Ronaldo Bicalho
Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
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Desafios para o Brasil no novo cenário do mercado internacional de petróleo

Do Blog Infopetro

Por Edmar de Almeida

O Brasil foi pego no contrapé pela mudança inesperada do contexto do mercado mundial de petróleo. O país se lançou no desafio de desenvolver uma nova fronteira petrolífera, de custo elevado, num contexto de preços altos. Entretanto, a forte queda dos preços a partir do final de 2014 passou a desafiar a sustentabilidade econômica do projeto de expansão da produção de petróleo brasileira. Desta forma, o contexto do mercado mundial de petróleo impõe uma agenda de reflexões e discussões sobre as melhores estratégias para garantir a sustentabilidade econômica do projeto do Pré-sal.

 

A mudança do cenário do mercado mundial de petróleo

A produção mundial de petróleo aumentou mais do que a demanda a partir do início de 2014. O excesso de oferta de petróleo no mundo ultrapassa os 3 milhões de barris por dia atualmente. Diante do excesso de oferta, trava-se uma batalha econômica para se decidir quem será o swing producer que pagará o preço do ajuste. A recusa dos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em particular da Arábia Saudita, de reduzir seu teto de produção e jogar seu papel histórico de swing producer, exacerbou o nível de incerteza do mercado. Desde então, as especulações sobre o que pode acontecer com a oferta e demanda vêm ditando o ritmo do mercado. Trata-se de uma grande disputa econômica em que os principais atores são os Estados Unidos, a China, a Rússia, a Arábia Saudita e o restante da OPEP.

Os Estados Unidos foram responsáveis pela queda do preço do petróleo no mercado internacional ao aumentarem a produção de petróleo e líquidos de gás natural em aproximadamente 5 milhões de barris por dia (mb/d) entre 2010 e 2014. Ao mesmo tempo, o consumo de petróleo do país manteve-se estável em torno dos 19 mb/d no mesmo período.  O resultado foi a redução drástica das importações de óleo de fora da América do Norte colocando enorme pressão sobre a OPEP para buscar mercados alternativos.

Após a queda dos preços do petróleo, a produção de americana mostrou grande resiliência; no entanto, começou a cair de forma moderada a partir de abril de 2015. A produção caiu de um patamar de 9,6 mb/d para 9,3 mb/d em junho de 2015. Esta queda é modesta e se depender dos Estados Unidos, o ajuste no mercado mundial pode demorar muito.

A OPEP não apenas se recusou a jogar o papel de swing producer, mas encontra-se, neste momento, totalmente desarticulada para buscar um acordo para a divisão dos custos do ajuste no mercado internacional de petróleo. Na ausência total de uma convergência política e econômica entre a Arábia Saudita e seus aliados (Kuwait e Emirados), o Irã (que tem governo) e o Iraque e Líbia (que não têm governo) impedem um acordo para estabilizar o mercado de petróleo. A OPEP não apenas não reduziu as cotas de produção de 30 mb/d, mas está produzindo acima dela. A Arábia Saudita produziu 10,56 milhões de barris por dia em junho, o maior valor já registrado para o país.

O acordo nuclear do ocidente com o Irã esteve por trás do colapso e da mínima dos preços no mês de agosto. Certamente, o potencial de oferta de óleo adicional do Irã a partir de 2016 deverá ser um tema a ser equacionado pela OPEP antes que a organização possa atingir um novo equilíbrio político.

Diante da falta de perspectiva de uma convergência política na OPEP, qualquer sinal de fato novo na oferta ou demanda é motivo para correria nos mercados. A recente crise bursátil da China e uma possível queda da demanda naquele país foi motivo para alimentar pressões baixistas. Os possíveis impactos econômicos e políticos da queda das receitas do petróleo em países petroleiros economicamente fragilizados como Rússia, Venezuela e Nigéria também alimentam especulações.

Neste contexto, a volatilidade tende a dominar o mercado internacional. O processo de ajuste via mercado tende a levar tempo e, enquanto isto, os aspectos geopolíticos alimentarão a especulação. Às empresas petrolíferas resta apenas o caminho da prudência e da busca da eficiência operacional.

Desafios do Novo Cenário do Mercado Mundial para o Brasil

A queda do preço do petróleo coloca um enorme desafio para o Brasil. Basicamente, dois grandes problemas surgiram no horizonte. O primeiro é como garantir o equilíbrio econômico e financeiro da Petrobras, com um nível razoável de investimentos da empresa. O segundo é como reduzir o atual patamar de custos de produção de petróleo na área do Pré-sal para um patamar seguro. Obviamente, os dois problemas estão relacionados.

