadores resolveram fazer? Removeram mais astes de.controle e a um nível NÃO permitido pelo fabricante. Removeram o mínimo possível para funcionamento. Eram 15 astes no mínimo e deixaram apenas 4.

    A partir daqui é que vem as discrepâncias nos relatórios principalmente sobre o que de fato causou a explosão.

    Vou sair para almoçar e completo logo mais….

    1. A discrepância entre as duas

      ERRATA para acima, eram 28 astes de controle no mínimo(de acordo com o fabricante) das quais foram removidas 18. Ficaram 10.

      ERRATA 2 – Meia vida do Xeon é de 9.2 horas. 24 horas é quanto dura o procedimento para eliminar o excesso de veneno de um reator. Na verdade vc não faz nada, só espera decair ligado ou desligado, tanto faz.

       

      A discrepância entre as duas versões é sobre o momento da explosão.

      Os russos disseram que explodiu porque o reator foi mal operado… e foi mesmo.

      A ONU, a partir de seu relatório(ocidental dos “amigos” da rússia e adversários comerciais), diz que o teste foi concluído e ao se iniciar o procedimento de desligamento houve um pico de potencia.

      O que teria causado o aumento da potencia teria sido o próprio início do procedimento do desligamento de emergência(SCRAM) que insere todas as astes de controle.

      Eles focaram no designe. Disseram que as astes de controle eram mal feitas porque suas pontas tinham um invólucro de grafite, que é um moderador, ou seja acelera as reações. então a aste que é inserida para reduzir as reações, durante um momento aumenta as reações.

      Este é um ponto do designe. Existem outros. Um seria o chamado void coeficient.  Void coefficient é a taxa de aumento ou diminuição da reatividade do reator ao surgirem bolhas na água, ou seja, ao trocar água líquida por vapor, que tem outras propriedades. O reator em questão tinha um coeficiente POSITIVO alto.

      O reator(são os chamados reatores térmicos) é moderado a grafite, ou seja, os neutrons tem sua velocidade reduzida pelo grafite para assim aumentar as reações e poder sustentar uma reação em cadeia.  Sem reduzir a velocidade dos neutrons, não há reação em cadeia neste tipo de reator e em quase todos os do mundo,.

      Bom, voltando ao VOID, a água que é apenas usada para transferência de calor, pode ferver. Ao ferver são criadas bolhas de vapor dentro do sistema de transferência de calor. Neste momento vc deve estar se perguntando, se a água é apenas para transferência de calor, o que tem a ver com as reações do núcleo do reator. Acontece que a água, que SERIA usada apenas para transferencia de calor , também absorve neutrons. 

      Lembra que os sistemas de segurança estavam todos desligados? A água não estava circulando como deveria e isso certamente aumentou a quantidade de bolhas de vapor, aumentando assim a potência.

      Mas… o reator não estava funcionando com potência menor que a esperada??? Sim, devido ao veneno…, porêm, a configuração do reator era para uma potencia muito maior.  Quando o veneno decaiu(especulação pura) e parou de absorver neutrons…a potencia explodiu.

      Basicamente os operadores conseguiram deixar o reator maluco durante o experimento. Maluco e imprevisível!!!

      A principal crítica ao designe ficou por conta do desenho das astes de controle. Voltando ao acidente e para finalizar o designe, as astes de controle(absorvedoras de neutrons), ao serem inseridas com suas pontas cheias de grafite(este é o defeito MOR) por um momento diminuem a quantidade de água(que absorve neutrons) e aumenta a moderação do reator, ou seja, desacelera os neutrons aumentando assim a reatividade.  Quem teve a brilhante idéia de fazer astes de controle com ponta de grafite: Este é um BIG MISTAKE.

      Não se sabe exatamente em que momento se deu a explosão. Se foi ao se inserir as astes, seria falha de designe. Se foi antes(do acionamento do botão SCRAM), seria falha de operação.
      O botão foi apertado mais de uma vez e quem apertou morreu.

      NÃO INTERESSA!!!

      O fato é que foi o somatório das duas coisas. O relatório russo, ignorou as falhas de designe e a ONU(EUA, França e etc) deu enfase demais as falhas, que não eram críticas, no designe do reator.

      E o acidente não teria ocorrido se o teste tivesse sido realizado por pessoas qualificadas.

  6. Uma leitura útil
    A leitura é com certeza bastante esclarecedora e de fácil compreensão, acredito que esta atinja seu objetivo quanto a desmistificar essas “lendas”, impossível conceber a ideia de que lugar é hoje tão inabitável vendo quão crescente é numero de vida que vemos se estabelecer no local.
    Se aqui couber alguma sugestão, seria muito agradável poder entrar em contato com mais publicações como essa. Parabéns!

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