Quanto ao primeiro problema, é importante ressaltar que o setor petrolífero nacional depende da Petrobras. Cerca de 70% dos investimentos atuais são realizados pela empresa. Este patamar de participação nos investimentos pode ser eventualmente reduzido através da venda de ativos pela Petrobras, porém, certamente, a Petrobras ainda capitaneará a maioria dos investimentos no setor petrolífero nacional. Desta forma, um problema de fluxo de caixa da Petrobras pode ocasionar uma desorganização de todo o setor de petróleo e gás no país.

O segundo desafio é o custo. O preço de viabilidade (break-even) atual dos projetos da área do cluster do Pré-sal encontra-se no patamar entre 50 a 55 dólares por barril. Este não é um patamar seguro para os custos do Pré-sal no atual contexto do mercado mundial de petróleo. Apesar da maioria das consultorias sobre preço de petróleo indicar uma tendência de elevação do preço do Pré-sal para o médio e longo prazos, existem grandes incertezas no horizonte.

O setor energético mundial passa por uma transição. Pelo lado da demanda, existe uma tendência baixista em função da forte penetração de fontes renováveis de energia e possíveis restrições ao consumo de combustíveis fósseis para combater o aquecimento global. Pelo lado da oferta, observa-se a revolução tecnológica dos não convencionais com uma redução do custo marginal de longo prazo da produção de petróleo em bacias terrestres. Estas duas tendências de longo prazo podem resultar em preços de petróleo menores do que o esperado atualmente.

Diante do exposto, se o Brasil quiser garantir seu espaço como um novo grande exportador de petróleo, a melhor estratégia é buscar um patamar de custos de produção seguro. Ou seja, significativamente abaixo de outras áreas produtoras de petróleo com custo elevado (areias betuminosas do Canadá e Petróleo não convencional na América do Norte). Atualmente, este patamar seguro seria algo em torno dos 30 dólares por barril.

Uma Agenda para a Política Petroleira Nacional

Diante dos novos desafios colocados pelas mudanças no cenário do mercado mundial de petróleo é urgente uma discussão sobre os rumos da política petroleira nacional. A deterioração econômica do setor tem sido muito rápida e exige respostas à altura. É importante ressaltar que a política petroleira atual (materializada nas leis setoriais aprovadas em 2010) foi discutida e implantada em um contexto de preços elevados. Naquele momento, a viabilidade econômica da expansão da produção de petróleo no Brasil era uma questão dada. (…) Continua no Blog Infopetro.

Ronaldo Bicalho

Pesquisador na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

6 Comentários

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  1. petróleo

    O Brasil deve manter a produção de petróleo no patamar atual, substituindo os antigos poços pelos do pré-sal e mantendo a exploração para conhecimento dos sítios produtivos, para um aumento de produção quando necessário. Aumentar a produção não seria conveniente neste momento, deixaria o petróleo como poupança, pois sabemos que um reaquecimento da economia mundial ou um problema mais grave de conflito em zona produtiva e a quebra no contrato Árabia Saudita/USA, não por desobediência daquele, poderá elevar o preço do petróleo para a casa dos U$ 100/barril. Isto ocorrerá daqui algum tempo.

  2. “O segundo desafio é o custo.

    “O segundo desafio é o custo. O preço de viabilidade (break-even) atual dos projetos da área do cluster do Pré-sal encontra-se no patamar entre 50 a 55 dólares por barril. Este não é um patamar seguro para os custos do Pré-sal no atual contexto do mercado mundial de petróleo. Apesar da maioria das consultorias sobre preço de petróleo indicar uma tendência de elevação do preço do Pré-sal para o médio e longo prazos, existem grandes incertezas no horizonte.”

     

    O preço de viabilidade do pré sal utilizado como premissa básica deste texto está incorreto de acordo com diretora da Petrobras: 

     

    “Nós podemos garantir que o pré-sal é viável com um custo de produção de nove dólares por barril. Se considerarmos que duas FPSOs [plataformas de petróleo] ainda não estão produzindo com sua capacidade total, o custo de produção será menor ainda. A eficiência operacional em torno de 92% contribuiu significativamente para atingirmos estes custos baixos”, afirmou.

    https://jornalggn.com.br/noticia/em-cerimonia-de-premiacao-diretora-fala-sobre-viabilidade-do-pre-sal

  3. Além de utilizar como

    Além de utilizar como premissa informação que , no mínimo,  é contraditória. O texto utiliza também outros 2 argumentos completamente fora da racionalidade econômica. 

    Um deles é defender que a Petrobras se concentre totalmente no upstream e relegue o downstream, inclusive procurando sócios e permitindo novos concorrentes. Ora num cenário de baixa nos preços do petróleo, o que tem garantido os lucros da empresa é justamente o downstream. É a vantagem de ser uma empresa “integrada”, quando a matéria prima cai de valor é possível manter ou aumentar ganhos em produtos de valor agregado, como combustiveis, polimeros, fertilizantes, etc. Ou seja o raciocínio do texto é completamente anti-econômico e ilógico em sua defesa da abertura do mercado nacional. 

    O  segundo é afirmar que a Petrobras como operadora única, de alguma forma restrinja a concorrência por parte de seus fornecedores. Ora, é uma premissa econômica básica , a de “Oligopsônio”. o contrário de Oligopólio. Um cenário onde há muitos fornecedores e poucos compradores, o preço é altamente influenciado para baixo pelo comprador principal. E o texto quer nos convencer do contrário de maneira esdruxula…. Ideologicamente defendendo outros operadores…. 

    Os neoliberais gostam de taxar outros pensamentos como “ideologicos”, mas constantemente fogem da racionalidade ao defender teses sem pé nem cabeça em prol do Deus Mercado… 

     

     

  4. Produção americana de petróleo
    A produção dos EUA não diminuiu pra valer porque até o final do ano passado tinha algumas centenas de sondas perfurando nas bacias com shale gas,. E neste ano só tem não mais que cinqüenta. Os poços dos shale gas tem uma vida média entre um ano a dois anos, e a partir de 2016 se verá uma queda acentuada na produção americana, além do que com exceção de uma bacia nos EUA, o custo de produção é superior a 80 dólares. O custo de produção no presal sem impostos, taxas e custos financeiros é de US$9,00, as quando se incluí os outros custos deve ficar entre 33 a 38 dólares, mas daí pode colocar como chute meu. Alguns bancos internacionais como o Deutsche e Morgan G. colocam o custo país do barril do presal entre 35 e 45 dólares. Então penso que não estou chutando muito errado.
    O que autor deixa passar é que ele e talvez o blog infopetro tenha interesse na privatização do pré sal.

  5. Crise Política está afetando a Economia

    Li uma reportagem independente sobre a LAVA JATO  que trazia ao final o nº de um processo e o nº de uma chave, Tratava-se de um processo no estado do Paraná, cujo juiz era Moro

    Claro que fui olhar. Entrei no site da justiça federal do estado do Paraná e fui no andamento processual e preenchicom os dados ue pegara na reportagem.

    Era  uma ação criminal da  LAVA JATO e ali estavam cópias digitais de petições e arquivos de vídeo.

    O andamento era do dia 03/10/2015 e ao abrir o arquivo da petição pude lê-la. Li uma parte boa da petição, onde o advogado de um acusado na LAVA JATO requeria provas documentais  a serem fornecidas pela Petrobrás.

    Imediatamente me interessei pelos arquivos de vídeo, fiz download e vi se tratar de uma audiência da LAVA JATO, Filmaram de modo que não se ve o rosto do Juiz, se vê a sala de audiência  com o acusado, seus advogados e certamente membros do MP.

    O réu estava sendo inquerido  sobre bobagens. Era um engenheiro, ex funcionário da Petrobrás e que havia prestado serviços de consultoria para esta a uns 3 anos atrás.  O Juiz  esmiuçava  movimentações  bancárias do réu, de pequena monta, que ficou claro se tratar da compra de um apartamento de cerca de R$ 1. 700.000,00 Se houve alguma coisa foi lavrar a Escritura com valor inferior para fins de imposto de renda.

    Em outro vídeo, vi  outra audiência, agora de um funcionário da Petrobrás, o que havia vendido o apartamento para o engenheiro que eu acabara de ver ser interrogado na audiência que eu vira antes. Tudo ok, Foi uma compra e venda normal, tudo legal, sendo que os valores das movimentações financeiras dos dois batiam perfeitamente.

    Compreende-se daí que o Juiz está a fim apenas de aterrorizar os funcionários, certamente porque os políticos tem foro privilegiado e fogem da alçada dele,  que é sómente um Juiz de 1ª instância da Justiça Federal.

    O Justiceiro está se sentindo um deus, pobre coitado, quer aparecer e está se sentindo o máximo. Foi enfeitiçado pelo estrelato e pelo prêmio que recebeu da Globo.

    Sendo assim, os políticos, que tem foro privilegiado não tem nada a temer. A LAVA JATO vai acabar em pizza.

  6. Uma análise que não leva em

    Uma análise que não leva em conta a análise de outros experts estrangeiros de que o principal objetivo desse valor do petróleo é inviabilizar a produção do gás de xisto nos Estados Unidos, que efetivamente está caindo mês a mês, podemos dizer que é uma análise capenga.

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